quinta-feira, 31 de março de 2011

A Igreja vive do Evangelho

       A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho; e do Evangelho tira, sem cessar, orientação para o seu caminho. Temos aqui uma advertência que cada cristão deve acolher e aplicar a si mesmo: só quem se coloca primeiro à escuta da Palavra é que pode depois tornar-se seu anunciador».

Bento XVI, Verbum Domini, n.º 51.

Deus não desiste... nunca... de nós!

Assim fala o Senhor... "Desde o dia em que os seus pais saíram da terra do Egipto até hoje, enviei-lhes todos os profetas, meus servos, dia após dia, incansavelmente. Mas eles não Me ouviram nem Me prestaram atenção: endureceram a sua cerviz, fizeram pior que seus pais. Se lhes disseres tudo isto, não te escutarão; se chamares por eles, não te responderão. Por isso lhes dirás: Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor seu Deus e não quis aceitar os seus ensinamentos. Perdeu-se a fidelidade, foi eliminada da sua boca" (Jer 7, 23-28).

       Deus mantém-Se sempre fiel ao Seu povo. Não desiste. Desde os tempos do Egipto que Deus não cessa de enviar mensageiros, profetas, para reconduzir o povo à Sua identidade e à aliança feita com Deus, ser o Seu povo, cumprindo os Seus mandamentos.
       A fidelidade de Deus contrasta com as nossas limitações e com o nosso pecado.
       Mas Deus não desiste de nós, até nos enviar o Seu próprio Filho.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Abrão, Sara e Agar - Riso e choro - Gn 21, 8-21

       Deus lembrou-se da promessa que havia feito a Abraão e Sara e, finalmente, estes tiveram um filho. Sara ficou radiante: “Deus trouxe-me alegria e riso” – disse ela. Deram ao menino o nome de “Isaac”, cujo próprio nome significa “ele ri”.
       À medida que o seu filho crescia, Sara começou a ficar preocupada. “Mandai embora Agar e Ismael. – murmurou a Abraão – Não quero que Ismael herde o que na verdade pertence ao nosso Isaac”.
       Abraão ficou desalentado com o que Sara dissera. Afinal de contas, Ismael também era seu filho.
       Deus disse-lhe para fazer a vontade a Sara. “Deixa partir o rapaz e a sua mãe. – concordou Deus – A minha promessa para convosco irá concretizar-se através dos filhos de Isaac; mas cuidarei também dos filhos de Ismael”.
       Na manhã seguinte, Abraão mandou Agar e Ismael embora apenas com alguma comida e um odre com água. Eles caminharam sem parar pelo deserto seco e poeirento. Em breve haviam já bebido a água. Quase imediatamente voltaram a sentir sede.
       Desesperada, ela pousou a criança na sombra de um arbusto e afastou-se um pouco. Enterrou a cabeça nas suas mãos. “Não quero vê-lo morrer” – soluçou ela.
       Deus escutou-a a chorar. “Vai buscar o teu filho”, – disse Deus – ele será pai de uma grande nação”.
       Agar olhou para cima espantada. O deserto reluzia com o calor. Então escutou novamente Deus a falar. “Olha à tua volta, – disse Deus – olha com olhos de ver”.
       Agar percorreu com os olhos a paisagem estéril. Então riu bem alto de alegria.
       “Existe um poço!” – gritou – Podemos sobreviver aqui! Podemos construir uma vida nova para nós… e Ismael pode aprender a caçar… e tudo ficará bem”
       Os anos passaram e Ismael tornou-se um homem. Casou com uma mulher egípcia. Agar soube que a promessa que Deus lhe fizera estava a realizar-se.

Mónica Aleixo, in Boletim Voz Jovem, Março 2011.

terça-feira, 29 de março de 2011

Editorial Voz Jovem - Março 2011

       1 – Estivemos na Montanha para escutarmos e reflectirmos com o Sermão da Montanha e nos deixarmos sensibilizar pela Mensagem de Jesus.
       A montanha é um lugar de encontro com Deus, de revelação, de ensino. Moisés sobe à montanha e recebe de Deus os Mandamentos; Jesus sobe à montanha e deixa-nos o essencial da Sua palavra de salvação. Na montanha o ar é mais fresco, mais límpido, apetece encher os pulmões desta frescura. Subamos para nos refrescarmos com a presença de Deus; deixemo-nos inundar da Sua luz, para descermos ao nosso mundo, com a energia, a sabedoria e a graça, para testemunharmos a salvação operada em nós pelo Senhor.
       2 – "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz". A Quaresma guiar-nos-á à Páscoa jubilosa. Porquanto é tempo de oração e de caridade, de jejum e de penitência, é tempo de conversão! Estamos na expectativa! Antes da glorificação, atravessámos a dor, o escárnio, a traição, a dúvida, as hesitações. Chegará a hora da agonia e da morte. O próprio Jesus relembra constantemente os momentos difíceis que estão para chegar.
       Os sinais que Jesus dá não são bons para quem espera sucesso e vida facilitada com a Sua presença. Alguns discípulos não resistirão. Quanto maior a adversidade, maior a necessidade de inequívocos sinais de esperança e estes só os encontramos em Deus. Jesus sabe isso. Chama Pedro, Tiago e João e "abre o jogo", fazendo-os subir à montanha, e deixando vislumbrar na Sua luminosidade a Sua identidade divina: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
       A revelação é acompanhada com um desafio: escutar Jesus. Escuta que leva à vivência.
       A experiência é tão envolvente que os discípulos querem permanecer na montanha: "Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias". Como é bom sentirmos a presença de Deus. Mas temos que "regressar" à terra. Constantemente. A salvação que Deus nos dá, compromete-nos com este mundo. Jesus é peremptório: "Levantai-vos e não temais". Caminhemos!

       3 – Com efeito, Deus não nos quer instalados no nosso canto. Jesus di-lo aos discípulos como Deus o revelara a Abrão: "Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gen 12, 1-9).
       Abrão deixa a Sua terra, a casa de seus pais, irá para uma terra estranha, mudará de nome (Abraão) e de vida. Ele é o arameu errante, peregrino. Torna-se para nós um paradigma. Era mais cómodo e mais tranquilo cruzar os braços e ficar sob o tecto do seu pai biológico. Perante o chamamento de Deus, põe-se em movimento, segue a Sua voz, para realizar a Sua vontade. Deus estará com ele. Deus está connosco na nossa peregrinação terrena, desafiando-nos a novos caminhos, sem medo!

       4 – A certeza da salvação é um motivo de sobra no nosso compromisso com a salvação do mundo inteiro. O conforto que esta esperança nos traz, alegra-nos como aos discípulos no alto da montanha, mas como a eles também a nós Jesus nos faz descer até ao nosso semelhante, para que todos O conheçam e tenham n'Ele a vida eterna.

Boletim Paroquial Voz Jovem, Março 2011.
(texto reformulado a partir da homilia do II Domingo da Quaresma)

segunda-feira, 28 de março de 2011

A palavra encarnou e sofreu connosco...

       ...o Pai da vida é o médico por excelência do homem e não cessa de inclinar-Se amorosamente sobre a humanidade que sofre. Contemplamos o apogeu da proximidade de Deus ao sofrimento do homem, no próprio Jesus que é «Palavra encarnada. Sofreu connosco, morreu. Com a sua paixão e morte, assumiu e transformou profundamente a nossa debilidade».

Bento XVI, Verbum Domini, n.º 106.

Passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho

        Jesus veio a Nazaré e falou ao povo na sinagoga, dizendo: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Digo-vos a verdade: Havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho (Lc 4, 24-30).

       Recordando algumas passagens da Sagrada Escritura, Jesus lembra como, por vezes, os que estão mais perto da salvação, são os que a depreciam mais facilmente. Jesus vai a Nazaré e os seus conterrâneos, que o conheciam desde muito novo, foi lá que cresceu, não lhe reconhecem autoridade. Mais, ainda se revoltam contra Ele. Expulsam-n'O da cidade e querem fazer-Lhe mal. Jesus, no entanto, prossegue o seu caminho. Importante esta lição, mesmo no meio da adversidade devemos seguir o nosso caminho, quando este nos conduz à verdade, ao bem e à vida.

domingo, 27 de março de 2011

Bento XVI: consequências da precariedade

       Bento XVI manifestou-se hoje preocupado com as condições “difíceis ou precárias” do actual mundo do emprego, manifestando o apoio da Igreja a quem se esforça por ter um trabalho seguro e digno.
        “A Igreja apoia, conforta, encoraja qualquer esforço destinado a garantir a todos um trabalho seguro, digno e estável”, afirmou.
       O Papa falava no Vaticano, perante um grupo de peregrinos da diocese italiana de Terni-Narni-Amelia, que comemoram 30 anos da visita de João Paulo II aos estabelecimentos siderúrgicos da cidade.
       “As difíceis ou precárias condições do trabalho tornam difíceis e precárias as condições da própria sociedade, as condições de uma vida ordenada segundo as exigências do bem comum”, disse.
       Bento XVI falou especificamente da precariedade do trabalho no “mundo juvenil” afirmando que a mesma “não deixa de provocar angústia em muitas famílias”.
       Neste contexto, surgiu a questão do “desemprego”, com o Papa a afirmar que “o trabalho é um dos elementos fundamentais tanto da pessoa como da sociedade”.
       “O trabalho deve ser entendido na perspectiva cristã, em vês de ser visto apenas como um meio de lucro, ou de exploração, como acontece em muitas partes do mundo, onde é ofendida a própria dignidade da pessoa”, declarou.
       No seu discurso, Bento XVI falou do “grave problema da segurança no trabalho” e apelou a todos os esforços possíveis para evitar a “cadeia de mortes e incidentes”.
       O Papa falou ainda do tema do trabalho aos domingos, alertando para o risco de o “ritmo do consumo” eliminar o “sentido da festa e do Domingo como dia do Senhor e da comunidade”.

Quaresma - III Domingo - Samaritana

Sede do bem, da verdade e da beleza!

Na Sua Mensagem para esta Quaresma 2011, Bento XVI diz o seguinte sobre este III Domingo de Quaresma:

       O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

sábado, 26 de março de 2011

Domingo III da Quaresma - 27 de Março

       1 – A nossa vida é uma busca incessante.
       Nas sábias palavras de Blaise Pascal, o homem ultrapassa infinitamente o homem. Ou seja, o nosso corpo, a nossa identidade corpórea-espiritual não nos confina à nossa dimensão biológica, mas portamos connosco um desejo permanente de ir mais longe, para lá de todas as nossas limitações. Diríamos, como crentes cristãos, que a nossa identidade divina nos faz ansiar pelo Infinito, por Deus, a nossa origem, e, como refere Santo Agostinho, o nosso coração anda inquieto enquanto não repousar no Senhor da vida. Numa outra perspectiva: a nossa vida funda-se na ESPERANÇA que mais à frente nos encontraremos numa situação mais favorável, mais compensadora e que nos fará verdadeiramente felizes.
       No fundo, a nossa busca sem fim tem como fim (finalidade) a felicidade que se realizará em plenitude na eternidade mas que experimentamos, e ainda bem, já agora, na nossa vida terrena. Nunca se esgota o nosso desejo de sermos felizes. Por vezes devora-nos na ânsia do prazer imediato, do bem-estar, do comodismo. A felicidade é sempre caminho, compromisso, procura, nunca se esgota nas satisfações biológicas. Há algo maior, a nossa identidade que aponta e nos atrai para Deus.
       2 – O encontro de Jesus com a mulher samaritana é, a este propósito, paradigmático. Para lá do contexto em que acontece – um judeu que fala com uma mulher e ainda para mais estrangeira, inimiga –, o ensinamento categórico de Jesus: a salvação é oferecida a todos os povos independentemente da cultura, da história ou da religião. Uma vez mais, o que importa verdadeiramente não é o ponto de partida, a situação actual em que nos encontramos, mas o caminho que podemos fazer. É uma primeira lição.
       Depois, o diálogo sobre a verdadeira sede e a verdadeira água.
       Jesus diz claramente à mulher samaritana que há uma sede que é bem maior que a sede biológica. Esta precisa de ser saciada e é-o no imediato com água, elemento da natureza. Mas há, em todos nós, uma sede maior, um desejo mais profundo, um sentido para a vida. Como nós, também ela é levada a compreender que muitos acontecimentos na sua vida pessoal, encontros e desencontros, não passaram de tentativas para responder a esta ânsia de felicidade, mas esgotaram-se na brevidade, como quem consome biologicamente os alimentos e precisa de repetidamente se alimentar.
       "Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva"... A água viva que Jesus nos dá sacia a nossa procura, é resposta aos nossos anseios mais profundos, é um sentido para a vida presente. Por aqui sabemos que as satisfações corporais são passageiras como passageiras são as adversidades actuais, o que permanece é o que fazemos por amor, o que nos liga ao outro, o que nos torna irmãos.
       E, por conseguinte, é mais óbvia a resposta que Jesus dá aos seus discípulos quando estes regressam com alimentos: o meu alimento é fazer a vontade de Meu Pai. Vale mais que tudo. Vale sempre. Nem só de pão vive o homem, ainda que aquele seja necessário, mas da Palavra de Deus, que nos impele para a verdade e para a vida.

       3 – O povo de Israel experimenta a tentação e o desânimo. Deixa-se vencer pela murmuração contra Deus e contra Moisés. No primeiro Domingo de Quaresma, víamos como Jesus superou as tentações em que o povo fracassou. A referência é e há-de ser sempre: fazer a vontade de Deus.
       Hoje, na primeira leitura, ouvimos a ressonância dos murmúrios do povo. Rapidamente se esqueceu das maravilhas de Deus, la libertação do Egipto. Para que todos se lembrem do dia e do local em que se voltaram contra Deus e contra Moisés,... "chamou àquele lugar Massa e Meriba, por causa da altercação dos filhos de Israel e por terem tentado o Senhor, ao dizerem: «O Senhor está ou não no meio de nós?»" Não apenas para recordar, mas sobretudo para que não vença a tentação, mas a fé em Deus.
       O salmista faz-nos rezar com as palavras de Deus, com o novo desafio: "Quem dera ouvísseis hoje a sua voz: «Não endureçais os vossos corações, como em Meriba, como no dia de Massa no deserto, onde vossos pais Me tentaram e provocaram, apesar de terem visto as minhas obras»".

       4 – A nossa busca, o nosso caminho, não se faz de olhos fechados, mas sob a luz de Jesus Cristo. O encontro com Ele reorienta a nossa procura, dá sentido novo à nossa vida. A alegria da Samaritana é contagiante. Em Cristo, ela descobre o sentido da sua existência, e partilha-o com os habitantes da sua cidade. Eles mesmos fazem a experiência de encontro com Jesus, como Messias de Deus: "Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo".
       Não basta ouvir dizer. É fundamental que façamos a experiência de encontro com Jesus Cristo, deixando-O entrar na nossa vida e nas nossas escolhas de bem. Ele não engana.
       "Ora, a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores... Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores".
       É nesta esperança que radicamos a nossa vida crente, a nossa procura, o desejo de sermos felizes, experimentando a felicidade em cada gesto de perdão, de amor e de bem.
_________________________
Textos para a Eucaristia (ano A): Ex 17,3-7; Sl 94 (95); Rom 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42.

Marinho Pinto - a situação actual do país e o papel da Igreja Católica

       Quase a finalizarmos a Semana Nacional Cáritas, aqui fica um testemunho sobre o papel da Igreja Católica, com as suas diversas instituições e com milhares de pessoas anónimas que trabalham para que os pobres vejam minorada a sua situação.
       Depois de traçar um cenário sobre a situação do país, o louvor à Igreja Católica...

A Parábola do Filho Pródigo...

       O Evangelho proposto para este Sábado apresenta-nos Deus como Pai de misericórdia. Jesus, através da sobejamente conhecida parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 1-3.11-32), fala-nos de um Deus próximo, amigo, compreensivo. O protagonista é o Pai. Com o coração ferido, mas que se renova no regresso do filho.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Há sempre uma razão para viver

        A conquista do campeonato mundial de futebol está no centro do vídeo que a Igreja católica espanhola lançou para assinalar a edição de 2011 da Jornada pela Vida, marcada para 25 de Março.
       Deitado na cama do hospital, com o crucifixo a seu lado e a bandeira nacional sobre os lençóis, um idoso emociona-se ao ouvir o relato do golo que deu à Espanha o título de campeã mundial de futebol.
       A cena ficcional baseia-se no jogo realizado a 11 de Julho de 2010 na cidade sul-africana de Joanesburgo, quando, a quatro minutos do fim da partida contra a Holanda, a selecção espanhola marcou o golo da vitória por Andres Iniesta, que também participa na campanha da Igreja.
       Entre as cenas do filme inclui-se uma criança doente que recebe um presente dos seus familiares e amigos, duas pessoas deficientes que trocam gestos de afecto e uma avó que lê um livro aos netos.
        O vídeo, que em três dias obteve mais de 55 mil visualizações, pode ser observado e redistribuído através do YouTube, principal rede de publicação e partilha de vídeos da Internet, embora a possibilidade de o comentar não esteja disponível.
        Além do filme de três minutos, protagonizado por actores não profissionais, a campanha, denominada “Há sempre uma razão para viver”, recorre a subsídios litúrgicos e informativos.
       A nota que os bispos da Subcomissão para a Família e Defesa da Vida publicaram a propósito da jornada denuncia a “obscuridade sobre a origem sagrada e a dignidade absoluta da vida”, que, segundo os prelados, se manifesta “na recente aprovação da última lei do aborto”, que fez desse “crime um direito”.
       Por outro lado, assinala o texto, “são muitos os que não descobrem que a vida é um bem quando vem acompanhada por doenças graves, deficiências psíquicas ou físicas, momentos de pobreza, de solidão, da debilidade que acompanha o passar dos anos ou no momento do ocaso” da vida.
       O site da campanha desafia os leitores a apresentar as suas razões para viver, um apelo que até hoje reuniu mais de 330 respostas.

Notícia: Agência Ecclesia.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Invisibilidade... visível a Deus!

       Num dos blogues que acompanhamos, Reino Imperfeito, encontrámos este vídeo sobre invisibilidade. É uma reflexão que vale a pena fazer... Quantas coisas realizamos que não são reconhecidas! Quantas vezes passamos despercebidos, sem que ninguém veja o nosso trabalho e até o nosso sacrifício?! Seremos invisíveis? Haverá alguém que nos vê?

Feliz o homem que confia no Senhor

        Bendito o homem que confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos (Jer 17, 5-10).
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite. Refrão

É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido. Refrão

Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição (Sl 1).
       É feliz o homem que coloca a Sua esperança no Senhor, qual árvore plantada à beira das águas, com raízes bem fundas, que produz mesmo em condições adversas. Esta é uma confiança/esperança inabalável. Deus não nos falta mesmo que tudo à nossa volta seja ruína. Só Ele é garante da nossa vida presente e futura. Quando a nossa confiança é colocada noutra pessoa, nos bens materiais ou em nós próprios, podemos sair defraudados, mais tarde ou mais cedo. Com Deus a nossa esperança é cumprida neste mundo e na eternidade de Deus.

terça-feira, 22 de março de 2011

Solenidade de São José | Dia do Pai

       No passado Sábado, 19 de março de 2011, celebrámos a solenidade de São José e, simultaneamente, o Dia do Pai. Ficam algumas das fotos, com música de fundo de Carlos Marques, da comunidade Shalom:

Encontro de Jesus com a Samaritana...

       1 – A nossa vida é marcada por muitos encontros (e desencontros também).
       Cada encontro deveria ser único, e de alguma maneira é, pois não se volta a repetir nas mesmas circunstâncias, mas único no sentido de transformar a minha, a nossa vida, para sempre. O outro “impõe-se”, não se reduz a mim, é uma interpelação, como dizia o grande filósofo E. Levinas, veicula o imperativo: “Não matarás”. O outro é apelo, desafio, testemunho do Infinito. Irrompe na minha vida, diz-me não à aniquilação.
       O mandamento “não matarás” assume-se positivamente pelo mandamento do amor. Acolher, respeitar, dignificar, dar a vida ao outro e pelo outro. O rosto do outro envia-me para o Totalmente Outro, que para nós Se converte em Totalmente próximo, Deus connosco.

       2 – Entramos na dinâmica de Jesus e do seu evangelho de amor. Encontra-nos. Mostra-nos respeito, amor até ao limite. É, como muito bem sublinha Bento XVI, um Deus bom “cuja vingança é a Cruz, o NÃO à violência, o amor até ao fim, até ao extremo. É este Deus de que temos necessidade… opõe à violência o seu sofrimento; … perante o mal e o seu poder, como limite e superação, a sua misericórdia”.
       Jesus torna-se último por nós. O Seu amor e a Sua entrega estão presentes o tempo todo, ao longo da sua vida, tratando cada ser humano como pessoa, com um rosto, com um nome e não apenas pelos comentários que Lhe chegam ou pela opinião de terceiros. Deixa de lado todo o preconceito. Não rotula as pessoas, acolhe-as no seu íntimo.
       3 – O encontro de Jesus com a samaritana é estranho (Jo 4, 1-42).
       Os judeus e os samaritanos são inimigos. Não se falam. Acrescente-se o facto de Jesus ficar sozinho com aquela mulher. Quando chegam, os Apóstolos ficam boquiabertos, como é possível o Mestre estar a conversar com uma mulher e ainda por cima samaritana.
       Para Jesus, o encontro é uma oportunidade de conversão, de anúncio do Evangelho. Entabula diálogo com a samaritana pedindo-lhe de beber, para de seguida lhe dizer: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e Quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!”
       Jesus não insulta a mulher, não Se afasta, deixa que ela se aproxime, física mas também espiritual e afectivamente. Jesus convida-a à conversão profunda, à mudança de vida. Ela, olhando para Jesus descobre a sua vida, descobre a sua dignidade. Jesus não força, propõe. Doravante não será mais a mesma. Ela própria corre a anunciar Jesus aos seus conterrâneos.

       4 – Em tempo de Quaresma, Jesus interpela-nos também a nós, pessoal e comunitariamente. A água viva, Jesus Cristo, é uma proposta de vida. Não podemos ficar indiferentes. Os mistério da morte e ressurreição de Jesus exige de nós uma tomada de decisão. Vamos, como a samaritana, a correr alegremente anunciar que Jesus nos diz quem somos?!
       Senhor, dá-nos dessa água viva!

Editorial Voz Jovem, n.º 95, Fevereiro 2008.
  • NOTA: O Evangelho do próximo Domingo, III da Quaresma, 27 de Março de 2011, é precisamente o do encontro de Jesus com a mulher samaritana.

Deixai o mal, aprendei a fazer o bem

       "Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas acções, deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva. Vinde então para discutirmos as nossas razões, – diz o Senhor. Ainda que os vossos pecados sejam como o escarlate, ficarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra. Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados pela espada" ( Is 1, 10.16-20).
       Ontem sublinhava-se a misericórdia de Deus como paradigma para a nossa vivência cristã. No texto de Isaías proposto para hoje, insiste-se no arrependimento, na conversão, na mudança de vida, na certeza de que Deus está pronto a perdoar, sempre, por maior que seja o nosso pecado.
       Deixai a prática do mal, regressai à luz, à verdade, praticai o bem, a justiça, defendei os mais frágeis. Os bons propósitos hão-de ser acompanhados com gestos concretos de boas obras.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Maria sente-Se em casa na Palavra de Deus

       «O Magnificat – um retrato, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido de fi os da Sagrada Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada».
       "...se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos. Portanto, o que aconteceu em Maria pode voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da Palavra e na celebração dos Sacramentos".

Bento XVI, Verbum Domini, n.º 28.

domingo, 20 de março de 2011

Ordenação Sacerdotal | Tiago Cardoso

       No dia 19 de Março, solenidade de São José, foi ordenado mais um sacerdote na nossa Diocese de Lamego, o Tiago Cardoso. Aqui ficam algumas imagens que testemunham este momento importante para o próprio, para a família e para a diocese.
Veja o desenvolvimento da notícia no blogue da Diocese de Lamego.

Distanciar-se dos boatos do quotidiano...

Na Sua Mensagem para esta Quaresma 2011, Bento XVI diz o seguinte sobre este II Domingo de Quaresma:

       O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.

Domingo II da Quaresma - 20 de Março

       1 – Voltemos à Montanha - ao monte Tabor - onde Jesus Se transfigura, mostrando-nos claramente a Sua identidade divina. Estivemos na Montanha, durante algumas semanas, para escutarmos e reflectirmos com o Sermão da Montanha e nos deixarmos sensibilizar pela Mensagem de Jesus. A montanha, como víamos então, é um lugar de encontro com Deus, de revelação, de ensino. Moisés sobe à montanha e de Deus recebe as tábuas da Lei; Jesus sobe à montanha e deixa-nos o essencial da Sua palavra de salvação. Hoje, de novo, subimos com Ele, para nos deixarmos envolver pela nuvem luminosa, pela presença amorosa de Deus, no convite à escuta.
       Na montanha o ar é mais fresco, mais límpido, apetece encher os pulmões desta frescura. Como os carros, precisamos de combustível para vivermos em qualidade. Subimos, para nos refrescarmos com a presença de Deus e recebermos o combustível para descermos ao nosso mundo, com a energia, a sabedoria e a graça, para testemunharmos a salvação operada em nós pelo Senhor.

       2 – "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz". A caminho da Páscoa, o tempo quaresmal incide na necessidade da oração, da caridade, e do jejum. É uma época penitencial, estamos na expectativa! Antes da glorificação, atravessámos a dor, o escárnio, a traição, a dúvida, as hesitações. Chegará a hora da agonia e da morte. O próprio Jesus relembra constantemente os momentos difíceis que estão para chegar.
       Alguns discípulos não resistirão. Os sinais que Jesus dá não são bons para quem espera sucesso e vida facilitada com a Sua presença. Com efeito, mesmo quando sabemos que as coisas não são fáceis, precisamos de sinais de esperança e estes só os encontramos em Deus. Jesus sabe isso. Chama Pedro, Tiago e João e "abre o jogo", fazendo-os subir à montanha, e deixando vislumbrar a Sua luminosidade, a Sua identidade divina: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».
       A revelação é acompanhada com um desafio: escutar Jesus.
       A experiência é tal que os discípulos querem permanecer na montanha: "Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés a outra para Elias". Como é bom sentirmos a presença de Deus. Mas temos que "regressar" à terra. A salvação que Deus nos dá, compromete-nos com este mundo. Jesus é peremptório: "Levantai-vos e não temais".

       3 – Deus não nos quer instalados no nosso comodismo. Jesus di-lo aos discípulos. Deus revela-o a Abrão (= Abraão): "Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra".
       Abrão deixará a Sua terra, a casa dos seus pais, irá para uma terra estranha, mudará de nome e mudará de vida. Ele é o arameu errante, peregrino. Torna-se para nós um paradigma. Sente o chamamento de Deus. Era mais cómodo e mais tranquilo cruzar os braços e ficar sob o tecto do seu pai biológico. Põe-se em movimento, segue a voz de Deus, para realizar a Sua vontade. Deus estará com ele. Deus está connosco na nossa peregrinação terrena, desafiando-nos a novos caminhos.

        4 – Vivemos em permanente tensão (escatológica). Fomos salvos na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Vivemos em peregrinação. A salvação acontece em Jesus. Acontece para a história. Mas ainda não se manifestou totalmente aquilo que havemos de ser. Tensão nesta vida até à eternidade, tensão desde a Cruz, desde a Páscoa de Cristo até ao fim dos tempos.
       "Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho".
       A certeza da salvação é um motivo de sobra no nosso compromisso com a salvação do mundo inteiro. O conforto que esta esperança nos traz, alegra-nos como aos discípulos no alto da montanha, mas como a eles também a nós Jesus nos faz descer até ao nosso semelhante, para que todos O conheçam e tenham n'Ele a vida eterna.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 12,1-4; 2 Tim 1,8b-10; Mt 17,1-9.

sábado, 19 de março de 2011

Ordenação Sacerdotal | Testemunho vocacional

      Hoje, dia 19 de Março, pelas 15h00, o Diác. Tiago André Bernardino Cardoso receberá a ordenação sacerdotal, pela imposição das mãos e a oração do Sr. D. Jacinto Tomaz de Carvalho Botelho, Bispo da Diocese. A Missa Nova terá lugar na Catedral de Lamego no próximo domingo, dia 20 de Março, com início pelas 16h00.
(último a contar da esquerda, junto ao ambão)

TESTEMUNHO:
        Ao redigir este espécie de prólogo do livro, continuamente inacabado da minha vida, recordo-me de Jean-Pierre Florian que afirmava “pouco tem quem tem só para si”. Na realidade, desde o desabrochar até ao florir da vida humana existe sempre alguém que dá de si, que se preocupa,  que constrói algo em nós, que nos educa, que nos ampara, que doa um pouco da sua pessoa.
        Deste modo, tudo o que fui, tudo o que sou e tudo o que irei ser nunca será apenas de conquistas, pelo simples facto de ter sido bom, mas sim de muita gente, que contrariando Jean-Pierre Florian, esteve  e estará sempre disposta a dar-se ao outro. Portanto, antes que a tinta que corre neste papel se transforme num rio de palavras cujo o oceano a desaguar é a minha vida, agradeço a todas as pessoas que, todos dias, com a sua bondade me ajudaram e ajudam nesta caminhada terrena.
        No dia 20 de Fevereiro de 1985 ouve-se um grito de alegria de um ser que sem saber dizer uma palavra marca a sua presença neste mundo e, desde aquele momento, chamar-se-ia Tiago André Bernardino Cardoso. Vive a sua infância e adolescência, na histórica e acolhedora cidade de Lamego. Desde cedo, seus pais, cumprindo os compromissos realizados no Baptismo, instruem o seu filho nos valores cristãos, na frequência à catequese e na recepção dos sacramentos na Paróquia da Sé. Começa a dar os primeiros passos no mundo do conhecimento no Patronato Nuno Álvares Pereira onde concluí o ensino primário, frequenta o Colégio de Lamego e o Colégio Imaculada Conceição terminando, com êxito, o ensino básico.
       No ano 2000, Tiago sente que Jesus o chama para trabalhar na Sua Messe e, deste modo, começa a escrever nas páginas douradas do livro das vocações sacerdotais deixando casa, irmã, mãe, pai e amigos para seguir a Jesus e o Seu Evangelho. Assim, entra com confiança no portão de ferro da Quinta dos Sais onde está erigido o Seminário Nossa Senhora de Lourdes. Carrega nas suas malas mais do que roupas e calçado; as interrogações e um chamamento recente são as que mais pesam neste adolescente. Contudo, ao longo de uma caminhada de três anos nesta casa e no seio desta família, o adolescente duvidoso que entrou, sai um jovem firme na fé e convicto do futuro que lhe pertence.
        Firme na fé e com a ânsia de se afirmar nos trilhos do Senhor, um novo capítulo começa a ser elaborado e, assim, no ano de 2003, sobe pelos degraus gastos de tantas vocações sacerdotais que por ali caminharam com o objectivo de tornar real aquilo que no pensamento e no coração se vai construindo. Foram seis anos de permanente formação, de constante humanização e de contínua oração.
        No dia 4 de Outubro de 2009, a natureza que S. Francisco tanto amava, sorri através das suas cores, para o que iria acontecer: Tiago daria um pequeno grande passo rumo à sua Ordenação Sacerdotal, sendo Ordenado Diácono. Mais um ser que procuraria por em prática o hino da caridade que este Santo tanto gostava de proclamar.
       Mais uma etapa se inicia e, desta vez, fora de portas, ao encontro das gentes, ao encontro do Povo de Deus. Ao longo de um ano e meio os passos deste Diácono foram ao encontro de vários povos, de várias tradições, de outras culturas. Um tempo de ouro para o futuro, a sabedoria do povo será sempre mais profunda e útil do que a dos manuais. É na Igreja e pela Igreja que o padre cresce que o padre se faz.
        19 de Março de 2011, dia consagrado a S. José, dia do Pai, dia de nascimento de um novo sacerdote para a diocese de Lamego. Será o fim do princípio de um ministério que espera próspero e frutuoso para um Pescador de Homens.
        Escrevo este testemunho na terceira pessoa, pois escrevo também para mim porque tal como Eugène Lonesco opinava “devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros”. Concluo, esperando que também este testemunho tenha chegado a vós mesmos como forma de incentivo, de profundo agradecimento e de convite para estardes comigo na minha Ordenação Sacerdotal.

Diác. Tiago Cardoso, no blogue da Diocese de Lamego.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Shahbaz Bhatti - mártir cristão deste mês

       "Shahbaz Bhatti (9 Setembro 1968 – 2 Março 2011) foi um político paquistanês e membro eleito da Assembleia Nacional desde 2008. Foi o primeiro Ministro Federal para as Minorias até ao seu assassinato em 2 de Março de 2011 em Islamabas.
       Bhatti, era Católico e um destemido crítico da lei da blasfémia em vigor no Paquistão e o único cristão no gabinete ministerial
       Tehrik-i-Taliban do Paquistão reclamaram responsabilidade pelo assassinato e acusaram de blasfémia conta Maomé"
Para ler o texto clique sobre a palavra Fullscreen:

Fonte: O POVO.

Quem praticar a justiça viverá!

       «Se o pecador se arrepender de todas as faltas que cometeu, se observar todos os meus mandamentos e praticar o direito e a justiça, certamente viverá e não morrerá. Não lhe serão lembrados os pecados que cometeu e viverá por causa da justiça que praticou. Será porventura a morte do pecador que Me agrada? – diz o Senhor Deus – Não é antes que se converta do seu mau proceder e viva?» (Ez 18, 21-28).
        Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta (Mt 5, 20-26).

       O profetas (do Antigo Testamento) estão já muito perto do Messias, não apenas cronologicamente mas sobretudo teologicamente. Claramente nos dizem que a prática religiosa tem de ter concordância com a vida concreta na prática da justiça e do bem. Ainda nesta perspectiva mostram-nos um Deus mais humano, mais próximo da humanidade, mais misericordioso. Ezequiel refere que a imagem de uma Deus castigador está ultrapassada, Deus quer a salvação de justos e de pecadores. A lógica da intervenção de Deus na história visa a conversão.
       No Evangelho, por sua vez, Jesus insiste na necessidade do perdão e da conciliação. Nas nossas concepções limitadas ainda admitimos o perdão mas quando o outro, que nos ofendeu, nos pede desculpa e por vezes colocamos condições para que o nosso perdão seja efectivo. Jesus desafia-nos a perdoar sem condições e independentemente do outro nos pedir perdão. Mais, desafia a que tomemos a iniciativa na conciliação com aquele que nos ofendeu.
       Jesus bem sabe das nossas limitações. Mas também sabe que o perdão nos liberta e nos faz bem à saúde...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Todo aquele que pe recebe...

       Disse Jesus aos seus discípulos: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e a quem bate à porta abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a um filho que lhe pede pão, ou uma serpente se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus as dará àqueles que Lhas pedem! Portanto, o que quiserdes que os homens vos façam fazei-lho vós também: esta é a Lei e os Profetas» (Mt 7, 7-12).
       Uma das práticas para este tempo da Quaresma é a oração. Obviamente, não apenas para a Quaresma mas para todo o tempo, em todas as ocasiões. A oração - como a fé, como a religião - liga-nos a Deus, coloca-nos na Sua intimidade, revela-nos a Sua palavra, coloca-nos numa atitude de escuta e de resposta; liga-nos aos outros. Em Deus, não vivemos apenas para nós; em Deus, vivemos para os outros e com os outros.
       A oração assume o nosso passado, compromete-nos com o presente, com este tempo e este mundo, e abre-nos o coração à esperança, pois à frente encontraremos Deus...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Quem me dera voltar atrás!

       Todas as pessoas já viveram situações que desejariam não ter vivido.
       Por vezes ouvimos alguns a dizerem que se voltassem atrás fariam tudo de novo, as mesmas coisas, repetiriam a vida. Como se isso fosse possível! As circunstâncias teriam que ser as mesmas. A vida não volta para trás. E, claro, todos alterariam alguma coisa. Só não mudam os burros e os sábios, como diz um provérbio chinês. Olhando para trás, se não houvesse nada a mudar, era sinal que nada se tinha aprendido com as diversas experiências., nada se teria aprendido com a própria história. Repetindo tudo, também os erros seriam repetidos.
       Obviamente, todos mudaríamos alguma coisa.
       Mesmo que saibamos que as circunstâncias em que agimos não nos tivessem antes permitido agir doutra forma. Como nos lembra Ortega y Gasset, nós, somos nós e as nossas circunstâncias. Quando fazemos algum gesto, quando assumimos um comportamento determinado, estamos sempre condicionados por muitos factores interiores, medo/confiança, experiência/inexperiência, coragem/hesitação, pessimismo/experiência, e por muitas factores exteriores, os outros, o tempo, as condições sociais, políticas, económicas, familiares.
       Deparamos também com aqueles que torcem as orelhas: quem me dera voltar atrás, como tudo seria diferente! Ah, como eu mudaria muita coisa! Ah, como tudo seria bem diferente! Se pudesse voltar atrás...
       Mas também não podemos voltar atrás. A nossa vida decide-se e resolve-se no presente e avança impreterivelmente para o futuro, para o amanhã, e este só Deus no-lo pode garantir. Cabe-nos viver o presente, o aqui e agora (hic et nunc) da nossa vida, do nosso quotidiano, o passado já lá está, o futuro a Deus pertence. Carpe diem - colha o dia, viva o momento! Num sentido cristão, positivo, significa que não desculpamos a vida com o passado ou com o futuro mas comprometemo-nos com o nosso semelhante no dia de hoje, nas circunstâncias que nos é dado viver.
       Quem me dera voltar atrás!
       Em tempo de Quaresma, este poderá ser um bom propósito, não para olhar (simplesmente) para trás, mas para nos "situarmos" (nos imaginarmos) no futuro, quando chegar o dia, se deixarmos, em que, ao voltar-nos para trás, para o passado, tenhamos que fazer tal afirmação, como lamento, como desilusão, como impossibilidade, com a resignação de quem sabe que poderia ter aproveitado a vida, poderia ter vivido bem, com verdade, com alegria, com honestidade, com garra, com história, e agora já não pode fazer nada com o tempo que desperdiçou, com as oportunidades que não agarrou... Não vale a pena chorar sobre o leite derramado!
       Para que um dia não tenhamos que também nós dizer "quem me dera voltar atrás", não percamos tempo nem oportunidades, façamos tudo, em todas as ocasiões, como se não houvesse amanhã, como se não tivéssemos mais tempo pela frente, como se fosse o último dia, o último encontro, a última palavra, o último café, o último sorriso.
       Demos o melhor de nós mesmos, agora! E então, mais à frente, poderemos dizer: não fiz tudo bem, cometi erros, poderia ter feito melhor, mas tentei dar o melhor de mim mesmo, não adiei escolhas, não desbaratei as minhas energias em futilidades, não desperdicei a oportunidade para ser feliz, não fugi a responsabilidades, não enganei, não maltratei, não injuriei, não menosprezei ninguém... posso morrer em paz!
       Podemos não fazer tudo bem, mas não deixemos de tentar, voltar a tentar, recomeçar, recomeçar uma e outra vez, não desistir da luta, não virar a cara às dificuldades, não esperar que outros façam o que eu posso fazer, não deixemos que outros escolham por nós o nosso destino!
       Quaresma é tempo de conversão, de propósitos de mudança de vida, para darmos o melhor de nós mesmos, nos tornarmos mais solidários, mais próximos, para testemunharmos o Deus da vida...
       Na nossa fragilidade, na nossa birrice, ou na nossa preguiça, peçamos a Deus que nos dê o discernimento para fazermos escolhas de bem e coragem para cumprir com a vida e com todos os projectos que nos transformam em irmãos uns dos outros.
       Não podemos voltar atrás, mas podemos construir detrás para a frente, de hoje em diante,...

Nínive será destruída...

       Jonas entrou na cidade e caminhou durante um dia, apregoando: «Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de sacos, desde o maior ao mais pequeno. Logo que a notícia chegou ao rei de Nínive, ele ergueu-se do trono e tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. Depois foi proclamado em Nínive um decreto do rei e dos seus ministros, que dizia: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas, não provem alimento, não pastem nem bebam água. Os homens e os animais revistam-se de sacos e clamem a Deus com vigor; afaste-se cada um do seu mau caminho e das violências que tenha praticado. Quem sabe? Talvez Deus reconsidere e desista, acalmando o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos». Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou (Jonas 3, 1-10).
       A misericórdia de Deus é infinita.
       Ele não desiste de nós, mesmo que nós nos afastemos dos Seus mandamentos e do Seu caminho.
       Deus não cessa de vir ao nosso encontro e nos desafiar a uma vida nova.
       Neste texto de Jonas, como a reflexão que hoje Jesus deixa no Evangelho, aludindo a este episódio de conversão, Deus não quer a condenação nem do justo nem do pecador mas que todos se convertam e convertendo-se se salvem, neste tempo e na eternidade futura.
       O povo de Nínive soube responder claramente às palavras de Deus, arrependeu-se do seu mau caminho, penitenciando-se com gestos concretos, na perspectiva de mudarem os seus hábitos, para entrarem no caminho do Senhor.

terça-feira, 15 de março de 2011

...também o Vosso Pai vos perdoará

       Assim fala o Senhor. «A chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a haverem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer. Assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão» ( Is 55, 10-11).
       Orai assim: ‘Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’. Porque se perdoardes aos homens as suas faltas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas faltas» (Mt 6, 7-15).

       Tal como a chuva, a Palavra de Deus, semeada em nossos corações, há-de produzir fruto ou, pelo menos, aclarar (pôr a nu) a nossa escolha. Naturalmente, o que esperamos é que frutifique em abundância na justiça, no perdão, na caridade e na paz.
       Se Isaías nos convida à escuta da Palavra de Deus, Jesus propõe-nos a oração do Pai-nosso, como essencial para nos reconhecermos filhos de um mesmo Pai, irmãos uns dos outros, na construção do Reino de Deus já aqui na terra, procurando que a vontade de Deus tenha ressonância na nossa vontade e em nós se realize a Sua misericórdia, levando aos outros da alegria de viver, o perdão que Deus nos dá, o trabalho de cada dia, com esmero e honestidade, a partilha e a comunhão, tendo sempre como horizonte o perdão e a caridade.

segunda-feira, 14 de março de 2011

D. Jacinto: Mensagem para a Quaresma

       Na recente Mensagem para a Quaresma deste ano, recorda-nos Sua Santidade Bento XVI, a todos nós, cristãos - partindo do pensamento de S. Paulo na Carta aos Colossenses: sepultados com Ele no Baptismo, foi também com Ele que ressuscitastes - o que frequentemente meditamos nesta altura, que “um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentarmos a Graça que nos salva”. Somos assim convidados a aproveitar este longo Retiro espiritual que a Mãe Igreja nos oferece para consolidarmos reflectidamente e no comportamento a nossa identidade de cristãos.
       A Palavra de Deus tão rica e abundante que a Liturgia propõe à nossa reflexão todos os dias, mas muito especialmente aos Domingos e sobretudo no Ano A, “guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele”. Cada um saberá aproveitar a oportuna reflexão sobre o Evangelho de cada Domingo que o Santo Padre partilhou connosco na referida mensagem, ajudando-nos a empenharmo-nos seriamente na reconciliação com Deus e com os outros que este itinerário para a Páscoa nos sugere.
       Pela prática tradicional do jejum, esmola e oração, “expressões do empenho de conversão” que realizaremos devotamente, “a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo”. Num ambiente marcado pelo individualismo, a par do desânimo e desencanto que as pessoas deixam transparecer, sem perspectivas a curto prazo de que o panorama se modifique para melhor, antes pelo contrário, a nossa vida de cristãos deverá traduzir um clima lúcido de esperança e serenidade. As práticas quaresmais criam o clima para uma autêntica vivência cristã. Pelo jejum e espírito de sobriedade que com ele se relaciona, com a contenção em despesas às vezes exclusivamente para dar lugar a caprichos sumptuários, contrariamos os apetites do homem velho e abrimos o coração a uma generosidade que nos liberta do egoísmo e nos abre para uma partilha solidária. E o jejum e a esmola, são no dizer de S. Agostinho, “as duas asas da oração”, como referiu Bento XVI na Audiência Geral de 4ª feira de Cinzas, recordando o seu pensamento: “Desta maneira a nossa oração, feita com humildade e caridade, no jejum e na esmola, na temperança e no perdão das ofensas, dando coisas boas e não restituindo as más, afastando-se do mal e realizando o bem, procura a paz e consegue-a. Com as asas destas virtudes voa segura e mais facilmente chega ao céu, onde Cristo, nossa paz, nos precedeu”.
       A celebração bem preparada do sacramento da Confissão e o corajoso cumprimento dos propósitos firmes de emenda, alimentado na recepção frequente da Santíssima Eucaristia, tornar-nos-á verdadeiros e conscientes cristãos pascais que poderão e saberão celebrar devidamente a alegria da Ressurreição do Senhor.
       Que a Mãe do Céu que acompanhou Jesus até ao Calvário e assistiu de pé à Sua Morte na Cruz, nos conduza nesta Quaresma por um caminho de conversão para com Cristo ressuscitarmos também.
       O contributo penitencial deste ano reverterá em favor do Fundo Solidário Diocesano.

D. Jacinto Tomaz de Carvalho Botelho, bispo de Lamego.

Amarás o teu próximo como a ti mesmo

       «‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Não furtareis, não direis mentiras, nem cometereis fraudes uns com os outros. Não prestarás juramento falso, invocando o meu nome, pois profanarias o nome do teu Deus. Eu sou o Senhor. Não oprimirás nem expropriarás o teu próximo. Não ficará contigo até ao dia seguinte o salário do jornaleiro. Não insultarás um surdo nem colocarás tropeços diante de um cego, mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. Não cometerás injustiças nos teus julgamentos: não favorecerás indevidamente um pobre, nem darás preferência ao poderoso; julgarás o teu próximo segundo a justiça. Não caluniarás os teus parentes, nem conspirarás contra a vida do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás do íntimo do coração os teus irmãos, mas corrigirás o teu próximo, para não incorreres em falta por causa dele. Não te vingarás, nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor’» ( Lev 19, 1-2.11-18).
       Os mandamentos dados por Deus ao Povo eleito, através de Moisés, revelam uma grande avanço na convivência entres as pessoas e entre as nações. Com efeito, a Lei é um instrumento ao serviço da paz, da justiça, da dignidade das pessoas, de protecção e promoção da vida, de respeito pela propriedade privada, e igualdade no tratamento das pessoas, respeitando-as por seres pessoas e não por serem mais pobres ou mais ricas.
       Sublinha-se também e antes de mais, a adoração prestada a Deus como referência para os comportamentos e atitudes. Numa palavra, como nos diz o texto sagrado, a fé em Deus levará certamente a amar o próximo como a nós mesmos.

domingo, 13 de março de 2011

Combate vitorioso contra as tentações

Na Sua Mensagem para esta Quaresma 2011, Bento XVI afirma peremptoriamente:

       "O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal".

sábado, 12 de março de 2011

Domingo I da Quaresma - 13 de Março

       1 – Iniciámos a Quaresma na Quarta-feira de Cinzas, com a imposição das Cinzas, em sinal de arrependimento, de conversão a Jesus Cristo e de mudança de vida, para que o nosso coração dividido na dúvida, na incerteza, nos amores e desamores, se torne um coração indiviso em Deus, para que em Deus nos descubramos e nos encontremos todos como irmãos.
        "És pó da terra e à terra hás-de voltar".
       Nesta expressão bíblica, a lembrança da nossa origem comum, que para nós cristãos é Deus, e do mesmo fim, a vida eterna, de retorno a Deus. No entretanto da nossa vida, devemos buscar caminhos de encontro para mais facilmente e com maior alegria e certeza chegarmos juntos do Senhor.
       Neste primeiro Domingo de Quaresma, a liturgia da Palavra recorda-nos a nossa condição frágil e, ao mesmo tempo, as dificuldades que podem atravessar-se no nosso peregrinar e, ainda, a ajuda que nos é dada por Deus através da Sua palavra inspirada.
       "Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome". Jesus faz a mesma experiência de fragilidade e de limitação para nos ensinar o caminho da superação. Diante da tentação, Jesus responde: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”... “Não tentarás o Senhor teu Deus”... “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”.
       Deus é a única resposta para vencermos o mal e o egoísmo, pois só Deus nos faz ultrapassar as mágoas, o individualismo, abrindo o nosso coração à grandeza do perdão e da caridade, recentrando a nossa atenção aqui e agora mas orientada para o infinito, para o eterno de Deus.

       2 – O alimento de Jesus Cristo é fazer a vontade de Deus.
       É o Espírito que está no Seu baptismo, que O conduz também ao deserto, onde será tentado. É a presença permanente de Deus, do Seu Espírito, que O ajuda a superar a tentação. Deus é maior que a tentação. Jesus fixa-se n'Aquele que é definitivo, e não no imediato, no prazer, no poder, ou na fama.
       Na verdade, a vida não se revolve com passes de mágica. Também não se resolve com o poder. Por mais poder que tenhamos, há muitas coisas mais essenciais, a vida, a saúde, os amigos, o sentirmo-nos bem connosco e com a nossa consciência.
       A vida não se revolve com a fama. Destarte, os famosos seriam pessoas felizes; os que não a tivessem, pessoas infelizes. Por outro lado, a fama é diabólica, é efémera, ilude-nos mas logo nos castiga. O que nos faz felizes não é apenas o reconhecimento dos outros, mas o trabalho realizado com esmero, com dedicação, com vocação. O esforço e o sacrifício tornam-se fonte de alegria, de paz e de conforto. Não é o que os outros fazem por nós que nos transforma, que nos faz autenticamente felizes, mas o que conquistamos com persistência, com os talentos que Deus nos dá.
       As tentações de Jesus são também as nossas tentações.
       Como n’Ele, também nós, muitas vezes, queríamos a vida facilitada, resolvida, de mão beijada, em que tudo rolasse sobre carris, sem dificuldades, e em que tudo nos caísse do céu. Mas a vida não é assim. E ainda bem. Que sabor teria a nossa vida se pelo meio não houvesse nenhuma dificuldade que nos despertasse, que exigisse o melhor de nós mesmos, que nos obrigasse a descobrir (pela necessidade) o nosso talento?!
       A superação das tentações por Jesus, como nos lembra o Papa Bento XVI, na Sua Mensagem para esta Quaresma, abre "o nosso coração à esperança e guia-nos na vitória às seduções do mal".

       3 – Errar é humano. Esta expressão insinua precisamente a nossa condição errante. Aspirarmos à perfeição – sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito – diz-nos Jesus Cristo. Deve ser uma busca feita com verdade e com persistência. É o nosso ideal de vida. A nossa vocação à santidade. Mas sabemos o quanto estamos distantes dessa perfeição, nesta identidade divina.
       Na história da humanidade, tantas têm sido as histórias de infidelidade, de egoísmo, de violência, de conflito, de morte. O relato do livro de Génesis é disso exemplo. "Colheu o fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas". Para os primeiros pais a tentação foi mais forte. Mas não deve provocar desânimo e desistência. Com Cristo, o nosso caminho é invertido para a generosidade e para o perdão, para a bênção e para a vida.
       Com efeito, diz-nos o Apóstolo, "Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos".
        A salvação é uma certeza em gestação, que devemos viver e testemunhar para este nosso tempo.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Rom 5, 12-19; Mt 4, 1-11.

Tira do meio de ti toda a opressão

       Eis o que diz o Senhor: «Se tirares do meio de ti toda a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, brilhará na escuridão a tua luz e a tua noite será como o meio-dia. O Senhor será sempre o teu guia e saciará a tua alma nos lugares desertos...» (Is 58, 9b-14).

       Na Quaresma vêm ao de cima práticas ancestrais de penitência, de sacrifício, de reparação. O povo da Antiga Aliança era pródiga no cumprimento destas práticas penitenciais. Mas logo os profetas vêm lembrar que os ritos exteriores de nada valem se não levarem a pessoa à mudança de vida, à prática da caridade, a viver no bem e na verdade.
       Hoje, uma vez mais, o profeta Isaías aponta-nos o caminho da luz: afastar a opressão, as palavras ofensivas, partilhar o pão... Este é o autêntico jejum, seguir os caminhos do Senhor.

Quaresma - tempo de jejum, de oração, de solidariedade

sexta-feira, 11 de março de 2011

O jejum na Igreja Católica, porquê?

Papa explica o sentido da Quaresma

       Na Audiência Geral das Quartas-feiras, o Papa Bento XVI falou do sentido da Quaresma,"um autêntico itinerário espiritual que nos prepara para celebrar o mistério pascal de Cristo" e como tempo de penitência e conversão para que tomando sobre nós a cruz de cada dia sigamos o Senhor à vitória da vida e do amor...
       As práticas exteriores - jejum, oração e esmola - devem dar vida, com a ajuda de Deus, a uma realidade interior, no compromisso sincero por viver o Evangelho...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Jesus de Nazaré, de Bento XVI, na RTP

       A apresentação do Livro de Bento XVI, Jesus de Nazaré, no segundo volume, que abarca a Semana Santa de Jesus, apresentado hoje, para sexta-feira estar à venda em todo o país.
       Veja-se a reportagem da RTP sobre o livro e a oferta de 7 traduções do mesmo ao Papa Bento XVI,
       Na página da Agência Ecclesia podem encontrar-se notícias, reflexões e partes do texto deste segundo volume e de "Jesus de Nazaré", clique AQUI.

Escolhe a vida, amando o Senhor...

       Moisés falou ao povo, dizendo: «Ponho hoje diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade. Se cumprires os mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te proponho – amando o Senhor, teu Deus, seguindo os seus caminhos e observando a sua lei, os seus mandamentos e preceitos – viverás e multiplicar-te-ás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra de que vais tomar posse. Mas se o teu coração se desviar e não quiseres ouvir, se te deixares seduzir para adorar e servir outros deuses, declaro-te hoje que hás-de perecer e não prolongarás os teus dias na terra em que vais entrar para dela tomar posse depois de passares o Jordão. Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós: proponho-vos a vida e a morte, a bênção e a maldição. Portanto, escolhe a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e aderindo a Ele. Disto depende a tua vida e a longa permanência na terra que o Senhor jurou dar a teus pais Abraão, Isaac e Jacob» (Deut 30, 15-20).
       E, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, tem de perdê-la; mas quem perder a vida por minha causa salvá-la-á. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou arruinar-se a si próprio?» (Lc 9, 22-25).

       Deus não se nos impõe, é uma proposta de salvação que nos cabe aceitar ou recusar.
       Moisés, mensageiro privilegiado de Deus, coloca-nos perante uma escolha: da vida ou da morte. A vida, se acolhermos os mandamentos do Senhor, cumprindo-os na nossa vida quotidiana. A morte, se nos afastarmos dos mandamentos do Senhor e deixarmos de andar no caminho do Senhor.
       O desafio de Moisés é que escolhamos o caminho do bem, da felicidade, da vida.
        Do mesmo modo, Jesus convida-nos ao seguimento, a escolhermos o caminho do Evangelho, do gastar a vida a favor dos outros, renunciando ao nosso egoísmo. Assim se ganha a vida para a eternidade...