domingo, 31 de maio de 2015

Paróquia de Tabuaço | Procissão das Velas 2015

       A devoção mariana torna-se mais intensa e visível no mês de maio, com um mês inteiro dedicado a Nossa Senhora de Fátima. Ao longo de todo o mês, além das diversas peregrinações, terço, orações marianas, também a Procissão das Velas, que se vai espalhando por todo o mês, conforme as possibilidades pastorais e as tradições paroquiais.
       Na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, a Procissão das Velas sintoniza com o Santuário de Fátima, fazendo-se no dia 12 de maio, com a presença de muitas pessoas, com a participação de todos os grupos paroquiais, Guias e escuteiros da Europa, GNR e com os bombeiros Voluntários de Tabuaço a fazerem a guarda de honra e transportarem o andor de Nossa Senhora.


       Imagens da Procissão das Velas, com a belíssima música de fundo da Irmã Maria Amélia da Costa, Franciscana Hospitaleira da Imaculada Conceição, fazendo ver as imagens em ambiente de oração e canto.






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sábado, 30 de maio de 2015

Sabedoria: a alegria do meu coração!

       Eu Vos louvarei e darei graças, meu Deus, bendizendo o nome do Senhor. Na minha juventude, antes de andar errante, busquei abertamente a sabedoria na minha oração. Pedi-a diante do santuário e procurá-la-ei até ao fim da vida. Quando florescia como uva temporã, ela era a alegria do meu coração. Os meus pés andaram por caminho recto e segui na sua esteira desde a juventude. Mal lhe prestei ouvidos, logo a recebi e encontrei para mim abundante instrução. Graças a ela, fiz grandes progressos: darei glória Àquele que me deu a sabedoria. Porque eu decidi pô-la em prática, procurei zelosamente o bem e não serei confundido. A minha alma combateu corajosamente por ela e fui muito diligente na observância da Lei. Levantei as minhas mãos para o alto e compreendi os seus mistérios. Dirigi para ela a minha alma e encontrei-a na pureza de vida. Com ela, desde o princípio, adquiri inteligência; por isso não serei abandonado (Sir 51, 17-27).


       Oração e sabedoria.
       Melhor, a oração que conduz à sabedoria. Ben Sirá dá testemunho do que foi e do que tem sido a sua vida de oração. Desde a juventude, na oração, pediu a sabedoria a Deus, procurando orientar-se, em todas as fases da sua vida, por essa mesma sabedoria dada por Deus.
       Agora é tempo de dar graças a Deus por lhe ter aberto a mente e o coração para acolher a sabedoria e a disponibilidade para viver diante de Deus, observando diligentemente a Sua Lei.
       Deixemo-nos também nós guiar por esta sabedoria que nos vem de Deus e não cessemos de a pedir na nossa oração.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Maria pôs-se a caminho… 3


       A vivência cristã das nossas comunidades paroquiais tem uma dinâmica claramente mariana.
       O mês de maio é especialmente balizado pela devoção à Virgem Maria. É uma primavera que nos renova no compromisso de seguir e viver Jesus Cristo. As novenas, procissões, festas, solenidades, caminhadas de oração, jaculatórias, ladainhas, invocações para as diferentes situações da vida, projetam-se ao longo do ano, iniciando com a solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e finalizando com a Festa da Sagrada Família.
       A Virgem Santa Maria refulge como a Mãe de Jesus, Mãe de Deus. É Mãe, isto é, gerou uma nova vida. Ser Mãe é apontar na direção de outro(s), é Mãe em relação ao(s) filho(s). Jesus é a luz que enche toda a casa e toda a vida. É a bênção que nos faz olhar para além de nós e acolhê-l’O nos outros.
       Aquela Mãe, como as nossas Mães, não se preocupa primeiramente com a sua vida, com a sua comodidade, mas TUDO em função do Filho. As mães expõem-se por causa dos filhos, pedem, intercedem, são eles a prioridade. Colocam-se em frente de todos para os proteger como a menina dos seus olhos. Não se envergonham de bater a diversas portas, de ouvir muitos “nãos”.
       É por Jesus, é por nós, que Maria Se coloca diante de Deus a interceder, como naquele dia em Caná da Galileia. Aí se visualiza a sua missão. Compreende-se desde já a entrega que Jesus faz de nós a Maria, a partir da Cruz: eis aí os teus filhos! Cuida deles. E como no-l’A confia para que A acolhamos como Mãe, em nossas casas. Acolhê-l’A não tanto por Ela, mas sobretudo por nós, para que não nos falte a LUZ de Deus, para que não nos falte o aconchego seguro de uma Mãe que nos congrega em família.
       Deus não deixará de escutar a prece d’Àquela a Quem confiou o Seu Filho e a Quem nos confiou como filhos.
       Bem sabemos como são as nossas Mães. Bem sabemos como é Maria, Mãe nossa, Mãe da Igreja. “Minha Mãe não dorme enquanto eu não chegar”. Expressão duma canção popular que assimila a sensibilidade das Mães, a sua vigilância em relação aos filhos. Uma dimensão humana e materna que se expande para incluir outros filhos. Uma mulher-mãe tem um sentido apurado para perceber outros filhos que não os seus, e de os ajudar, ou de interceder: … eu também sou Mãe, eu compreendo, pois o meu filho também…

Originalmente publicado na Voz de Lamego, 26 de maio de 2015

Levanta-te, que Ele está a chamar-te...

       Quando Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?». O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho (Mc 10, 46-52).
       É a fé que nos coloca no caminho de Jesus.
       A fé abre a nossa mente e o nosso coração às profundezas da nossa alma, para aí nos encontrarmos com Deus e deixarmos que Ele actue em nós e através de nós. Este homem foi despertada pela voz de Jesus e logo foi atraído à Sua presença, para se colocar em atitude de humildade e confiança diante do Mestre. Jesus, como em tantos outros momentos não deixa de atender a tão grande fé.
       "Levanta-te, que Ele está a chamar-te". Este convite é também para nós. Levantemo-nos que Ele está a chamar-nos, deixemo-nos curar das nossas cegueiras, para que, tal como Bartimeu, possamos segui-l'O.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Paróquia de Tabuaço: Profissão de Fé 2015

       Na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Tabuaço, nos últimos anos, tem escolhido a solenidade do Pentecostes para celebrar também a Profissão de Fé com os jovens adolescentes do 6.º Ano de Catequese, pois que é o Espírito Santo que nos inspira e nos permite dizer que Cristo é o Senhor, ou seja, é pelo Espírito Santo que nos tornamos cristãos, nos tornamos Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus e missionários da Sua Boa Nova de Salvação.
       Este ano, no dia 24 de maio de 2015, 15 professantes.

Ana Beatriz | Ana Carolina | Ana Rafaela |Andreia Raquel | Beatriz Lamas | Bruna Sofia | Camila Pereira | Eva de Jesus | Gonçalo Pedro | Leonor | Luís Miguel | Mariana de Fátima | Ricardo | Sara Margarida | Tomás Henrique  Catequista: Conceição Balsa

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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Pentecostes 2015 | Homilia do Papa Francisco


        «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (...) Recebei o Espírito Santo» (Jo 20, 21.22): diz-nos Jesus. A efusão do Espírito, que tivera lugar na tarde da Ressurreição, repete-se no dia de Pentecostes, corroborada por sinais visíveis extraordinários. Na tarde de Páscoa, Jesus aparece aos Apóstolos e sopra sobre eles o seu Espírito (cf. Jo 20, 22); na manhã de Pentecostes, a efusão acontece de forma estrondosa, como um vento que se abate impetuoso sobre a casa e irrompe na mente e no coração dos Apóstolos. Como resultado, recebem uma força tal que os impele a anunciar, nas diferentes línguas, o evento da Ressurreição de Cristo: «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas» (Atos 2, 4). Juntamente com eles, estava Maria, a Mãe de Jesus, a primeira discípula, e ali se torna Mãe da Igreja nascente. Com a sua paz, com o seu sorriso, com a sua maternidade, acompanhava a alegria da jovem Esposa, a Igreja de Jesus.


      A palavra de Deus – especialmente neste dia – diz-nos que o Espírito age nas pessoas e comunidades que estão repletas d’Ele, fá-las capazes de receber Deus («capax Dei» – dizem os Santos Padres). E que faz o Espírito Santo por meio desta capacidade nova que nos dá? Guia para a verdade completa (Jo 16,13), renova a terra (Sal 103/104) e produz os seus frutos (Gal 5, 22-23). Guia, renova e dá frutos.
       No Evangelho, Jesus promete aos seus discípulos que, quando Ele tiver regressado ao Pai, virá o Espírito Santo que os «há-de guiar para a verdade completa» (Jo 16, 13). Chama-Lhe precisamente «Espírito da verdade», explicando que a sua ação será introduzi-los sempre mais na compreensão daquilo que Ele, o Messias, disse e fez, nomeadamente da sua morte e ressurreição. Aos Apóstolos, incapazes de suportar o escândalo da Paixão do seu Mestre, o Espírito dará uma nova chave de leitura para os introduzir na verdade e beleza do evento da Salvação. Estes homens, antes temerosos e bloqueados, fechados no Cenáculo para evitar repercussões da Sexta-feira Santa, já não se envergonharão de ser discípulos de Cristo, já não tremerão perante os tribunais humanos. Graças ao Espírito Santo, de que estão repletos, compreendem «a verdade completa», ou seja, que a morte de Jesus não é a sua derrota, mas a máxima expressão do amor de Deus; um amor que, na Ressurreição, vence a morte e exalta Jesus como o Vivente, o Senhor, o Redentor do homem, o Senhor da história e do mundo. E esta realidade, de que são testemunhas, torna-se a Boa Notícia que deve ser anunciada a todos.

       Depois o Espírito Santo renova – guia e renova – renova a terra. O Salmo diz: «Se envias o teu Espírito, (...) renovas a face da terra» (Sal 103/104, 30). A narração dos Actos dos Apóstolos sobre o nascimento da Igreja encontra uma significativa correspondência neste Salmo, que é um grande louvor de Deus Criador. O Espírito Santo, que Cristo enviou do Pai, e o Espírito que tudo vivifica são uma só e mesma pessoa. Por isso, o respeito pela criação é uma exigência da nossa fé: o «jardim» onde vivemos é-nos confiado, não para o explorarmos, mas para o cultivarmos e guardarmos com respeito (cf. Gn 2, 15). Mas isto só é possível, se Adão – o homem plasmado da terra – se deixar, por sua vez, renovar pelo Espírito Santo, se deixar re-plasmar pelo Pai segundo o modelo de Cristo, novo Adão. Então sim, renovados pelo Espírito, podemos viver a liberdade dos filhos em harmonia com toda a criação e, em cada criatura, podemos reconhecer um reflexo da glória do Criador, como se afirma noutro Salmo: «Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu nome em toda a terra!» (8, 2.10). Guia, renova e dá, dá fruto.
       Na Carta aos Gálatas, São Paulo quer mostrar qual é o «fruto» que se manifesta na vida daqueles que caminham segundo o Espírito (cf. 5, 22). Temos, duma parte, a «carne» com o cortejo dos seus vícios elencados pelo Apóstolo, que são as obras do homem egoísta, fechado à acção da graça de Deus; mas, doutra, há o homem que, com a fé, deixa irromper em si mesmo o Espírito de Deus e, nele, florescem os dons divinos, resumidos em nove radiosas virtudes que Paulo chama o «fruto do Espírito». Daí o apelo, repetido no início e no fim como um programa de vida: «caminhai no Espírito»(Gal 5, 16.25).
       O mundo tem necessidade de homens e mulheres que não estejam fechados, mas repletos de Espírito Santo. Para além de falta de liberdade, o fechamento ao Espírito Santo é também pecado. Há muitas maneiras de fechar-se ao Espírito Santo: no egoísmo do próprio benefício, no legalismo rígido – como a atitude dos doutores da lei que Jesus chama de hipócritas –, na falta de memória daquilo que Jesus ensinou, no viver a existência cristã não como serviço mas como interesse pessoal, e assim por diante. Ao contrário, o mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos, dos dons do Espírito Santo, como elenca São Paulo: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22). O dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz. Fortalecidos pelo Espírito – que guia, guia-nos para a verdade, que nos renova a nós e à terra inteira, e que nos dá os frutos – fortalecidos no Espírito e por estes múltiplos dons, tornamo-nos capazes de lutar sem abdicações contra o pecado, de lutar sem abdicações contra a corrupção que dia a dia se vai estendendo sempre mais no mundo, e dedicar-nos, com paciente perseverança, às obras da justiça e da paz.

PAPA FRANCISCO
Basílica de São Pedro, 24 de maio de 2015

Enquanto tens vida e saúde, louva o Senhor

       O Senhor permite que voltem para Ele os que se arrependem e reconforta aqueles que tinham perdido a esperança. Converte-te ao Senhor e abandona o pecado, ora na sua presença e atenua assim a tua ofensa. Volta-te para o Altíssimo e afasta-te da injustiça e detesta profundamente a iniquidade. Conhece a justiça e os juízos de Deus e permanece constante na oferenda e na oração ao Deus Altíssimo...
       Louva o Senhor enquanto viveres, louva-O enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-O pela sua misericórdia. Como é grande a misericórdia do Senhor e o seu perdão para os que a Ele se convertem! (Sir 17, 20-28).
       Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível» (Mc 10, 17-27).

       Jesus encontra-se com o jovem rico, um homem bom, com um coração a precisar de encontrar um sentido novo para a vida, com o anseio de voar mais alto. Cumpre o que social e religiosamente lhe é exigido, mas ainda assim sente-se inquieto, insatisfeito. Jesus faz-lhe uma proposta mais radical: vai vende o que tens, dá aos pobres e depois vem e segue-Me. O jovem, contudo, ainda não está preparado para o que o coração lhe pede e afasta-se entristecido, como triste fica Jesus por tal decisão. É neste contexto que Jesus diz aos seus discípulos que a salvação é, inevitavelmente, obra de Deus. A nós cabe-nos acolhê-la com alegria e generosidade.
       No texto de Ben Sirá, a recomendação para em vida nos convertermos ao Senhor, enquanto temos vida e saúde, na certeza que Deus está sempre pronto a perdoar e a acolher-nos, na certeza que nos compensará, Ele nunca nos falta.
       Dois textos que vale a pena ler com muita atenção, meditar sobre eles e sobretudo para nos deixarmos guiar por tão sábias palavras.

domingo, 24 de maio de 2015

Maria pôs-se a caminho... 2


       Maria, Mulher simples, com olhar meigo, predisposta ao silêncio e à contemplação, humildemente à escuta obediente. Esta é a dimensão mais visível. Porém, também o serviço e a pressa em acorrer às necessidades dos outros.
       Os evangelhos centram-se em Jesus e no mistério pascal. É na Páscoa que os discípulos se encontram verdadeiramente com Jesus, homem e Deus, descobrindo que as palavras do Mestre não foram discursos de circunstância, mas palavras de vida nova, que os compromete com os outros e os capacita para iniciar o caminho até à eternidade.
       Os evangelhos são sobretudo relatos da Paixão de Jesus com introduções que contextualizam e explicitam o mistério de entrega de Jesus.
       A Virgem Maria, São José, e outros intervenientes, aparecem sob a luz de Jesus. No entanto, pequenos gestos, algumas palavras, tornam percetível a postura desta ou daquela pessoa. Para percebermos Maria: anunciação; visitação; nascimento de Jesus; acolhimento dos Pastores e dos Magos; apresentação de Jesus; fuga para o Egito; perda e encontro do Menino em Jerusalém; Maria que ocorre para ver o que se passa com Jesus; Maria no caminho para a Cruz, e diante de Jesus crucificado, sendo-nos dada por Mãe; congregando em oração os discípulos, depois da morte de Jesus; presente nas aparições do Ressuscitado; figura incontornável na vida da Igreja, desde o início e ao longo da história. As aparições em Lourdes ou em Fátima insinuam a vontade de Deus estar bem perto de nós, através d’Ela.
       Modelo de escuta da palavra de Deus. Modelo de serviço espontâneo, acorrendo, apressada, para a montanha, entre dificuldades do caminho e o perigo à espreita; discreta e solícita nas bodas de Caná; diligente e preocupada com Jesus; cheia de graça e esperança que nos sossega no Seu colo de Mãe no meio das intempéries da vida.
       Focados no lema pastoral da Diocese, diríamos que em Maria, a própria família se revê e se encontra, desafiada a sair, a servir, a partilhar a alegria da fé. Cada membro sai do seu comodismo para servir os outros, dentro e fora do espaço familiar. A família não é e não pode ser a soma de egoísmos, mas a conjugação de esforços e compromissos, de participação e partilha, promovendo o melhor de cada um, a favor de todos, acolhendo a pessoa como um todo, com defeitos e virtudes, potenciando o crescimento de cada um, com uma dose q.b. de renúncia e serviço, procurando que o outro seja visível.

Originalmente publicado na Voz de Lamego, 19 de maio de 2015

Maria pôs-se a caminho...


       O anjo anuncia a Maria que Ela vai ser a Mãe do Filho do Altíssimo. A esta informação acrescenta outra: Isabel, a quem chamavam estéril, também vai ser mãe. Sem delongas, Maria faz-se à estrada e parte apressadamente para uma cidade da Judeia (Ain Karim, aproximadamente 140 Km), para auxiliar Isabel, no final da gravidez (cf. Lc 1, 39-56).
       Parar é morrer. Expressão popular que escutámos amiúde.
       Estamos em movimento constante. Até dentro de nós. Na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco acentuava esta característica vocacional. Colocar-se à escuta e sair de si. “A vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão”.
       Como não lembrar a Sua insistência numa Igreja em saída, sendo preferível uma Igreja acidentada por sair que uma Igreja doente por estar parada?!
       A condição mesma do cristão é um exercício constante por sair de si, convertendo-se a Jesus, indo ao encontro dos outros para lhes levar o Evangelho. A Diocese de Lamego tem acentuado este compromisso missionário, respondendo ao desafio de Jesus Cristo, que chama para enviar. Com efeito, o Evangelho – bem visível em São Marcos – mostra-nos Jesus em movimento. Passa de uma a outra povoação. Jesus alerta os seus discípulos: é necessário que vamos a outros lugares. Parte de manhã cedo. Envia-os na frente enquanto se despede da multidão. Outras vezes, quando a multidão chega, já Ele partiu.
       Maria dá-nos a mesma tonalidade. A acentuação de um aspeto não anula outros, como o tempo para acolher, para estar e servir, para ser casa e bênção para quem chega, descanso para Jesus e para os discípulos antes de novas andanças. Maria é a Mulher da escuta e do silêncio, da meditação e do serviço. A visitação é um exemplo. As Bodas de Caná, da mesma forma, mostram Maria a sair do escondimento e a intervir junto de Jesus. Um movimento duplo: em direção a Jesus/Deus e em direção aos outros. O serviço ao próximo decorre do encontro com Deus. Antes: faça-se em Mim segundo a Tua Palavra… Eles não têm vinho! Só depois: Fazei tudo o que Ele vos disser. 
       Mais um aniversário das Aparições de Fátima. Acentua-se a dinâmica da peregrinação, a Fátima e de Fátima para o mundo, cuja Imagem peregrina percorre o país e o mundo. Em Maria, Deus sai e encontra-nos no mundo atual, renovando o apelo à conversão. Novamente nos envia a construir o Seu Reino.

Originalmente publicado na Voz de Lamego, 12 de maio de 2015

sábado, 23 de maio de 2015

Solenidade de Pentecostes - 24 de maio de 2015

       1 – «Enquanto a sociedade se torna mais globalizada, faz-nos vizinhos mas não nos faz irmãos» (Bento XVI, Caritas in Veritate). Nesta expressão do Papa Emérito constata-se que a globalização dos meios de comunicação social, o desenvolvimento das vias de comunicação, a evolução técnica e tecnológica, nos aproximou, vencendo barreiras geográficas, culturais, sociais, mas o excesso de comunicação e a fácil mobilidade não enriqueceu a relação entre as pessoas, não eliminou conflitos, intolerâncias ou a indiferença. Não basta ter os meios, é necessário ter vontade. Não basta estarmos lado a lado, é necessário que nos vejamos e nos reconheçamos como irmãos.
       Há excelentes meios técnicos, mas para se comunicar bem é preciso comunicar com o espírito, com alma, comunicando-nos, pondo nas palavras, nos gestos e nas obras o que somos, dando o melhor. Os melhores smartphones, tablets, a internet mais rápida, os meios sofisticados de imagem e de vídeo, não tornam as pessoas melhores ou mais comunicativas. Há pessoas que não despegam do telemóvel o dia inteiro e nem por isso têm uma vida social mais intensa e interessante e a interação com os outros deixa muito a desejar. Pessoas que facilmente acedem ao outro lado do mundo e entram em conversação com pessoas que não conhecem de lado nenhum e, em contrapartida, não têm amigos reais, têm grande dificuldade em se relacionar com os pais, com os irmãos, com as pessoas de carne e osso. Correr, saltar, brincar, ouvir música, ir a uma festa de amigos, fazer desporto, envolver-se em atividades culturais, desportivas, religiosas, conviver com os amigos dos pais, almoçar/jantar com os avós… pode tornar-se um pesadelo, pois há urgência em estar on-line, conectado a todos os amigos digitais…
       Hoje, solenidade do Pentecostes, Cristo dá-nos o Espírito Santo para que as nossas palavras não sejam vazias, para que as nossas palavras nos aproximem, nos levem aos outros e nos tragam os outros. Para que não fiquemos na eficácia da técnica, que é útil e necessária, mas cheguemos ao coração dos outros, com palavras que animem, deem esperança e vida.


       2 – Há uma linguagem para lá de todas as palavras e de todos os gestos, a linguagem do amor, da amizade, da compaixão, a linguagem dos afetos, da proximidade, do olhar penetrante, do sorriso que comunga e partilha a vida, do rosto que se identifica com o sofrimento alheio. Há uma linguagem de ternura que atrai e que é facilmente percetível por todos. É possível que nos entendamos, quando utilizamos a linguagem da verdade e do bem, uma linguagem com espírito, com vida, uma linguagem que serve para dar as mãos e unir esforços. Como família.
       Jesus confirma os Seus discípulos. Naquela tarde, primeiro dia da semana, Domingo de ressurreição e vida nova, Jesus ultrapassa as fronteiras das portas e das janelas do medo e da desconfiança, e coloca-Se no MEIO dos Seus discípulos. Não há barreiras para esta nova forma de estar. Não há muros intransponíveis para Jesus Ressuscitado. Só é preciso que os nossos corações estejam abertos, dóceis, prontos a acolher o Espírito que d'Ele nos vem, a paz que Ele nos traz, a paz que experimentamos se Ele está connosco no Meio de nós. «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
       A alegria que os discípulos experimentam naquela ocasião repetir-se-á em cada um de nós, em cada momento que deixarmos que Ele nos habite, irrompa na nossa vida e nos transforme. Alegria e paz quando e sempre que formos instrumento de perdão e de misericórdia, contribuindo para a paz e a alegria dos outros.


       3 – Não há portas nem janelas que blindem o amor e a compaixão. Um coração ferido só se cura com a força da ternura, da doçura, da proximidade. Não há medicamentos que curem a solidão, não há anestésicos que resolvam a vida e nos tornem irmãos. Não há antibióticos que anulem a indiferença, a intolerância, a ganância ou a prepotência. Só o amor. Deus é amor!
       Há momentos da vida em que os medicamentos ajudam, anestesiando, mas só a amizade, o calor humano, a proximidade física e espiritual curam verdadeiramente. Os motivos do sofrimento podem não desaparecer, mas são integrados na partilha e na comunhão, na amizade solidária e compassiva, confiando-os a Deus, colocando-nos no Seu coração, através daqueles e daquelas que Ele colocou ao nosso lado.
       Há muitas vozes que ouvimos. Muito ruído que nos desafia, nos inquieta, nos desassossega. Há vozes que não nos deixam dormir nem descansar. Há ruído que não passa disso mesmo, ruído que transparece ódio, inimizade, agressão. Há vozes que não chegam ao céu. É um ruído de fundo, maledicente, doentio, que acusa, que aponta, que se acobarda desviando para os outros os próprios defeitos e imperfeições. Há vozes que não reproduzem nem som nem palavras, nem linguagem humana, apenas destilam veneno. A comunicação implica escuta, respeito pelo outro, compreensão pelas diferenças, exige tratar o outro como igual, como irmão. Precisamos sempre de rever a nossa comunicação, purificá-la. Os sons só permanecerão, como linguagem humana, se tocarem o coração, o nosso e o dos outros.

       4 – Os Apóstolos estão reunidos, como comunidade. Sublinhe-se. É em comunidade que Jesus Se manifesta, aparecendo aos discípulos. É em comunidade que Jesus envia o Espírito Santo. Aquele que é dado multiplica-Se pelos discípulos. Dá-Se inteiramente. Inteiramente a cada um. E cada um se reconhece diante dos outros, com o mesmo Espírito Santo. O Espírito é dado para nos aproximar, para nos converter e fazer com que sejamos família de Deus.
       Diversos os dons, mas o Espírito é o mesmo, pois é o Senhor que opera tudo em todos. “Todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito”.
       É um rumor, uma rajada de vento, que não deixa ninguém indiferente. Ninguém poderá ficar indiferente Àquele que vem do Céu. A religião como a fé não é algo que nos feche em casa e nos isole. A fé provoca alegria e vontade de comunicar aos outros o Espírito que recebemos. É o que fazem os Apóstolos, começam logo a falar diversas línguas conforme o Espírito lhes permite. Não são tanto as línguas que falam, mas sobretudo a voz de Deus que Se faz ouvir através da nossa língua, numa linguagem que nos irmana. E se a linguagem for ternura, se for a língua do Espírito, então cada um percebe na sua própria língua, no seu coração: Deus que fala através do irmão.

       5 – Aprendemos a balbuciar os primeiros sons com os nossos pais ou com aqueles que estão mais perto de nós ou passam mais tempo connosco na infância. No plano da fé somos sempre "crianças", aprendizes, discípulos. É o Espírito Santo que nos faz balbuciar a nossa profissão de fé. Como nos recorda o apóstolo: “Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo”.
       Deixemos que o Espírito Santo, que nos é dado por Jesus Cristo, nos coloque diante dos outros como irmãos, filhos do mesmo Pai do Céu, para sermos uma só família, cuidando uns dos outros, fazendo com que a diversidade de dons nos enriqueça mutuamente.
       “Vinde, ó santo Espírito, / vinde, Amor ardente, / acendei na terra / vossa luz fulgente. / Descanso na luta / e na paz encanto, / no calor sois brisa, / conforto no pranto. / Luz de santidade, / que no Céu ardeis, / abrasai as almas / dos vossos fiéis” (Sequência ao Espírito Santo).

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia: Atos 2, 1-11; Sl 103; 1 Cor 12, 3b-7. 12-13; Jo 20, 19-23.

terça-feira, 19 de maio de 2015

XXX Jornada Diocesana da Juventude | 16.maio.2015

       A Jornada Diocesana da Juventude (JDJ) é um momento importante e que centraliza o trabalho do Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ). Muitas outras atividades, celebrações, encontros, que o SDPJ promove e coordena. Mas sem dúvida que a JDJ, pelos meios que envolve, pelos jovens que se preparam, pelos que trabalham na Jornada em cada Zona Pastoral, é um dos momentos cruciais de todo o ano juvenil, com expectativas, com a ansiedade que cresce à medida em que se aproxima o dia, contando com muitos imponderáveis.
       A sensibilização chega às comunidades paroquiais, que contam também com imponderáveis, nomeadamente com a conjugação de outras atividades, com a vontade dos jovens... Neste espaço pastoral, a presença de cerca de 25 jovens, das paróquias de Tabuaço, maioritariamente, de Távora e de Carrazedo.
       Salienta-se que 12 elementos do GJT (Grupo de Jovens de Tabuaço) participaram nos ensaios corais, ao longo de algumas semanas, integrando o Grupo Coral, formado por jovens de diversas paróquias da Diocese de Lamego.
       A XXX JDJ realizou-se em Cabaços, no Santuário de São Torcato, Zona Pastoral de Moimenta da Beira, contou com centenas de jovens, com um programa diversificado, com caminhada, worksops, celebração da Santa Missa, ponto central deste encontro juvenil, presidida por D. António Couto, Bispo de Lamego, partilha de farnéis, tarde animada com a Banda cristão de São Sebastião. O encontro terminou com a Oração do Envio, e o testemunho foi passado aos jovens da Zona Pastoral de Tarouca, onde se realizará a próxima JDJ.
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sábado, 16 de maio de 2015

Ascensão de Jesus ao Céu - ano B - 17 de maio de 2015

       1 – Se dúvidas houvesse sobre a dimensão missionária da Igreja, elas ficariam desfeitas pelos textos hoje propostos e pela solenidade da Ascensão do Senhor ao Céu. Jesus ascende para Deus, para a eternidade do Pai, não como quem nos abandona, mas por forma a estar presente à humanidade inteira e não apenas, na limitação do tempo, do espaço e da história, a um grupo restrito. É necessário que Eu vá para junto do Pai para vos enviar o Espírito Santo que vos recordará toda a verdade. Então o Espírito Santo dará testemunho de Mim e vós também dareis testemunho (cf. Jo 15, 26 – 16, 4).
       Vós sereis testemunhas destas coisas. Vou partir mas não vos deixarei órfãos. Enviar-vos-ei o Espírito. A Ascensão de Jesus lembra-nos que Ele nos chama para nos enviar e não para ficarmos à sombra da bananeira à espera que a vida se resolva a nosso favor. Audazes para fazermos o que está ao nosso alcance, dando o melhor de nós, construindo um mundo mais justo e fraterno, tornando-nos verdadeiramente família de Deus, dando as mãos para juntos chegarmos mais longe.
       Vamos errar? Sim, muitas vezes. Só não erraremos se não fizermos nada.
       Vamos desanimar? Sim. Mas também assim descobriremos o sabor e o sentido do compromisso, da insistência, do esforço. Precisamos de águas calmas, mas a ondulação ajuda-nos a prosseguir, a estar vigilantes e despertos, a ser mais cuidadosos.
       Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados».
       2 – São Marcos, que volta ao nosso convívio, de forma sucinta, clara e perentória, diz-nos que o mandato de Jesus é rapidamente executado pelos Seus discípulos. “O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam”.
       Como tinha prometido, Jesus acompanha os discípulos no seu ministério missionário. Coopera com eles, confirmando com os milagres as palavras anunciadas. Um texto tão simples por certo só nos diz o que precisamos de saber para prosseguirmos: Ele está e coopera connosco, e através de nós continuará a operar maravilhas.
       As dificuldades multiplicar-se-ão à medida que a evangelização der frutos. Quanto mais atual e atuante, visível e concretizada, em pessoas e comunidades, estiver a Palavra de Deus, mais obstáculos surgirão, mais vozes e gestos se levantarão. O anúncio do Evangelho provocará escolhas. Nada ficará como dantes. A luz não provoca caos, mas põe a descoberto as imperfeições. As ondas hão de ora incomodar ora envolver, expondo o cinismo e a hipocrisia. Não fazer nada, não levantar ondas, não chamar a atenção, não exige uma escolha e não invetiva os que estão acomodados. Como se costuma dizer, e às vezes com razão, só não falam mal de quem não faz nada.
       São Marcos, o primeiro a escrever o Evangelho, assiste a um extraordinário impulso missionário. Mesmo sendo um acrescento final ao Evangelho, esta narração resume o essencial dos tempos posteriores à ressurreição de Jesus e como os discípulos vivem entusiasmados com os frutos da evangelização. Os primeiros anos, com alguns reveses, são quase idílicos.

       3 – São Lucas, ao escrever o Evangelho e o livro dos Atos dos Apóstolos, faz transparecer as provações dos discípulos e das primeiras comunidades. À medida que a pregação gera frutos e comunidades, também gera, como víamos, ódios, inimizades, perseguição.
       Numa leitura alargada dos evangelhos, atos, cartas dos apóstolos, verifica-se que há atitudes diversas diante das dificuldades. Para uns, Jesus vai já manifestar-Se, no tempo da geração atual. Algumas cartas de São Paulo são explícitas a este propósito: alguns não morrerão sem terem visto a vinda do Reino de Deus em poder, colocando o universo inteiro sob o Seu domínio (cf. 1 Tes 4, 13-18). «Esta geração não passará sem que tudo aconteça» (Mt 24, 34; cf. Lc 21, 32).
       Na primeira leitura, a pergunta a Jesus recoloca a questão: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». O entusiasmo inicial está alquebrado. Que aconteceu? Já morreram alguns, e Jesus não veio ainda restaurar o mundo? São Lucas procura a resposta nas palavras de Jesus: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra».
       É quanto basta. Está tudo dito. Deixemos a hora e o lugar, o tempo e a ocasião, não queiramos antecipar o futuro cronológico. Quando muito vivamos com os olhos postos no futuro de Deus, que nos atrai e sustém.
       À vista deles, elevou-Se e uma nuvem escondeu-O. Os discípulos ficam de olhar fito no Céu, como nós ficamos a olhar aqueles que vemos partir. É preciso regressar aos nossos afazeres, mas enquanto vemos o carro ou o comboio a afastar-se ficamos. Assim sucede com os discípulos. Então, dois homens vestidos de branco, interpelam-nos: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».
       Há que encontrar Jesus no meio de vós. Dessa forma Ele manifestar-se-á. Não adianta ficar a olhar perdidamente para o Céu. Quantas vezes também nos fixamos no Céu à espera de uma resposta, um sinal, uma prova! Por um lado, o Céu é o nosso horizonte. Mas para já temos de trabalhar o mundo, cuidando uns dos outros, entre sucessos e contratempos.

       4 – A oração final da Eucaristia enlaça-nos neste desiderato de vivermos aqui na terra, saboreando o verdadeiro Alimento, o Pão vivo que nos alimenta até à vida eterna: “Deus eterno e omnipotente, que durante a nossa vida sobre a terra nos fazeis saborear os mistérios divinos, despertai em nós os desejos da pátria celeste, onde já se encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana”.
       Não são duas realidades estanques ou separadas, entrelaçam-se por vontade de Deus que, em Jesus, desceu à terra, assumiu a nossa natureza humana, caminhou connosco, e com a Sua morte e ressurreição, abriu-nos as portas da eternidade. Agora vive entre nós de uma maneira nova, pelos Sacramentos, pela Palavra proclamada, mastigada e vivida, por todo bem que em Seu nome fizermos aos outros, preferencialmente aos mais pobres.
       A oração de São Paulo agrafa-nos a este compromisso: “O Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria... ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados”.
       Também aqui fica claro que a esperança que nos guia para Deus e para o futuro se vai realizando, concretizando, expressando, no tempo presente, na nossa oração e no nosso labor, na procura de comunicarmos, vivendo, a misericórdia que Jesus nos dá em abundância.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Atos 1, 1-11; Sl 46 (47); Ef 1, 17-23; Mc 16, 15-20.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Ali perto... Bento XVI

       Também estivemos lá, em festa, no meio da multidão, a rezar, a cantar, num encontro de fé, de alegria, de esperança...


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Bento XVI sobre a Viagem Apostólica a Portugal

       “A peregrinação a Portugal foi para mim uma experiência tocante e rica de muitos dons espirituais”, afirmou Bento XVI na audiência geral das Quarta-feira, no Vaticano, dias depois de ter estado em Portugal, no dia 19 de maio de 2010.

       “Agradeço a Deus que me deu a possibilidade de prestar homenagem àquele povo, à sua longa e gloriosa história de fé e de testemunho cristão”, disse o Papa.
       “Enquanto permanecem vincadas na minha mente e no meu coração as imagens desta inesquecível viagem, o acolhimento caloroso e espontâneo e o entusiasmo das pessoas, dou graças ao Senhor porque Maria, aparecendo aos três Pastorinhos, abriu no mundo um espaço privilegiado para encontrar a misericórdia divina que cura e salva”, referiu Bento XVI.
       Depois de recordar que a viagem ocorreu “por ocasião do décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco”, Bento XVI afirmou sentir-se “espiritualmente sustentado” pelo seu “amado predecessor, o venerável João Paulo II”, que por três vezes se deslocou a Fátima, “agradecento àquela ‘mão invisível’ que o salvou da morte no atentado de treze de Maio [de 1981], aqui, nesta Praça de São Pedro”.
       Bento XVI afirmou que confia a Deus os frutos que a viagem “trouxe e vai trazer à comunidade eclesial portuguesa e a toda a população”.


       O Papa passou em revista os vários momentos da visita, nas três cidades por onde passou, começando por Lisboa, onde, "no encantador cenário do Terreiro do Paço”, presidiu a uma missa que contou com “uma assembleia litúrgica de festa e de esperança, animada pela participação jubilosa de numerosos fiéis”.
       Depois de recordar que de Lisboa partiram ao longo dos séculos muitos missionários para levar o Evangelho a outros continentes, o Papa recordou que encorajou a “Igreja local a uma vigorosa acção evangelizadora nos diversos ambientes da sociedade, para serem semeadores de esperança num mundo muito marcado pela desconfiança”.
       No encontro com o mundo da cultura, que ocorreu no Centro Cultural de Belém, a 12 de Maio, Bento XVI assinalou que sublinhou “o património dos valores com os quais o cristianismo enriquecer a cultura, a arte e a tradição do povo português”.
       “Nesta nobre terra, como em outros países profundamente marcados pelo cristianismo, é possível construir um futuro de fraterna compreensão e de colaboração com as outras instâncias culturais”, realçou.
       Na sua catequese, em italiano, Bento XVI disse ter ido a Fátima “movido especialmente por um sentimento de reconhecimento para com a Virgem Maria”.
       No Santuário, assinalou, Nossa Senhora “transmitiu aos seus videntes e aos peregrinos um intenso amor pelo sucessor de Pedro”.


       Em Fátima, onde é perceptível “de maneira quase palpável” a presença de Maria, Bento XVI disse ter-se feito “peregrino com os peregrinos”, no Santuário que é “o coração espiritual de Portugal e meta de uma multidão de pessoas provenientes dos lugares mais diversos da terra”.
       Neste Ano Sacerdotal prestes a terminar, Bento XVI afirmou ter encorajado os padres a dar prioridade à escuta da Palavra de Deus, ao conhecimento “íntimo” de Cristo e à “intensa” celebração da missa, tendo ainda consagrado ao “Coração Imaculado de Maria, verdadeiro modelo de discípula do Senhor, os sacerdotes de todo o mundo”.
       À noite, “com milhares de pessoas”, Bento XVI participou na oração do Rosário, que “encontrou em Fátima um centro propulsor para toda a Igreja e para o mundo”; “Podemos dizer que Fátima e o Rosário são quase um sinónimo”, realçou.
       Para o Papa, o ponto mais alto da visita a Fátima foi a missa a que presidiu a 13 de Maio, “aniversário da primeira aparição de Maria a Francisco, Jacinta e Lúcia”, ocorrida em 1917.
       No entender de Bento XVI, a mensagem de Fátima está centrada “na oração, na penitência e na conversão, que se projecta para além das ameaças, dos perigos e dos horrores da história”, convidando “o homem a confiar na acção de Deus, a cultivar a grande Esperança, a fazer a experiência da graça do Senhor”, fonte “do amor e da paz”.
       Durante a tarde de 13 de Maio, aquando do encontro com representantes da Pastoral Social e de organiszações de apoio aos mais carenciados, o Papa salientou que “muitos jovens aprendem a importância da gratuidade” em Fátima, que é “uma escola de fé e de esperança”, bem como “de caridade e de serviço aos irmãos”.
       A reunião com os bispos de Portugal, que se seguiu, “foi classificada por Bento XVI como “um momento de intensa comunhão espiritual”, durante o qual se agradeceu a Deus pela “fidelidade” da Igreja portuguesa e se “confiou à Virgem” as expectativas e preocupações pastorais.


       No Porto, a 14 de Maio, perante uma “grande multidão de fiéis” congregada na Avenida dos Aliados, “recordei o compromisso de testemunhar o Evangelho em todos os ambientes, oferecendo ao mundo Cristo ressuscitado, a fim de que todas as situações de dificuldade, de sofrimento, de medo sejam transformadas, através do Espírito Santo, em ocasiões de crescimento e de vida”, assinalou Bento XVI.
       O Papa voltou a agradecer ao presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e às autoridades do Estado pela “cortesia” com que o acolheram.
       Agradecimento extensivo aos Bispos de Portugal, pela “preparação espiritual e organizativa” da visita, em particular ao Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, ao Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e ao Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, bem como aos “vários organismos da Conferência Episcopal”, presidida por D. Jorge Ortiga.

Notícia: Agência Ecclesia.

Bento XVI há 5 anos: "Vim a Fátima para rezar"

       "Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como peregrino a Fátima, a esta «casa» que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna protecção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina, querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação. Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos.
       "Enfim, com os mesmos sentimentos dos Beatos Francisco e Jacinta e da Serva de Deus Lúcia, vim a Fátima para confiar a Nossa Senhora a confissão íntima de que «amo», de que a Igreja, de que os sacerdotes «amam» Jesus e n’Ele desejam manter fixos os olhos ao terminar este Ano Sacerdotal, e para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus.
       "A nossa grande esperança lance raízes na vida de cada um de vós, amados peregrinos aqui presentes, e de quantos estão em comunhão connosco através dos meios de comunicação social.
       Sim! O Senhor, a nossa grande esperança, está connosco; no seu amor misericordioso, oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo.
       "As Escrituras convidam-nos a crer: «Felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20, 29), mas Deus – mais íntimo a mim mesmo de quanto o seja eu próprio (cf. Santo Agostinho, Confissões, III, 6, 11) – tem o poder de chegar até nós nomeadamente através dos sentidos interiores, de modo que a alma recebe o toque suave de algo real que está para além do sensível, tornando-a capaz de alcançar o não-sensível, o não-visível aos sentidos.

       "Por isso a nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré.

       "Mas quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? Quem vela, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração acordado em oração? Quem espera a aurora do dia novo, tendo acesa a chama da fé? A fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo.
       "Exemplo e estímulo são os Pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus. Nossa Senhora ajudou-os a abrir o coração à universalidade do amor. De modo particular, a beata Jacinta mostrava-se incansável na partilha com os pobres e no sacrifício pela conversão dos pecadores. Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz..."

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Leituras: AA.VV. - A essência da Vida Consagrada

AA.VV. (2015). A essência da Vida Consagrada. Lisboa: Paulus Editora. 200 páginas.


       O Ano de Vida consagrada, convocado pelo Papa Francisco, teve início com o novo ano litúrgico, no dia 30 de novembro de 2014 e que se prolonga até à solenidade de Cristo Rei do Universo. Três objetivos apontados pelo Papa: olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro. A vida consagrada faz parte do ADN da Igreja, como Corpo de Cristo, Ele que assume viver no despojamento, pobreza, castidade, em total obediência ao Pai.
       Este livro aborda a vida consagrada a partir de diversas sensibilidades, em conformidade com os autores, e nas suas várias dimensões.
Autores e temas abordados:
  • D. António Couto, Bispo de Lamego, membro da Sociedade Missionária da Boa Nova. Como expectável, para um especialista na Sagrada Escritura, a "Fundamentação bíblica da vida consagrada".
  • Pe. David Sampaio Barbosa, sacerdote verbita, leciona História da Igreja na UCP, pelo que o seu tema dá prevalência à "História da vida consagrada".
  • Alexandre Freire Duarte, cristão católico leigo, licenciado canónico em Teologia, e como leigo faz uma abordagem da vida consagrada «Magis magisque» (mais e mais): reflexões sobre a espiritualidade dos religiosos"
  • Irmã Maria da Glória Coelho Magalhães, religiosa franciscana missionária de Nossa Senhora, mestre em bioética e em espiritualidade franciscana. O tema apresentado: "A profissão dos conselhos evangélicos", pobreza, castidade e obediência, votos que se insere num único voto de viver ao jeito de Jesus. Obediência na fé; pobreza na esperança, e castidade na caridade...
  • Pe. José Jacinto Farias, sacerdote dehoniano, formado em teologia e em filosofia, aborda "A eclesialidade da vida consagrada".
  • Maria da Conceição Gomes Vieira, consagrada do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, formada em Ciências da educação e em Pedagogia Vocacional. O tema abordado: "A formação para a vida consagrada". Além dos documentos da Igreja, o antes e o pós-concílio, enriquece o texto com o seu testemunho de vida.
  • Pe. Saturino Gomes, sacerdote dehoniano, formado em Direito Canónico e, por conseguinte, a abordagem está em concordância: "A vida consagrada e o Direito Canónico".
  • Darlei Zanon, irmão religioso paulista, brasileiro, diretor editorial da Paulus Editora. Fala-nos d' "O futuro da vida consagrada".
       Nas suas diferentes perspetivas, este é um belíssimo contributo para melhor perceber o que é, em Quem se funda, como se concretiza a Vida Consagrada, que passado e que futuro, o seu papel na Igreja e na sociedade do nosso tempo. É um desafio para os cristãos consagrados ou membros de Institutos de vida apostólica, mas simultaneamente para todos os cristãos, pois a vocação primordial é à santidade...

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sábado, 9 de maio de 2015

Domingo VI da Páscoa - ano B - 10 de maio de 2015

       1 – «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor».
       Crescemos e amadurecemos imitando os outros no nosso comportamento, na nossa aprendizagem, nos nossos gestos, de tal forma que o convívio que se prolonga no tempo acentua as parecenças até mesmo no timbre de voz. Com facilidade confundimos, ao telefone, a voz de dois irmãos, ou da mãe e da filha, ou do pai e do filho. Há filhos que caminham como os pais, têm os mesmos tiques ou trejeitos e imitam-nos no vestir. Pouco disponíveis para escutar os conselhos, repreensões ou sermões, mas prontos para repetir a postura dos pais. Se em casa se fala muito alto, na escola os filhos reproduzirão a mesma sonoridade. Se há palavrões em família, não será muito diferente na escola. Nem tudo é linear. Há crianças de famílias desestruturadas que têm comportamentos exemplares e crianças de famílias bem estruturadas com comportamentos perturbadores quando longe dos pais. Refira-se, a propósito, que hoje em dia a postura mimética é mais abrangente, imitam-se os colegas da sala de aula, os atores de determinada série de televisão, os amigos lá da rua. A televisão e a Internet, meios privilegiados de difusão, facilmente globalizam gestos, formas de vestir e de pensar.
       E como cristãos, quem é que imitamos? A maioria? O que está na moda?
       Os valores que defendemos, na medida em que estamos inseridos numa cultura globalizada, nem sempre são concordes com a fé professada. Recordo os milhares de jovens que aplaudiam o Papa João Paulo II, nos EUA, na sua última viagem apostólica àquele país. Quando lhes perguntavam sobre valores, da vida, da dignidade da pessoa humana desde a conceção à morte natural, as respostas eram curiosas: gostavam do Papa – figura mundial – mas não das ideias que defendia.
       Temos um modelo a seguir e a imitar: Jesus Cristo. Como o Pai me ama, também Eu vos amo. Dou a vida por vós. Amai-vos uns aos outros como EU vos amo.


       2 – As palavras movem, os testemunhos arrastam. Como sublinhava o Papa Paulo VI, o nosso tempo mais que mestres quer testemunhas, ou mestres que sejam testemunhas. Jesus dá-nos o exemplo. É a referência da nossa vida, dos nossos gestos. Não temos que imitar mais ninguém, em absoluto. Devemos ser referência uns para os outros, mas na medida em que transparecemos Jesus Cristo e o Seu evangelho de verdade e de caridade. Como nos dirá São Paulo: sede meus imitadores como eu sou imitador de Cristo.
       O plano original de Deus aponta para uma imitação libertadora, como família, revendo-nos uns nos outros. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Da mesma carne, do mesmo sangue, com a mesma origem. Saímos das mãos de Deus e do Seu coração. Auxiliares uns dos outros. O pecado surge não por sermos diferentes, mas por queremos excluir os outros da nossa vida e colocar-nos diante deles como senhores absolutos do mundo.
       A Encarnação de Deus, em Jesus Cristo, e o Seu mistério pascal, paixão, morte e ressurreição, invertem o caminho para nos colocarem novamente na senda de Deus, orientando-nos uns para os outros, assumindo-nos como irmãos, como família. Ele entrega a Sua vida por nós. «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos». Para termos vida em abundância. «Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei». Jesus trata-nos como irmãos, como amigos. «Vós sois meus amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai».
       A amizade leva-nos à proximidade (e vice-versa) e à identificação. Identificamo-nos com os nossos amigos, de quem aceitamos conselhos, recomendações, a quem pedimos opinião. «Fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros». Como ramos unidos à videira, também nós daremos muitos frutos se unidos a Cristo, se d'Ele nos alimentarmos.


       3 – É mentiroso todo aquele que diz amar a Deus e odiar o seu semelhante. É uma afirmação que decorre da Palavra de Deus e da vivência da fé. Se Deus é Pai de todos, todos somos irmãos. Não podemos rezar o Pai-nosso em comum e depois cada um ir à sua vida, com as suas preocupações, mesmo que honestas e defensáveis. Não. O Pai-nosso não é apenas uma oração que Jesus nos ensina, é um desafio e um compromisso. Reconhecemo-nos diante de Deus como irmãos, dispondo-nos a acolher o Seu reino e a Sua vontade em todo o mundo.
       Com efeito, diz-nos o apóstolo são João, na segunda leitura, «amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados».
       O amor ao próximo não é uma opção. Se seguimos Cristo é para O imitarmos, acolhendo a Sua palavra. Somos discípulos missionários. Embrenhamo-nos no Evangelho e transparecemo-lo através da nossa vida, até que possamos dizer o mesmo que o apóstolo Paulo: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20), «Para mim, viver é Cristo» (Fil 1, 21).
       Jesus dá a Sua vida por nós. Nesta entrega é visível que Deus nos ama primeiro para que também nós possamos amar-nos uns aos outros. É no amor que conheceremos a Deus e n'Ele permaneceremos.

       4 – O sol quando nasce é para todos. Como lembra a Sagrada Escritura, Deus faz chover sobre bons e maus (cf. Mt 5, 45). A salvação que nos é dada em Jesus Cristo, no mistério pascal que celebramos em cada Eucaristia, não é prerrogativa de um ou outro grupo, de um ou outro iluminado. É para todos, independentemente da origem, do caminho percorrido, da raça, da cor, ou da nacionalidade. A única condição é amar, deixar-se plasmar pelo Espírito de Deus.
       Ao longo da história da Igreja, este Corpo de Cristo a que pertencemos pelo Batismo, como membros de que Ele é a Cabeça e o garante, viveu os dramas das diferentes épocas, culturas e sensibilidades, procurando, através dos mais humildes e dos mais santos, aproximar-Se de Jesus, identificar-se com Ele, manter-se fiel ao Evangelho. Logo no início surgem dissensões. As pessoas têm opiniões próprias que precisam de moldar ao proceder de Jesus, libertando-se das arestas de cada um, para sermos MAIS em Cristo.
       Os apóstolos, nomeadamente Pedro, compreendem que a Páscoa não é benefício dos judeus, mas terá que chegar a todos. A conversão de Cornélio, oficial romano, é um desafio para o qual, aparentemente, a primeira comunidade não estava preparada, ainda que o envio de Jesus seja a todo o mundo, a todas as nações. «Na verdade, diz Pedro, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável».
       O Senhor opera maravilhas a favor de todos os povos. «Todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus».

       5 – O salmista ajuda-nos a rezar e a agradecer: «O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel. Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai».

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (B): Atos 10, 25-26. 34-35. 44-48; Sl 97 (98); 1 Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17.