segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mundo interior: cebola ou batata?

       "Comecemos talvez de um modo desajeitado, perguntando: o nosso mundo interior é uma cebola ou uma batata? A pergunta faz-nos sorrir, é um bocado cómica, mas, se quisermos, acaba por colocar-nos perante a nossa realidade de uma forma bastante profunda. A pergunta pode ser feita numa cozinha, por uma criança que está a descobrir o mundo, pode ser proferida por filósofos nos seus tratados ou pode ser formulada por um mestre espiritual. O nosso mundo interior é uma cebola ou uma batata? Nietzsche, por exemplo, dizia que «tudo é interpretação», isto é, não há um núcleo de Ser a sustentar a nossa experiência de vida, tudo são cascas de cebola, modos de ver, perspetivas, interpretações. Para lá disso não há mais nada. Uma visão espiritual do mundo, por outro lado, está certamente do lado da batata, pois considera que mesmo escondida por uma crosta ou por um véu persiste uma realidade que é substanciosa e vital.

       A verdade é que mesmo sabendo que a vida é uma batata, nós vivêmo-la muitas vezes como se fosse uma cebola. Vivemos de opiniões, de verdades parciais e provisórias, de paixões, vivemos de aparências e modas como se a vida fosse isso. Esgotamo-nos a desfilar cascas e camadas, sem um centro que nos dê realmente acesso ao pleno sentido. Há uma escritora contemporânea, Susan Sontag, que diz que a nossa existência como que fica sequestrada neste sem fim de interpretações que nos distraem da viagem essencial. Não habitamos em nós próprios, levados por ideias, pontos de vistas, cascas e mais cascas. Segundo ela, o mais urgente seria apurar e aprofundar os nossos sentidos, aprendendo a ver melhor, a sentir melhor, a escutar melhor.

       Na vida espiritual também é isso o mais importante. Simone Weil escrevia que ela é fundamentalmente feita de atenção: «é a orientação para Deus de toda a atenção de que a alma é capaz». Da qualidade da atenção depende em muito a qualidade da vida espiritual.

       Possamos dizer a verdade do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:
«Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio.»
       Os sentidos espirituais abrem-se e maturam no silêncio. Se mergulharmos neles, tornam-se trilhos para o nosso caminho. É esse o conselho que os mestres unanimemente fazem para passarmos da cebola à substanciosa e vital batata. O conselho de Arsénio, um dos Padres do Deserto (eremitas cristãos que fundaram a espiritualidade monacal) soava assim - «Foge. Cala-te. Permanece no recolhimento». Poemen garantia - «Se fores realmente silencioso, em qualquer lugar onde estiveres encontrarás repouso». João Clímaco, na primeira metade do século VII, escreveu: «o amigo do silêncio aproxima-se de Deus, e encontrando-se com Ele em segredo, recebe a sua luz». Isaac de Nínive prescrevia aos que o procuravam: «Ama o silêncio acima de todas as coisas; ele concede-te um fruto que à língua é impossível descrever… Dentro do nosso silêncio nasce alguma coisa que nos atrai ao silêncio. Que Deus te conceda perceber aquilo que nasce do teu silêncio.»

José Tolentino Mendonça, In Diário de Notícias - Madeira (16-01-11)

domingo, 29 de abril de 2012

Catequese - Festa do Pai-nosso

       Retomamos as Festa da Catequese, na paróquia de Tabuaço. A primeira - a do Acolhimento - realizou-se do dia 22 de outubro de 2011, no início deste ano pastoral. 28 de abril de 2012, a Festa do Pai-nosso, com as nossas crianças do 2.º ano de catequese.
       Aqui ficam algumas imagens:

sábado, 28 de abril de 2012

IV Domingo de Páscoa (ano B) - 29 de abril de 2012

       1 – “Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é”.
       Jesus Cristo é a surpresa admirável de Deus. Milagre do amor de Deus para connosco. É a Palavra que Se faz vida, é o sorriso que nos envolve, o abraço que nos embala, é o olhar que nos afaga. Jesus é a Pessoa, de carne e osso, que Deus nos envia. A Sua vida, a Sua história, mistura-se com a nossa vida e com a nossa história, no nosso tempo, ontem como hoje, na Judeia como nas nossas ruas.
       Deu-nos o Filho para n'Ele nos tornarmos filhos e herdeiros, para partilharmos a origem e o destino, a mesma herança, a vida eterna. Trazemos em nós as marcas do Céu, fomos por Ele criados; com Jesus somos assumidos como filhos de Deus e irmãos uns dos outros; quando entrarmos na glória de Deus, conhecer-nos-emos então totalmente, ao vê-l'O, ao sermos vistos por Ele, a nossa existência tornar-se-á luminosa, mais brilhante que o sol, plena de alegria, de felicidade, em comunhão perfeita com o Deus da vida, o Seu olhar redentor refazer-nos-á em perfeição.
       Na vastidão do Céu, todos teremos um lugar especial, no coração de Deus. Sem privilégios, sem máscaras, sem manhosices. Estaremos expostos, como fomos criados, como somos, como vivemos, despidos de todos os trapos que muitas vezes ofuscam a beleza com que Ele nos criou.


       2 – Jesus é o Bom Pastor, o Rosto de Deus Pai e que transparece o Seu amor, a Sua dedicação e devoção à humanidade. Um Pai com amor de Mãe. Respeita a liberdade daqueles que gerou mas como Mãe debruça-se, permanentemente sobre o seu amor maior, a razão maior da sua existência, para que no seu olhar de mãe, olhar de ternura, de paixão, de estímulo, o filho encontre segurança e forças para voltar à vida.
       «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
       Jesus é o “INSTRUMENTO” de salvação, por excelência. Como Bom Pastor – de Deus para a humanidade –, vem habitar o mundo, vem preencher o coração humano com o dinamismo do Espírito Santo, com o Amor de Deus. Dá-Se por inteiro, em palavras, em gestos, no anúncio da boa notícia, no chamamento dos discípulos e das populações, no acolhimento dos mais pobres dos pobres, os pecadores públicos, os ostracizados da sociedade do seu tempo, os publicanos, as pessoas rudes do campo, os trabalhadores, os escravos, os doentes, os aleijados, os idosos, as crianças, as mulheres, os estrangeiros (entre os quais, os samaritanos, vizinhos e da mesma religião judaica, mas considerados impuros por terem misturado o seu sangue com pessoas dos povos invasores, ou com os naturais das nações para onde foram exilados). Ele dará a vida pelas Suas ovelhas, conhece-as pelo nome, sabe das suas necessidades e dos seus sonhos.
       Ele está dentro do aprisco, está no meio, onde se encontra a humanidade, está onde pulsa a vida. Morreu, ressuscitou, e permanece, pelo Espírito Santo, em cada discípulo, na Palavra proclamada, acolhida, celebrada, nos Sacramentos, em todo o bem feito em Seu nome.

       3 – Admirável Pastor, que não parte sem antes assegurar que "as ovelhas" têm novos guias, com o mesmo espírito, a mesma dedicação, a mesma entrega. Aproximando-se a hora da partida para o Pai, prepara um grupo de discípulos/apóstolos, para que mantenham o rebanho em segurança e possam também eles ser instrumentos de salvação e de unidade, "ajuntando" as ovelhas que estão arredadas. Dá-lhes (e a nós também, para este tempo) o Espírito Santo, para que vão, anunciem o reino de Deus, façam discípulos em toda a parte, curando, salvando, provocando a generosidade, a partilha, a comunhão e a caridade sem fim.
       Quando escutamos as narrações dos Atos dos Apóstolos, vemos como um grupo tão pequeno, mas tão “sabido”, tão cheio do Espírito Santo, se torna capaz de ir tão longe, até ao fim do mundo para O dar a conhecer.
       Pedro, uma vez mais, com os outros apóstolos, surge afoito, destemido, dirigindo-se a todos, mesmo aos que os querem calar:
       “Chefes do povo e anciãos, já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e o modo como ele foi curado, ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença. Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que veio a tornar-se pedra angular. E em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”.
       Envolvidos pela certeza inabalável do amor de Deus por nós, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, para sermos, hoje, testemunhas audazes de Jesus Cristo, a pedra angular, transparecendo nos gestos, nas palavras e nas obras a nossa identidade, a nossa filiação divina, a nossa pertença ao Corpo de Cristo que é a Igreja, da qual somos pedras vivas.

Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 4,8-12; 1 Jo 3,1-2; Jo 10,11-18.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Igreja surge da casa...

       Não existe Igreja sem oração comum. O que acontece na casa será decisivo para o futuro da Igreja, determinante para a compreensão do mundo e para a construção de uma história. A Igreja surge da casa. A nova visão do mundo e das relações humanas recebe agora, na casa de Jerusalém, a sua fisionomia essencial...
       Aqui e agora, explica-se o que Jesus pretendia: estender a todos os seus discípulos as relações de família, de confiança, de ternura e de reciprocidade, não geradas pelo sangue ou pela carne, mas por Deus. Início de Igreja, primeira célula, no dom da hospitalidade recíproca.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Casa: onde é possível encontrar Deus nos gestos

       Casa de Nazaré, casa bendita, casa onde se fala ao coração: o amor sob cada silêncio, a esperança sob cada medo, a poesia dos gestos quotidianos, os olhos simples sobre as coisas, o instante que empalidece no eterno e o eterno que germina em cada instante. Casa: onde é possível encontrar Deus nos gestos.
       Casa de trabalho e de repouso: «Em paz me deito e adormeço tranquilo nos braços de Deus» (cf. Sl 3,6; 4,9). Quase um terço da vida nos braços de Deus.
       Casa onde se fala ao coração. Jesus é o mais forte (Mc 1,7), diz João Batista: porque é o único que fala ao coração do homem, que toca o centro do humano. O profeta antigo invocava: «Falai ao coração de Jerusalém» (Is 40,2). Quantas vozes falam à nossa volta: muitos falam aos instintos do homem e fazem ressoar somente as suas cordas mais graves; poucos falam à sua inteligência e ajudam-no a compreender. A voz de Deus é a única que fala ao coração e atinge o centro do homem. Esta é a sua força...

       Naquela casa aprendeu a palavra. Cada menino que nasce, ainda antes de começar a compreender, é alimentado com palavras, cumulado de palavras. De repente, os seus pais falam-lhe e não para lhe fornecer noções. Introduzem-no na vida, levam-no com braços de palavras, introduzem-no no seu amor à força de palavras. Torna-se humano este mar de palavras.
       Isto fará a Palavra de Deus connosco: faz-nos humanos, conduz-nos à vida, introduz-nos naquele amor que é a vida de Deus.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Oração pelas Vocações

Senhor da messe e pastor do rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos
o teu forte e suave convite: “Vem e segue-Me”!
Derrama sobre nós o teu Espírito:
que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir a tua voz.
Senhor, que a messe não se perca por falta de operários.
Desperta as nossas comunidades para a missão.
Ensina a nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino,
na vida consagrada e religiosa.
Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores.
Sustenta a fidelidade dos nossos bispos, padres e ministros.
Dá perseverança aos nossos seminaristas.
Desperta o coração dos nossos jovens
para o ministério pastoral na tua Igreja.
Senhor da messe e pastor do rebanho,
chama-nos para o serviço do teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder “sim”.
Ámen.

Levantou-se uma grande perseguição à Igreja

        "Levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém e todos, à excepção dos Apóstolos, se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grandes lamentações por ele. Saulo, por sua vez, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e metia-os na prisão. Entretanto, os irmãos dispersos andaram de terra em terra, a anunciar a palavra do Evangelho. Foi assim que Filipe, tendo descido a uma cidade da Samaria, começou a anunciar Cristo àquela gente. As multidões aderiam unanimemente às palavras de Filipe, porque ouviam falar dos milagres que fazia e também os viam. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquele cidade" (Atos 8, 1b-8).
       Cedo a perseguição à Igreja se faz sentir. A pregação dos Apóstolos começa por Jerusalém, espalhando-se a partir da cidade santa. A perseguição, contudo, acelera o processo da evangelização para fora da cidade. O que era pontual, passa a ser constante.
       Esta perseguição, que se acentua com o martírio de Estêvão, leva à dispersão dos discípulos, por ora ficam em Jerusalém apenas os Apóstolos. Os irmãos dispersos vão andar de terra em terra a anunciar Jesus Cristo, com alegria, com entusiasmo e com a adesão de muitos à causa do Evangelho.
       A perseguição é um mal, mas também uma oportunidade ara a Boa Nova.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Música cristã: "Sereis minhas testmunhas"

       Música de inspiração bíblica, da autoria do Pe. Marcos Alvim, sacerdote da nossa Diocese de Lamego, e utilizada na dinâmica do Encontro de Reflexão Bíblica, proposta à comunidade paroquial, para o início da noite de 24 de abril, no Centro Paroquial de Tabuaço:

Encontro de Reflexão Bíblica - 24 de abril

DESTINATÁRIOS
todos os paroquianos, os membros dos vários grupos paroquiais: acólitos, leitores, catequistas, conselho económico, jovens, coral, zeladoras, ...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Eu sou assim e os outros que se aguentem...

       ... Uma pessoa diz: «Eu sou assim e os outros que se aguentem, porque não há nada a fazer», está a demitir-se de ser pessoa, a desresponsabilizar-se. E o pior é que muitas vezes pode acrescentar a frase terrível: «E cá sou muito sincero, aquilo que tenho a dizer digo! Não me venham cá com coisas, esteja quem estiver, eu digo o que tenho a dizer!»...
       Há quem lhe chame sinceridade. Mas isso nada tem a ver com sinceridade! Será uma descarga emocional. Será tratar as outras pessoas como se fossem um caixote de lixo. Será dizer o que lhe vem à cabeça. E os outros que se aguentem.
       Ora, insto não é ser sincero! É ser descontrolado, para não dizer malcriado!
       Só sou sincero se atendo à pessoa a quem me dirijo!
       ... E já nem falo das pessoas que, depois de «desbobinar» tudo, declaram: «Mas ao menos disse tudo o que tinha a dizer, ao menos aproveitei a ocasião para...» Isso, então, é inqualificável.... Além de ser um comportamento próprio de adolescentes, é ridículo. Faz lembrar aqueles miúdos que dizem uns aos outros: «Eu sou mais forte do que tu e o meu pai é polícia! Ganhei!» Francamente...

Laurinda Alves e Alberto Brito, sj. Ouvir, Falar, Amar.

sábado, 21 de abril de 2012

3.º Domingo da Páscoa (ano B) - 22 de abril

       1 – "Vós sois as testemunhas de todas estas coisas".
       Vimos e não podemos calar a nossa alegria por encontrarmos Cristo Jesus no meio de nós, vivo, ressuscitado. Ele que dera a Sua vida até ao derramamento de sangue, até à morte cruenta numa cruz, por amor – podia "livrar-se" dos sofrimentos e prosseguir a sua vida comodamente; escolheu amar, em todas as circunstâncias –, está de volta ao mundo dos vivos.
       Amar exige muitas vezes sofrer, gastar as energias a favor de quem se ama, dar-se por inteiro, feliz por premiar o destinatário do amor. Amar pode levar à morte, para da morte livrar o(a) amado(a). Exemplo paradigmático, o da mãe pelo filho, que sofreria e morreria em vez dele, não por querer sofrer ou morrer, mas para salvar o seu amor maior!
       No caminho de Emaús, dois discípulos são surpreendidos por um estranho, que não é assim tão estranho. Jesus vai connosco, percorre os nossos caminhos, envolve-Se nos nossos sonhos e projetos, mas nem sempre O reconhecemos. Há momentos, porém, que é impossível não O ver. Os discípulos reconhecem-n'O ao partir do pão. Vão rapidamente comunicar o sucedido ao grupo dos Apóstolos. 
       Ainda tentavam conter o entusiasmo e já Jesus Se apresenta no meio deles e lhes diz: «A paz esteja convosco». A surpresa é evidente. Jesus questiona: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». De novo a dúvida, a hesitação. Será que estamos acordados, não será um sonho, uma ilusão?
       Para que não haja dúvidas, Jesus come também uma posta de peixe assado – não é um fantasma –, e explica com a Sagrada Escritura: “Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém".


       2 – "Nós somos testemunhas disso".
       A ressurreição e os encontros com o Ressuscitado alteram por completo a vida dos Seus seguidores. Antes, na vida pública de Jesus, na pregação, no anúncio do Evangelho, na passagem de uma a outra povoação, eles são discípulos, frequentam a escola, acompanham-n'O, vão ver onde mora e como mora, aprendem a Sua postura. Com a Sua morte, dá-se um grande vazio e uma enorme incerteza. Mas, três dias depois, eis que Jesus Lhes aparece. E então tudo muda. E, embora não deixem de ser discípulos, agora são Apóstolos, enviados, anunciadores do Evangelho. Então, eles, e agora nós. Ele está vivo e somos nós hoje o Seu olhar, a Sua voz, as Suas mãos, a Sua vida. Somos discípulos e apóstolos, aprendizes e testemunhas.
       O temoroso e hesitante Pedro aparece fortalecido com o Espírito do Ressuscitado, dirigindo-se resolutamente ao povo: «O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, que vós entregastes e negastes… matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-O dos mortos, e nós somos testemunhas disso. Agora, irmãos… arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados».
       A vida não vai parar. É tempo de arrepiar caminho, deixando no passado o que é passado, convertendo-se de todo o coração, para que os pecados sejam perdoados, e se inicie a vida nova de ressuscitados pela água e pelo Espírito Santo, em que fomos enxertados em Cristo Jesus e no Seu Corpo que é a Igreja, no dia do nosso batismo.

       3 – "Vós sois as testemunhas de todas estas coisas".
       Viveram com Jesus durante três anos, aprendendo os Seus gestos, a Sua postura, a Sua forma de estar e de Se relacionar com Deus e com as pessoas, tornaram-se Seus amigos. Passaram bons e maus momentos juntos. Partilharam dificuldades e dissabores, saborearam momentos de grande envolvência. Viram o Seu Mestre aclamado, como Rei. Mas para a morte ninguém está preparado. Também eles não estavam preparados para acompanhar o caminho "descendente" d'Aquele que havia de trazer a glória e o sucesso. Jesus vai ao fundo, morre!
       Mas não será o fim. Levanta-Se do túmulo, cheio de luz, de amor, de VIDA nova. Nem a pesada pedra trava tamanha força, tamanha revolução. Está de novo no meio deles, no meio de nós. E conSigo introduz-nos numa vida nova, dá-nos o Espírito Santo, envia-nos para o mundo, para toda a parte. Hoje somos nós as testemunhas de todas estas coisas, do Seu projeto de amor e salvação, e também nós beneficiários da Sua entrega.
       E agora que nos tornamos filhos e herdeiros em Cristo, é bom que Lhe permaneçamos fiéis para podermos desfrutar da alegria, da graça e do bem que d'Ele recebemos.
       São incisivas as palavras de São João: "Meus filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai... Se alguém guardar a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito". Guardar os mandamentos do Senhor, permanecer na Sua presença, para que em nós transpareça o Seu rosto, para sermos testemunhas credíveis para os nossos coetâneos.

Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 3, 13-15.17-19; 1 Jo 2, 1-5a; Lc 24, 35-48.

7 diáconos, no serviço aos mais necessitados

        Os Doze convocaram a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém que deixemos de pregar a palavra de Deus, para servirmos às mesas. Escolhei entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para lhes confiarmos esse cargo. Quanto a nós, vamos dedicar-nos à oração e ao ministério da palavra». A proposta agradou a toda a assembleia; e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos Apóstolos e estes oraram e impuseram as mãos sobre eles. A palavra de Deus ia-se divulgando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém e também obedecia à fé grande número de sacerdotes (Act 6, 1-7).
        A missão dos Apóstolos é sobretudo a oração e a pregação, o anúncio do Evangelho, que procuram conjugar com a caridade, na ajuda concreta aos órfãos e às viúvas, dois grupos muito frágeis e com muitas necessidades. Mas como o número de seguidores do Evangelho vais aumentando, os Apóstolos deixam de ter disponibilidade (física) para o serviço caritativo.
       É com este propósito que convocam a Igreja (=assembleia), para escolher 7 homens de boa reputação para que se torne mais eficiente o serviço "às mesas". E, desta forma, a comunidade beneficia da pregação e da oração, mas também do serviço concreto aos necessitados. Os Apóstolos corriam o risco de não fazerem bem nem uma coisa nem outra, e de deixarem de atender a muitos...
       Com efeito, então como agora, a diaconia é essencial à vivência do Evangelho.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Memória e consciência!

       É a consciência que define quem somos, como estamos, onde estamos, qual o nosso papel e quais as nossas responsabilidades e habilidades sociais. Representa o centro consciente da personalidade, representa a motivação consciente do homem actuar no mundo e de ser um agente modificador da sua história. Portanto, por ser identidade consciente do homem, o eu nunca se destrói, apenas se transforma. A única coisa que pode levar o eu à destruição é a morte ou a lesão da memória...

A memória não é livre, é automática...

       "Podemos ser livres para ir aonde quisermos, mas não somos livres para decidir o que queremos registar na nossa memória. Se viveu experiências más, elas irão depositar-se nos recantos inconscientes da memória. Se hoje passou por uma angústia, uma situação de medo, uma crise de agressividade, tenha a certeza de que tudo isso está registado na sua memória.
       Cuidar da qualidade daquilo que é registado na nossa memória é mais importante do que cuidar das nossas contas bancárias. Nestas, depositamos dinheiro; naquelas, fazemos os depósitos que financiarão a nossa riqueza emocional".
        "... As crianças têm de ter infância, têm de registar uma história de prazer, criatividade e interacção. Uma criança alegre gerará um adulto com um grande prazer de viver. Uma criança rígida gerará um adulto bloqueado, tímido, inseguro....
       "A memória de uma criança é como uma folha em branco, pronta para ser escrita, embora aos sete anos de idade uma criança já tenha milhões de experiências arquivadas...
       "A memória não pode ser apagada, extinta e nem sequer eliminada, mas sim reeditada".
     

Os Apóstolos saíram do Sinédrio cheios de alegria

       Um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei venerado por todo o povo, ...disse: «Israelitas, tende cuidado com o que ides fazer a estes homens. Há tempos, apareceu Teudas, que dizia ser alguém, e seguiram-no cerca de quatrocentos homens. Ele foi liquidado e todos os seus partidários foram destroçados e reduzidos a nada. Depois dele, nos dias do recenseamento, apareceu Judas, o Galileu, que arrastou o povo atrás de si. Também ele pereceu e todos os seus partidários foram dispersos. Agora vou dar-vos um conselho: Não vos metais com estes homens: deixai-os. Porque se esta iniciativa, ou esta obra, vem dos homens, acabará por si mesma. Mas se vem de Deus, não podereis destruí-la e correis o risco de lutar contra Deus». Eles aceitaram o seu conselho. Chamaram de novo os Apóstolos à sua presença e, depois de os terem mandado açoitar, proibiram-nos falar no nome de Jesus e soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar a boa nova de que Jesus era o Messias (Atos 5, 34-42).
        Os apóstolos cumprem a missão de anunciar Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, em todas as ocasiões, no templo, na sinagoga, em casas particulares. Como em relação a Jesus, também em relação aos discípulos cedo se levanta a perseguição por parte das autoridades do Templo, pelos chefes do povo, se bem que surja sempre alguém a professar a fé em Jesus e depois nos apóstolos, ou pelo menos, a usar de tolerância. Nicodemos, um dos chefes dos judeus, aderiu a Jesus. José de Arimateia não se acomodou e deu a cara por Jesus ao emprestar-lhe o túmulo. Hoje, Gamaliel, convida os seus pares a usar de sabedoria, de bom senso: se a obra for humana morrerá por si mesma, como aconteceu em muitas situações no passado, mas se for de Deus não poderá ser destruída e estarão a lutar contra Deus.
       Ainda que seguindo as palavras de Gamaliel, as autoridades mandam açoitar os Apóstolos e proibem-nos de ensinar.
       Por sua vez, os Apóstolos saem da presença das autoridades cheios de alegria por terem dado testemunho de Jesus na adversidade.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor

       Em 19 de abril de 2005, as primeiras palavras do Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI:

Electricista recusa trabalho em clínica de aborto

Foto de Tim com a sua família

       O jornal The Catholic Spirit da Arquidiocese de Minneapolis, nos Estados Unidos, destacou o testemunho de um eletricista católico que, apesar de estar desempregado desde julho de 2009, rejeitou uma suculenta oferta de trabalho na construção de uma clínica abortista da rede Planned Parenthood.
       Em meados de fevereiro de 2011, Tim Roach, que tem dois filhos pequenos, recebeu uma ligação do sindicato local sobre uma oferta de trabalho. "Não podia chegar em um momento melhor. Os benefícios por desemprego de Tim estão por acabar. Não podia acreditar que estavam oferecendo um trabalho por um prazo de onze meses com um salário anual de 65 000 a 70 000 dólares", contou o electricista ao periódico.
       Tim pensou que o emprego era perfeito mas logo recebeu a má notícia. Tratava-se de uma posição na construção da nova clínica da Planned Parenthood na avenida University da cidade de St. Paul. "Ele (o representante do sindicato) não estava realmente seguro de que iam praticar abortos ali. O rapaz evitou o ponto, acredito, para buscar me atrair e que eu dissesse sim. Mas, me disse a mim mesmo: 'Espere um minuto. É uma da Planned Parenthood'", a maior rede de clínicas abortistas do mundo.
       O eletricista continua desempregado e sem perspectivas imediatas de emprego. Felizmente, sua esposa Nicole, de 37 anos, tem um trabalho a tempo completo em uma escola primária. Embora Tim tenha rejeitado a oferta com prontidão - a conversação telefónica durou apenas um minuto - Nicole tomou mais tempo para acatar sua decisão, sobretudo porque ela dirige o orçamento familiar e se ocupou da tensão financeira do desemprego prolongado de Tim.
       "O primeiro que queria fazer era justificar (aceitar o trabalho)", mas logo percebeu que não era "só uma clínica".
       "Em todo este processo, nossa fé se aprofundou. Sentimo-nos como se isto fosse uma prova para nossa fé. Escolhemos manter nossa fé", afirma Nicole e assegura estar impressionada pela reacção do seu marido. "Ele tem essa formação moral que o faz reconhecer imediatamente que isto não é o correcto", afirma.
       A história de Tim chegou por correio electrónico ao Padre Erik Lundgren, vice-pároco da paróquia Divina Misericórdia, que Tim frequenta, e a incorporou em uma de suas homilias. "Pensei que é um exemplo inspirador para todos em nossa paróquia, sobre o zelo que é necessário que nós os católicos tenhamos no debate pró-vida, na luta pró-vida", afirma o sacerdote.
       "É inspirador para mim como um sacerdote. Aqui, na Divina Misericórdia, as palavras, 'Jesus, confio em ti' escritas na nossa pia batismal, e é disto que se trata tudo isto", acrescentou.
       Conforme afirma The Catholic Spirit, "Tim continua procurando um trabalho. Em última instância, seu objetivo é começar sua própria empresa, mas terá que ganhar e economizar dinheiro para que isto aconteça. Enquanto isso, está disposto a aceitar qualquer trabalho que possa encontrar".
       "Nos últimos seis meses, aprendemos a tomar nossos temores e preocupações e entregá-las a Deus," diz Nicole, sua esposa. "Sentimo-nos orgulhosos de ser católicos e orgulhosos de tomar uma posição contra o aborto", acrescentou.

Invocação do Santo Nome de Jesus

       "Certamente repararão que termos Cristo em nós é sermos Cristo para os outros.
Jesus seja a minha esperança,
Jesus seja a minha alegria
Jesus seja o meu saber
Jesus seja a minha riqueza
e Jesus seja o meu Rei,
Jesus seja a minha felicidade,
e Jesus seja a minha Lei,

Jesus seja o meu desejo,
Jesus seja a minha vontade,
Jesus esteja no meu gosto,
e dentro do meu ouvido,
Jesus viva sempre
no meu entendimento,
Jesus seja o meu desejo,
e o meu contentamento,

Jesus esteja nos meus lábios,
Jesus esteja na minha boca,
Jesus esteja nas minhas mãos,
e em tudo o que eu tocar,
Jesus seja o meu caminho,
Jesus esteja no meu andar,
Jesus seja meu Jesus no dia que me finar.
Autor francês, traduzido por Fr. Filipe OP, Retalhos da Vida de um padre.

Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens

       "O comandante do templo e os guardas trouxeram os Apóstolos e fizeram-nos comparecer diante do Sinédrio. O sumo sacerdote interpelou-os, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Exasperados com esta resposta, decidiram dar-lhes a morte" (Atos 5, 27-33).

        Pedro e os demais Apóstolos começa a ver cumpridas as palavras de Jesus. O discípulo não é mais que o Mestre. Se perseguem o Mestre também perseguirão o discípulo. salvar-se-á quem persistir até ao fim. Contudo uma certeza essencial: Eu venci o mundo, não temais, estarei convosco até ao fim dos tempos.
       Perante a ameaça das autoridades do templo, agora sim, a firmeza de Pedro e dos Apóstolos: "Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens". Esta afirmação contrapõe àquela que Jesus tinha referido a Pedro: pensas mais nas coisas humanas e terrenas do que na vontade do Pai que estás nos céus. Finalmente, com a morte e ressurreição de Jesus, Pedro (e os outros apóstolos) compreende o que Jesus lhe queria dizer. Por vezes o caminho da verdade e do bem exige sacrifícios, podendo mesmo levar à morte.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O amor é evangelho e evangeliza

       «E crescia em graça». Crescer em graça significa espantar-nos, por exemplo, todos os dias com a beleza dos afectos, antigos e novos; espantar-nos pelo facto de alguém nos dizer caro amigo, nos dizer pela manha gosto de ti. Crescer em graça é fazer de cada amor o primeiro lugar de evangelização. O amor é evangelho e evangeliza.
       A vida não avança à força de obrigações e proibições nem imposições, mas pela força de uma paixão e a paixão brota da beleza. Não avança com prodígios inesperados, mas com o milagre de um amor que não se rende. E que torna habitável a terra.
       É a primeira pergunta feita a Jesus, no Evangelho de João: «Senhor, onde moras?» (Jo 1, 38).
       Procuro a tua casa para estar contigo, procuro uma casa onde me sente aos teus pés a escutar as palavras que fazem viver, como Maria de Betânia.
       Procuro a tua morada, porque lá pode viver-se o milagre da tua amizade e o coração recomeça a arder como nos discípulos de Emaús.
       Procuro a tua casa, o lugar onde as vidas se fundem e entram uma na outra, onde acontecem as coisas decisivas.
       Procuro um lugar onde tudo fale de ti. E não procuro milagres, somente ver-te viver e aprender de ti a relação exacta com o mundo e com a vida.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

Aniversário natalício de D. António Couto, bispo de Lamego

       O nosso bispo completa hoje 60 anos de idade. Feliz aniversário e votos de saúde e paz, e um pontificado, à frente da Diocese de Lamego, profícuo. Muitos parabéns e que Deus seja o Seu norte.
Data Nascimento: 18 de abril de 1952. 
Naturalidade: Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses, Porto 
Ordenação Sacerdotal: 3 de dezembro de 1980, em Cucujães. 
Nomeação episcopal: 6 de julho de 2007, para Bispo Auxiliar de Braga.Ordenação Episcopal: 23 de setembro de 2007, no Seminário das Missões, Cucujães, Oliveira de Azeméis.
Nomeação para Bispo de Lamego: 19 de novembro de 2011.
Entrada solene e tomada de posse na Diocese de Lamego: 29 de janeiro de 2012.

Veja a biografia mais detalhada de D. ANTÓNIO COUTO, aqui.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Van THUAN - Cinco pães e dois peixes

Francisco Xavier Nguyen Va Thuan, Cinco pães e dois peixes. Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho de fé. Prior Velho. Paulinas 2009.
O AUTOR:
        "Chamo-me Francisco Nguyen Van Thuan e sou vietnamita. Durante oito anos fui bispo de Nhatrang, no Centro do Vietname. Depois, Paulo VI nomeou-me arcebispo-coadjutor de Saigão. Quando os comunistas chegaram a Saigão, disseram-me que a minha nomeação era fruto de um complô e, três meses depois, prenderam-me. Foi a 15 de agosto de 1975, solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria".

O LIVRO:
       "Liberto, após treze anos de cativeiro, quero compartilhar convosco as minhas experiências: como encontrei Jesus em cada momento da minha experiência quotidiana, no discernimento entre Deus e as suas obras, na oração, na Eucaristia, nos meus irmãos e irmãs, na Virgem Maria, oferecendo-vos deste modo, também eu, e à maneira de Jesus, cinco pães e dois peixes".

       O autor parte do Evangelho de São João (6, 5-11), do episódio em que Jesus, os discípulos e a multidão se encontram juntos, numa hora mais adiantada, aproximando-se a hora de uma refeição para se aguentarem. Diante das questões, André diz a Jesus que há um miúdo com 5 pães e 2 peixes... Jesus pega nos pães e nos peixes, reza, abençoa e distribui-os pela multidão e todos ficam saciados.
Também Van Thuan compartilha 5 pães e 2 peixes:

1.º PÃO - Viver o momento presente.
       "Se passo o meu tempo a esperar, talvez as coisas que espero não aconteçam nunca. A única coisa que certamente acontecerá é a morte". Preso a 15 de agosto de 1975, pouco depois lembra-se de fazer como São Paulo, escrever àqueles que lhe tinham confiado. Em mês e meio, escreve 1001 mensagens, em pequenos blocos de calendário que uma criança de 7 anos traz e leva para copiar. O livro - CAMINHO DE ESPERANÇA - está publicado em várias línguas: italiano, português, francês, inglês, alemão, espanhol, coreano, chinês...
       "Penso que devo viver cada dia como o último da minha vida. Deixar tudo o que é acessório, concentrar-me no essencial. Cada palavra, cada gesto, cada telefonema, cada decisão é a coisa mais bela de minha vida. Reservo a todos o meu amor, o meu sorriso; tenho medo de perder um segundo, vivendo sem sentido..."

2.º PÃO - Discernir entre Deus e as obras de Deus.
       Deus e só Deus. As obras de Deus, que fazia enquanto sacerdote e bispo, livre, podem ser confiadas a outros, por ora importa viver e alimentar do amor a Deus. Só Deus basta.

3.º PÃO - Um ponto firme, a Oração.
       "Não é assim tão simples como podeis pensar... Ali houve dias em que, reduzido ao maior cansaço, à doença, não consegui rezar uma única oração!"

4.º PÃO - Minha única força, a Eucaristia.
       "Nunca poderei exprimir a minha grande alegria: todos os dias, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebro a minha Missa... Fabricávamos saquinhos com o papel dos maços de cigarros, para conservar o Santíssimo Sacramento. Jesus eucarístico estava sempre comigo no bolso da camisa... Até budistas e outros não cristãos se converteram. A força do amor de Jesus é irresistível. A obscuridade do cárcere ilumina-se, a semente germinou da terra durante a tempestade... celebro missa todos os dias às três horas da tarde: a hora de Jesus agonizante na cruz... são as mais belas missas da minha vida... À noite, entre as 21 e 22 horas, faço uma hora de adoração, canto..."

5.º PÃO - Amar até à unidade, o Testamento de Jesus.
       "... só o amor cristão pode mudar os corações, nem as armas, nem as ameaças, nem os media.
       ...O maior erro é não reparar que os outros são também Cristo. Há pessoas que só vão descobrir isso no último dia... A caridade não tem fronteiras. Se há fronteiras não existe mais caridade".

Primeiro PEIXE - Maria Imaculada, meu primeiro amor.
       Preso a 15 de agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora. A estudar em Roma, desloca-se a França e na gruta de Nossa Senhora de Lurdes, ressoam nos seus ouvidos as palavras de Nossa Senhora a santa Bernardette: "não te prometo alegrias e consolações nesta terra, mas provações e sofrimentos"... Até ao dia em que foi preso, experimentou alegrias e consolações, as provações e sofrimentos vieram com a prisão e com o isolamento.
       "Mãe, se vês que já não poderei ser útil à Igreja, concede-me a graça de terminar a minha vida na prisão. Mas se tu, ao invés, sabes que poderei ainda ser útil à tua Igreja, concede-me sair da prisão no dia de uma festa tua". Foi libertado no dia 21 de novembro de 1988, mais de treze anos depois de ter sido feito prisioneiro. Era a Festa da Apresentação de Nossa Senhora. "Para mim, Maria é como um Evangelho vivo, maneiro, de grande difusão, mais acessível que a vida dos santos".

Segundo PEIXE - Escolhi Jesus.
       "Se vivermos vinte e quatro horas radicalmente por Jesus, seremos santos. São vinte e quatro estrelas que iluminam o teu caminho...:
  1. Queres fazer uma renovação: renovar o mundo... dia após dia, prepara um novo Pentecostes no lugar onde vives.
  2. Empenha-te numa campanha que tem por objetivo: tornar todos felizes.
  3. Mantém-te fiel ao ideal do apóstolo: dar a vida pelos irmãos.
  4. Grita um único slogan: «Todos um». Unidade.
  5. Tu acreditas numa única força: a Eucaristia.
  6. Veste um único uniforme e fala uma única língua: a caridade. A caridade é sinal de que tu és discípulo do Senhor.
  7. Atém-te firmemente a um único princípio orientador: a oração.
  8. Observa uma única regra: o Evangelho.
  9. Segue lealmente um único chefe: Jesus Cristo e os seus representantes: o Santo Padre, os bispos, sucessores dos Apóstolos.
  10. Cultiva um amor especial por Maria.
  11. A tua única sabedoria será a ciência da cruz. Olha para a cruz e encontrarás a solução para todos os problemas que te assaltam. Se a cruz é o critério sobre o qual baseias as tuas escolhas e as tuas decisões, a tua alma estará em paz. Na prisão fez uma tosca cruz e madeira e com um fio elétrico, que solicitou a um guarda, fez pequenos aros, para formar um fio, onde colocou a CRUZ, que passou a ser a sua cruz peitoral, mesmo depois de sair do cativeiro, foi-lhe acrescentado o revestimento em metal...
  12. Conserva um único ideal: estar voltado para Deus pai, um Pai que é todo amor.
  13. Há um único mal que tu deves temer: o pecado.
  14. Cultiva um único desejo: «Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade assim na terra como no Céu» (Mt 6,10).
  15. Falta-te uma única coisa: «Vai, vende o que tens, e dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-Me» (Mc 10,21).
  16. No teu apostolado, usa o único método eficaz: o contacto pessoal. Com ele, entra na vida dos outros, aprendendo a compreendê-los a amá-los.. coração a coração!
  17. Há uma única coisa verdadeiramente importante: «Maria escolheu a melhor parte», quando se sentou aos pés do Senhor (cf. Lc 10, 41-42).
  18. O teu único alimento: «A vontade do pai» (Jo 4, 34). É com ela que deves viver e crescer, fazendo as tuas ações proceder da vontade de Deus. Ela é como um alimento que te faz viver, tornando-te mais forte e mais feliz. Se vives afastado da vontade de Deus, morrerás.
  19. Para ti, o momento mais belo é o momento presente (cf. Mt 6, 34; Tg 4, 13-15). Vive-o plenamente no amor a Deus.
  20. Tens uma «magna carta»: as bem-aventuranças (Mt 5, 3-12).
  21. Há um único objetivo importante: o teu dever. Não importa se é pequeno ou grande, porque tu colaboras na obra do Pai celeste.
  22. Há uma única maneira de nos tornarmos santos: pela graça de Deus e pela tua vontade (cf. 1Cor 15, 10). Deus nunca deixará que te falte a Sua graça: mas a tua vontade é bastante forte?
  23. Uma só recompensa: o próprio DEUS.
  24. Tu tens uma Pátria. Ajuda a tua pátria com toda a tua alma. Sê fiel a ela. Defende-a com o teu corpo e com o teu sangue. Constrói-a com o teu coração e a tua mente. Partilha a alegria dos teus irmãos e a tristeza do teu povo.
       Este livrinho, pequeno mas intenso, integram uma coleção das Paulinas, horizontes de Luz, da qual recomendamos também outras leituras já realizadas em dias anteriores:
  • Enzo Bianchi, Jesus de Nazaré. Paixão, morte e ressurreição. Prior Velho 2011.
  • Raniero Cantalamessa, Páscoa. Uma passagem para aquilo que não passa. Prior Velho 2006.
  • Bruno Forte, As quatro noites da salvação. Prior Velho 2009.
       Acrescente-se ainda que D. Van Thuan morreu, em Roma, em 16 de setembro de 2002. Passados  5 anos da sua morte, foi iniciado o processo de beatificação, para o reconhecimento público e oficial da Igreja acerca das suas virtudes heróicas.

Não havia entre eles qualquer necessitado

       A Igreja existe depois e por causa da Ressurreição de Jesus Cristo. A experiência de encontro com Jesus ressuscitado forma uma comunidade viva, dinâmica, testemunhando a alegria de saber que Cristo está no seu meio.
       O modelo das comunidades de Jesus Cristo, comunidades cristãs é-nos apresentado no início do livro dos Atos dos Apóstolos:
A multidão dos haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém considerava seu o que lhe lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de muita simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos, e distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade. José, um levita natural de Chipre, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé – que quer dizer «Filho da Consolação» – possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o dinheiro, que depositou aos pés dos Apóstolos (Atos 4, 32-37)
       Salienta-se a união, a partilha, a comunhão de vida e de bens, não há necessitados, são assíduos à oração, à escuta da Palavra de Deus, à pregação dos Apóstolos e à fração do pão (à Eucaristia).

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Do sucesso e da vida...

"O sucesso não é ser-se continuamente feliz, mas construir a felicidade com as coisas simples da vida. O Mestre dos Mestres da escola da vida, Jesus, apesar de ser Alguém poderoso e famoso, ainda arranjava tempo para contemplar atenta e embevecidamente os lírios do campo".

Todos somos aprendizes da vida!

       "Não há gigantes no território da emoção. Todos somos aprendizes na escola da vida, quer sejamos psiquiatras quer sejamos pacientes. Se o eu aprender a intervir com lucidez, crítica e determinação nos pensamentos e emoções tensas e negativas, ele pode geri-los, controlá-los e, consequentemente, reescrevê-los".

Aniversário natalício de BENTO XVI

       Quando foi eleito Papa, aos 78 anos, muitos se interrogaram se Ratzinger daria conta do recado.
       Bento XVI faz hoje 85 anos. Nasceu a 16 de Abril de 1927 e celebra mais um aniversário com uma festa discreta. Mas esta semana é de festa, pois na quinta-feira o Papa completa sete anos de pontificado.
       Quando Ratzinger foi eleito Papa, muitos se interrogaram se aos 78 anos daria conta do recado; se teria energia e saúde suficientes para tão grande missão.
       “Claro que não” – respondeu na altura o seu próprio irmão. Agora, aos 85 anos de idade e sete anos de pontificado, Bento XVI já cumpriu 23 viagens internacionais fora de Itália.
       Desde que é Papa, Joseph Ratzinger presidiu a quatro sínodos dos bispos, a três Jornadas Mundiais da Juventude, escreveu dois livros, três Encíclicas e três exortações apostólicas; proclamou ainda o Ano Paulino e o Ano Sacerdotal, enfrentou com determinação e humildade várias crises, com orientações inequívocas sobre abusos sexuais, sobre protestos internos na Igreja e alertas para a falta de conversão, para os riscos do relativismo e do afastamento de Deus da vida do homem e da sociedade.
       E muito mais se poderia continuar a dizer... O certo é que Bento XVI tem uma regra de vida, como o seu irmão já confidenciou: “Joseph, ao longo da vida, sempre optou primeiro por cumprir a vontade de Deus e depois empenhou-se com todo o coração em segui-lo, por onde Deus o quisesse levar”. 
       Discreto como é sempre, será muito provavelmente com o seu irmão, os secretários e as leigas consagradas que vivem no Apartamento Pontifício que o Papa vai festejar hoje mais um ano de vida.

Notícia: RR

sábado, 14 de abril de 2012

Domingo da Divina Misericórdia (2.º de Páscoa)

       1 – "Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»".


       Ficará para sempre a confissão de fé de Tomé: "Meu Senhor e Meu Deus". Diante de Jesus ressuscitado não são necessárias muitas palavras. A experiência de encontro é tão forte e sublime que leva à contemplação, ao êxtase. Com Tomé, também nós rezamos, repetimos (em silêncio), professamos a nossa fé, num dos momentos mais extraordinários, o mistério da fé por excelência, o da CONSAGRAÇÃO, quando o Pão e o Vinho dão lugar à pessoa de Jesus Cristo, PÃO divino, o lugar à adoração. Somos privilegiados, não O vimos fisicamente, mas participámos deste milagre maior: "felizes os que acreditam sem terem visto".
       A cada passo evocamos a memória do apóstolo: crer como Tomé, ver para crer. A dúvida do Apóstolo é compreensível, uma vez que a RESSURREIÇÃO é um acontecimento inaudito, novo, extraordinário, que sai fora do humanamente expectável. Veja-se o caso dos discípulos de Emaús (evangelho de são Lucas), que tendo ouvido dizer que Ele ressuscitara, pois as mulheres encontraram o túmulo vazio (como podem constatar também alguns discípulos) e apareceram-lhes uns anjos, estão tristes, ainda não acreditam, até Jesus Se manifestar na fração do pão. Do mesmo jeito, o demais apóstolos, acreditam porque veem, e não porque outros o testemunharam.
       "Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos»".
       Também a eles Jesus mostra o lado e as mãos, repetindo a saudação, para que não restem dúvidas que estão perante o Mestre dos Mestres.

       2 – A ressurreição de Jesus Cristo revoluciona a história da humanidade. E, nesta perspetiva, é um acontecimento histórico. Nada será como dantes. Não só divide a história ao meio, o antes e o depois de Cristo (a era cristã inicia-se na referência ao nascimento de Jesus, mas este só é reconhecido a partir da Páscoa, e dos encontros com o Ressuscitado, de contrário Jesus seria mais um profeta caído em desgraça e esquecido), como influencia (continua a influenciar) a cultura, a sociedade, a política, a economia, a religião. É uma revolução a partir do interior do homem, mas efetiva, que se espalha de Jerusalém para o mundo inteiro, ou pelo menos para meio mundo, e cuja perseguição não só não desmobiliza mas apressa a evangelização. Expulsos de casa, expulsos da cidade, levam Cristo para outras casas e cidades.
       A casa do medo há de incendiar-se com a alegria do Ressuscitado. A vida nova invade toda a casa, como quando os raios de sol, num alegre dia de primavera, inundam todos os compartimentos com uma claridade tal que o olhar tem de se apurar (para resistir!).
       É em casa que a vida acontece. E é à volta de uma mesa que se solidificam e estreitam os laços que unem e caraterizam a família. Na última das Ceias encontram-se lá todos. O ambiente é de festa, mas cedo fica carregado com o anúncio de Jesus. É um testamento. Vai partir. Não mais se sentará à mesa com os seus, a não ser noutra Páscoa. A família aprende a superar as dificuldades. A casa começa a desmoronar-se quando alguém se levanta da mesa e abandona a casa. É o que acontece com Judas. Não voltará a entrar em casa, a sentar-se à mesa com os companheiros e com o Mestre, não voltará à convivência com os amigos. Nem tudo estava perdido. Pedro volta. Os outros discípulos hão de voltar também.
       c É em casa que os discípulos se fecham e se apoiam uns aos outros, lamentando o sucedido, as portas e as janelas estão fechadas. A luz espreita pelas frinchas. Reina o medo e a tristeza. Jesus vem e coloca-se no meio deles. A casa ganha nova vida. Jesus ilumina toda a casa. Melhor, inunda de alegria os seus discípulos. Passa a ser casa de esperança, de festa, arejada com a presença do Ressuscitado, o cheiro a mofo desaparece rapidamente. Abrem-se as portas. Começa a revolução. A partir de dentro. A partir de casa.
       A casa não é apenas o espaço físico, a habitação, é o outro, a casa são as pessoas que a constituem. Quando alguém regressa a casa, um filho desavindo, um pai ou uma mãe fora em trabalho, uma filha que estivera longo tempo hospitalizada, surge vida nova. O regresso de Jesus a casa, à convivência dos seus, provoca nova vida. "Família e nova evangelização", é a temática proposta para o ano pastoral a decorrer na Diocese de Lamego. Nada mais incisivo: é a partir de casa, da família, que a evangelização há efetivar a adesão firme a Jesus Cristo, mudança no coração, para mudar o mundo.

       3 – A comunidade inicia em casa a verdadeira ressurreição, vida nova. Abrem-se as portas para o mundo. Os discípulos fizeram um longo caminho. Deus caminhou com eles. Jesus fez-Se casa para eles. É a LUZ da ressurreição que finalmente lhes abre o entendimento.
       Há vida nova. Jesus está de volta. Os discípulos saem da letargia em que tinham caído com a Sua morte. E com eles se faz a primeira comunidade cristã, que vai aumentando de dia para dia.
       O acontecimento – Ressurreição de Jesus – dá origem a uma postura nova, que assume e espelha a postura de Jesus Cristo e responde ao Seu mandato de amor e de comunhão.
       "A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade".
       Eis o modo como as primeiras comunidades assumem viver e anunciar a Ressurreição em Cristo Jesus. Continuam a ser modelo para as comunidades do nosso tempo.

       4 – Hoje como ontem, não estamos sós. E não devemos estar sós, se Deus nos criou para vivermos uns com os outros e uns para os outros, em comunidade, ajudando-nos como irmãos, vivendo com os outros como em família, como em casa, protegendo, dialogando, partilhando, comendo do mesmo pão, alimentando-nos da mesma vida, da mesma vontade de viver, acolhendo e acolchoando as dores uns dos outros, solidificando a confiança e a segurança.
       Deus amou-nos primeiro. Enviou-nos o Seu Filho. Ama-nos, em todos os momentos da nossa vida. A referência para nos amarmos como irmãos é o amor de Deus. E amamos a Deus sempre que seguimos o Seu projeto de amor, de vida nova, de reconciliação e de paz.
       "Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade".

Textos para a Eucaristia (ano B): Act 4,32-35; 1 Jo 5,1-6; Jo 20,19-31.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A páscoa de Maria: maternidade ferida e ressurgente


       «A tua vocação - que, desde o princípio, é maternidade, ou seja, deve proteger, guardar e fazer reflorir a vida - tem de prevalecer sobre a tua dor». Toda a Bíblia assegura que, no encontro, entre o amor e a morte, o amor não sucumbe, que «forte como a morte é o amor e nem as águas caudalosas podem apagá-lo» (cf. Ct 8,6-7).
       Em nome da maternidade, Maria é ajudada a depor aquela dor que gostaria fosse totalizante e a passar a um novo filho, a um novo amor. Esta é a páscoa de Maria: maternidade ferida e ressurgente. Ferida e multiplicada.
       Quando tudo morre, quando tudo escurece no Golgotá, Jesus pronuncia palavras de vida. Diz «mãe», diz «filho». Diz geração e afeto, e vida que recomeça a correr. É sinal da esperança de Jesus: desesperado é quem já vê o triunfo da morte. Cristo não vê outra coisa, vê uma mãe e um filho, pede a um homem e a uma mulher que reatem o fio quebrado da vida. A morte não vencerá, não para sempre.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Maria é a mulher do terceiro dia...

       A perseverança dá medo. O «para sempre» mete medo.
       Muitos são capazes de ser heróis por uma hora, heróis por acaso; mas sê-lo dia-a-dia, calvário após calvário, espera após espera, só poucos conseguem, sem se sentirem despedaçados, sem interrupções, fielmente.
       É o «para sempre» que nos faz perceber a nossa inadequação.
       Maria é a mulher da perseverança...
       É perseverante na fé extrema ao pé da cruz (Jo 19, 25) e nos três dias do grande silêncio em que Cristo está no sepulcro. Ela, a mulher do terceiro dia.
       Perseverante na oração com os discípulos à espera do Pentecostes.
       Hoje, na cultura do imediato, dos encontros imediatos, dos resultados repentinos, em que já não se sabe investir a longo prazo, porque já não há esperança, Maria volta a chamar-nos para a humilde virtude camponesa da perseverança: no tempo do Inverno, durmas ou estejas acordado, o grão de trigo germina sob a terra.
ERMES RONCHI, As casas de Maria

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tabuaço - Semana Santa 2012

       A Páscoa continua. A Quaresma conduz-nos a um novo começo, ou ao começo por excelência, à vida nova que Jesus Cristo nos traz pela Sua ressurreição. O túmulo está vazio. É tempo, agora, de O procurar onde Se pode encontrar, em casa, no coração, no mundo, na oração, na escuta da Palavra, e essencialmente nos Sacramentos, que se prolongam no compromisso quotidiano com as pessoas que nos rodeiam.
       Porém, para que a Páscoa seja mais efetiva, importa não esquecer a travessia, o que nos conduziu à celebração festiva da Ressurreição. Fizemos quaresma, celebrámos a Semana Maior da nossa fé, envolvemo-nos na festa. A Semana Santa é (deve ser) aglutinadora da vivência da comunidade crente. Aqui ficam alguns recortes, em imagens, em formato de vídeo, desta Semana Santa, deste ano da graça de 2012, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição:

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pinheiros - Eucaristia e visita pascal (2)

       A celebração da Páscoa é sempre motivo de festa, de convívio, de encontro em família. Também de recordar os que já partiram e continuam a fazer parte da família e da comunidade. E também lembrança dos que estão longe, doentes ou em trabalho. A visita pascal, na paróquia de Pinheiros, é à segunda feira de Páscoa. Aqui ficam algumas das imagens, em formato de vídeo, deste dia de festa e de fé...