1 – Memória.
O novo povo de Deus – a Igreja – assenta a sua identidade e existência na Morte e Ressurreição de Jesus, como expressão do amor de Deus para connosco. “Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto... Agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é".
Deus faz-Se homem em Jesus Cristo, a eternidade entra no tempo. Ele assume a nossa fragilidade e finitude, leva a Sua cruz ao calvário. A ressurreição confirma a Sua entrega permanente.
Na Páscoa semanal – na Eucaristia – fazemos memória da morte e ressurreição, e de forma mais solene na Páscoa anual. Actualizamos o mistério pascal de Jesus e tornamos presente os que caminham peregrinos pelo tempo e pela história – nós –, e aqueles que já partiram para a eternidade de Deus.
É na memória (no memorial) da nossa fé que nascemos como Igreja e nos reconhecemos como irmãos em Jesus Cristo, formando o Seu Corpo místico.
Sem memória não existiria comunidade, pois não há comunidades sem história, sem passado, sem ascendentes. Mesmo havendo muitas partes da nossa memória pessoal e colectiva que precisem de purificação, a nossa memória é preciosa, molda-nos como sociedade e como comunidade crente. Somos cristãos porque outros nos confiaram as razões da sua fé, a sua esperança.
2 – Gratidão.
A gratidão consiste em acolher tudo o que de bom nos legaram os nossos antepassados, procurando um caminho para o nosso tempo, aprendendo com os erros e os desvios a renovar-nos e colocar em marcha, para este tempo, os novos céus e a nova terra em que fomos enxertados por Jesus Cristo. O mundo de amanhã será o que hoje conseguirmos edificar.
Ao celebrarmos a memória dos fiéis defuntos, reconhecemos o que nos comunicaram com amor: a vida, os valores, a cultura, e a própria religião. Na oração, em especial na Eucaristia, antecipação da comunhão com os santos e com Deus, em plenitude, entramos em comunhão com eles. Para já, a certeza de que a morte dos nossos entes queridos não foi um fim definitivo, confiámo-los ao Coração de Deus, onde se encontram até um dia nos receberem.
3 – Esperança.
O nosso olhar há-de estar fito no Senhor Jesus. À direita de Deus Pai, pela Ressurreição/Ascensão, Ele colocou a nossa natureza humana e daí nos atrai constantemente. Vivemos na tensão permanente de saborearmos a vida que possuímos como dádiva e como tarefa, e a atracção para a comunhão gloriosa. Para já, o nosso compromisso é com o tempo presente, com o mundo actual e com as pessoas que nos rodeiam, mas sem perder o norte, sem nos perdermos nem desviarmos do olhar de Deus e da nossa identidade cristã.
Os Santos – reconhecidos e propostos pela Igreja como exemplo e/ou anónimos que viveram exemplarmente – acalentam a nossa esperança. Jesus antecede-nos na morte e na ressurreição, mostrando-nos como o amor é mais forte do que a morte e vence por nós e para nós a “muralha” que nos separava de Deus, redimindo-nos do nosso pecado, fazendo com que a nossa fragilidade não seja um obstáculo, mas um instrumento de salvação e de felicidade. É na nossa limitação que nos abrimos aos outros e que abrimos o nosso coração e a nossa vida ao amor de Deus.
Por meio dos Santos, Deus torna mais luminosa a Sua presença e mais fácil o nosso caminho de santidade. Sabemos que é possível. Foi possível em Jesus Cristo. Foi possível que muitos homens e mulheres percorressem a vida com dedicação e entrega, ao jeito de Jesus, procurando que as suas vidas fossem luz, traduzindo em palavras e gestos de perdão e caridade o amor de Deus.
É a nossa fé e a nossa esperança. Os santos permitem-nos sentir que não estamos sós no nosso caminhar. Nunca estamos sós. Deus acompanha-nos, mas é mais fácil à nossa compreensão sentirmos a Sua presença através de pessoas, de carne e osso como nós, que souberam branquear a suas vestes no sangue do Cordeiro (=Jesus Cristo)...
Textos para a Eucaristia (ano A): Ap 7, 2-4.9-14; 1 Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12a.
Reflexão na página da Paróquia de Tabuaço.