sábado, 30 de junho de 2018

Domingo XIII do Tempo Comum - 1 de julho de 2018

Não sou digno de que entres em minha casa

        Ao entrar Jesus em Cafarnaum, aproximou-se d’Ele um centurião, que Lhe suplicou, dizendo: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre horrivelmente». Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo». Mas o centurião respondeu-Lhe: «Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas diz uma só palavra e o meu servo ficará curado. Porque eu, que não passo dum subalterno, tenho soldados sob as minhas ordens: digo a um ‘Vai!’ e ele vai; a outro ‘Vem!’ e ele vem; e ao meu servo ‘Faz isto!’ e ele faz». Ao ouvi-lo, Jesus ficou admirado e disse àqueles que O seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé» Por isso vos digo: Do Oriente e do Ocidente virão muitos sentar-se à mesa, com Abraão, Isaac e Jacob, no reino dos Céus, ao passo que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes». Depois Jesus disse ao centurião: «Vai para casa. Seja feito conforme acreditaste». E naquela hora, o servo ficou curado. Quando Jesus entrou na casa de Pedro, viu que a sogra dele estava de cama com febre. Tocou-lhe na mão e a febre deixou-a; ela então levantou-se e começou a servi-los. Ao cair da tarde, trouxeram-Lhe muitos possessos. Jesus expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, dizendo: «Tomou sobre si as nossas enfermidades e suportou as nossas doenças» (Mt 8, 5-17).
        Mais um encontro com um estrangeiro. O centurião romano, responsável por cem (centurião) soldados que fazem parte do poder político e militar e que asseguram a ordem em Israel, a favor do imperador. Pelo lugar que ocupam são pessoas odiosas, porque impõem a ordem, por vezes com violência extrema, são estrangeiros, lembram ao povo que são governados a partir do exterior, a partir de Roma, são de uma religião estranha.
       É o próprio centurião que vai ao encontro de Jesus, para lhe pedir a Sua intervenção a favor de um dos seus servos. Sublinhe-se a atitude de humildade e de fé do centurião. Deixa de lado a sua autoridade e confia-se a uma pessoa que é natural do país dominado, deixa de lado qualquer presunção. Daqui concluímos também que a salvação não depende dos genes, da família, do país, da religião, ainda que o ambiente possa favorecer, mas depende da conversão de cada um.
       A sensibilidade deste homem é notória. Para outros, talvez o servo fosse dispensável, mas para o centurião mais que um servo é uma amigo.
       Jesus sublinha a fé deste homem, "não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé", e aponta-o como exemplo de conversão e de fé. A expressão desta fé ficou para sempre ligada à Eucaristia: "Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas diz uma só palavra e o meu servo ficará curado".

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Martírio de São Pedro e São Paulo, Apóstolos

Nota biográfica:
       Desde o século III que a Igreja une na mesma solenidade os Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, as duas grandes colunas da Igreja. Pedro, pescador da Galileia, irmão de André, foi escolhido por Jesus Cristo como chefe dos Doze Apóstolos, constituído por Ele como pedra fundamental da Sua Igreja e Cabeça do Corpo Místico. Foi o primeiro representante de Jesus sobre a terra.
       São Paulo, nascido em Tarso, na Cilícia, duma família judaica, não pertenceu ao número daqueles que, desde o princípio, conviveram com Jesus. Perseguidor dos cristãos, converte-se, pelo ano 36, a caminho de Damasco, tornando-se, desde então, Apóstolo apaixonado de Cristo. Ao longo de 30 anos, anunciará o Senhor Jesus, fundando numerosas Igrejas e consolidando na fé, com as suas Cartas, as jovens cristandades. Foi o promotor da expansão missionária, abrindo a Igreja às dimensões do mundo.
       Figuras muito diferentes pelo temperamento e pela cultura, viveram, contudo, sempre irmanados pela mesma fé e pelo mesmo amor a Cristo. São Pedro, na sua maravilhosa profissão de fé, exclamava: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». E, no seu amor pelo Mestre, dizia: «Senhor, Tu sabes que eu Te amo». S. Paulo, por seu lado, afirmava: «Eu sei em quem creio», ao mesmo tempo que exprimia assim o seu amor: «A minha vida é Cristo»!
       Depois de ambos terem suportado toda a espécie de perseguições, foram martirizados em Roma, durante a perseguição de Nero. Regando, com o seu sangue, no mesmo terreno, «plantaram» a Igreja de Deus.
       Após 2000 anos, continuam a ser «nossos pais na fé». Honrando a sua memória, celebremos o mistério da Igreja fundada sobre os Apóstolos e peçamos, por sua intercessão, perfeita fidelidade ao ensinamento apostólico.

Oração:
       Senhor, que nos encheis de santa alegria na solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, concedei à vossa Igreja que se mantenha sempre fiel à doutrina daqueles que foram o fundamento da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...
Santo Agostinho, bispo

Estes mártires deram testemunho do que viram 

O dia de hoje é para nós dia sagrado, porque nele celebramos o martírio dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Não falamos de mártires desconhecidos. A sua voz ressoou por toda a terra e a sua palavra até aos confins do mundo. Estes mártires deram testemunho do que tinham visto: seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.
São Pedro é o primeiro dos Apóstolos, ardentemente apaixonado por Cristo, aquele que mereceu ouvir estas palavras: E Eu te digo que tu és Pedro. Antes dissera ele: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo. E Cristo respondeu-lhe: E Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Sobre esta pedra edificarei Eu a mesma fé de que tu dás testemunho. Sobre a mesma afirmação que tu fizeste: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, edificarei Eu a minha Igreja. Porque tu és Pedro. «Pedro» vem de «pedra»; não é «pedra» que vem de «Pedro». «Pedro» vem de «pedra», como «cristão» vem de «Cristo».
O Senhor Jesus, antes da sua paixão, escolheu, como sabeis, os discípulos a quem chamou Apóstolos. Entre estes, só Pedro mereceu representar em toda a parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus. Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja única. Assim se manifesta a superioridade de Pedro, porque ele representava a universalidade e unidade da Igreja, quando lhe foi dito: Dar-te-ei. Era-lhe atribuído nominalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do reino dos Céus, ouvi o que o Senhor diz noutro lugar a todos os seus Apóstolos: Recebei o Espírito Santo. E logo a seguir: Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.
No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor confiou a Pedro o cuidado de apascentar as suas ovelhas. Na verdade, não foi só ele, entre os discípulos, que recebeu a missão de apascentar as ovelhas do Senhor. Mas, referindo-se Cristo a um só, quis insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque entre os Apóstolos, Pedro é o primeiro.
Não estejas triste, ó Apóstolo. Responde uma vez, responde outra vez, responde pela terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que três vezes o temor venceu a tua presunção. Tens de soltar por três vezes o que por três vezes ligaste. Solta por amor o que ligaste pelo temor. E assim, uma vez e outra vez e pela terceira vez, o Senhor confiou a Pedro as suas ovelhas.
Num só dia celebramos o martírio dos dois Apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só; embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; seguiu-o Paulo. Celebramos a festa deste dia para nós consagrado com o sangue dos dois Apóstolos. Amemos e imitemos a sua fé e a sua vida, os seus trabalhos e sofrimentos, o testemunho que deram e a doutrina que pregaram.

Fonte: Secretariado Nacional da Liturgia. Pode também revisitar Escolhas e Percursos, onde se apresentam pequenos textos sobre São Paulo e São Pedro. Neste blogue, pode aceder aos textos relacionados com São Paulo, aqui, e aos textos relacionados com São Pedro, aqui!

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Santo Ireneu, Bispo e Mártir

Nota biográfica:
       Nasceu cerca do ano 130 e foi educado em Esmirna. Foi discípulo de S. Policarpo, bispo desta cidade. No ano 177 era presbítero em Lião (França) e pouco tempo depois foi nomeado bispo da mesma cidade. Escreveu várias obras para defender a fé católica contra os erros dos gnósticos. Segundo a tradição, recebeu a palma do martírio cerca do ano 200.

Oração (de colecta):
       Senhor, que concedestes ao bispo Santo Ireneu o dom de proclamar com firmeza a verdadeira doutrina e de fortalecer a paz na Igreja, por sua intercessão renovai-nos na fé e na caridade, para trabalharmos sem descanso pela união e concórdia entre os homens. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...

Palavras de Santo Ireneu:

A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus.
Participam da vida os que veem a Deus, porque é o esplendor de Deus que dá a vida. Por isso, Aquele que é inacessível, incompreensível e invisível, torna-Se visível, compreensível e acessível para os homens, a fim de dar vida aos que O alcançam e veem. Porque é impossível viver sem a vida; e não há vida sem a participação de Deus, participação que consiste em ver a Deus e gozar da sua bondade.
Portanto, os homens hão de ver a Deus para poderem viver; por esta visão tornam-se imortais e chegam até à posse de Deus. Isto foi anunciado pelos Profetas, de modo figurado, como disse há pouco: Deus será visto pelos homens que possuem o seu Espírito e aguardam sempre a vinda do Senhor. Assim diz também Moisés no Deuteronómio: Nesse dia veremos, porque Deus falará ao homem e o homem viverá.
Deus, que realiza tudo em todos, é invisível e indescritível, quanto ao seu poder e à sua grandeza, para os seres por Ele criados. Mas não é desconhecido, porque todos sabemos, por meio do seu Verbo, que há um só Deus Pai que abrange todas as coisas e a tudo dá existência, como está escrito no Evangelho: Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai no-l’O deu a conhecer.
Quem desde o princípio nos dá a conhecer o Pai é o Filho, porque desde o princípio está com o Pai: as visões proféticas, a diversidade de graças, os ministérios, a glorificação do Pai, tudo isto, como uma sinfonia bem composta e harmoniosa, Ele o manifestou aos homens, no tempo próprio, para seu proveito. Porque onde há composição há harmonia; onde há harmonia tudo sucede no tempo próprio; e quando tudo sucede no tempo próprio, há proveito.
Por isso o Verbo tornou-Se o administrador da graça do Pai, para proveito dos homens, em favor dos quais Ele pôs em prática a sua tão sublime economia da graça, mostrando Deus aos homens e apresentando o homem a Deus. Manteve, no entanto, a invisibilidade do Pai, para que o homem se conserve sempre reverente para com Deus e tenha um estímulo para o qual deve progredir; mas, ao mesmo tempo, mostrou também que Deus é visível aos homens por meio da economia da graça, para não suceder que o homem, privado totalmente de Deus, chegasse a perder a sua própria existência. Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus. Com efeito, se a manifestação de Deus, através da criação, dá a vida a todos os seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá vida a todos os que veem a Deus.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor da Igreja

       "Cirilo nasceu no ano de 370, no Egipto. Era sobrinho de Teófilo, bispo de Alexandria, e substituiu o tio na importante diocese do Oriente de 412 até 444, quando faleceu aos setenta e quatro anos de idade.
       Foram trinta e dois anos de episcopado, durante os quais exerceu forte liderança na Igreja, devido à rara associação de um acurado e profundo conhecimento teológico e de uma humildade e simplicidade próprias do pastor de almas. Deixou muitos escritos e firmou a posição da Igreja no Oriente. Primeiro, resolveu o problema com os judeus que habitavam a cidade: ou deixavam de atacar a religião católica ou deviam mudar-se da cidade. Depois, foi fechando as igrejas onde não se professava o verdadeiro cristianismo.
       Mas sua grande obra foi mesmo a defesa do dogma de Maria, como a Mãe de Deus. Ele se opôs e combateu Nestório, patriarca de Constantinopla, que professava ser Maria apenas a mãe do homem Jesus e não de Um que é Deus, da Santíssima Trindade, como está no Evangelho. Por esse erro de pregação, Cirilo escreveu ao papa Celestino, o qual organizou vários sínodos e concílios, onde o tema foi exaustivamente discutido. Em todos, esse papa se fez representar por Cirilo.
       O mais importante deles talvez tenha sido o Concilio de Éfeso, em 431, no qual se concluiu o assunto com a condenação dos erros de Nestório e a proclamação da maternidade divina de Nossa Senhora. Além, é claro, de considerar hereges os bispos que não aceitavam a santidade de Maria.
       Logo em seguida, todos eles, ainda liderados por Nestório, que continuaram pregando a tal heresia, foram excomungados. Contudo as ideias "nestorianas" ainda tiveram seguidores, até pouco tempo atrás, no Oriente. Somente nos tempos modernos elas deixaram de existir e todos acabaram voltando para o seio da Igreja Católica e para os braços de sua eterna rainha: Maria, a Santíssima Mãe de Deus.
       Venerado na mesma data por toda a Igreja Católica, do Oriente e do Ocidente, são Cirilo de Alexandria, célebre Padre da Igreja, bispo e confessor, recebeu o título de doutor da Igreja treze séculos após sua morte, durante o pontificado do papa Leão XIII".

Oração de coleta:
        Senhor nosso Deus, que fizestes do bispo São Cirilo de Alexandria um invencível defensor da maternidade divina da bem-aventurada Virgem Maria, concedei ao vosso povo, que a proclama verdadeira Mãe de Deus, a graça de ser salvo pela Encarnação do vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
São Cirilo de Alexandria, bispo

Defensor da maternidade divina da Virgem Maria

Muito me admiro de que haja quem duvide se efetivamente a Virgem Santíssima deve ser chamada Mãe de Deus. Na verdade, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo é que a Virgem Santíssima, que O deu à luz, não há-de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, embora não usassem esta mesma expressão. Assim nos ensinaram também os santos Padres. Em particular Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, no livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, na terceira dissertação a cada passo dá à Santíssima Virgem o título de Mãe de Deus.
Sinto-me obrigado a citar aqui as suas próprias palavras, que são do teor seguinte: «A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem como finalidade e característica afirmar de Cristo, nosso Salvador, estas duas coisas: que é Deus e nunca deixou de o ser, uma vez que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós Se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus».
E continua assim pouco mais adiante: «Houve muitos que foram santos e livres de todo o pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; e também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria, ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus». Estas palavras são de um homem inteiramente digno de fé, a quem podemos seguir com toda a confiança, pois seria incapaz de pronunciar uma só palavra contrária à Escritura divina.
E de facto a Escritura, inspirada por Deus, afirma que o Verbo Se fez carne, isto é, Se uniu a uma carne dotada de uma alma racional. Por conseguinte, o Verbo de Deus assumiu a descendência de Abraão e, ao formar para Si um corpo vindo de uma mulher, fez-Se participante da carne e do sangue. Deste modo, já não é somente Deus, mas também homem semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa natureza.
Portanto o Emanuel, Deus-connosco, consta de duas realidades: divindade e humanidade. Mas é um só Senhor Jesus Cristo, um só verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, como aqueles que pela graça se tornam participantes da natureza divina; mas é verdadeiro Deus que, por causa da nossa salvação, Se fez visível em forma humana, como também testemunha São Paulo com estas palavras: Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sob o jugo da Lei e nos tornar seus filhos adoptivos.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Entrai pela porta estreita...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, não vão eles calcá-las aos pés e voltar-se para vos despedaçarem. Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei-o também a eles, pois nisto consiste a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição e muitos são os que seguem por eles. Como é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida e como são poucos aqueles que os encontram!» (Mt 7, 6.12-14).
       A regra de ouro: não faças aos outro o que não queres que te façam a ti. Jesus formula esta regra positivamente: faz aos outros o que queres que te façam a ti. Com efeito, se a nossa postura para com os outros, em palavras e gestos, corresponder àquilo que desejamos para nós, então estaríamos no caminho de fazer bem a todos e de todos dizer bem.
       O cristão não deve contentar-se com o mínimo garantido, com o que está na lei, mas procurar aperfeiçoar-se sempre mais e fazer todo o bem que puder, a todas as pessoas que encontrar. Não nos situamos no "deve" fazer-se isto ou aquilo para se manter dentro das recomendações da Igreja ou da sociedade, mas deve viver ao máximo, gastar a vida, apostar no hoje, dar o melhor de si mesmo, levar aos outros o próprio Deus que nos habita, sem medos nem hesitações. A única regra é amar, amar sem limites, de todo o coração, como Jesus, dando a vida. Todas as outras regras serão observadas se o AMOR presidir a toda vida, a todas as escolhas, a todos os caminhos.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Não julgueis e não sereis julgados

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não julgueis e não sereis julgados. Segundo o julgamento que fizerdes sereis julgados, segundo a medida com que medirdes vos será medido. Porque olhas o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como poderás dizer a teu irmão: ‘Deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, enquanto a trave está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão» (Mt 7, 1-5).
        É tão fácil olharmos para os outros. Desde logo por uma razão biológica, estão à nossa volta, vemos e/ouvimos, formulamos juízos de valor e nem sempre (e talvez muitas vezes não são) positivos. Por vezes, como nos recordam vários autores como Augusto Cury, o que detestamos nos outros é aquilo que detestamos em nós, mas é mais simples observá-lo nos outros. Contudo, já o desafio de Sócrates (filósofo grego que viveu antes de Jesus Cristo) nos envidava a que cada um se conhecesse a si mesmo, para depois conhecer os outros e o mundo.
       Jesus é peremptório, o nosso juízo de valor sobre os outros deve ser muito cuidadoso, usando para com eles a medida que gostaríamos que usassem connosco. Ou como nos lembra um ditado popular, não atiremos pedras aos telhados vizinhos quando nós temos telhados de vidro, é um perigo, poderemos ficar sem telhado...

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Não acumuleis tesouros na terra

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os destroem e os ladrões os assaltam e roubam. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não os destroem e os ladrões não os assaltam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração. A lâmpada do teu corpo são os olhos. Se o teu olhar for límpido, todo o teu corpo ficará iluminado. Mas se o teu olhar for mau, todo o teu corpo andará nas trevas. E se a luz que há em ti são trevas, como serão grandes essas trevas!» (Mt 6, 19-23).
       Obviamente, os bens materiais são necessários para se viver com dignidade, mas como meio, como instrumento, ao serviço da humanidade e da felicidade que se deseja.
       Mas por mais duradoiros que sejam, os bens materiais são corruptíveis, e não definem o grau da nossa felicidade. Jesus interpela para que acumulemos tesouros no Céu, sabendo que estes são incorruptíveis: a caridade para com o próximo, o serviço ao semelhante, traduzidos por perdão, por justiça, por partilha solidária.
       O que acumulamos de riqueza material, se for um fim em si mesmo, não nos satisfaz nunca e nunca nos trará a paz, a alegria, a felicidade. Veja-se, por mais riqueza que tenhamos, se nos faltar a família, os amigos, a saúde, de pouco nos vale. Não podemos comprar a felicidade. Esta constrói-se.
       Por outro lado, Jesus convida-nos a termos um olhar límpido e transparente para que os nossos juízos sejam benevolentes e generosos e para que a Luz possa iluminar o nosso coração e a nossa vida.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

São Luís Gonzaga, religioso

Nota biográfica:
       Nasceu em 1568 perto de Mântua, na Lombardia, filho dos príncipes de Castiglione. Educado cristãmente por sua mãe, desde cedo mostrou indícios de grande aspiração pela vida religiosa. Renunciando ao principado em favor de seu irmão, entrou na Companhia de Jesus em Roma; e, durante os estudos de teologia, entregando-se ao serviço dos enfermos nos hospitais, contraiu uma enfermidade que o levou à morte no ano 1591.

Oração de colecta:
        Senhor nosso Deus, fonte de todos os dons espirituais, que reunistes no jovem São Luís Gonzaga a prática da penitência e uma admirável pureza de vida, concedei-nos, por seus méritos e intercessão, que o imitemos na penitência, já que não o imitamos na inocência. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
De uma carta de São Luís Gonzaga a sua mãe

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor

A graça e a consolação do Espírito Santo estejam sempre convosco. A vossa carta encontrou-me ainda vivo na região dos mortos; mas agora espero ir em breve louvar a Deus eternamente na região dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo. Se a caridade, segundo São Paulo, ensina a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que estão alegres, muito grande deve ser a alegria de Vossa Senhoria, pela graça que Deus Vos concede na minha pessoa, chamando-me à verdadeira alegria e dando-me a segurança de O não poder perder jamais.
Confesso-vos, ilustríssima Senhora, que me perco e arrebato na contemplação da divina bondade, mar sem praia e sem fundo, que me chama a um descanso eterno por um trabalho tão breve e pequeno; que me convida e chama ao Céu para aí me dar aquele soberano bem que tão negligentemente procurei, e que me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.
Por conseguinte, ilustríssima Senhora, considerai bem e ponde todo o cuidado em não ofender esta bondade de Deus, como certamente aconteceria se viésseis a chorar como morto aquele que vai viver na contemplação de Deus e que maiores serviços vos fará com as suas orações do que em esta terra vos prestava. A nossa separação será breve; lá no Céu nos tornaremos a ver; lá seremos felizes e viveremos para sempre juntos, porque estaremos unidos ao nosso Redentor, louvando-O com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma novamente o que nos tinha dado, não o faz senão para o colocar em lugar mais seguro e ao abrigo de qualquer perigo, e para nos dar aqueles bens que acima de tudo desejamos.
Digo tudo isto para que Vós, Senhora minha Mãe, e toda a família, aceiteis a minha morte como um dom precioso da graça. A vossa bênção de mãe me assista e me ajude a alcançar com felicidade o porto dos meus desejos e esperanças. Escrevo-vos com tanto maior prazer quanto é certo que não me resta outra ocasião para vos testemunhar o respeito e o amor filial que vos devo.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

O teu Pai, que tudo vê, te dará a recompensa

Disse Jesus aos seus discípulos: «Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus. Assim, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando rezardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de orar de pé, nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto, para mostrarem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não percebam que jejuas, mas apenas o teu Pai, que está presente em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa» (Mt 6, 1-6.16-18).
       O texto que hoje nos é proposto é lido habitualmente na quarta-feira de cinzas. Traz os ensinamentos de Jesus acerca de algumas práticas religiosas. Como temos visto a escuta do Sermão da Montanha, a prioridade não é o fazer, mas a verdade, o serviço, a delicadeza, a coerência de vida.
     O jejum, a oração, a esmola, as boas obras, hão ser expressão da conversão interior e da adesão firme a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho. Mais importante que o exterior é o interior, ainda que que as boas obras sejam testemunho e incentivo para outros conhecerem e deixarem-se atrair por Jesus Cristo.
       A preocupação primeira, porém, não é para os outros verem, mas decorre da nossa vivência, da proximidade a Jesus e do propósito de O imitarmos na prática do bem, da justiça, da caridade.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Pe. TOLENTINO MENDONÇA - ELOGIO DA SEDE

TOLENTINO MENDONÇA, José (2018). Elogio da Sede. Lisboa: Quetzal. 178 páginas.
O Pe. José Tolentino Mendonça foi convidado, na última Quaresma (2018) para orientar os Exercícios Espirituais do Papa Francisco e da Cúria Romana. Este Livro recolhe as suas reflexões que tem como ponto de ancoragem o encontro de Jesus com a Samaritana. Ao abeirar-se do poço de Jacob, Jesus pede à mulher samaritana: dá-me de beber. Em Jesus, Deus faz-Se sedento da humanidade. A nossa sede de sentido tem correspondência à sede de Deus por nós. No final, é Jesus a Água viva que sacia a nossa sede, a da Samaritana, a minha sede e a tua sede.

       O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura publicou os textos, as intervenções do Pe. Tolentino Mendonça, dirigidas ao Papa e à Cúria Romana, mas que é útil também para nós. Siga a hiperligação: 

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Paróquia de Tabuaço | Primeira Comunhão | 2018

       No dia 31 de maio de 2018, quinta-feira, Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus, a nossa Paróquia participou Primeira Comunhão dos meninos e meninas do 3.º Ano de Catequese: André Pastor; António Luís; Bernardo Miguel; Edgar Ricardo; Juliana Amaral; Leonor Santos; Luana Maria; Maria Eduarda; Martim Amaral; Martinha Beselga, e Rafael Filipe.
       A Primeira Comunhão celebra-se, na nossa Paróquia, no dia solene do Corpo de Deus, o que permite, depois da celebração da Santa Missa, a Procissão do Santíssimo Sacramento por algumas das ruas da nossa Vila, acentuando, precisamente, a presença de Jesus Cristo na Hóstia consagrada.

Oferece a outra face...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado» (Mt 5, 38-42).
       O Evangelho hoje fala-nos de perdão, de tolerância, de compreensão, de benevolência, numa palavra, fala-nos de caridade que depois se expressa no perdão e no acolhimento aos outros mesmo daqueles que me/nos ofendem. Ao olho por olho, dente por dente, a conhecida lei de talião, Jesus propõe que se ame até o inimigo.
       Jesus não se fica pelos mínimos garantidos, no cumprimento fiel da Lei, mas quer que a Lei tenha rosto, vida, tenha espírito. Jesus aponta como limite o infinito, o Amor sem fim. Ele próprio assume este desiderato: por amor derrama a vida até à última gota de sangue...

sábado, 16 de junho de 2018

A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’.

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não faltarás ao que tiveres jurado, mas cumprirás diante do Senhor o que juraste’. Mas Eu digo-vos que não jureis em caso algum: nem pelo Céu, que é o trono de Deus; nem pela terra, que é o escabelo dos seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes fazer branco ou preto um só cabelo. A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno» (Mt 5, 33-37).
       A plenitude da Lei há de ser a CARIDADE, o amor sem limites, gratuito, ao exemplo de Jesus, como quem se dispõe a dar a vida pelo outro, pelo marido ou pela esposa, pelo filho, pelo vizinho, pelo pai ou pela mãe, pelo viandante ou pelo mendigo. Neste caminho em que peregrinamos, frágeis e limitados, vamo-nos aproximando ou afastando de Jesus, na justa medida em que nos aproximamos dos outros ou deles nos afastamos.
       Porém, o nosso esforço, o nosso compromisso não pode, não deve ser, pela lógica dos mínimos garantidos. Se fizermos isto, estamos a cumprir a lei, já estamos a fazer a nossa parte. Se não fizermos mal, já estamos no caminho certo. Não. Não assim com o cristão. O cristão tem um ROSTO, um Mestre a quem imitar, Jesus Cristo, que Se dá até à última gota de sangue. Terá que ser assim connosco. Não está tudo feito. Nunca. Ainda não é o Céu. Estamos a caminho. É no caminho que Deus nos encontra. Aliás, a consciência da nossa fragilidade é que nos habilita ao encontro com o outro e com Deus, nos abre para a misericórdia divina, nos permite a possibilidade de O encontrar e acolher, e de corrigir o itinerário da nossa vida. O orgulho, a prepotência, a autossuficiência, só nos afasta de Deus e dos outros.
       Temos vindo a ouvir no evangelho como Jesus contrapõe o cumprimento da Lei, e a Tradição, com o amor, de forma a que a Lei se faça vida, e não seja apenas letra morta.
       Hoje Jesus fala da nossa linguagem, que seja "sim, sim, não, não". Jesus diz-nos que tudo o que se situar fora desta clareza e transparência já separa insidiosamente, é diabólico. Aprendamos com Ele, deixemo-nos guiar pela Sua Palavra, pela Sua vida. Esta linguagem deverá ser expressa em todos os momentos da vida, em palavras e obras, dentro e fora da igreja, em casa e na vizinhança. O cristão não dorme. Melhor, a dormir continua a ser cristão.
        Honrar a palavra dada. Coerência. Não dizer uma coisa e fazer outra. Não dizer agora o que mais convém e depois o seu contrário. Não ter várias caras conforme as pessoas que têm diante ou as situações. Ser pessoa de palavra. Mesmo que isso acarrete dissabores...

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Não cometerás adultério...

        Disse Jesus aos seus discípulos: Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás adultério’. Mas Eu digo-vos: Todo aquele que tiver olhado para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela em seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti, porque é melhor perder-se um só dos teus membros, do que todo o teu corpo ser lançado na geena. E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor perder-se um só dos teus membros, do que todo o teu corpo ser lançado na geena. Também foi dito: ‘Quem repudiar a sua mulher dê-lhe um certificado de repúdio’. Mas Eu digo-vos: Todo aquele que repudiar a sua mulher, a não ser em caso de união ilegítima, expõe-na a cometer adultério. E aquele que se casar com uma repudiada comete adultério» (Mt 5, 27-32).
       Jesus, di-lo claramente no Evangelho que temos vindo a refletir, não vem para revogar a Lei ou os profetas, mas para levar a Lei à plenitude. E em que conste a plenitude da Lei. O próprio Jesus responde ao longo de todo o Evangelho, consiste em dar a vida, gastar a vida a favor dos outros, assumir gestos de ternura, de compreensão, de tolerância, de partilha e comunhão, procurar a conciliação, perdoar sempre, dar a outra face, agir colocando o outro em primeiro lugar, servir com alegria o próximo, potenciar os talentos pondo-os ao serviço dos outros.
       A lei de Moisés, inspirada por Deus mas encarnada no tempo, na história, na cultura, na especificidade do povo eleito, apresenta algumas "facilidades", ainda que a linha seja a dignificação da pessoa. O homem podia "dispensar" a mulher, mas tinha que lhe passar um certificado, garantindo a possibilidade de ela refazer a vida. Jesus aprofunda a Lei, na linha do amor, do respeito, da dignidade. As pessoas não podem ser descartáveis. Sujeitos a limitações, os discípulos de Cristo devem procurar a pureza de olhar - olhar para a outra pessoa reconhecendo-a como pessoa e não como objeto -, e de intenções, para que no relacionamento com os outros sobrevenha a caridade, a entreajuda, a comunhão.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão...

        Disse Jesus aos seus discípulos:
       «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo» (Mt 5, 20-26).
        O arrependimento e o perdão são, mais que duas palavras, duas atitudes do crente.
       Nem sempre é fácil sair de um modo de vida para aderir a uma outra maneira de viver. E por vezes volta-se aos velhos vícios. No entanto, há de ser um esforço constante, na certeza que Deus nos inspira. O sabermos que Deus nos quer bem, que quer a nossa vida com sentido, realizada, plena, deverá ser um estímulo.
       Por outro lado, o perdão como oportunidade de progredirmos na santidade. Jesus diz-nos claramente que o perdão é uma postura permanente de quem é e se sente filho de Deus. Jesus diz mesmo que a nossa responsabilidade não se refere só aos momentos em que fomos nós os causadores de mau estar mas também quando os outros nos ofenderam deveremos ir ao seu encontro. Não basta perdoar, é necessário procurar o perdão até daqueles que nos ofenderam. Uma vez mais Jesus inverte a postura dos seus seguidores... Não é fácil. Mas é recompensador. Dessa forma não deixamos que o outro domine o nosso pensamento, o nosso dia, a nossa vida. Jesus bem sabe das nossas limitações. Mas também sabe que o perdão nos liberta e nos faz bem à saúde...

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Santo António de Lisboa, presbítero e doutor da Igreja

       Fernando Martins de Bulhões, nome de batismo, filho de Martinho de Bulhões, descendente de cavaleiros celtas, e de Maria Teresa Taveira, fidalga, descende de Fruelas, rei das Astúrias, terá nascido em 1195, em Lisboa.
        Os primeiros anos foram no aconchego da família, mostrando desde muito cedo uma especial devoção por Nossa Senhora, crescendo em bondade e integridade de costumes.
       Fez os seus primeiros estudos na escola anexa à Sé Catedral de Lisboa. Com 15 anos ingressou nos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, de Lisboa, transferindo-se, dois/três anos depois para a casa-mãe, para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Aí fez estudos em Direito Canónico, Filosofia e Teologia.
       Terá sido ordenado sacerdote entre os anos 1218 e 1220.
        Seduzido pelo exemplo de vida dos primeiros frades franciscanos, que iam muitas vezes ao Mosteiro de Santa Cruz pedir esmola, ingressou, passado um ano da sua ordenação sacerdotal, no convento de Santo António dos Olivais, em Coimbra.
       Ainda durante o ano de 1220, é enviado para Marrocos, onde nunca chegou, pois a embarcação naufragou e deixou-o em Messina, nas costas da Secília. Aí pediu guarida num convento franciscano.
       Em Maio de 1221 foi a Assis, onde terá conhecido São Francisco de Assis.
       Em Bolonha, depois de ter sido escolhido para fazer a conferência espiritual, aos monges que iriam ser ordenados, evidencia os seus conhecimentos em Sagrada Escritura e dotes em oratória. A partir daqui passa a dedicar-se inteiramente ao apostolado. Percorreu diversas cidades de Itália, entre 1223 e 1225. Em Rimini encontra forte resistência à evangelização. Conta-se, que nessa altura, foi à costa do Adriático e começou a pregar aos peixes: “Ouvi a palavra de Deus, vós peixes do mar e do rio, já que a não querem escutar os infiéis herejes”. Os peixes acudiram em grande quantidade, deitando a cabeça de fora. Muitas teriam sido as conversões.
       Em Outubro de 1226 morreu o fundador da Ordem, Francisco de Assis, sendo canonizado em 1228. Santo António participou nesta elevação, deslocando-se depois por Ferrara, Bolonha e Florença. Em 1229, e depois de ter percorrido a Itália vai para Pádua… 
       Morreu a 13 de Junho de 1231, cansado e doente, depois de uma vida dedicada à pregação do Evangelho. Conta-se que logo que morreu, as crianças de Pádua correram por toda a cidade a gritar: “Morreu o Santo. Morreu Santo António”. Os seus restos mortais repousam na Basílica de Pádua, construída em sua memória.
       Menos de um ano depois, em 30 de Maio de 1232, foi canonizado pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em Itália. O Papa Pio XII, em 1946, proclamou-o “doutor da Igreja”, considerando-o “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”.

In Boletim Voz Jovem, Junho 2010.

Oração de coleta:
       Deus eterno e todo-poderoso, que em Santo António destes ao vosso povo um pregador insigne do Evangelho e um poderoso intercessor junto de Vós, concedei que, pelo seu auxílio, sigamos fielmente os ensinamentos da vida cristã e mereçamos a vossa protecção em todas as adversidades. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 Dos Sermões de Santo António de Lisboa
(I, 226) (Sec. XIII)

A linguagem é viva, quando falam as obras

Quem está cheio do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, como a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamo-las, quando mostramos aos outros estas virtudes na nossa vida. A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, portanto, as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, mas de obras vazios; por este motivo nos amaldiçoa o Senhor, como amaldiçoou a figueira em que não encontrou fruto, mas somente folhas. Diz São Gregório: «Há uma norma para o pregador: que faça aquilo que prega». Em vão pregará os ensinamentos da lei, se destrói a doutrina com as obras.
Mas os Apóstolos falavam conforme a linguagem que o Espírito Santo lhes concedia. Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme o que lhe parece!
Há alguns que falam movidos pelo próprio espírito e, usando as palavras dos outros, apresentam-nas como próprias, atribuindo-as a si mesmos. Desses e de outros como eles, fala o Senhor pelo profeta Jeremias: Eis-Me contra os profetas que roubam uns aos outros as minhas palavras. Eis-Me contra os profetas, oráculo do Senhor, que forjam a sua linguagem para proferir oráculos. Eis-Me contra os profetas que profetizam sonhos mentirosos – oráculo do Senhor – e, contando-os, seduzem o povo com mentiras e jactância, não os tendo Eu enviado nem dado ordem alguma a esses que não são de nenhuma utilidade para este povo – oráculo do Senhor.
Falemos, por conseguinte, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe, humilde e devotamente, que derrame sobre nós a sua graça, para que possamos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e a observância do decálogo, nos reanimemos com o forte vento da contrição e nos inflamemos com essas línguas de fogo que são os louvores de Deus, a fim de que, inflamados e iluminados nos esplendores da santidade, mereçamos ver a Deus trino e uno.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Sois o sal da terra, sois a luz do mundo

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 13-16).


       A imagem utilizada por Jesus sobre a missão dos seus discípulos e a sua postura no mundo é deveras sugestiva. O sal tem a força de temperar, de dar outro sabor à comida. Assim o crente cristão, o discípulo de Jesus, deve ser no mundo como o sal na comida, temperá-lo, dar-lhe sabor e sentido, não se identificando com o mundo mas transformando-o. Do mesmo modo a luz que serve para iluminar e não para estar escondida. Deste modo não serviria para nada. Assim o discípulo deverá ser luz para as realidades deste mundo, para lhes dar brilho, verdade, para nelas transparecer a graça de Deus.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Festa de São Barnabé, Apóstolo

Nota biográfica:
       Era natural da ilha de Chipre e foi um dos primeiros fiéis de Jerusalém. Pregou o Evangelho em Antioquia e acompanhou S. Paulo na sua primeira viagem apostólica. Interveio no Concílio de Jerusalém. Voltou à sua pátria, onde pregou o Evangelho; e aí morreu.

Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, que mandastes escolher São Barnabé, homem cheio de fé e do Espírito Santo, para levar aos pagãos a mensagem da salvação, fazei que o Evangelho de Cristo, de que ele foi apóstolo corajoso, continue a ser anunciado fielmente em palavras e obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Do Livros dos Atos dos Apóstolos:
       Naqueles dias, foi grande o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. A notícia chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém e mandaram Barnabé a Antioquia. Quando este chegou e viu a acção da graça de Deus, encheu-se de alegria e exortou a todos a que se conservassem fiéis ao Senhor, de coração sincero; era realmente um homem bom e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão aderiu ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, tendo-o encontrado, trouxe-o para Antioquia. Passaram juntos nesta Igreja um ano inteiro e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, se deu aos discípulos o nome de «cristãos». Na Igreja de Antioquia havia profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaen, irmão colaço do tetrarca Herodes e Saulo. Estando eles a celebrar o culto e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que os chamei». Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir (Atos 11, 21b-26; 13, 1-3)

BENTO XVI sobre BARNABÉ

       "Barnabé significa 'filho da exortação' (atos 4, 36) ou 'filho da consolação' e é sobrenome de um judeu-levita originário de Chipre. Tendo-se estabelecido em Jerusalém, ele foi um dos primeiros a abraçar o cristianismo depois da ressurreição do Senhor. Com grande generosidade vendeu um campo de sua propriedade, entregando a quantia aos apóstolos para as necessidades da Igreja (cf. Atos 4, 37). Foi ele quem se fez garante da conversão de Saulo junto da comunidade cristã de Jerusalém, a qual ainda desconfiava do antigo perseguidor (cf. Atos 9, 27). Tendo sido enviado a Antioquia da Síria, foi buscar Paulo a Tarso, onde se tinha retirado, e transcorreu com ele um ano inteiro, dedicando-se à evangelização daquela importante cidade, em cuja Igreja Barnabé era conhecido como profeta e doutor (cf. Atos 13, 1). Assim Barnabé, no momento das primeiras conversões dos pagãos, compreendeu que tinha chegado a hora de Saulo, o qual se retirara para Tarso, sua cidade. Foi ali procurá-lo. Assim, naquele momento importante, quase restituiu Paulo à Igreja; deu-lhe, neste sentido, novamente o Apóstolo das Nações. Da Igreja antioquena Barnabé foi enviado em missão juntamente com Paulo, realizando o que classifica como primeira viagem missionária do Apóstolo. Na realidade, tratou-se de uma viagem missionária de Barnabé, sendo ele o verdadeiro responsável, ao qual Paulo se juntou como colaborador, chegando às regiões de Chipre e da Anatólia centro-meridional, na actual Turquia, com as cidades de Attalia, Perge, Antioquia de Psídia, Listra e Derbe (cf. Atos 13-14). Juntamente com Paulo foi depois ao chamado Concílio de Jerusalém onde, depois de um aprofundado exame da questão, os Apóstolos com os Anciãos decidiram separar a prática da circuncisão da identidade cristã (cf. Atos 15, 1-35). Só assim, no final, tornaram oficialmente possível a Igreja dos pagãos, uma Igreja sem circuncisão: somos filhos de Abraão simplesmente pela fé em Cristo.
       Os dois, Paulo e Barnabé, entraram depois em contraste, no início da segunda viagem missionária, porque Barnabé tinha em mente assumir como companheiro João Marcos, mas Paulo não queria, tendo-se separado o jovem deles durante a viagem anterior (cf. Atos 13, 13; 15, 36-40). Portanto, também entre santos existem contrastes, discórdias, controvérsias. E isto parece-me muito confortador, porque vemos que os santos não 'caíram do céu'. São homens como nós, com problemas também complicados. A santidade não consiste em nunca ter errado ou pecado. A santidade cresce na capacidade de conversão, de arrependimento, de disponibilidade para recomeçar, e sobretudo na capacidade de reconciliação e de perdão. E assim Paulo, que tinha sido bastante rude e amargo em relação a Marcos, no final encontra-se com ele. Nas últimas Cartas de São Paulo, a Filemon e na segunda a Timóteo, precisamente Marcos aparece como 'o meu colaborador'. Portanto, não é o facto de nunca ter errado que nos torna santos, mas a capacidade de reconciliação e de perdão. E todos podemos aprender este caminho de santidade. Em todo o caso Barnabé, com João Marcos, partiu para Chipre (cf. Atos 15, 39) por volta do ano 49. Daquele momento em diante perdem-se os seus vestígios. Tertuliano atribui-lhe a Carta aos Hebreus, ao que não falta a plausibilidade porque, pertencendo à tribo de Levi, Barnabé podia ter interesse pelo tema do sacerdócio. E a Carta aos Hebreus interpreta-nos de modo extraordinário o sacerdócio de Jesus.
BENTO XVI, Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo. As origens da Igreja. Editorial Franciscana. Braga 2008.

sábado, 9 de junho de 2018

Imaculado Coração da Virgem Santa Maria

"Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todas estes acontecimentos em seu coração" (Lc 2, 41-51).
       Ontem celebrámos o Sagrado Coração de Jesus. Hoje, o Imaculado Coração de Maria. Do Coração de Maria o SIM a Deus, o SIM à humanidade. Maria responde com amor, cheia de graça diante de Deus. É no amor que acolhe Jesus e pela vida fora muitas vão ser as vezes que Nossa Senhora guarda no Seu coração as palavras, os gestos de Jesus e os acontecimentos ligados ao Seu filho.
       O CORAÇÃO de Maria é cheio de AMOR, por Jesus e por nós. Quando Jesus está na CRUZ, dá-nos Maria por Mãe e Ela recebe-nos como filhos. É a última vontade do Filho antes de morrer. É um desejo para cumprir naquele momento e pelos tempos fora. Maria continua a acolher-nos como filhos e a recomendar-nos a Jesus.
       É um coração de Mãe, que ama, que acolhe, que está disponível para o Filho e para os filhos, que intercede (junto de Deus Pai e junto de Seu Filho), que vive em função do bem de seus amados filhos. Maria é um coração que escuta, que reza, que medita, que guarda o que vem do Filho, mesmo quando não compreende tão bem. É modelo de discípulo, disponível para escutar, para se abrir ao mistério de Deus.

Leituras e orações: Secretariado Nacional da Liturgia.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sheryl Sandberg e Adam Grant - OPÇÃO B

SHERYL SANDBERG e ADAM GRANT (2018). Opção B. Enfrentar a adversidade, construir a resiliência e encontrar a alegria. Lisboa: Planeta. 270 páginas.
       Sheryl Sandberg é a número 2 do Facebook. Ainda há pouco, na remodelação dos quadros da empresa, ela e o criador e o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foram dos poucos que se mantiveram. Porém, não é sobre o Facebook que a autora nos fala neste livro, claro que as experiências profissionais também contam, até porque as políticas da própria empresa promovem o "espaço" para as pessoas expressarem os seus sentimentos, dificuldades, não se tornando obstáculo mas ajuda nos momentos de fragilidade.
       O marido, Dave, morre de repente. Em férias, ele vai ao ginásio e encontram-no caído, a roxear, sobre uma poça de sangue, acaba por morrer já no hospital. Começa aí a opção B, já que a opção A era viver com o marido e com os dois filhos.
       Vai ter de lidar com a morte do marido, o luto, vai ter que confortar os filhos, vai ter que ir a festas, vai ter que viver sem a presença física do marido, vai ter de lidar com a vida, com a felicidade, com os medos, com a confiança.
       Contacta um psicólogo e professor em Wharton, Adam Grant, depois de receber uma carta que lhe destruiu a esperança de que a dor se desvanecesse um dia. "Este livro é minha tentativa, e a do Adam, de partilhar o que aprendemos acerca de resiliência... Não fingimos que a esperança vencerá todos os dias. Não vencerá. Não pretendemos ter sentido, nós mesmos, todo o tipo possível de perdas e de retrocessos. Não sentimos. Não há um modo acertado ou adequado de fazer o luto ou de enfrentar os desafios, por isso, não temos respostas perfeitas. Não existem respostas perfeitas. Também sabemos que nem todas as histórias têm um final feliz".
       "A vida nunca é perfeita. Todos vivemos uma qualquer espécie de Opção B. Este livro serve para nos ajudar a todos por essa opção".
       A vida continua, mas a presença daqueles que partem permanece. Há que reconhecer que nem sempre é fácil, permitindo e permitindo-se chorar e fazer o luto, mas também sorrir e tocar a vida para a frente. Pelo meio há de haver momentos de medo, de insegurança, de trevas, há de haver momentos de culpabilização por se ser feliz apesar de quem morreu, mas também a capacidade de lutar pela felicidade.
       A autora é uma mulher de fé e a fé, a oração, a pertença à comunidade (judaica) ajudou-a a enquadrar a dor e a perda, a confiar em Deus e no futuro, a entregar a Deus os momentos de dúvida e de luto...

       Sheryl Sandberg publicou um primeiro livro - Faça acontecer - sobre a igualdade de homens e de mulheres a começar nas lideranças... Vale a pena ver a conferência TED da autora

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (ano B)

       Celebramos hoje a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, acentuando-se o amor que Deus revela através da vida e sobretudo da oferenda de Jesus na Cruz. Com a Sua morte, Jesus mostra como o amor não tem limites, pode ir até à radicalidade, até às últimas consequência, com um senão, ficando na morte ficaria esquecido para sempre. Ele veio para testemunhar, para ilustrar o amor de Deus. Ao morrer, levou-nos conSigo, partimos no Seu coração, para o coração de Deus Pai, de onde nos atrai, nos envolve, nos assiste, pelo Espírito Santo que nos dá em abundância.
       Na última Ceia deixa-nos precisamente o memorial através do qual o Seu Corpo permanece, faz Corpo connosco.
       Mas vejamos cada uma das leituras que nos são propostas para esta solenidade.
       Na primeira leitura, retirado do profeta Oseias (11, 1.3-4.8c-9), as palavras calorosas e intimistas do Senhor Deus. Deus guia-nos como crianças ao colo da Mãe, cuidando, alimentando, através dos laços humanos:
«Quando Israel era ainda criança, já Eu o amava; do Egipto chamei o meu filho. Eu ensinava Efraim a andar e trazia-o nos braços; mas não compreenderam que era Eu quem cuidava deles. Atraía-os com laços humanos, com vínculos de amor. Tratava-os como quem pega um menino ao colo, inclinava-Me para lhes dar de comer. O meu coração agita-se dentro de Mim, estremece de compaixão. Não cederei ao ardor da minha ira, nem voltarei a destruir Efraim. Porque Eu sou Deus e não homem, sou o Santo no meio de ti e não venho para destruir».
       Deus que ama com o coração de Mãe. Bem sabemos como a linguagem em Oseias é por demais expressiva para nos permitir (quase) palpar o amor de Deus.
       Na segunda leitura, da Epístola de São Paulo aos Efésios (3, 8-12.14-19), o desafio para nos enraizarmos no grande amor de Jesus Cristo, que ultrapassa qualquer conhecimento:
"Assim, profundamente enraizados na caridade, podereis compreender, com todos os cristãos, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, e assim sejais totalmente saciados na plenitude de Deus".
       O Evangelho (Jo 19, 31-37), por sua vez, relato o momento pós-mortem de Jesus:
Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum osso lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão-de olhar para Aquele que trespassaram».
       Do lado de Jesus sai sangue e água, símbolos dos Sacramentos. É pela água e pelo Espírito Santo que nos tornamos participantes do Corpo de Cristo, que é a Igreja. É no Seu sangue que Jesus sela a nova aliança connosco, é uma Aliança de Sangue. Melhor, é uma aliança que brota do Seu lado aberto, bem junto ao coração. O coração, anatomicamente não passa de um músculo, mas teológica, religiosa, poética e biblicamente, é o centro dos sentimentos e emoções, é no coração que a vontade nos aproxima (ou distancia) dos outros e de Deus.

Leituras e orações: Secretariado Nacional da Liturgia.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Amar a Deus de todo o coração e ao próximo

       Aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O. (Mc 12, 28b-34).
       A fé que nos guia de encontro a Deus também nos conduz ao nosso semelhante.
       Com efeito, sempre que Jesus fala no primeiro dos mandamentos - amar a Deus de todo o coração -, acrescenta de imediato a consequência deste amor primeiro, o amor com com o próximo. Acolhemos verdadeiramente a Deus na medida em que acolhemos o nosso irmão. Não é possível amar a Deus se não amarmos os Seus filhos. Qual o Pai ou a Mãe que ia gostar que alguém não amasse os seus filhos... De pouco adiantaria dizer que amava o próprio ou a própria. Quem meus filhos beija minha boca adoça, dizem as mães. Quem ama a Deus ame também o seu irmão.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Ele não é Deus de mortos, mas de vivos...

       Foram ter com Jesus alguns saduceus – que afirmam não haver ressurreição – e perguntaram-lhe: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe esposa sem filhos, esse homem deve casar-se com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem deixar descendência. O segundo casou com a viúva e também morreu sem deixar descendência. O mesmo sucedeu ao terceiro. E nenhum dos sete deixou descendência. Por fim morreu também a mulher. Na ressurreição, quando voltarem à vida, de qual deles será ela esposa? Porque todos os sete se casaram com ela». Disse-lhes Jesus: «Não andareis vós enganados, ignorando as Escrituras e o poder de Deus? Na verdade, quando ressuscitarem dos mortos, nem eles se casam, nem elas são dadas em casamento; mas serão como os Anjos nos Céus. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no Livro de Moisés, no episódio da sarça ardente, como Deus disse: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’? Ele não é Deus de mortos, mas de vivos. Vós andais muito enganados» (Mc 12, 18-27).
       A Ressurreição é decisiva na nossa vida crente. Como cristãos vivemos e alimentamo-nos da Ressurreição de Jesus. Se Ele não tivesse ressuscitado não estaríamos aqui a falar e a refletir sobre Ele. A Sua história aparentemente acabou mal, acabou na cruz. E na cruz só há malfeitores. Jesus é colocado entre malfeitores. Verdadeiro homem, Jesus sucumbe à perda de sangue, ao cansaço, à falta de ar. Entrega a Sua vida ao Pai, depois de passar por momentos extremamente traumáticos.
       Três dias depois ressuscita. A morte não é a última palavra. Há vida e esperança além do túmulo. Jesus está vivo no meio de nós. A Páscoa prossegue connosco, na necessidade de ressuscitarmos todo o bem, toda a paixão pelos outros, procurando tornar presente Jesus que vive e o Seu Evangelho de amor.
       Hoje abeiram-se de Jesus. Talvez também nós nos abeiremos e Lhe façamos as mesmas perguntas. Como será isso da ressurreição dos mortos? Também nós tentamos perguntas e respostas. Mas como ninguém veio dizer-nos como é realmente! E Jesus também não no-lo diz, pelo menos discursivamente. Mas di-lo com a Sua vida, com os prodígios que realiza, e com a Sua própria morte e ressurreição. Para coloca-nos outra questão. Se Deus é Deus, então não será Ele um Deus dos vivos? Que necessidade teríamos de Deus na morte tudo acabasse? Quem garantiria a nossa vida, e a justiça definitiva?

terça-feira, 5 de junho de 2018

São Bonifácio, bispo e mártir

Nota biográfica:
       Nasceu na Inglaterra, cerca do ano 673. Fez a profissão religiosa e viveu como monge no mosteiro de Exeter. No ano 719 partiu para a Alemanha a pregar o Evangelho e obteve excelentes resultados. Consagrado bispo, governou a Igreja de Mogúncia e, com a ajuda de vários colaboradores, fundou ou restaurou diversas Igrejas na Baviera, na Turíngia e na Francónia; também convocou concílios e promulgou leis. Quando evangelizava os frisões, foi assassinado pelos pagãos; o seu corpo foi sepultado no mosteiro de Fulda.
Oração de coleta:
       Permiti, Senhor, que, por intercessão de São Bonifácio, possamos manter sem desfalecimento e proclamar na nossa vida a fé que ele ensinou com a palavra e confirmou com o sangue do martírio. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Das Cartas de São Bonifácio, bispo e mártir (Carta 78: MGH, Epistolae, 3, 352-354) (Sec. VIII)

Pastor solícito e vigilante sobre o rebanho de Cristo
       A Igreja é como um grande navio que navega pelo mar deste mundo. Sacudida pelas diversas ondas da adversidade nesta vida, não deve ser abandonada a si mesma, mas tem de ser governada.
       Na primitiva Igreja temos o exemplo de Clemente e Cornélio e muitos outros na cidade de Roma, de Cipriano em Cartago, de Atanásio em Alexandria, os quais, sob o reinado dos imperadores pagãos, governaram a barca de Cristo, melhor, a sua diletíssima esposa, que é a Igreja, ensinando-a, defendendo-a, passando trabalhos e sofrimentos até ao derramamento do sangue.
        Ao pensar nestas figuras e noutras semelhantes, estremeço de receio; o temor e o terror apoderam-se de mim e quase me submergem as trevas dos meus pecados; e muito me agradaria abandonar de todo o leme da Igreja, se encontrasse precedentes semelhantes nos Padres ou na Sagrada Escritura.
       Mas sendo assim, e dado que a verdade pode ser contestada, mas não vencida nem enganada, refugia-se a nossa alma fatigada n’Aquele que nos diz pela boca de Salomão: Tem confiança no Senhor com todo o teu coração e não confies na tua prudência. Em todos os teus caminhos pensa no Senhor e Ele dirigirá os teus passos. E noutro lugar: O nome do Senhor é uma torre fortíssima. Nela se refugia o justo e será salvo.
       Permaneçamos firmes na justiça e preparemos as nossas almas para a provação; suportemos a dilação de Deus e digamos-lhe: Senhor, Vós Vos tornastes o nosso refúgio de geração em geração.
       Confiemos n’Aquele que colocou sobre nós este fardo. Como o não podemos levar sozinhos, levemo-lo com o auxílio d’Aquele que é omnipotente e nos diz: O meu jugo é suave e a minha carga é leve.
       Mantenhamo-nos firmes no combate no dia do Senhor, porque vieram sobre nós dias de angústia e de tribulação. Se Deus quiser, morramos pelas santas leis dos nossos antepassados, a fim de merecermos alcançar com eles a herança eterna.
        Não sejamos cães mudos, não sejamos sentinelas silenciosas, não sejamos mercenários que fogem do lobo, mas pastores solícitos que velam pelo rebanho de Cristo, pregando toda a doutrina de Deus ao grande e ao pequeno, ao rico e ao pobre, a todas as classes e idades, enquanto Deus nos der forças, oportuna e importunamente, tal como São Gregório escreveu na sua Regra Pastoral.