terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Respeitai o direito, protegei, fazei justiça, defendei

       A palavra de Deus proposta para esta terça feira acentua a misericórdia de Deus. Jesus colocava a misericórdia de Deus como ideal comparativo para nos centrarmos na vivência da misericórdia. Hoje, na primeira leitura, a bondade de Deus, e o Seu perdão, estão ao alcance de todos, importa, antes de mais, iniciar um caminho positivo, de honestidade, de atenção ao semelhante, de prática da justiça e da caridade. Uma vez mais, as boas obras testam e aprofunda a fé.

Mas atentemos ao texto:
       Escutai a palavra do Senhor, chefes de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, povo de Gomorra: «Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas acções, deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde então para discutirmos as nossas razões, – diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, ficarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra. Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados pela espada» (Is 1, 10.16-20).
       No Evangelho, Jesus remete-nos para a necessidade das boas obras confirmarem o que professamos pelas palavras, procurando a correspondência entre o que nos exigimos e o que exigimos ao nosso irmão, optando por um caminho de humildade, e não de sobranceria. É no reconhecimento da nossa limitação, que podemos abrir-nos aos outros e a Deus.

Vejamos as palavras de Jesus aos discípulos e à multidão:
       «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam as filactérias e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Mt 23, 1-12).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Não condeneis e não sereis condenados...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida, calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada também convosco» (Lc 6, 36-38).
        A medida da nossa vivência cristã é Jesus Cristo.
       Não é uma medida por baixo, com os mínimos garantidos, é uma medida sempre a crescer até à estatura de Jesus Cristo. Ele dá a vida por nós, resgatando-nos ao pecado e à morte, é a Sua medida. Não dá pouco nem muito, dá-Se totalmente, entrega-Se em cada gesto, em cada palavra, em cada olhar, em cada encontro, em cada sorriso, em cada afago. Por conseguinte, é seguido pelos esquecidos e odiados da sociedade do Seu tempo, come com eles, chama-os, aproxima-Se deles, vai nas suas direcções para os fazer regressar à vida.
       Hoje deixa-nos uma referência fundamental: ser misericordiosos como o Pai do Céu é misericordioso. Se Ele é a nossa medida e se a Sua medida é Deus Pai, então a medida do nosso amor é o Deus de Jesus Cristo, próximo, misericordioso, pronto para perdoar, para Se fazer próximo e em Jesus nosso irmão.
       Que melhor atitude quaresmal que o perdão, a misericórdia, a bondade, a generosidade para com os outros! Um dia disseram-nos que só gostando de nós poderíamos gostar dos outros. Mas Jesus vai mais longe, quanto mais nos dermos aos outros tanto mais nos sentiremos bem connosco e com o mundo que nos rodeia.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Reconcilia-te com o teu adversário...

       Nesta sexta-feira da primeira semana da Quaresma, a liturgia da palavra centra-se no perdão de Deus, que conta connosco e com o nosso arrependimento. Deus não levará em conta os nossos pecados, mas a nossa conversão. Esquecerá os nossos desvios, se de todo o coração aderirmos à Sua vontade e escolhermos o bem.

Vejamos a primeira leitura:
Assim fala o Senhor Deus: «Se o pecador se arrepender de todas as faltas que cometeu, se observar todos os meus mandamentos e praticar o direito e a justiça, certamente viverá e não morrerá. Não lhe serão lembrados os pecados que cometeu e viverá por causa da justiça que praticou. Será porventura a morte do pecador que Me agrada? – diz o Senhor Deus – Não é antes que se converta do seu mau proceder e viva? Mas se o justo se desviar da justiça e praticar o mal, imitando as abominações dos pecadores, porventura viverá? Não mais será recordada a justiça que praticou; por causa da prevaricação em que caiu e do pecado que cometeu, ele morrerá. E vós dizeis: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo’. Escutai, casa de Israel: Será o meu modo de proceder que não é justo? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, certamente viverá e não morrerá» ( Ez 18, 21-28).
       No Evangelho, proposto para hoje, Jesus acentua a caridade levada até ao limite como bandeira de todos os seguidores. Não basta perdoar, é necessário procurar o perdão até daqueles que nos ofenderam. Uma vez mais Jesus inverte a postura dos seus seguidores...
        Disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo» (Mt 5, 20-26).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O Jejum que Me agrada: quebrar as cadeias injustas...

       O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante? Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: «Estou aqui» (Is 58, 1-9a).
       Os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado e nessa altura hão-de jejuar» (Mt 9, 14-15).

       O jejum, com a oração e com com a esmola, é um sinal, uma oportunidade e uma vivência que valem como expressão da conversão interior, da adesão firme à Palavra/vontade de Deus, no seguimento do caminho do Senhor. O jejum, sem mais, tornar-se-á insignificante, quando muito uma dieta que pode ajudar o organismo a ser mais saudável. O jejum, na vivência da fé, há-de ser acompanhado da oração e da caridade, das boas obras.
       Jesus, no Evangelho, não o desvaloriza, mas dá prioridade ao acolhimento e ao seguimento: "enquanto o noivo estiver com eles...". Neste sentido, também nós devemos valorizar as práticas penitenciais como incentivo e como expressão da conversão, mas ligadas, sempre, à caridade e à oração.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

CEP - Normas para Jejum e a abstinência

Jejum e abstinência
       3. O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Na disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição, embora não se excluísse que se pudesse tomar alimentos ligeiros às horas das outras refeições.
       Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis poderão cumprir o preceito do jejum privando-se de uma quantidade ou qualidade de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.
       4. A abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre. A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne. Será muito aconselhável manter-se esta forma de abstinência, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma. Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos ou da especial preferência de cada um.
       Contudo, devido à evolução das condições sociais e do género de alimentação, aquela concretização pode não bastar para praticar a abstinência como acto penitencial. Lembrem-se os fiéis de que o essencial do espírito de abstinência é o que dizemos acima, ou seja, a escolha de uma alimentação simples e pobre e a renúncia ao luxo e ao esbanjamento. Só assim a abstinência será privação e se revestirá de carácter penitencial.

Determinações relativas ao jejum e à abstinência
       5. O jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-feira de Cinzas e em Sexta-feira Santa.

       6. A abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades. Esta forma de penitência reveste-se, no entanto, de significado especial nas sextas-feiras da Quaresma.

       7. O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos.
       O preceito do jejum obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado os 59.
       Aos que tiverem menos de 14 anos, deverão os pastores de almas e os pais procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência, sugerindo-lhes outros modos de a exprimirem. 
       8. As presentes determinações sobre o jejum e a abstinência apenas se aplicam em condições normais de saúde, estando os doentes, por conseguinte, dispensados da sua observância.

Determinações relativas a outras penitências
       9. Nas sextas-feiras poderão os fiéis cumprir o preceito penitencial, quer fazendo penitência como acima ficou dito, quer escolhendo formas de penitência reconhecidas pela tradição, tais como a oração e a esmola, ou mesmo optar por outras formas, de escolha pessoal, como, por exemplo, privar-se de fumar, de algum espectáculo, etc.

       13. Os cristãos depositarão o seu contributo penitencial em lugar devidamente identificado em cada igreja ou capela, ou através da Cúria diocesana. Na Quaresma, todavia, em vez desta modalidade ou concomitantemente com ela, o contributo poderá ser entregue no ofertório da Missa dominical, em dia para o efeito fixado. 

N.B. - RENÚNCIA QUARESMAL 2018

(Da Mensagem de D. António Couto)

Vamos destinar uma parte da esmola da nossa Caridade quaresmal para as obras em curso no nosso Seminário de Lamego, para podermos acolher mais e mais irmãos e irmãs, e a todos oferecer, em condições dignas, mais tempos de formação, oração, bem-estar e convívio.
Vamos destinar outra parte da esmola da nossa Caridade para levar um pequeno gesto de carinho e um pequeno bálsamo aos nossos irmãos e irmãs da África, mais concretamente da República Democrática do Congo, Diocese de Beni-Butembo, região do Kivu-Norte. Trata-se de populações massacradas desde 1996 por toda a espécie de guerras e violências….
Este caminho da nossa Caridade Quaresmal será anunciado, como de costume, em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.

CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA. Normas para o Jejum e a Abstinência. (publicadas com a data 28 de Janeiro de 1985).

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Porque pede esta geração um sinal?

       Apareceram alguns fariseus e começaram a discutir com Jesus. Para O porem à prova, pediam-Lhe um sinal do céu. Jesus suspirou do fundo da alma e respondeu-lhes: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: não se dará nenhum sinal a esta geração». Depois deixou-os, voltou a subir para o barco e foi para a outra margem do lago (Mc 8, 11-13).
       Um dos ingredientes do Evangelho é a discussão/diálogo de Jesus com os fariseus, que por vezes se caracteriza pelo confronto entre Moisés e Jesus, ou melhor, entre os preceitos atribuídos a Moisés e interpretados pelos escribas/doutores da lei, e a interpretação e vivência de Jesus.
       Hoje, numa perspetiva diferente, os fariseus pedem a Jesus um sinal, para ver se devem confiar n'Ele e na Sua mensagem, ou apenas para provocar, expondo-O, mostrando que é apenas mais um pregador itinerante, sem conteúdo e sem força própria. Jesus. O Mestre dos Mestres, segue o seu caminho.
       Quantas vezes nos são pedidos sinais, provas, juras, para que demos alguma fiabilidade às pessoas, invertendo assim a lógica da saúde social, confiar nas pessoas. A mensagem é uma parte, mas não é a pessoa enquanto tal. Se confio na pessoa, confio nas suas palavra, como expressão da sua identidade, ainda que saiba das suas limitações, que podem traduzir-se em erro (não necessariamente, em engano propositado). Mas a opção deveria ser sempre pelo benefício da dúvida, sem falsas ingenuidades, mas sabendo que as pessoas se enganam, erram.
       Por outro lado, e mais de acordo com o Evangelho de hoje, quantas vezes pedimos sinais a Deus, uma prova, uma palavra, uma coincidência?

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Domingo VI do Tempo Comum - ano B - 11.02.2018

Santa Escolástica, Virgem

Nota biográfica:
       Escolástica, irmã de S. Bento, nasceu em Núrsia (Úmbria) cerca do ano 480. Consagrou-se a Deus, como seu irmão, e seguiu-o para Cassino, onde morreu aproximadamente em 547.

Oração de Colecta:
       Ao celebrar a memória de Santa Escolástica, nós Vos pedimos, Senhor, que, a seu exemplo, Vos sirvamos de coração sincero e alcancemos a verdadeira felicidade no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo que é Deus convosco na unidade dos Espírito Santo.
São Gregório Magno, papa

Pôde mais quem mais amou


Escolástica, irmã de São Bento, consagrada ao Senhor desde a infância, costumava visitar o irmão uma vez por ano. O homem de Deus vinha encontrar-se com ela num local próximo do mosteiro.
Um dia veio ela como costumava todos os anos, e ao seu encontro veio seu venerável irmão, com alguns discípulos. Passaram todo o dia no louvor de Deus e em santa conversação, de tal modo que já se aproximavam as trevas da noite quando se sentaram à mesa para comer.
No meio da sua santa conversação foi passando o tempo e fez-se muito tarde; a santa religiosa implorou-lhe então com estas palavras: «Peço-te irmão, que não me deixes esta noite, para que possamos continuar até de manhã a falar sobre as alegrias da vida celeste». Mas ele respondeu-lhe: «Que dizes tu, irmã? De maneira nenhuma posso passar a noite fora da minha cela».
Então Escolástica, ouvindo a recusa do irmão, poisou sobre a mesa as mãos com os dedos entrelaçados, inclinou a cabeça sobre elas e implorou o Senhor Omnipotente. Quando levantou a cabeça da mesa, rebentou uma grande tempestade, com tão fortes relâmpagos, trovões e aguaceiros, que nem o venerável Bento nem os irmãos que com ele se encontravam podiam pensar em sair do lugar onde estavam reunidos.
Então o homem de Deus, vendo que não podia regressar ao mosteiro, começou a lamentar-se, dizendo: «Deus te perdoe, irmã. Que foste fazer?». Ao que ela respondeu: «Vê, eu pedi-te e não me quiseste ouvir. Pedi ao meu Deus e Ele ouviu-me. Agora, se podes, vai-te embora; despede-te de mim e volta para o mosteiro».
E Bento, que não quisera ficar ali espontaneamente, teve de ficar contra vontade. E assim passaram toda a noite em vigília, animando-se um ao outro com santos colóquios sobre a vida espiritual.
Não nos admiremos que aquela mulher tenha tido mais poder do que ele: se na verdade, como diz João, Deus é amor, é razoável sentença que tenha tido mais poder aquela que mais amou.
Três dias mais tarde, encontrando-se o homem de Deus na sua cela com os olhos levantados ao céu, viu a alma da sua irmã, liberta do corpo, em figura de pomba, dar entrada no interior da morada celeste. Então, contente com a glória tão grande que a ela tinha sido concedida, deu graças ao Deus Omnipotente com hinos e cânticos de louvor, e enviou alguns irmãos a buscar o corpo e trazê-lo para o mosteiro, onde ficou depositado no túmulo que ele tinha preparado para si.
E assim, nem o túmulo separou aqueles que sempre tinham estado unidos em Deus.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Santa Bakhita, de escrava negra a santa

       Hoje celebra-se a memória de Santa Bakhita. Deixamos aqui a sugestão de um livro, que tem traços muito interessantes sobre esta Santa...

Roberto Italo Zanini, BAKHITA. Uma santa para o século XXI. Paulinas: 2010.

        "A ex-escrava africana, torturada e maltratada, ao serviço de um poderoso mercador árabe e de um general turco. Resgatada em Cartum, em fins do século XIX, pelo vice-cônsul italiano, e levada para Veneto, foi ama de uma criança, baptizou-se, tornou-se freira na Ordem das Filhas da Caridade, de Madalena de Canossa, e fez-se santa, vivendo por cinquenta anos naquele quarto do Convento das Canossianas, na Rua Fusinato, em Schio, na província de Vicenza.

       Um pouco sudanesa, um pouco italiana. Extra-comunitária ante litteram. Raptada em criança para ser escrava. Vendida e comprada cinco vezes, como tantas crianças, ainda hoje, em África e no mundo. Não tem recordações nenhumas da sua família. Não se lembra do nome que o seu pai e a sua mãe lhe deram. Recorda apenas o nome árabe, imposto por ironia, pelos esclavagistas que a raptaram: Bakhita, isto é, a Afortunada".
       Este é um pedaço de texto que caracteriza Santa Bakhita, proclamada Beata, em 17 de Maio de 1992, e Santa, em 1 de Outubro de 2000, que no-la apresenta como santa para o século XXI. Terá nascido no Darfur, no Sudão, em 1969, e morreu a 8 de Fevereiro de 1947.
       Este Livro retrata a sua epopeia e a grande atracção que provoca, em vida e em morte, nas pessoas que dela se aproximam. É também uma grande esperança para o continente africano, sinal de libertação...
       É uma leitura escorreita, fácil, agradável, que nos leva a percorrer página a página com a ânsia de saber mais coisas, facilmente perceptível. Mostra-nos uma pessoa muito simples, (quase) analfabeta, fala atabalhoadamente, ri-se de si mesmo, mas cativante para os ouvintes, bem humorada, que vive para O Patrão de tudo e de todos.

Roberto Italo Zanini, BAKHITA. Uma santa para o século XXI. Paulinas: 2010.
       As edições paulinas editaram o livro, que aqui recomendámos, e também o filme (baseado no livro): Bakhita, de escrava a santa. Veja a apresentação, falada em português:

Lançar o pão dos filhos aos cachorrinhos?

       Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse. Mas não pôde passar despercebido, pois logo uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar d’Ele, veio prostrar-se a seus pés. A mulher era pagã, siro-fenícia de nascimento, e pediu-Lhe que expulsasse o demónio de sua filha. Mas Jesus respondeu-lhe: «Deixa primeiro que os filhos estejam saciados, pois não está certo tirar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Ela, porém, disse: «Senhor, também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças». Então Jesus respondeu-lhe: «Dizes muito bem. Podes voltar para casa, porque o demónio já saiu da tua filha». Ela voltou para casa e encontrou a criança deitada na cama. O demónio tinha saído (Mc 7, 24-30).
        Esta é mais uma página significativa e ilustrativa do Evangelho, da vida de Jesus. Entra em casa. A casa é lugar de encontro, de partilha, de afetos, é espaço de convívio, é lar, espaço da família. Na casa, a pessoa está recolhida, protegida contra as intempéries do tempo e sobretudo das outras pessoas. A casa é lugar de festa, de descanso, é o lugar da refeição fraterna. Jesus entra numa casa, certamente para descansar um pouco, não quer que ninguém o saiba, estará resguardado, protegido, pode descansar, retemperar forças. Mas a casa é também espaço para a cura do corpo - descansa, alimenta-se - e da alma - em com os da casa que se desabafa, se conversa, se criam laços de segurança. E eis que uma mulher, que anda em busca de Jesus, vai ao Seu encontro, intercedendo pela sua filha.
       O diálogo entre Jesus e esta mulher, desconhecida, estrangeira, siro-fenícia é também muito provocante. Na boca de Jesus os preconceitos da sociedade daquele tempo, mesmo dos seus discípulos. O Messias vinha para a casa de Israel, para salvar o povo judeu. Na boca da mulher, a universalidade da salvação vivida e anunciada por Jesus, que vem para todos e não apenas para um grupo ou elite. O Seu fito é que o Evangelho chegue aos confins da terra. E por conseguinte atende às preces daquela mulher estrangeira.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Apresentação de Jesus no Templo

Nota Histórica:
       Quarenta dias após o nascimento de Jesus, em obediência à lei de Moisés (Ex. 13, 11-13), Maria leva o Menino ao templo, a fim de ser oferecido ao Senhor. Toda a oferta implica uma renúncia. Por isso, a Apresentação do Senhor não é um mistério gozoso, mas doloroso. Começa, nesse dia, o mistério de sofrimento, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário, quando Jesus, que não foi «poupado» pelo Pai, oferecer o Seu Sangue como sinal da nova e definitiva Aliança. Ao oferecer Jesus, Maria oferece-Se também com Ele. Durante toda a vida de Jesus, estará sempre ao lado do Filho, dando a Sua colaboração para a obra da Redenção.
       O gesto de Maria, que «oferece», traduz-se em gesto litúrgico, quando ao celebrarmos a Eucaristia, oferecemos «os frutos da terra e do trabalho do homem», símbolo da nossa vida.
       Antes da Missa, está prevista no Missal a procissão das velas, acesas em honra de Cristo que vem como luz das nações, e ao encontro de quem a Igreja caminha guiada já por essa mesma luz.

       Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: "Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor", e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor.
       ...Simeão recebeu Jesus em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: "Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo... e disse a Maria, sua Mãe: "Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações" (Lc 2, 22-40).

Oração de Coleta:
       Deus eterno e omnipotente, humildemente Vos suplicamos que, assim como o vosso Filho Unigénito foi neste dia apresentado no templo, revestido da natureza humana, assim também, de alma purificada, nos apresentemos diante de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Não leveis nada para o caminho...

       "Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos" (Mc 6, 7-13).
       O chamamento dos Apóstolos é um momento essencial na missão de Jesus Cristo. Chama-os a fim de os preparar e de os enviar a anunciar o reino de Deus. Com Ele farão um seminário, ouvindo-O, aprendendo com Ele, experimentando a alegria de estar com Ele. Neste estágio, Jesus envia-os, como escutamos hoje no Evangelho, dando indicações precisas, desafiando à confiança em Deus e ao respeito pela liberdade das pessoas. Não vão impor, vão propor a Boa-nova. Regressão e nessa ocasião farão uma avaliação da jornada de evangelização. Desta forma se vão entranhando na vivência e no anúncio do Reino de Deus.
       Hoje somos nós os chamados, os escolhidos do Senhor, para estarmos na Sua presença, para sentirmos a alegria da Sua vida em nós, para aprendermos e vivermos com Ele e como Ele. Somos igualmente enviados a testemunhar (anunciar) pela vida e pela voz, a boa-nova da Salvação que nos é dada em Jesus Cristo.