quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Esforçai-vos por entrar pela porta estreita

       «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo: ‘Abre-nos, senhor’; mas ele responder-vos-á: ‘Não sei donde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças’. Mas ele responderá: ‘Repito que não sei donde sois. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade’. Aí haverá choro e ranger de dentes, quando virdes no reino de Deus Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas, e vós a serdes postos fora. Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus. Há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos» (Lc 13, 22-30)
        A Deus nada é impossível. Ele dá-nos a salvação. Introduz-nos, por meio do Seu Filho, Jesus Cristo, na Sua comunhão, nesta vida e na eternidade. A cada um de nós cabe acolher (ou não) o projeto de vida e de amor que nos é dado. A preocupação, porém, é darmos o melhor de nós, fazermos a nossa parte, esforçarmo-nos por entrar pela porta estreita, praticar o bem, procurar a conciliação e a paz, promover a justiça, comprometermo-nos, em concreto, com os outros e com a transformação do mundo. As obras devem traduzir as nossas palavras e a nossa profissão de fé.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

O reino de Deus é semelhante a...

       Disse Jesus: «A que é semelhante o reino de Deus, a que hei-de compará-lo? É semelhante ao grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta. Cresceu, tornou-se árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos». Jesus disse ainda: «A que hei-de comparar o reino de Deus? É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado» (Lc 13, 18-21).
       O reino de Deus, instaurado por Jesus, por Ele anunciado e vivido, está em crescimento constante. Para nós, crentes cristãos, o reino de Deus está entre nós, veio em Jesus Cristo, é Ele o rosto de Deus Pai, é o Reino de Deus que seguimos e que queremos acolher em nossas vidas.
       Nestas duas parábolas, Jesus envolve-nos na confiança: Deus vai guiando a história e o tempo. Por vezes não se dá por isso, mas o reino de Deus cresce dia e noite, é semente lançada à terra, é fermento que leveda a massa. No meio da incerteza, Deus garante o nosso futuro.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A prática do bem não tem horas definidas...

        Estava Jesus a ensinar ao sábado numa sinagoga. Apareceu lá uma mulher com um espírito que a tornava enferma havia dezoito anos; andava curvada e não podia de modo algum endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade»; e impôs-lhe as mãos. Ela endireitou-se logo e começou a dar glória a Deus. Mas o chefe da sinagoga, indignado por Jesus ter feito uma cura ao sábado, tomou a palavra e disse à multidão: «Há seis dias para trabalhar. Portanto, vinde curar-vos nesses dias e não no dia de sábado». O Senhor respondeu: «Hipócritas! Não solta cada um de vós do estábulo o seu boi ou o seu jumento ao sábado, para o levar a beber? E esta mulher, filha de Abraão, que Satanás prendeu há dezoito anos, não devia libertar-se desse jugo no dia de sábado?». Enquanto Jesus assim falava, todos os seus adversários ficaram envergonhados e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava (Lc 13, 10-17).
       Em mais um diálogo/confronto de Jesus com as classes predominantes do judaísmo sobressai o legalismo à volta da religião. Com efeito, esta justifica situações que deveria corrigir. Cumpre-se com a lei, ainda que se esqueça o semelhante. E com a mesma Lei se protegem trabalhos mais ou menos pesados, mas recusa-se a caridade.
       Jesus certamente não menospreza as tradições judaicas. Também Ele é judeu. Mas a religião não pode servir apenas para os interesses pessoais, nem como desculpa para não fazer o bem. Mais, o bem não tem dia nem hora para se realizar, todos os segundos são bons para praticar o bem.

sábado, 27 de outubro de 2018

... Talvez venha a dar fruto!

       Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante.
       Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’ Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandarás cortá-la» (Lc 13, 1-9).
       Deus ama-nos pacientemente. Aliás, a paciência de Deus constrói, espera por nós, aguarda a nossa conversão, respeita a nossa liberdade, as nossas escolhas, mas não nos abandona, mesmo em situações em que nós o arredamos da nossa vida, em situações em que, tal como a figueira, não damos fruto. No entanto, Deus continua a esperar, a cuidar de nós, a tratar-nos como filhos. Mais dia menos dia poderemos dar fruto...

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Jodi Picoult - A CONTADORA DE HISTÓRIAS

JODI PICOULT (2015). A contadora de Histórias. Lisboa: Betrand Editora. 520 páginas.
       No passado dia 21 de agosto (de 2018), Jakiw Palij, nascido na Polónia, agora com 95 anos de idade, ex-guarda de um campo de concentração nazi, foi deportado dos EUA, de Nova Iorque, onde vivia, para a Alemanha. Há 25 anos foi confrontado pela primeira vez sobre as suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Trabalhou como assistente das forças SS de Hitler no campo de concentração de Trawniki (na Polónia ocupada pelos alemães) em 1941. Mais de 6 milhões judeus, entre homens, mulheres e crianças, foram assassinados a tiros nesse campo no dia 3 de novembro de 1943, num dos maiores massacres num único dia no Holocausto. Chegou aos EUA em 1949 e obteve, 8 anos depois, a cidadania americana, sendo-lhe retirada em 2003, por ter mentido sobre o seu passado ligado ao nazismo. Contribuiu diretamente para o extermínio dos prisioneiros judeus, já que tinha como missão assegurar-se que não fugiam. Levou alguns anos a ser deportado, pois nenhum país na Europa o aceitava até que finalmente a Alemanha o recebeu. A Alemanha julgou e condenou vários membros da SS por cumplicidade em assassinatos, mas nenhum deles foi para a prisão, por motivos de saúde.
       Este caso é real e histórico.
       No livro que agora sugerimos como leitura, a autora é verdadeiramente uma contadora de histórias, mas, como em outros romances que escreveu e deu à estampa, têm muito a ver com a realidade. Com efeito, "A Contadora de Histórias" narra a vida de Sage, neta de uma judia que foi prisioneira Nazi. Algumas das personagens vão contando a suas vidas, permitindo-nos diferentes pontos de vista. A história do presente encontra um bom homem, aceite pela comunidade e perfeitamente integrado, mas que quer contar o seu segredo, a sua vida passada, como membro das SS. Pouco a pouco, as personagens vão entrelaçando a trama, o passado e o presente, e o futuro. Josef pede ajuda a Sage para morrer. Aos poucos Sage percebe que Josef precisa de perdão, do perdão de uma judia, já que não pode pedir perdão aqueles e àquelas que morreram vítimas do Nazi. Vai-se percebendo que Josef, mesmo sendo nazista e no campo de concentração, vai procurando proteger sobretudo as crianças. De algum modo foi ele que protegeu a Avó de Sage, ainda que ele procure mostrar que era mau, para que Sage o possa ajudar a morrer. Sage tinha encontrado um amigo e agora enfrenta a dúvida se o há de entregar para ser julgado e expulso dos EUA ou se o há de proteger ou se o há de ajudar a morrer. Perdoar ou manter o ciclo das ofensas!
       A contadora de histórias é também a Avó de Sage, Minka, que, através da criação imaginativa de estórias, sobreviveu e ajudou outras a sobreviver no campo de concentração. É um romance que tem muito de histórico, com a seriedade e honestidade com que Jodi Picoult coloca em toda a trama. É como se estivesse dentro da história, ou dentro do filme, envolvidos e engolidos pela realidade. É daqueles romances, como aliás sugere a crítica, que se lê de fio a pavio sem parar, com vontade de continuar para descobrir onde nos conduz a história.

Uma ou outra frase:
"Dentro de cada um de nós existe um monstro; dentro de cada um de nós existe um santo. A verdadeira questão é qual deles alimentamos melhor, qual deles destruirá o outro"."Um monstro é apenas uma pessoa para quem o equilíbrio se desfez a favor do mal"
"... pessoas desesperadas fazem coisas que normalmente não fariam"."Quando a nossa existência é um inferno, a morte deve ser o céu".
"O poder não é fazer algo terrível a alguém que é mais fraco do que nós... É ter a força de fazer algo de terrível e optar por o não fazer"."O que tens de parti para reunir uma família? Pão, evidentemente".
"Se os meteres a todos no mesmo saco por serem alemães, como podes ser diferente, quando eles nos metem a todos no mesmo saco por sermos judeus?""Tudo o que precisamos para viver mais um dia é de uma boa razão para ficar neste mundo".
"Por vezes, para voltarmos a ser humanos, só precisamos que alguém seja capaz de nos ver como seres humanos independentemente do que mostramos à superfície"."A história não é um relato sobre datas, lugares e guerras. É sobre pessoas que preenchem os espaços entre eles".
"No Judaísmo há dois pecados que não podem ser perdoados. O primeiro é o homicídio, porque tem de ir ter com a outra parte e defender a nossa posição, e obviamente tal não é possível se a vítima está debaixo de terra. Mas o segundo pecado imperdoável é arruinar a reputação de alguém. Tal como um morto não pode perdoar ao assassino, uma boa reputação jamais pode ser reparadas. Durante o Holocausto os judeus foram assassinados e a sua reputação foi destruída"."Por vezes, para ganharmos precisamos de fazer sacrifícios".
"O padre disse: «O que ele fez está errado. Ele não merece o vosso amor. Mas merece o vosso perdão, porque caso contrário irá crescer como uma erva daninha dentro do vosso coração até o sufocar e cobrir. A única pessoa que sofre, quando se acumula todo esse ódio, és tu». Eu tinha treze anos e sabia muito pouco sobre o mundo, mas sabia que havia sabedoria na religião, então queria fazer parte dela. - Olha-me. - Não sei o que essa pessoa te fez, e não tenho a certeza se o quero saber. Mas perdoar não é algo que se faz por alguém. É algo que fazemos por nós próprios. É dizer: Não és suficientemente importante para teres poder sobre mim. É dizer: Não me vais deixar presa no passado, Eu mereço um futuro".

CARDEAL SEÁN O'MALLEY - Anel e Sandálias

CARDEAL SEÁN O'MALLEY (2010). Anel e Sandálias. Prior Velho: Paulinas Editora. 168 páginas.
       Em 2003, o Papa João Paulo II nomeou-o Arcebispo de Boston e em 2006 foi escolhido para Cardeal pelo Papa Bento XVI, mas antes disso, desde 1984, quando foi ordenado Bispo, passou por outras dioceses: São Tomás, nas Ilhas Virgens, Fall River, em Massachusetts e de Palm Beach, na Florida. Nasceu em 1944 e aos 21 anos professou na Ordem dos Frades Menores capuchinhos, sendo ordenado aos 26 anos de idade. É franciscano, é capuchinho, é Bispo e tem sangue irlandês.
       Esta é uma leitura intemporal, diríamos. Pessoas sábias, humildes, simples falam de forma simples, acessível, tocam-nos nas feridas, comprometem-nos com os que nos rodeiam.
       O livro é formado por um conjunto de Homilias, algumas delas aos sacerdotes, em quinta-feira santa, um intervenção, como por exemplo sobre a identidade capuchinha. Uma das homilias foi proferida no Santuário de Fátima, no dia 13 de agosto de 2007.
       O que dizemos integra o que somos e obviamente que o Cardeal recorre frequentemente à sua vida, dando exemplos concretos, como filho, com a costela irlandesa, como sacerdote capuchinho, como Bispo. Trabalhou de perto com emigrantes portugueses mas sobretudo hispânicos, em busca de uma terra de liberdade e se sonho, com empenho pessoal/eclesial para os acolher e os ajudar. Contactou diretamente, nos anos de formação, com D. Óscar Romero, o Bispo-mártir que se colocou à lado do seu povo, dos pobres e dos trabalhadores.
       Nas páginas deste livro sobrevém a clareza do pensamento, mas sobretudo a firmeza da fé e do testemunho cristão, na comunhão com a Igreja e na proximidade a Jesus e ao Seu Evangelho de ternura, no compromisso com as comunidades, com os mais desfavorecidos, no acolhimento a todos os que chegam! Uma das ideias-chaves do Papa Francisco é a Igreja em saída, também presente nas Homilias do Cardeal na Missa crismal das quinta-feiras santas, convocando a ir ao encontro não apenas da ovelha perdida, mas do rebanho que já se encontra fora. A não descurar nunca, para uma missão evangelizadora eficaz, a oração, a oração diligente, oração pessoal e comunitária. «Ser franciscano quer dizer procurar o último lugar à mesa e ser o menor dos irmãos. A função do Bispo, na Igreja, é a autoridade apostólica e de paternidade. Ser ao mesmo tempo o irmão mais pequeno e o pai é um verdadeiro desafio» Explicando título - Anel e Sandálias: «Na parábola evangélica, os dois presentes que  pai dá ao filho pródigo são um anel e umas sandálias... Tal como o filho pródigo, eu não merecia tanta generosidade da parte do Pai. O mínimo que posso dizer é que fui apanhado de surpresa...». 

Discernir os sinais dos tempos...

       Dizia Jesus à multidão: «Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: ‘Vem chuva’; e assim acontece. E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai fazer muito calor’; e assim sucede. Hipócritas, se sabeis discernir o aspecto da terra e do céu, porque não sabeis discernir o tempo presente? Porque não julgais por vós mesmos o que é justo?». E acrescentou: «Quando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te por te entenderes com ele no caminho, para que ele não te arraste ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de justiça e o oficial de justiça te meta na prisão. Eu te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo» (Lc 12, 54-59).
        É necessário ler os sinais dos tempos e agir em conformidade. Ter conhecimentos, porém, sejam eles quais forem, só fará sentido e só terá importância na medida que nos aproximarem dos outros, se nos mobilizarem para os irmãos. Assim, o verdadeiro conhecimento é aquele que nos congrega e nos compromete com os nossos semelhantes.
       Como é costume dizer-se, quem melhor conhece a Deus é o Diabo e no entanto não é crente, não é cristão. Obviamente, para amarmos precisamos de conhecer, não amamos que que ignoramos. Ainda que o conhecimento (sobretudo) acerca das pessoas seja progressivo. Partir do conhecimento para adquirirmos a sabedoria que nos leva a utilizar a inteligência para viver melhor, para dar qualidade aos nossos dias, para nos aproximarmos uns dos outros.
Por outro lado, a evolução científica e tecnológica, o desenvolvimento dos meios de comunicação aproximou-nos uns dos outros, mas como recordou Bento XVI numa das Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, não nos tornou irmãos. Não basta saber muito de história, de filosofia, de matemática, ou ter esta ou aquela licenciatura. É preciso amar. É preciso conhecer o nosso semelhante, o nosso vizinho (e não apenas aquele ator, ou aquele cantor).

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Eu vim trazer o fogo à terra...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um baptismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra» (Lc 12, 49-53).
       As expressões do Evangelho de hoje, usadas por Jesus, e à primeira vista, colocam algumas dúvidas e integerrogações. Então Jesus não veio estabelecer a paz em toda a terra? Como é que sendo o Princípe da Paz, Ele vem para incendiar, para pôr mais achas na fogueira, para dividir?
       Numa leitura atenta, não apenas ao Evangelho proposto, mas no contexto da vida de Jesus e da Sua mensagem, verificamos que o cristão, o seguidor de Jesus Cristo, não pode acomodar-se, instalar-se no seu conforto sem se comprometer com os outros. O cristão não renuncia aos seus valores para agradar ou para facilitar um determinado tipo de paz. O cristão não combate pessoas, mas deve combater por ideias, por convicções, ainda que por vezes incomode outras pessoas ou instituições.
       A paz, mas não a paz a qualquer preço, a paz que se baseia no amor, na justiça, na verdade.
       Quando as pessoas agem procurando a verdade e a justiça, a rectidão e a frontalidade, quando se guiam pela sua consciência (bem formada, esclarecida, aberta aos outros) e não se deixam arrastar pela correnteza da opinião geral, estão sujeitas a alguns dissabores, a enfrentar-se com outras opiniões e outras pessoas. Bem entendida a discussão é positiva, como diz o ditado, da discussão nasce a luz. Porém, a procura da verdade pode encontrar diversos obstáculos, porque expõe outros que vivem na mentira e na hipocrisia, e porque podem impedir outros mais de viverem a seu bel-prazer e à custa das ilusões que inculcam nos demais...

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Estai vós também preparados...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem».
       Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?».
       O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’; e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito acções que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá» (Lc 12, 39-48). 
        A recomendação de Jesus é permanente: vigilância. Agir em cada momento como se fora a última oportunidade para deixarmos marcas positivas no mundo em que estamos inseridos e pelo qual também somos responsáveis.
       Por outro lado, refira-se, que os talentos que Deus nos dá têm uma dimensão instrumental, não são para auto-regozijo, aliás não faria sentido termos talentos que não desenvolvemos... como é que saberíamos que são talentos se não funcionassem como tal. São instrumentais, estão ao serviço dos outros, e do mundo que nos envolve. Quanta mais informação e dons maior a responsabilidade no compromisso com os outros.
       O cristão não espera para amanhã para ser feliz nem para se comprometer com os outros. O cristão deve ser santo hoje, deve praticar a caridade, o bem, agora, com pessoas concretas...

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Tende os rins cingidos...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada felizes serão se assim os encontrar» (Lc 12, 35-38).
       Os judeus, naquele tempo, hoje apenas alguns, e naturalmente as pessoas de outros povos, trajavam roupas compridas, em formato de vestido/túnica. Depois colocavam um manto que os identificava socialmente, mediante a qualidade do mesmo e os padrões exibidos.
       Quando era necessário servir, as roupas tinham de ser acomodadas, para que não tropeçassem. Assim subiam ligeiramente as roupas, prendendo-as à cintura (rins).
       Jesus utiliza como imagem esta realidade concreta. Ter os rins cingidos significa estar pronto, preparado para todas as eventualidades, preparado mesmo para a morte.
       O cristão, discípulo/seguidor de Jesus Cristo deverá estar sempre comprometido com o bem, com a justiça, com a caridade. Já temos ouvido pessoas a dizer que quando forem mais velhas então passarão a ir à Missa, a fazer tudo certinho; ou quando a situação melhorar poderão nessa altura ajudar: na Igreja ou na Sociedade.
       Porém, o cristão não é ou não deve ser pessoa de adiar, mas viver agora, comprometer-se agora, (re)organizar o seu tempo e as suas energias para hoje. Amanhã pode ser tarde de mais. As condições nunca serão as ideais. Porque não ajudar onde se detecta esta ou aquela necessidade?
       A santidade não se conquista no fim, mas na caminhada...

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

São JOÃO PAULO II, Papa

Nota biográfica
      Karol Józef Wojtyła nasceu a 18 de maio de 1920, no lugar de Wadowice, na Polónia. O mais novo de três irmãos. Filho de Karol Wojtyła e Emilia Kaczorowska. A sua mãe morreu em 1929. O seu irmão mais velho, (médico) morreu em 1932 e o seu pai (suboficial do exército) em 1941. A sua irmã, Olga, morreu antes dele nascer.
       Foi batizado por Franciszek Zak, em 20 de junho de 1920 na Igreja paroquial de Wadowice; aos 9 anos fez a Primeira Comunhão. Aos 18, recebeu o Sacramento da Confirmação.
       Em 1938 matriculou-se na Universidade Jagellónica de Cracóvia e numa escola de teatro.
       Com a ocupação nazi, e com o encerramento da Universidade, em 1939, começou a trabalhar numa pedreira e logo numa fábrica de químicos, para ganhar a vida e evitar ser deportado para a Alemanha.
       A partir de 1942, ao sentir a vocação para o sacerdócio, começou a formação do seminário clandestino de Cracóvia, dirigido pelo Arcebispo de Cracóvia, Cardeal Adam Stefan Sapieha. Ao mesmo tempo, foi um dos promotores da "Teatro Rapsódico", também clandestino. 
       Após a Segunda Guerra Mundial, continuou seus estudos no Seminário Maior de Cracóvia, e na Faculdade de Teologia da Universidade Jagiellonian, até à sua ordenação sacerdotal em Cracóvia em 1 de novembro de 1946 pelo Arcebispo Sapieha. Seguiram-se estudos em Roma, onde, sob a direção do dominicano francês Garrigou-Lagrange, se doutorou, em 1948, em teologia, com uma tese sobre o tema da fé nas obras de São João da Cruz. Naquele período, durante as férias, exerceu o seu ministério pastoral entre os imigrantes polacos da França, Bélgica e Holanda. 
       Em 1948, regressou à Polónia e foi vigário de diversas paróquias de Cracóvia, bem como capelão universitário até 1951, retomando os estudos filosóficos e teológicos. Em 1953, apresentou, na Universidade Católica de Lublin, uma tese sobre "Avaliação da possibilidade de fundar uma ética católica sobre o sistema ético de Max Scheler". Tornou-se, então, professor de Teologia Moral e Ética Social no Seminário Maior de Cracóvia e na Faculdade de Teologia de Lublin.
       Em 4 de julho de 1958, foi nomeado, pelo Papa Pio XII, Bispo titular de Olmi e auxiliar de Cracóvia. Recebeu a Ordenação Episcopal em 28 de setembro de 1958, na Catedral de Wawel (Cracóvia) pelo arcebispo Eugeniusz Baziak. 
       Em 13 de janeiro de 1964, foi nomeado Arcebispo de Cracóvia pelo Papa Paulo VI, que o fez cardeal 26 de junho de 1967, com o título de São César em Palatio. 
       Além de participar do Concílio Vaticano II (1962-1965), com uma contribuição importante para a elaboração da Constituição Gaudium et spes, o Cardeal Wojtyla participou em todas as assembleias do Sínodo dos Bispos, antes de seu pontificado.
       Depois da morte prematura do papa João Paulo I, os Cardeais elegeram-no Papa, o 263.º, em 16 de outubro de 1978, escolhendo o nome de João Paulo II, e começou o seu pontificado petrino no dia 22 de outubro, data em que agora se celebra a Sua memória litúrgica.
       Foi um dos pontificados mais longos, durou quase 27 anos.
       Distinguiu-se pela extraordinária solicitude apostólica, em particular para com as famílias, os jovens e os doentes, o que o levou a realizar numerosas visitas pastorais a todo o mundo. Entre os muitos frutos mais significativos deixados em herança à Igreja, destaca-se o seu riquíssimo Magistério e a promulgação do Catecismo da Igreja Católica e do Código de Direito Canónico para a Igreja latina e oriental, a criação das Jornadas Mundiais da Juventude, reflexão sobre a família e sobre o corpo humano, sobre o trabalho e a dignidade da mulher... 
       Outros marcos no seu pontificado: promoção do diálogo ecuménico e inter-religioso, encontro de oração em Assis pela paz, com membros de outras religiões; grande Jubileu do Ano 2000 do nascimento de Jesus Cristo; Ano da Redenção; Ano Mariano; Ano da Eucaristia; proclamou Santa Teresa do Menino Jesus como Doutora da Igreja, além dos muitos santos e beatos elevados aos altares.
       Documentos principais: 14 Encíclicas; 15 Exortações Apostólicas; 11 Constituições Apostólicas e 45 Cartas Apostólicas.
       A título mais pessoal, publicou 5 livros: Atravessando o Limiar da Esperança (outubro de 1994); Dom e Mistério - 50.º aniversário da ordenação sacerdotal (novembro de 1996); Tríptico romano - Meditações, livro de poesias (março de 2003); Levantai-vos, vamos (maio de 2004), e Memória e Identidade (fevereiro de 2005).
       Morreu piedosamente, em Roma, a 2 de Abril de 2005, na Vigília do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia.
       No dia 8 de abril, a celebração da Exéquias, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger, conhecido como Seu braço direito e que viria a ser Seu sucessor, como Papa Bento XVI. Mais de três milhões de pessoas que passaram junto do Seu corpo, para prestar uma última homenagem.
       Bento XVI, a 28 de abril, poucos dias de assumir o pontificado petrino, dispensou os 5 anos de espera depois da morte para se abrir o processo de beatificação e canonização, causa aberta em 28 de junho de 2005, pelo Cardeal Camillo Ruini, Vigário-Geral para a Diocese de Roma.
       Foi beatificado em 1 de maio de 2011, pelo Papa Bento XVI, e canonizado conjuntamente com o Papa João XXIII, em 27 de abril de 2014, pelo Papa Francisco. A concelebrar esteve o Papa Emérito Bento XVI.

Oração de coleta:
Deus, rico de misericórdia, que colocastes o papa João Paulo II à frente da vossa Igreja, fazei que, instruídos pelos seus ensinamentos, abramos confiadamente os nossos corações à graça salvadora de Cristo, único salvador do mundo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
  • Será interessante ler também:

Página Oficial da Santa Sé, Vaticano (seguimos a versão em castelhano)

sábado, 20 de outubro de 2018

O Espírito Santo vos ensinará o que haveis de dizer

       Disse Jesus aos seus discípulos:
       «A todo aquele que Me tiver reconhecido diante dos homens também o Filho do homem o reconhecerá diante dos Anjos de Deus. Mas quem Me tiver negado diante dos homens será negado diante dos Anjos de Deus. E todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado; mas quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo não será perdoado. Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de responder nem com o que haveis de dizer em vossa defesa. O Espírito Santo vos ensinará naquela hora o que haveis de dizer» (Lc 12, 8-12).
       O testemunho, pelas palavras e pela vida, é essencial na vida dos cristãos. A vida de Jesus é expressão, isto é, testemunho do amor de Deus por nós, pela humanidade inteira. É a vocação do cristão, o seu compromisso com Jesus Cristo: acolhê-l'O, vivê-l'O e dá-l'O a conhecer a todo o mundo. Ide e anunciai o Evangelho a todos os povos da terra. Eu estarei convosco até ao fim do mundo, em toda a parte, em todo o tempo.
       A garantia do nosso testemunho é a vida eterna, o testemunho que Jesus dará por nós junto do Pai. Ou por outras palavras, a certeza de que Jesus testemunhará a nosso favor, deverá ser desafio suficiente para nos comprometermos com os outros dando testemunho do amor de Deus por nós, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, para que todos tenham possibilidade de conhecer, amar e viver do amor de Deus.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Não temais. Valeis mais do que todos os passarinhos

        E Jesus começou a dizer, em primeiro lugar para os seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada encoberto que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha a conhecer-se. Por isso, tudo o que tiverdes dito às escuras será ouvido à luz do dia e o que tiverdes dito aos ouvidos, nos aposentos interiores, será proclamado sobre os telhados. Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar na Geena. Sim, Eu vos digo, a Esse é que deveis temer. Não se vendem cinco passarinhos por duas moedas? Contudo, nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais. Valeis mais do que todos os passarinhos» (Lc 12, 1-7).
        O confronto com os fariseus continua, agora como forma de recomendação aos discípulos.
       A preocupação de Jesus é que os Seus discípulos se libertam de ritos, tradições, usos, que pretendam apenas manter posições, ou para que os outros vejam. O essencial é a vivência da própria vida como um dom, confiantes na presença e na bondade de Deus, a coerência de vida, a partilha solidária do que se tem mas sobretudo do que se é.
       Por outro lado, Jesus diz claramente aos seus discípulos, que hoje somos nós, para não temerem os que matam o corpo mas que não podem matar o espírito. Para que não nos vendamos a modas, ou conveniências, mas para agirmos em conformidade com a nossa fé. Deus estará sempre connosco, Ele é o Bom Pastor que nos guarda e protege. Nem um só cabelo da nossa cabeça cai sem que Ele o saiba e permita...
       Importa, em todas as circunstâncias, o interior, a conversão, a fé que se transforma, em obras. Ou como nos recorda Santa Teresa de Jesus: “O Senhor não olha tanto a grandeza das nossas obras. Olha mais o amor com que são feitas”. Importa pouco a imagem que os outros tenham de nós, e sobretudo se a imagem, fabricada, em pouco disser do que somos e do que devemos ser, como filhos de Deus, sua imagem e semelhança.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

São Lucas, Evangelista

Nota biográfica:
       Nascido numa família pagã e convertido à fé, acompanhou o apóstolo Paulo, de cuja pregação é reflexo o Evangelho que escreveu. Transmitiu noutro livro, intitulado Actos dos Apóstolos, os primeiros passos da vida da Igreja até à primeira estadia de Paulo em Roma.
Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, que escolhestes São Lucas para revelar com a sua palavra e os seus escritos o mistério do vosso amor pelos pobres, fazei que sejam um só coração e uma só alma aqueles que se gloriam no vosso nome, e todos os povos mereçam ver a vossa salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos

O Senhor segue atrás dos seus pregadores

Irmãos caríssimos: Nosso Senhor e Salvador ensina nos umas vezes por palavras e outras por acções. Com efeito, as suas próprias obras são preceitos, pois com elas nos dá a conhecer tacitamente o que devemos fazer.
Ele envia os seus discípulos em pregação dois a dois, porque são dois os mandamentos da caridade, a saber, o amor de Deus e do próximo. O Senhor manda os seus discípulos em pregação dois a dois, para nos indicar isto sem palavras: quem não tiver caridade para com os outros de modo algum deve assumir o ofício da pregação.
Apropriadamente se diz que os mandou à sua frente a todas as cidades e lugares aonde Ele próprio havia de ir. Na verdade, o Senhor segue os seus pregadores, porque a pregação prepara a sua vinda. O momento em que o Senhor vem habitar no nosso espírito é justamente quando as palavras de exortação aparecem antes d’Ele e por meio delas a verdade é recebida na alma. É por isso que Isaías diz aos mesmos pregadores: Preparai o caminho do Senhor, aplanai as veredas para o nosso Deus. Também o Salmista lhes diz: Abri caminho Àquele que sobe sobre o ocaso. É o Senhor que sobe sobre o ocaso, porque a sua morte Lhe serviu de pedestal para manifestar mais esplendorosamente a sua glória na ressurreição. Sobe sobre o ocaso, dizemos, porque a morte que suportou, Ele a calcou aos pés ao ressurgir. Portanto, abrimos caminho Àquele que sobe sobre o ocaso quando pregamos às vossas almas a sua glória, para que venha depois Ele próprio iluminá las com a presença do seu amor.
Mas ouçamos o que diz aos pregadores que enviou: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai portanto ao senhor da messe que mande operários para a sua messe. Para a messe, que é grande, os trabalhadores são poucos, o que não podemos referir sem tristeza; porque, embora haja quem ouça a boa nova, falta quem a pregue. De facto o mundo está cheio de sacerdotes, mas muito raramente se encontra um operário na messe de Deus. É verdade que recebemos o ministério sacerdotal, mas não cumprimos as obrigações do cargo.
Pensai, caros irmãos, pensai no que diz o Evangelho: Rogai ao senhor da messe que mande operários para a sua messe. Pedi por nós para que possamos trabalhar por vós como convém; para que a nossa língua não deixe de vos exortar, não seja caso, que, tendo recebido o ofício da pregação, o nosso silêncio nos venha acusar perante o justo juiz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Paróquia de Pinheiros - Santa Eufémia 2018

Festa e romaria de Santa Eufémia de Pinheiros, a maior romaria do Concelho / Zona Pastoral de Tabuaço, com o seu dia maior a 16 de setembro, dia do martírio de Santa Eufémia.
Antes da Festa da Novena. A 14 de setembro (de 2018), a Procissão das Velas em honra de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira primitiva da Paróquia. No dia seguinte à Santa Eufémia, festa em honra de Santa Bárbara. 
Créditos:
Fotos - Paróquia de Pinheiros.
Música de fundo: Coral de Santa Maria Maior de Almacave - Em Tuas mãos e O Senhor é meu Pastor.

Santo Inácio de Antioquia, Bispo e Mártir

       Antioquia e Alexandria era dois grandes centros académicos, nos inícios da Igreja. A teologia desenvolvia-se de sobremaneira nestes dois pólos, mas pelo caminho fica marcas profundas de perseguição aos cristãos, à Igreja, e sobretudo às figuras que estavam à frente das comunidades.
       Não se sabe muito dos primeiros anos da vida de Inácio. Assim acontece com muitas personagens históricas.
       São conhecidas as cartas de Santo Inácio, obra incontornável do cristianismo e da teologia, onde deixa transparecer a intimidade com Jesus Cristo, em que nada o desvia do olhar de Cristo e nada o afasta da vivência autêntica do Evangelho, nelas se encontra a doutrina evangélica e paulina. É a segunda geração depois dos Apóstolos.
       Com ele aparece pela primeira vez o termo que caracteriza a Igreja como "CATÓLICA":
     "Onde aparecer o bispo, aí está também a multidão, de maneira que, onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica".
       Inácio foi detido e condenado a ser devorado pelas feras na grande cidade de Roma. E a partir daqui se conhecem melhor os passos deste santo.
       Condenado o santo Bispo de Antioquia mantém-se sereno. Pelo caminho para Roma escreve à comunidade de Éfeso. Em Esmirna, a comunidade, juntamente com o seu Bispo, São Policarpo, discípulo de São João Evangelista, recebe-o como fosse o próprio Jesus Cristo. Outras comunidades seguem o exemplo de Esmirna e recebem-no com toda a caridade. Algumas delas são enriquecidas com as suas cartas: Éfeso, Trales, Magnésia, Esmirna, Roma.
       Ao aproximar-se de Roma é informado que os romanos procuram, através de diversas influências, alterar a condenação. Ao saber disso, Santo Inácio escreve-lhes a carta mais comovedora, começando por reconhecer a Igreja de Roma como aquela que preside à caridade.
       A sua grande serenidade aproxima-o da eternidade com Jesus Cristo:
       "Desde a Síria até Roma estou a lutar com as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, atado como estou de dez leopardos, quer dizer, um pelotão de soldados que, com benefícios que lhes são feitos, se tornam piores. Agora sim, com os seus maus tratos, aprendo eu a ser melhor discípulos do Senhor, embora nem por isto me tenha por justificado.
     "Oxalá goze eu das feras que estão para mim destinadas... Agora começo a ser discípulo. Nenhuma coisa visível ou invisível seja posta diante de mim por má vontade,, impedindo-me alcançar Jesus Cristo...
     "O meu amor está crucificado e já não há em mim fogo que busque alimentar-me de matéria; mas sim, em troca, água viva murmura dentro de mim e do íntimo está dizendo: 'Vem para o Pai'...
     "Trigo sou de Deus, e pelos dentes das feras hei-de ser moído, a fim de ser apresentado como limpo pão de Cristo".
      Foi lançado às feras no dia 20 de Dezembro de 107.

Oração de Coleta: 
       Deus eterno e omnipotente, que pelo testemunho dos santos mártires honrais todo o corpo da Igreja, concedei que o glorioso martírio de Santo Inácio de Antioquia que hoje celebramos, assim como mereceu para ele a glória eterna, seja também para nós um auxílio permanente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Da Carta de Santo Inácio, bispo e mártir, aos Romanos
Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras
Escrevo a todas as Igrejas e asseguro a todas elas que estou disposto a morrer de bom grado por Deus, se vós não o impedirdes. Peço-vos que não manifesteis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais poderei chegar à posse de Deus. Sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras, para me transformar em pão limpo de Cristo. Rezai por mim a Cristo, para que, por meio desses instrumentos, eu seja sacrifício para Deus.
Para nada me serviriam os prazeres do mundo ou os reinos deste século. Prefiro morrer em Cristo Jesus a reinar sobre todos os confins da terra. Procuro Aquele que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa. Estou prestes a nascer. Tende piedade de mim, irmãos. Não me impeçais de viver, não queirais que eu morra. Não me entregueis ao mundo, a mim que desejo ser de Deus, nem penseis seduzir-me com coisas terrenas. Deixai-me alcançar a luz pura. Quando lá chegar serei verdadeiramente um homem. Deixai-me ser imitador da paixão do meu Deus. Se alguém O possuir, compreenderá o que quero e terá compaixão de mim, por conhecer a ânsia que me atormenta.
O príncipe deste mundo quer arrebatar-me e corromper a disposição da minha vontade para com Deus. Nenhum de vós o ajude; tornai-vos antes partidários meus, isto é, de Deus. Não queirais ter ao mesmo tempo o nome de Jesus Cristo na boca e desejos mundanos no coração. Não me queirais mal. Mesmo que eu vo-lo pedisse na vossa presença, não me devíeis acreditar. Acreditai antes nisto que vos escrevo. Estou a escrever-vos enquanto ainda vivo, mas desejando morrer. O meu Amor está crucificado e não há em mim fogo que se alimente da matéria. Mas há uma água viva que murmura dentro de mim e me diz interiormente: «Vem para o Pai». Não me satisfazem os alimentos corruptíveis nem os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, que é a Carne de Jesus Cristo, nascido da linhagem de David, e por bebida quero o seu Sangue que é a caridade incorruptível.
Já não quero viver mais segundo os homens; e isto acontecerá, se vós quiserdes. Peço-vos que o queirais, para que também vós alcanceis benevolência. Peço-vos em poucas palavras: acreditai-me. Jesus Cristo vos fará compreender que digo a verdade. Ele é a boca da verdade, no qual o Pai falou verdadeiramente. Pedi por mim para que o consiga. Não vos escrevi segundo a carne, mas segundo o espírito de Deus. Se padecer o martírio, ter-me-eis amado; se me rejeitarem, ter me eis querido mal.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A esmola purifica o interior e o exterior

       ...Um fariseu convidou-O para comer em sua casa. Jesus entrou e tomou lugar à mesa. O fariseu admirou-se, ao ver que Ele não tinha feito as abluções antes de comer. Disse-lhe o Senhor: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e perversidade. Insensatos! Quem fez o interior não fez também o exterior? Dai antes de esmola o que está dentro e tudo para vós ficará limpo» (Lc 11, 37-41).

        Um dos gestos obrigatórios para os judeus eram as abluções, antes da refeição, lavar as mãos e eventualmente a cara. É uma questão prática e higiénica. Mas converteu-se em rito religioso. Jesus ignora o gesto e senta-se para tomar a refeição. Não deve ter sido inocente. Talvez uma provocação de Jesus para suscitar a reflexão. E a reflexão é clara: a insistência não deve ser no aspeto exterior, mas na vivência interior e que esta, por sua vez, possa traduzir-se com atitudes e gestos concretos na relação com o nosso semelhante.
       Obviamente que o copo como o prato devem estar limpos também no exterior e o aspecto ajuda à refeição, mas como seria se o prato estivesse limpo por fora mas sujo por dentro?! A prioridade é o interior, a conversão ao bem, à verdade, à justiça...
      Se algumas dúvidas existiam, agora tudo fica mais claro: as obras comprovam a fé professada, dão-lhe vida, sustentam-na e aprofundam-na. Uma fé sem obras é inútil, é balofa, oca. Aliás, se a fé é autêntica ela conduz ao compromisso. Por conseguinte, dizer que se tem uma grande fé é desnecessário, as obras mostram, num e noutro sentido.
      Jesus, assim, contrapõe o ritualismo à vivência da caridade. De pouco adianta cumprir todas as exigências da Lei, se não houver conversão do coração, transformação da vida, compromisso com o nosso semelhante. A esmola purifica o nosso interior e o nosso exterior...
       Dizia Blaise Pascal, que quando não vivemos como pensámos, acabamos por pensar como vivemos. Por outras palavras, o nosso exterior deve ser a expressão do que somos, do nosso interior, devemos viver de acordo com os nossos princípios éticos, sociais, culturais, religiosos. Se nos deixamos levar pela maré, acabamos por justificar, ou tentar justificar, aquilo que, por princípio está errado. Jesus insiste na necessidade de voltarmos o nosso olhar para o interior, onde nos podemos encontrar com Deus.

Santa Margarida Maria Alacoque, Virgem

Nota biográfica:
       Nasceu em 1647 na diocese de Autun (França). Acolhida entre as Irmãs da Visitação de Paray le Monial, progrediu de modo admirável no caminho da perfeição. Teve revelações místicas, particularmente sobre a devoção ao Coração de Jesus, e contribuiu muito para introduzir o seu culto na Igreja. Morreu a 17 de Outubro de 1690.
ORAÇÃO COLETA
       Infundi em nós, Senhor, o espírito com que enriquecestes Santa Margarida Maria, para chegarmos ao conhecimento do mistério incomparável do amor de Cristo e alcançarmos a plenitude da vida divina. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Das Cartas de Santa Margarida Maria Alacoque, virgem
Devemos conhecer o amor supereminente da ciência de Cristo
Parece me que a intenção de Nosso Senhor ao manifestar tão grande desejo de que o seu Sagrado Coração seja especialmente venerado, é renovar nas almas os efeitos da sua redenção. Na verdade, o Sagrado Coração é uma fonte inesgotável que não pretende senão comunicar se aos corações humildes, para que, mais livres e disponíveis, orientem a sua vida na entrega total à sua vontade.
Deste divino Coração brotam sem cessar três canais de graça. O primeiro é o da misericórdia para com os pecadores, sobre os quais infunde o espírito de contrição e de penitência. O segundo é o da caridade, para auxílio de quantos padecem tribulações e em especial dos que aspiram à perfeição, a fim de que superem todas as dificuldades. O terceiro é de amor e luz para os seus amigos perfeitos que deseja unir a Si para os tornar participantes da sua ciência e dos seus desígnios, a fim de que eles se consagrem inteiramente a promover a sua glória, cada um à sua maneira.
Este divino Coração é um abismo que encerra todos os bens e é preciso que os pobres Lhe confiem todas as suas necessidades. É abismo de alegria em que devem ficar submersas todas as nossas tristezas; é abismo de humildade contra o nosso orgulho; é abismo de misericórdia para os infelizes; é abismo de amor para saciar toda a nossa pobreza.
Uni vos intimamente, em tudo o que fizerdes, ao Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, para fazerdes vossas as suas disposições e a sua satisfação. Por exemplo: não adiantais nada na oração? Contentai-vos com oferecer a Deus as preces que o divino Salvador eleva por nós no Sacramento do altar, oferecendo o seu fervor em reparação da vossa tibieza; e dizei em cada uma das vossas acções: «Meu Deus, faço isto ou sofro aquilo em união com o Sagrado Coração de vosso Filho e segundo as suas intenções; eu Vo-lo ofereço em reparação de todo o mal ou imperfeição das minhas obras». E de modo semelhante em todas as circunstâncias da vida. E sempre que vos sobrevém qualquer sofrimento, angústia ou mortificação, dizei no vosso interior: «Recebe o que o Sagrado Coração de Jesus te envia para te unir a Ele».
Acima de tudo, porém, conservai a paz de coração, que supera todos os tesouros. E o melhor meio de a conservar é renunciar à própria vontade e colocar a vontade do divino Coração em vez da nossa, para a deixar escolher por nós aquilo que mais pode contribuir para a sua glória.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

SANTA TERESA DE JESUS, virgem e doutora da Igreja

       Nasceu dentro da cidadela de Ávila, a 28 de março de 1515, sendo baptizada como Teresa de Ahumada... Lê a vida dos santos, depois livros de cavalaria, torna-se centro de atenções. Aos 17 anos entra nas Agostinhas de Grácia, como interna, onde brotará a vocação, entrando, alguns meses depois na Encarnação de Ávila. A 3 de novembro de 1536, faz a sua profissão religiosa.
       Será atacada de doenças várias: desequilíbrio nervoso, dores atrozes, doença do coração. Nessa altura terá os primeiros momentos de oração e de recolhimento.
       No convento da Encarnação leva uma vida folgada e tranquila, com pouca oração e se exercícios em comum com as outras irmãs. O seu lucatório é espaço onde se encontrava a alta sociedade de Ávila. Vive assim durante 20 anos.
       Um dia fixou-se, no seu lucatório, onde recebia as pessoas, numa imagem de Cristo atado à coluna. Caiu em si, vendo o que Jesus tinha feito pela humanidade e por ela também. Aos 40 anos faz a entrega definitiva a Deus. Aos 45 anos teve as primeiras visões e, um ano depois, funda o primeiro convento reformado, São José de Ávila. A ânsia de reforma espiritual, leva-a a percorrer a Espanha, fundando diversos conventos.
       Dá-se o encontro com o grande místico São João da Cruz e inicia, em novembro de 1568, a reforma entre os homens, com o convento de Duruelo.
       Faleceu no dia 4 de outubro de 1582 e enterrada ao outro dia.
       É considerada um dos maiores génios que a humanidade já produziu, possuía uma viva e arguta inteligência, num estilo vivo e atraente e com um profundo bom senso.
       Foi canonizada em 1622, com o Papa Gregório XV e em 1970, foi proclamada pelo Papa Paulo VI, com Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja, pelo Papa Paulo VI. As duas primeiras mulheres a receberem este título.

Oração de colecta:
       Senhor, que, por meio de Santa Teresa de Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, manifestastes à vossa Igreja o caminho da perfeição, concedei-nos a graça de encontrar alimento na sua doutrina espiritual e de nos inflamarmos no desejo da verdadeira santidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Das Obras de Santa Teresa de Jesus, virgem
(Opusc. Libro de la Vida, cap. 22, 6-7.12.14) (Sec. XVI)
Lembremo-nos sempre do amor de Cristo
Estando presente tão bom amigo e tão generoso capitão, Jesus Cristo, tudo podemos suportar. Ele é ajuda e dá forças; nunca falta; é verdadeiro amigo. E eu vejo claramente que, para contentar a Deus e receber grandes mercês, Ele quer que seja pelas mãos desta humanidade sacratíssima, na qual a sua Majestade se deleita.
Muitas vezes o vi por experiência. O Senhor mo disse. Vi claramente que temos de entrar por esta porta se quisermos que a soberana Majestade nos mostre grandes segredos. Não se procure outro caminho, mesmo estando no mais alto grau da contemplação; é por aqui que se vai seguro. É por este Senhor nosso que nos vêm todos os bens; Ele o ensinará; olhando a sua vida, teremos o melhor exemplo.
Que mais desejamos de amigo tão bom ao nosso lado, que não nos deixará em dificuldades e tribulações, como fazem os do mundo? Ditoso aquele que O ama de verdade e O traz sempre junto de si. Consideremos o glorioso São Paulo que tinha sempre em sua boca o nome de Jesus, porque o tinha bem no coração. Depois de ter compreendido isto, reparei com cuidado em alguns Santos, grandes contemplativos, que não iam por outro caminho: São Francisco, Santo António de Pádua, São Bernardo, Santa Catarina de Sena. É com liberdade que devemos percorrer este caminho, abandonando nos nas mãos de Deus. Se sua Majestade nos quiser chamar para o segredo da sua antecâmara, devemos ir de boa vontade.
Sempre que pensarmos em Cristo, lembremo-nos do amor com que Ele nos concedeu tantas mercês e da caridade que Deus mostrou ao dar nos em penhor o próprio amor que tem por nós. O amor pede amor. Procuremos pois ir meditando nisto e despertando nos para amar. Na verdade, se o Senhor nos concede uma vez a graça de nos imprimir no coração este amor, tudo será fácil para nós e muito faremos em breve tempo e com pouco trabalho.

sábado, 13 de outubro de 2018

Mais felizes os que escutam a Palavra de Deus...

        Enquanto Jesus falava à multidão, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Mas Jesus respondeu: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27-28).
       Neste pequeno trecho do Evangelho, proposto para hoje, Jesus sublinha que a escuta da palavra de Deus, levada à prática, é o melhor argumento para se ser Seu discípulo e para integrar o Reino de Deus.
       É a fé de Cristo Jesus que nos salva. Mas a fé não é apenas abstracta ou sentimental, é também compromisso com os outros. Não é oca, mas preenchida com o bem que provoca em nós a favor dos outros. As palavras de Jesus não deixam margem: ouvir a palavra e pô-la em prática. Duas condições da fé: escutar o que Deus nos diz e realizar a Sua vontade.
       A resposta de Jesus à interpelação desta mulher é reveladora. Por um lado, a mulher mostra entusiasmo pelas palavras de Jesus, elogiando-O através da Mãe. Como deveria ser compensador ter um filho assim, sábio, profeta. Por sua vez, Jesus mostra que todos nós podemos ser família d'Ele, a condição é escutar a Palavra de Deus, pondo-a em prática, procurando viver nos ideais do Evangelho da caridade e do perdão.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Jesus expulsa os demónios

       Jesus expulsou um demónio, mas alguns dos presentes disseram: «É por Belzebu, príncipe dos demónios, que Ele expulsa os demónios». Outros, para O experimentarem, pediam-Lhe um sinal do céu. Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse: «Todo o reino dividido contra si mesmo, acaba em ruínas e cairá casa sobre casa. Se Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então quer dizer que o reino de Deus chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os seus bens estão em segurança. Mas se aparece um mais forte do que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está comigo está contra Mim e quem não junta comigo dispersa. Quando o espírito impuro sai do homem, anda a vaguear por lugares desertos à procura de repouso. Como não o encontra, diz consigo: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Quando lá chega, encontra-a varrida e arrumada. Então vai e toma consigo sete espíritos piores do que ele, que entram e se instalam nela. E o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro» (Lc 11, 15-26).
       Jesus dá claros sinais da Sua intimidade com Deus: faz milagres, expulsa os espíritos impuros, cura os doentes, perdoa os pecados. Ainda que faça o bem, sempre encontra oposição daqueles que por ciúme, inveja, cinismo, incredulidade, O contestam. Alguns consideram-n'O blasfemo, charlatão, mais um a tentar ludibriar o povo. Em contrapartida, perante os feitos de Jesus, as pessoas têm os sinais de que Ele está e vem em nome de Deus, uma fez que faz o que só a Deus é possível e atribuído. Então Ele é Deus.
       Os detractores vão espalhando, insidiosamente, que aqueles poderes são manifestação diabólica, ao que Jesus responde dizendo que o "reino demoníaco" seria derrotado se estivesse dividido. Ora se Jesus está contra o reino das trevas, este não subsistirá. Se, pelo contrário, Jesus pertencesse ao exército de Satanás, o que faria sentido é que espalhasse o mal, ora Jesus procura e promove o bem...

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

São João XIII, Papa

Nota biográfica:
       Nasceu no dia 25 de Novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi baptizado com o nome de Angelo Giuseppe; foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa. O clima religioso da família e a fervorosa vida paroquial foram a primeira escola de vida cristã, que marcou a sua fisionomia espiritual.
       Ingressou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no "Diário da alma". No dia 1 de Março de 1896, o seu director espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897.
       De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas: sínodo, redacção do boletim diocesano, peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Acção Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz.
       Naqueles anos aprofundou-se no estudo de três grandes pastores: São Carlos Borromeu (de quem publicou as Actas das visitas realizadas na diocese de Bérgamo em 1575), São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo. Após a morte de D. Giacomo Tedeschi, em 1914, o Pade Roncalli prosseguiu o seu ministério sacerdotal dedicado ao magistério no Seminário e ao apostolado, sobretudo entre os membros das associações católicas.
       Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado director espiritual do Seminário.
       Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.
       Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.
       Tendo recebido a Ordenação episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as demais comunidades cristãs. Actuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.
       Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença activa em muitos âmbitos da jovem república, que se estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.
       Durante os últimos meses do conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento, prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir sempre como sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se transformava todos os dias em prolongado tempo a orar e a meditar.
       Em 1953 foi criado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.
       Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".
       Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o "o Papa da bondade". Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.
       Foi beatificado em 3 de setembro de 2000, pelo Papa João Paulo II.
       Foi canonizado em 27 de abril de 2014, pelo Papa Francisco. Na mesma ocasião foi canonizado o Papa João Paulo II, beatificado em 1 de maio de 2011, pelo Papa Bento XVI.


Oração de coleta:
       Deus eterno e omnipotente, que no papa São João XXIII, fizestes resplandecer em todo o mundo a imagem viva de Cristo, bom pastor, concedei-nos, pela sua intercessão, a graça de difundir com alegria a plenitude da caridade cristã. Por Nosso Senhor.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Quando orardes, dizei: Pai-nosso, que estais no Céu...

       Estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’» (Lc 11, 1-4).
        A oração do Pai-nosso, oração original de Jesus, é sucinta, clara, essencial. Por ela, rezada com sinceridade, descobrimo-nos como filhos amados de Deus, como irmãos uns dos outros, no compromisso de realizar na terra a vontade de Deus, no prossecução do bem, da verdade, da conciliação, procurando para os outros o mesmo que para nós, deixando que Deus atue no mundo e nas pessoas através de nós. No Pai-nosso está contido o essencial, acentuando-se o perdão como forma de construir mais solidamente as relações afectivas entre pessoas e comunidades.

(Sobre o Pai-nosso, reflexão do XVI Domingo do Tempo Comum - ano C).

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Marta, Marta, andas inquieta com tanta coisa

       Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (Lc 10, 38-42).
       Cansado da jornada, Jesus tem na casa de Lázaro, de Maria e de Marta um porto de abrigo. Ao passar sabe que pode descansar e retemperar as forças. Marta atarefa-se para cuidar do bem-estar de Jesus. Maria acolhe-O na escuta atenta. Duas formas de acolhimento que Jesus aprecia.
       O reparo de Marta a Jesus, merece d’Ele um outro reparo. O que Maria faz é tão ou mais importante. Não basta alimentar o corpo, mas também o espírito. Ela escuta-O, conforta-O do cansaço da missão.
       A Igreja é Marta e Maria. Mas se for demasiado Marta pode esquecer-se da sua origem e do seu fim último. Tudo começa em Deus, na oração, na meditação e na contemplação que leve à Sua adoração. O compromisso com os outros e com o mundo, para o crente, há-de partir daqui, para que não haja instrumentalização de pessoas nem falte a alegria no serviço solidário.

Reflexão mais ampla no XVI Domingo do Tempo Comum

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Quem é o meu próximo?

       Jesus, tomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores. Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o mesmo» (Lc 10, 25-37).
       Um dos doutores da Lei pergunta a Jesus o que deve fazer para ter como herança a vida eterna. A resposta é óbvia, e por maioria de razão, para quem conhece a Sagrada Escritura: amar a Deus, em primeiro lugar, antes e acima de tudo, e ao próximo como a si mesmo. Quanto ao primeiro mandamento mas há dúvidas. Quanto ao segundo - o amor ao próximo - e talvez mais para se desculpar do que para tentar compreender, existem mais dúvidas. O doutor a Lei pergunta a Jesus: quem é o meu próximo?
       A resposta de Jesus vem em forma de parábola - conhecida parábola do Bom Samaritano -, tornando mais explícita a mensagem, mas respeitando a liberdade de aceitar ou não essa mensagem.
       Um homem foi assaltado. Passaram o sacerdote e o levita, mas querendo preservar-se da contaminação legal passam à frente, preferiam estar aptos a participar do culto, mesmo abandonando o homem caído na estrada. Prevalece, aparentemente, o primeiro mandamento, isto é, amar a Deus. A religião parece, nesse caso, opor-se à caridade. Jesus rectifica: o amor de Deus manifesta-se e concretiza-se no auxílio ao outro.
       Jesus vai mais longe. O próximo não é apenas aquele que precisa da minha ajuda, próximo sou eu quando me aproximo. É uma opção pro-activa, leva-me ao compromisso, a tomar a iniciativa de ir ao encontro do outro. Não basta passivamente esperar que o outro venha ao meu encontro ou que o outro me peça ajuda. É uma profunda revolução na mentalidade daquele e de todos os tempos. Amar a Deus nos outros. A própria imagem de Deus, como o Bom Samaritano, que não fica no seu canto, lá no alto do Céus, mas vem ao encontro, toma a iniciativa, não fica indiferente, cuida...