terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - 1-1-2014

       1 – Iniciamos o novo Ano com o belíssimo quadro do presépio de Belém, ainda Natal, Maria e José diante do Menino que colocam à adoração do mundo. Os pobres são os primeiros, ou os únicos, a reconhecer Jesus como Filho de Deus, como Luz, o Enviado das alturas. Aquele Menino é uma joia que move corações, que enche toda a casa, como cada criança poderia e deveria encher as nossas casas,as nossas famílias. Desafio permanente, de ontem e de hoje: acolher Aquele que nasce como bênção para nós e para o mundo. Ainda havemos de ver alguns que passam à frente, ou indiferentes, ou se deixam ficar em seus lugares, como Herodes no Palácio, ou os Escribas no Templo, e com eles outros aduladores do poder, da segurança e do prestígio, esquecendo o essencial: o amor sincero e puro, simples e transparente.
       Há os que ouvem e se deixam ficar. Há os que nem sequer ouvem. Lá longe, os Magos, descobrem uma estrela nova. Ocupados com o saber, atentos ao que se passa no mundo, põem-se a caminho em busca de um Menino. Antes, os pastores. Estão alerta. Conhecem a natureza e o que ela lhes reserva, de bom e de mau. Pouco têm e são tidos em pouca conta. Excluídos, fazem um trabalho serviçal. Emprestam à Sagrada Escritura uma das mais belas imagens para falar de um Deus próximo, como Bom Pastor, que caminha com as suas ovelhas, dá a vida por elas, conhece-as pelo nome. Os pastores ouvem o Anjo. Não pensam duas vezes. Não fazem cálculos. Partem para Belém. Apressadamente. Como Maria quando sabe que a Sua prima Isabel está grávida. Como José, que ainda de noite pega em Maria e no Menino e vai para o Egipto.
       A Boa Nova para hoje: “Encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado”.
       2 – Pessoas simples e despretensiosas. Chegam e alegram-se. E desbobinam. Contam tudo. É uma notícia alegre, feliz, não podem calar por mais tempo o que guardam com esperança no coração. Pode faltar tudo ao cristão, não falte a capacidade de se deixar surpreender por Deus, a capacidade de se rir, de se alegrar, de se maravilhar com a vida.
       Fixemos o nosso olhar nos pastores para os seguirmos na adoração do Menino e no testemunho de tudo o que ouvimos no nosso coração e o que vemos junto ao Presépio. Regressam às suas vidas, louvando e glorificando a Deus. Aquele encontro com o Menino, com Maria e José, encheu-lhes o coração de alegria. Doravante... continuarão a ser pastores. Mas aquela alegria há de acompanhá-los até à morte. E quando estiverem mais cansados hão de lembrar-se do sorriso d'Aquela criança.
       Voltemos agora o nosso olhar para Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa. Com José, Maria continua a cuidar o melhor que sabe do Seu Menino, que não é Seu de todo, nasceu d'Ela mas não lhe pertence. Agora os pastores, depois os Magos, os discípulos, as multidões, o Reino de Deus, a morte... e a vida!
       Ela guarda tudo no coração. A primeira atitude dos cristãos é a adoração, e o silêncio orante. Os pastores prostram-se diante de Jesus. Assim os magos. Assim Maria. Assim cada cristão. Só na adoração de Deus o nosso coração adquire o tamanho necessário para acolher o outro como irmão.
       Aquele Menino é uma bênção. Para a família de Nazaré. Para a humanidade inteira.
        3 – Jesus, Deus entre de nós, vem para nos resgatar do pecado e da morte. “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.
       A Encarnação de Deus visa assumir-nos por inteiro, na nossa fragilidade e na nossa finitude. Ele é um de nós. Nasce de uma MULHER, é "fruto" da terra e do Espírito de Deus. Só é redimido o que é assumido. Jesus assume-nos como irmãos. Temos o mesmo Pai. Mas se dúvidas existissem, Ele dá-nos Maria por Mãe. “Eis o teu filho; eis a tua Mãe” e dessa hora, a hora da morte de Jesus, o discípulo recebe-A em sua casa. Hoje somos nós os discípulos de Jesus. É a nós que Ele nos confia a Sua Mãe. É a Maria que Ele nos confia como filhos. Recebamo-l'A com carinho em nossa casa, para que, tendo-A por Mãe, nos sintamos realmente irmãos uns dos outros.
       Atente-se nas palavras do papa Francisco, na Sua Mensagem para este Dia Mundial da Paz: “Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro”.
        O Papa evidencia o fundamento da fraternidade: Deus, que é Pai de todos. Só nos entenderemos como irmãos se antes nos reconhecermos filhos do mesmo Pai, do mesmo Deus. Nesta casa que é o mundo, o chão que nos irmana, precisamos da ternura e da delicadeza de uma Mãe, para nos empenharmos mais, e mais, e mais, edificando a concórdia, como fruto do amor, do diálogo, da compreensão, e do esforço por sublinharmos o que nos pode enriquecer mutuamente, os dons de cada um, para o bem de todos.
       4 – Desde que nos criou por amor que Deus nos procura e vem até nós para suscitar a busca da felicidade, desafiando-nos para o bem. A Encarnação do Verbo, Deus que Se faz carne, é a plenitude da bênção prometida para todos os povos da terra. N'Ele serão abençoadas todas as nações.
       É uma promessa que vem de trás, explicitada por Deus a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
       Ao iniciarmos um novo ano, renovamos a esperança e confiança no amanhã. Deus vem, Deus nasce em nós e no mundo, Deus manifesta-Se próximo, amigo, Pai, Irmão, faz parte da nossa família, faz família connosco. Rezemos uns pelos outros: “Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto”. 
       Que a Virgem Imaculada, Mãe de Deus, não cesse de nos despertar da sonolência e nos conduzir a Jesus Cristo, Seu Filho, o Príncipe da Paz, para n’Ele nos assumirmos como irmãos, estreitando os laços de amizade e parentesco espiritual. Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós.

Textos para a Eucaristia (ano A): Num 6, 22-27 ; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

D. MANUEL CLEMENTE - O Evangelho e a Vida - ano A

D. MANUEL CLEMENTE (2013). O Evangelho e a Vida. Conversas na rádio no Dia do Senhor. Ano A. Cascais: Lucerna. 320 páginas.
       No dia 7 de julho de 2013, D. Manuel Clemente assumia a cátedra do Patriarcado de Lisboa. Durante alguns anos, como Bispo Auxiliar de Lisboa e, depois, como Bispo do Porto, manteve uma presença regular na Rádio (Renascença) e na Televisão (RTP 2), em programas semanais. Na televisão, no programa da Igreja Católica "ECCLESIA", os diálogos, habitualmente com Paulo Rocha, sobre a vida da Igreja e da sua história milenar. Estes diálogos foram publicados em livro: Uma Casa Aberta a Todos, onde se recolhem textos de outras intervenções de D. Manuel Clemente.
       A presente obra ora recomendada, resulta dos comentários feitos na Rádio Renascença, ao domingo, no programa "O Dia do Senhor". D. Manuel Clemente comentava a Liturgia do Domingo.
       O livro recolhe as intervenções de D. Manuel Clemente, em clima de familiaridade e de diálogo. O comentário centra-se no Evangelho do respetivo domingo. Quem já o escutou na rádio ou na televisão, ou quem já leu algum texto ou intervenção, sabe da serenidade de D. Manuel Clemente, falando de forma simples, acessível, procurando que a Palavra de Deus seja luz para os crentes de hoje, para a Igreja e para o mundo.
       Pessoalmente, tive a oportunidade de escutar estas e outras reflexões, ao domingo de manhã, não na totalidade, mas durante uns 10 minutos, na passagem de uma para outra Eucaristia dominical. Por vezes, uma frase, um cometário, uma história, serviam-me para um enquadramento diferente na Homilia ou para explicitar alguma interpelação.
       Os textos podem ser lidos na semana anterior ao respetivo domingo, preparando-se para melhor a Eucaristia e o Domingo, ou de uma assentada, ficando-se com uma visão geral de todo o ano litúrgico, voltando aos textos em cada semana. Neste ano A, o evangelista que mais de perto nos acompanha é São Mateus, o Evangelho da Igreja.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Leituras: para melhor preparar o Domingo

       A riqueza da Palavra de Deus é inesgotável. Na rede poderemos encontrar verdadeiras pérolas, que propõem o texto bíblico e litúrgico de forma acessível, envolvente, com diversos ângulos. Para quem preferir ter um livro com os comentários aos textos de domingo encontram-se muitos publicados.
       O ano A, que iniciou no 1.º Domingo do Advento, tem como evangelista, dos domingos e dias santos, São Mateus. Obviamente que há celebrações específicas que lançam mãos dos outros evangelhos, mas a referência será o Evangelho da Igreja.
Três sugestões:
D. ANTÓNIO COUTO. Quando Ele nos abre as Escrituras. Domingo após domingo. Uma leitura bíblica do Lecionário. Ano A. Paulus Editora, Lisboa 2013.

D. MANUEL CLEMENTE. O Evangelho e a Vida. Conversas na rádio no Dia do Senhor. Ano A. Lucerna. Cascais 2013. 320 páginas. 320 páginas.

José ANTONIO PAGOLA. O Caminho aberto por Jesus: Mateus. Gráfica de Coimbra 2. Coimbra 2010. 280 páginas.
São três leituras provocatórias, envolventes, profundas, acessíveis a todos os leitores, a todos os crentes e também ao squ eo não são tanto, a cristãos e a pessoas de boa vontade. Os autores são bem conhecidos e já recomendámos outros títulos e outros textos:
       Pagola é espanhol, sacerdote basco, um estudioso da Bíblia, com créditos firmados. A sugestão de leitura não separa por domingos, mas segue o Evangelho, com os diversos momentos, episódios, encontros de Jesus, curas, parábolas, sermão da montanha, pai-nosso, paixão. Traz o texto do evangelho, seguindo-se o comentário, procurando seguir o caminho aberto por Jesus. Já aqui sugerimos a leitura de Marcos. As diversas passagens do Evangelho podem lançar luz sobre a atualidade em clima de fé, de confiança, de compromisso.
       O texto de D. Manuel Clemente resulta dos comentários feitos na Rádio Renascença, ao domingo, comentando precisamente a Liturgia do Domingo. O livro recolhe as intervenções de D. Manuel Clemente, em clima de familiaridade e de diálogo. Recolhe sobretudo o texto do Evangelho e o respetivo comentário. Quem já o escutou na rádio ou na televisão, ou quem já leu algum texto ou intervenção, sabe da serenidade de D. Manuel Clemente, falando de forma simples, acessível, procurando que a Palavra de Deus seja luz para os crentes de hoje, para a Igreja e para o mundo.
       D. António Couto, Bispo de Lamego, cujos comentários às leituras de Domingo, especialmente ao Evangelho, têm muitos leitores a partir do seu blogue: Mesa de Palavras: AQUI. Antes de assumir a Diocese de Lamego era um dos residentes no programa da Igreja Católica na RTP, Ecclesia, precisamente para ajudar a preparar a liturgia da palavra de cada Domingo. O livro que ora sugerimos recolhe a reflexão de D. António Couto para cada domingo, com profundidade, sabedoria, envolvendo-nos na Palavra de Deus, fazendo-no sentir parte essencial da história da salvação.
       Como dissemos há muitos outros títulos para ajudar a preparar a reflexão de domingo. Estes três quisemos tê-los acessíveis. A leitura pode ser feita domingo a domingo. No caso de Pagola será de todo útil uma leitura continuada, permitindo ter uma visão global do Evangelho de Mateus. Mas os três títulos podem ser lidos de uma assentada (talvez o que vá fazer) ou antecedendo cada domingo ler o respetivo texto e comentário.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Sagrada Família de Nazaré: Jesus, Maria e José

       1 – José sonha novamente. De uma ou de outra forma todos sonhamos: uma vida melhor, mais fácil, mais feliz, na companhia daqueles que nos fazem sentir vivos. Porém, nem tudo é como sonhamos. O sonho exige dedicação, trabalho e, por vezes, sacrifício e renúncia. José sonhou e acolheu Maria como esposa, dando-lhe casa, abrigo, proteção. José volta a sonhar e dá a Maria e a Jesus outra casa, outros cuidados, foge com eles para um lugar seguro. A verdadeira CASA é onde estão os nossos amigos.
       Em sonho, o Anjo do Senhor interpela José: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egipto, pois Herodes vai procurar o Menino para O matar». Para escutar Deus é preciso fazer silêncio. No silêncio da noite, durante o sono, José é visitado pelo Anjo do Senhor. A escuta não é passiva, pois logo José se levanta, ainda ensonado, toma o Menino e Sua Mãe e parte para o Egipto, onde permanecerá até à morte de Herodes, isto é, até haver garantias de segurança. Não lhe ouvimos nenhum lamento, apenas a pressa para proteger a família.
       Após a morte de Herodes, o Anjo do Senhor volta a aparecer a José, em sonhos: «Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel, pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino já morreram». José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe e voltou para a terra de Israel". Entretanto fica a saber que o filho de Herodes governa a Judeia e, tendo receio de colocar a família em perigo, decide não voltar a Belém. José permanece em atitude de escuta, de silêncio, de sonho, para perceber a vontade de Deus. Do Egipto, a Sagrada família segue para Nazaré.
       Em todas as etapas vem ao de cima o cuidado de José, a sua serenidade, o seu silêncio, a sua fé, a sua predisposição para escutar a voz de Deus, através do Anjo, a sua prontidão em agir, em acolher a vontade de Deus. Por aqui se vê que José não é uma figura decorativa (do presépio). A sua missão é delicada e essencial para resguardar Jesus e a Maria de diferentes perigos.
       2 – No confronto com a realidade, ficamos confusos, pois as famílias são tão diferentes. Na expressão de Tolstoi, as famílias felizes são todas iguais, as famílias tristes são-no cada uma à sua maneira. A família, baseada no amor, na bondade, na generosidade, como espaço de diálogo, de comunicação, de vida, de partilha, promotora dos talentos dos seus membros, constitui a base de uma sociedade mais justa e fraterna, mais solidária.
       Contudo, há um lado lunar. A fraternidade dá lugar ao fratricídio, a sadia convivência cede a conflitos desgastantes: ciúme, inveja, chantagem, rivalidade, ganância, egoísmo. O que se espera da família desaparece para interesses egoístas. Medo, acusações, denúncia, guerras, abusos, exploração dos mais frágeis. Todos os dias a comunicação social nos traz exemplos de agressões violentas e virulentas, dentro das famílias. Aqueles que devíamos proteger, cuidar, tornam-se os alvos mais fáceis para descarregar o nosso azedume e a nossa irritação.
       Há, com efeito, muitas famílias que querem cumprir com o seu papel socializador e integrador, têm as condições para promover a vida e a dignidade dos seus membros, mas as investidas políticas e económicas continuam a assentar em números e percentagens.
       Mas nem tudo são desgraças. Desligue por momentos a televisão, ou procure outros canais, e encontrará abnegação, generosidade, entreajuda. Com efeito, o tempo de Natal é propício a gestos de aproximação, de perdão e de ternura. O sentimento parece vir ao de cima. Há que potenciar estes momentos, para que se tornem um hábito. Há muitos exemplos concretos, na nossa rua, na nossa vizinhança, na comunidade. O problema é que o mal fala mais depressa e mais alto. Uma situação concreta de destruição familiar abafa toda a saúde existente noutras casas e em outras famílias.

       3 – A família de Jesus, Maria e José, passou por momentos difíceis, desde o início. Maria encontra-se grávida. José, homem justo e temente a Deus, fica a saber da gravidez daquela que lhe estava prometida. Surge a primeira sombra. José dorme antes de tomar qualquer decisão. A travesseira é boa conselheira. A bondade e a prudência de José dão frutos. Reza e deixa-se inspirar por Deus.
       Logo depois novas dificuldades. Têm que partir com certa urgência para a cidade de Belém (casa do pão), para se recensearem na terra natal de José. Novos contratempos, a gravidez de Maria está avançada, a qualquer instante pode dar à luz. Confiam em Deus. Partem. Chegados a Belém não encontram lugar em hospedarias ou, visto de outro ângulo, cedem a habitação própria para que outros tenham um teto onde ficar naqueles dias de grande movimentação de pessoas. Continuam a confiar na providência de Deus. E até os animais ajudam a aquecer o lugar onde vai nascer o salvador do mundo. Afinal a minha, a tua casa, a verdadeira casa, é onde estão os que nos querem bem. Jesus está em casa, com José e com Maria, com os pastores e com os magos.
       Novas dificuldades. Herodes quer matar o Menino. Têm de fugir à pressa e procurar abrigo em outro país, melhores condições de vida, como tantos membros das nossas famílias. Mas não desanimam. Põem mãos à obra e partem. Deus não deixará de estar com eles, Deus não deixará de estar connosco.
       No regresso a casa, têm de adiar esse sonho e fixar-se em Nazaré, para que fiquem garantidas a estabilidade e a segurança. Pela vida fora outras adversidades chegarão. Até ao fim. Não têm a vida facilitada. Também por esta razão, a família de Nazaré pode ser um estímulo para as nossas famílias. Confiar em Deus, procurando cada um dar o melhor de si para o bem de todos, com prudência e sobretudo com muito amor, cuidando especialmente dos mais frágeis.
       4 – Ser família é, hoje mais que nunca, um desafio muito grande, uma responsabilidade, um compromisso. Se a humanidade está em crise é porque antes a família começou a colapsar. A atual crise económico-financeira é consequência natural de outras crises, de valores, de referência, de cuidado pelos mais novos e pelos mais velhos, pelos que precisam de maior atenção. Há uma mão cheia de desculpas e/ou descuidos. Viver a família quando nos fornece aconchego e segurança, e investir no aconchego e segurança dos outros. Dar e receber. A família tonar-se-á um fardo dispensável se apenas olhamos para as próprias necessidades.
       Por outro lado, os bens materiais não podem ocupar o espaço dos afetos, dos sentimentos, da disponibilidade de tempo e atenção. O trabalho, a profissão, é importante, facilita uma vida com dignidade e segurança, mas o mais importante são os filhos, ou os pais e avós, mais importante é a companhia. Sem esta, tudo o mais vale pouco. Só quando os pais morrem é que damos pela sua falta, só quando não temos mão nos filhos é que percebemos que não tivemos tempo para eles!
       Na primeira leitura, o cuidado pela família, reveste-se de mandamento: “Deus quis honrar os pais nos filhos… Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida… A caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados”.
       A família não pode ser um fardo. A família terá de ser espaço de sadia convivência, entreajuda, diálogo, união. Na família aprende-se a viver, aprende-se a respeitar as diferenças dos seus membros, aprende-se a ser filho e a ser irmão e a ser mãe e pai, aprende-se a ser neto e ser avó e avô. Na família aprende-se acolher o outro e a respeitar o seu espaço. Assim na família, assim na sociedade.
       5 – Avancemos um pouco mais. São Paulo clarifica a nossa identidade como cristãos, como filhos de Deus e dá-nos o remédio para viver em harmonia: «revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência... perdoai-vos mutuamente, tal como o Senhor vos perdoou. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, para formar um só corpo. Tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai... Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo».
       A caridade acima de tudo. Oração. Escuta da Palavra de Deus. Delicadeza entre os diversos membros da família. Perdão. Sabedoria da Palavra de Deus. Ação de Graças. Tudo vivido para glória de Deus. "Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem" (salmo). Confiança em Deus e realização da Sua vontade. O elemento indispensável: Deus, que nos compromete com o trabalho, com a transformação do mundo, para juntos edificarmos uma só família, pois Ele é Pai de todos.

Textos para a Eucaristia (ano A): Sir 3, 3-7.14-17ª; Sl 127(128) Col 3, 12-21; Mt 2, 13-15.19-23.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Bento XVI - São João, o filho de Zebedeu

Queridos irmãos e irmãs!

       Dedicamos o encontro de hoje à recordação de outro membro muito importante do colégio apostólico: João, filho de Zebedeu e irmão de Tiago. O seu nome, tipicamente judaico, significa "o Senhor fez a graça". Estava a consertar as redes na margem do lago de Tiberíades, quando Jesus o chamou juntamente com o irmão (cf. Mt 4, 21; Mc 1, 19). João pertence também ao grupo restrito, que Jesus chama em determinadas ocasiões.
       Está com Pedro e com Tiago quando Jesus, em Cafarnaum, entra em casa de Pedro para curar a sua sogra (cf. Mc 1, 29); com os outros dois segue o Mestre na casa de Jairo, chefe da sinagoga, cuja filha será chamada à vida (cf. Mc 5, 37); segue-o quando ele sobe ao monte para ser transfigurado (cf. Mc 9, 2); está ao lado dele no Monte das Oliveiras quando, face à imponência do Templo de Jerusalém, pronuncia o sermão sobre o fim da cidade e do mundo (cf. Mc 13, 3); e, finalmente, está ao seu lado quando, no Horto do Getsémani, se retira para rezar ao Pai antes da Paixão (cf. Mc 14, 33). Pouco antes da Páscoa, quando Jesus escolhe dois discípulos para os enviar a preparar a sala para a Ceia, confia a ele e a Pedro esta tarefa (cf. Lc 22, 8). 
       Esta sua posição de relevo no grupo dos Doze torna de certa forma compreensível a iniciativa tomada um dia pela mãe: ela aproximou-se de Jesus para lhe pedir que os dois filhos, precisamente João e Tiago, pudessem sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda no Reino (cf. Mt 20, 20-21). Como sabemos, Jesus respondeu fazendo por sua vez uma pergunta: pediu que eles estivessem dispostos a beber do cálice que ele mesmo estava para beber (cf. Mt 20, 22).
       A intenção que estava por detrás daquelas palavras era a de despertar os dois discípulos, introduzi-los no conhecimento do mistério da sua pessoa e de os fazer reflectir sobre a futura chamada a ser suas testemunhas até à prova suprema do sangue.
      De facto, pouco depois Jesus esclareceu que não veio para ser servido mas para servir e dar a própria vida em resgate pela multidão (cf. Mt 20, 28). Nos dias seguintes à ressurreição, encontramos "os filhos de Zebedeu" empenhados com Pedro e outros discípulos numa noite infrutuosa, à qual se segue, pela intervenção do Ressuscitado, a pesca milagrosa: será "o discípulo que Jesus amava" quem reconhece primeiro "o Senhor" e quem o indica a Pedro (cf. Jo 21, 1-13).
       Na Igreja de Jerusalém, João ocupou um lugar de realce na orientação do primeiro agrupamento de cristãos. De facto, Paulo estava incluído entre os que Ele chama as "colunas" daquela comunidade (cf. Gl 2, 9). Na realidade, nos Atos, Lucas apresenta-o juntamente com Pedro quando vão rezar no Templo (cf. Act 3, 1-4.11) ou estão diante do Sinédrio para testemunhar a própria fé em Jesus Cristo (cf. Act 4, 13.19). Juntamente com Pedro é enviado pela Igreja de Jerusalém para confirmar aqueles que na Samaria aceitaram o Evangelho, pregando por eles a fim de que recebam o Espírito Santo (cf. Act 8, 14-15).º
       Em particular, deve recordar-se o que afirma, juntamente com Pedro, diante do Sinédrio que os está a processar: "Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos" (Atos 4, 20). Precisamente esta franqueza ao confessar a própria fé permanece um exemplo e uma admoestação para todos nós a estarmos sempre prontos para declarar com determinação a nossa inabalável adesão a Cristo, antepondo a fé a qualquer cálculo ou interesse humano.
      Segundo a tradição, João é "o discípulo predilecto", que no Quarto Evangelho apoia a cabeça no peito do Mestre durante a Última Ceia (cf. Jo 13, 21), encontra-se aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus (cf. Jo 19, 25) e, por fim, é testemunha quer do túmulo vazio quer da própria presença do Ressuscitado (cf. Jo 20, 2; 21, 7).
       Sabemos que esta identificação hoje é debatida pelos estudiosos, alguns dos quais veem nele simplesmente o protótipo do discípulo de Jesus. Deixando aos exegetas a tarefa de resolver a questão, contentamo-nos com receber uma lição importante para a nossa vida: o Senhor deseja fazer de cada um de nós um discípulo que vive uma amizade pessoal com Ele. Para realizar isto não é suficiente segui-lo e ouvi-lo exteriormente; é preciso também viver com e como Ele.
       Isto é possível apenas no contexto de uma relação de grande familiaridade, repleto do calor de uma total confiança; por isso um dia Jesus disse: "Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos... Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai" (Jo 15, 13.15).
        Nos apócrifos Atos de João o Apóstolo é apresentado não como fundador de Igrejas nem sequer como guia de comunidades já constituídas, mas em contínua itinerância como comunicador da fé no encontro com "almas capazes de ter esperança e de ser salvas" (18, 10; 10, 8). Tudo é movido pela intenção paradoxal de mostrar o invisível. De facto, ele é chamado pela Igreja oriental simplesmente "o Teólogo", isto é, aquele que é capaz de falar das coisas divinas em termos acessíveis, revelandoumarcano acesso a Deus mediante a adesão a Jesus.
       O culto de João apóstolo afirmou-se a partir da cidade de Éfeso, onde, segundo uma antiga tradição, trabalhou por muito tempo, falecendo ali com uma idade extraordinariamente avançada, sob o Imperador Trajano. Em Éfeso o imperador Justiniano, no século VI, mandou construir em sua honraumagrande basílica, da qual permanecem ainda imponentes ruínas.
       Precisamente no Oriente ele gozou e goza ainda de grande veneração. Na iconografia bizantina é representado com frequência muito idoso segundo a tradição morreu sob o imperador Trajano e em intensa contemplação, quase na atitude de quem convida ao silêncio.
       De facto, sem adequado recolhimento não é possível aproximar-se do mistério supremo de Deus e da sua revelação. Isto explica porque, há anos, o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Atenágoras, aquele que o Papa Paulo VI abraçou num memorável encontro, afirmou: "João está na origem da nossa mais alta espiritualidade. Como ele, os "silenciosos" conhecem aquele misterioso intercâmbio dos corações, invocando a presença de João e o seu coração inflama-se" (O. Clément, Diálogos com Atenágoras, Turim 1972, p. 159). O Senhor nos ajude a pormo-nos na escola de João para aprender a grande lição do amor, de modo que nos sintamos amados por Cristo "até ao fim" (Jo 13, 1) e empreguemos a nossa vida por Ele
 
Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo, Editorial Franciscana, Braga 2008.

Bento XVI - somos Luz na Luz que é Cristo

       Ao nosso redor pode haver a escuridão e as trevas, e todavia vemos uma luz: uma chama pequena, minúscula, que é mais forte do que a escuridão, aparentemente tão poderosa e insuperável. Cristo, que ressuscitou dos mortos, brilha neste mundo, e fá-lo de modo mais claro precisamente onde tudo, segundo o juízo humano, parece lúgubre e sem esperança. Ele venceu a morte – Ele vive – e a fé n’Ele penetra, como uma pequena luz, tudo o que é escuro e ameaçador. Certamente quem acredita em Jesus não é quem vê sempre só o sol na vida, como se fosse possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades, mas há sempre uma luz clara que lhe indica um caminho, o caminho que conduz à vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Os olhos de quem acredita em Cristo vislumbram, mesmo na noite mais escura, uma luz e vêem já o fulgor dum novo dia.
       A luz não fica sozinha. Ao seu redor, acendem-se outras luzes. Sob os seus raios, delineiam-se de tal modo os contornos do ambiente que nos podemos orientar. Não vivemos sozinhos no mundo. Precisamente nas coisas importantes da vida, temos necessidade de outras pessoas. Assim, de modo particular na fé, não estamos sozinhos, somos anéis da grande corrente dos crentes. Ninguém chega a crer, senão for sustentado pela fé dos outros; mas, por outro lado, com a minha fé contribuo para confirmar os outros na sua fé. Ajudamo-nos mutuamente a ser exemplo uns para os outros, partilhamos com os outros o que é nosso, os nossos pensamentos, as nossas acções, a nossa estima. E ajudamo-nos mutuamente a orientar-nos, a identificar o nosso lugar na sociedade.
       Queridos amigos, diz o Senhor: «Eu sou a luz do mundo; vós sois a luz do mundo». É uma coisa misteriosa e magnífica que Jesus tenha dito de Si próprio e de todos nós juntos a mesma coisa, ou seja, que «somos luz». Se acreditarmos que Ele é o Filho de Deus que curou os doentes e ressuscitou os mortos, antes, que Ele mesmo ressuscitou do sepulcro e está verdadeiramente vivo, então compreenderemos que Ele é a luz, a fonte de todas as luzes deste mundo. Nós, ao contrário, não cessamos de experimentar a falência dos nossos esforços e o erro pessoal, apesar das nossas boas intenções. Não obstante o seu progresso técnico, o mundo onde vivemos, em última análise – ao que parece – não se tem tornado melhor. Existem ainda guerras, terror, fome e doença, pobreza extrema e desalmada repressão. E mesmo aqueles que, na história, se consideraram «portadores de luz», mas sem ter sido iluminados por Cristo que é a única verdadeira luz, não criaram paraíso terrestre algum, antes instauraram ditaduras e sistemas totalitários onde até a mais pequena centelha de humanismo foi sufocada.
       Neste ponto, não devemos calar o facto de que o mal existe. Vemo-lo em tantos lugares deste mundo; mas vemo-lo também – e isto assusta-nos – na nossa própria vida. Sim, no nosso próprio coração, existe a inclinação para o mal, o egoísmo, a inveja, a agressividade. Com uma certa autodisciplina, talvez isto se possa, em certa medida, controlar. Caso diverso e mais difícil se passa com formas de mal mais escondido, que podem envolver-nos como um nevoeiro indefinido, tais como a preguiça, a lentidão no querer e no praticar o bem. Repetidamente, ao longo da história, pessoas atentas fizeram notar que o dano para a Igreja não vem dos seus adversários, mas dos cristãos tíbios. «Vós sois a luz do mundo». Só Cristo pode dizer «Eu sou a luz do mundo»; todos nós somente somos luz, se estivermos naquele «vós» que, a partir do Senhor, se torna incessantemente luz. E, tal como o Senhor, num sinal de advertência, diz do sal que poderia tornar-se insípido, assim também nas palavras sobre a luz Ele incluiu uma pequena advertência: em vez de colocar a luz num candelabro, pode-se cobri-la com um alqueire. Perguntemo-nos: quantas vezes teremos coberto de tal modo a luz de Deus com a nossa inércia, com a nossa obstinação, que ela não pôde brilhar, por nosso intermédio, no mundo?

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Paróquia de Pinheiros - solenidade de Natal 2013

       Durante os quatro domingos do Advento, a comunidade paroquial de Pinheiros foi sendo introduzida, com a coordenação dos acólitos, na dinâmica do Advento como preparação para a celebração festiva do Natal, com o acender das 4 velas e preparação do presépio. No dia de Natal, no início da Eucaristia, a colocação da imagem do Menino Jesus no presépio e jogral sublinhando algumas expressões: celebrar, fraternidade, Deus connosco, Jesus Luz Verdadeira, Família. No pai-nosso, união das mãos e das pessoas, com as crianças frente ao altar. Durante o beijar do Menino um pequeno postal de felicitações para as famílias. Algumas imagens ilustrativas:
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Paróquia de Tabuaço: Missa do Galo 2013

       A tradicional Missa do Galo, ou Missa da Meia-Noite, contou este ano, de novo, com o grupo de jovens, que se empenhou em preparar a encanção do Evangelho, dando mais alegria e envolvência a uma noite fria e sobretudo muito chuvosa. Os tons de festa, de acolhimento, de alegria estiveram presentes em toda a celebração, numa belíssima interação entre o grupo coral e o grupo de jovens. 
       Ficam algumas imagens desta noite:
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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

É Natal quando e porque Deus quer...

       “Quando o Homem quiser, é Natal”. O poema de Manuel Sérgio acentua o desejo que se deverá tornar um compromisso permanente de fazer o Natal acontecer. Olhando para esta quadra natalícia, acentuam-se gestos de solidariedade, de partilha, de preocupação pelos outros. Coloca-se em evidência a família e, mesmo aqueles que a não têm encontram momentos de acolhimento, de aconchego e de proximidade que por momentos debela o isolamento, a solidão a falta de abrigo e/ou condições condignas da condição humana.
       A amostra destes dias deveria estender-se ao longo de todo o ano, todos os dias, multiplicando os gestos individuais e institucionais que tornariam por certo a sociedade mais saudável e fraterna, mais cristã, mais natalícia. O Natal não seria só um dia, como expressa uma canção que se escuta em algumas Eucaristia, se cada um de nós fosse José, ou fosse Maria e todas as famílias como a de Nazaré.
       Contudo, vêm-me à lembrança palavras significativas de João César das Neves: O Natal é quando Deus quiser. Ou seja, o nascimento de Jesus é uma dádiva divina. Pura iniciativa de Deus, que Se oferece, que vem habitar connosco, na nossa história, no hoje das nossas vidas.
       Festejamos o nascimento de Jesus, a eternidade no tempo, o divino no humano, o encontro alegre de Deus com os homens. Isto é, Deus faz-Se um de nós, criatura humana para da humana debilidade nos elevar, pelo amor, à condição divina. É esta a interpelação: sermos cada dia mais parecidos com Deus (cf. Mt 5, 48), já que fomos criados à Sua imagem e semelhança (cf. Gen 1, 26-27).
       Oportunidade de refletir sobre o essencial da nossa fé cristã, colocando-nos de modo peculiar aos pés da Virgem Maria. Ela é paradigma do ser e viver cristãos. Acolhe Jesus no seu ventre, no seu coração e na sua vida. Ela é mãe porque dá à luz Jesus Cristo. Mas também o é porque procura fazer a vontade de Deus. Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8, 20-21). Alguém grita: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» E de novo a resposta de Jesus: «Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27-28).
       Ela é Mãe de Jesus, é Mãe da Igreja e é Mãe nossa.
       A sua vida identifica-se com a nossa, todos os dias, entre as lutas, os esforços e os sacrifícios, as alegrias e as esperanças.
       Contemplamo-la junto à Cruz (Jo 19-25-27), diante do terrífico e da angústia, a ver o seu Filho ser levado à morte e a não poder fazer nada, sabendo que não pode trocar a sua vida pela d’Ele. Quanto sofrimento? Que mãe deixaria morrer o seu filho? Quanta alegria no anúncio do Anjo, no nascimento de Jesus, no seu crescimento e nas primeiras descobertas e aprendizagens? Mas quanta ansiedade diante das incertezas, das ameaças e difamações contra o Filho, o escárnio, a loucura, a caminhada para o Calvário, a morte ignominiosa da Cruz?
       Agora é Natal, ainda que a LUZ venha da Páscoa de Jesus, Vida Nova, vida em plenitude.
       Deus quer que haja NATAL, dá-nos o Seu Filho. Pode nascer em nós. Voltando ao início, quando o homem quiser poderá ser Natal, porque primeiro Deus quis que houvesse Natal, Deus quis fazer-Se um de nós. Deus quer fazer em nós a Sua morada.
       Maria, pelo Seu Sim, mostra-nos como contribuir para que o Natal aconteça. Uma resposta atualizada depois da anunciação, na visita à Sua prima Santa Isabel, nas Bodas de Caná, na Cruz, no início da comunidade cristã.
       Cabe-nos, HOJE, a cada um e às nossas famílias, acolher a vontade de Deus, para que tudo se faça segundo a Sua palavra (cf. Lc 1,38).
       Santo NATAL cristão, com Jesus, Maria e José, com a nossa família e as nossas comunidades, para que o Verbo de Deus ilumine toda a casa, toda a nossa vida.

(base do texto publicado no Jornal da Diocese de Lamego:
Voz de Lamego - 24 de dezembro de 2013)

domingo, 22 de dezembro de 2013

Festa de Natal da Catequese 2013

       Em vésperas de Natal, a Festa da Catequese. Simples, alegre. Descontraída. Convite a viver o Natal com Jesus, Maria e José e com cada pessoa da família e da vizinhança. No Auditório do Centro de Promoção Social de Tabuaço. Celebração da Eucaristia e intervenção dos grupos da catequese. 21 de dezembro de 2013. Algumas fotos:
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sábado, 21 de dezembro de 2013

Domingo IV do Advento - ano A - 22 de dezembro

       1 – "A virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel". O sinal dado por Deus ao povo da Aliança, através do profeta Isaías, ganha consistência e realidade com o nascimento de Jesus Cristo, Verbo Encarnado, Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo.
       Será um Deus próximo, no meio de nós. Naqueles dias, o povo vivia um tempo de trevas, de afastamento, conflito, divisões, uma noite contínua. Porém, Deus não afasta a Sua mão, e muito menos o Seu coração. Desafia o regresso à Aliança, acalenta a esperança: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho».
       É um sinal que vem do futuro, como promessa e como esperança, mas também como aviso e como compromisso. A mensagem profética reclama dos que molestam o seu próximo, em particular aqueles que tem o poder e a missão para cuidar do povo. O sinal – A virgem dará à luz um filho – há de envolver-nos já, aqui e agora (hic et nunc) no cuidado com os mais frágeis, aqueles que Deus nos dá para O acolhermos e amarmos.
       2 – São Mateus acentua, de forma clarividente, a ligação do Messias ao povo eleito. Envolvido pela Luz divina, cujo nascimento está marcado pelo mistério, o Filho de Deus está genealogicamente inserido no povo hebreu, na sua cultura e na sua história. Vejamos a Boa Notícia:
"O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa".
       O Deus que salva (= Jesus), nasce pelo poder do Espírito Santo no seio de Maria. São José faz parte deste mistério de salvação, sendo-lhe revelado a origem do Menino Deus e a missão de Lhe dar o NOME, preparando-Lhe uma CASA e uma FAMÍLIA humana. O sonho de José revela-nos, a todos, a vinda do Filho de Deus à terra, para habitar junto de nós e nos habitar.
       Ele é o Emanuel, Deus connosco, Deus no meio de nós. Vem para salvar o povo dos seus pecados, libertando-nos de tudo o que gera ruína, divisão, afastamento dos outros e de Deus.
        3 – O sonho alimenta a vida. José tem um sonho. Sem sonho. Sem esperança. Sem luz. Sem caminho. Sem saída. Morte. Tristeza. Deserto. Desencanto. Escuridão. Mar revolto. Águas agitadas. Tempestade. Fuga. Distância. Indiferença. Desespero. Morte. Sem sonho. É preciso sonhar. Esperar. E deixar-se iluminar, guiar, é preciso sair de si, e de dentro do sonho. Há vida e luz e horizonte e esperança. E Deus. No meu e no teu sonho. Procurar. Encontrar. Acolher e amar. Viver. Criar. Juntar. Comungar. Dar. Partilhar. Viver, como filhos de Deus, irmãos em Jesus Cristo.
       E eis que vem, do alto, do Céu, da eternidade, de Deus, o Filho. Traz-nos a paz que brota do amor sem limites nem tréguas. É o AMOR que salva e nos dá uma vida nova. Uma vez inundados pela LUZ que nos chega de Jesus, uma vez convertidos, assumimos a missão de levar a outros esta Mensagem de salvação. Com efeito, tornamo-nos discípulos missionários, apóstolos. "Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo".
        Cristo constitui-nos, como a São Paulo, Apóstolos do Evangelho: a Alegria que salva, a Boa Notícia que nos provoca e nos assume como discípulos missionários. A Alegria do Evangelho é como a luz que se acende para colocar em lugar que ilumine toda a casa e não para ficar escondida debaixo do alqueire. Ou como a água do rio que se vai entranhando na terra, avança fertilizando as margens, com a vida que transporta no seu seio. Assim o Evangelho, vida que gera vida. Alegria que transborda. Boa notícia que se espalha.

Textos para a Eucaristia (ano A): Is 7, 10-14; Rom 1, 1-7; Mt 1, 18-24.