quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

São João Bosco, Presbítero

       Nasceu perto de Turim, na Itália, em 1815. Muito cedo conheceu o que significava a palavra sofrimento, pois perdeu o pai tendo apenas 2 anos. Sofreu incompreensões por causa de um irmão muito violento que teve. Dom Bosco quis ser sacerdote, mas sua mãe o alertava: “Se você quer ser padre para ser rico, eu não vou visitá-lo, porque nasci na pobreza e quero morrer nela”.
       Logo, Dom Bosco foi crescendo diante do testemunho de sua mãe Margarida, uma mulher de oração e discernimento. Ele teve que sair muito cedo de casa, mas aquele seu desejo de ser padre o acompanhou. Com 26 anos de idade, ele recebeu a graça da ordenação sacerdotal. Um homem carismático, Dom Bosco sofreu. Desde cedo, ele foi visitado por sonhos proféticos que só vieram a se realizar ao longo dos anos. Um homem sensível, de caridade com os jovens, se fez tudo para todos. Dom Bosco foi ao encontro da necessidade e da realidade daqueles jovens que não tinham onde viver, necessitavam de uma nova evangelização, de acolhimento. Um sacerdote corajoso, mas muito incompreendido. Foi chamado de louco por muitos devido à sua ousadia e à sua docilidade ao Divino Espírito Santo.
       Dom Bosco, criador dos oratórios. Catequeses e orientações profissionais foram surgindo para os jovens. Enfim, Dom Bosco era um homem voltado para o céu e, por isso, enraizado com o sofrimento humano, especialmente, dos jovens. Grande devoto da Santíssima Virgem Auxiliadora, foi um homem de trabalho e oração. Exemplo para os jovens, foi pai e mestre, como encontramos citado na liturgia de hoje. São João Bosco foi modelo, mas também soube observar tantos outros exemplos. Fundou a Congregação dos Salesianos dedicada à proteção de São Francisco de Sales, que foi o santo da mansidão. Isso que Dom Bosco foi também para aqueles jovens e para muitos, inclusive aqueles que não o compreendiam.
       Para a Canção Nova, para a Igreja e para todos nós, é um grande intercessor, porque viveu a intimidade com Nosso Senhor. Homem orante, de um trabalho santificado, em tudo viveu a inspiração de Deus. Deixou uma grande família, um grande exemplo de como viver na graça, fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo.
       Em 31 de janeiro de 1888, tendo-se desgastado por amor a Deus e pela salvação das almas, ele partiu. Mas está conosco no seu testemunho e na sua intercessão.

Oração de colecta:
       Ó Deus, que suscitastes são João Bosco para educador e pai dos adolescentes, fazei que, inflamados da mesma caridade, procuremos a salvação de nossos irmãos, colocando-nos inteiramente ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Das Cartas de São João Bosco, presbítero
(Epistolario, Torino 1959. 4, 201-203) (Sec. XIX)

Como Jesus, manso e humilde de coração

Antes de mais, se queremos ser amigos do verdadeiro bem dos nossos alunos e encaminhá-los para o cumprimento dos seus deveres, é necessário que nunca vos esqueçais de que sois representantes dos pais desta querida juventude, esta juventude que foi sempre o terno objecto das minhas preocupações, dos meus estudos, do meu ministério sacerdotal e da nossa Congregação Salesiana.
Quantas vezes, meus queridos filhos, na minha longa carreira, me tive de convencer desta grande verdade: é mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que persuadi-la; direi mesmo que é mais cómodo, para a nossa impaciência e para a nossa soberba, castigar os recalcitrantes do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e benignidade.
A caridade que vos recomendo é aquela de que usava São Paulo com os recém-convertidos e que muitas vezes o fez chorar e suplicar quando os encontrava menos dóceis e menos dispostos a corresponder ao seu zelo.
Tende cuidado que ninguém possa julgar que procedeis movidos pelo ímpeto da emoção repentina. Dificilmente quem castiga é capaz de conservar aquela calma que é necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou desafogar o nosso mau humor.
Olhemos como filhos nossos para aqueles sobre os quais exercemos alguma autoridade. Ponhamo-nos ao seu serviço como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens, envergonhando-nos de tudo o que nos possa dar a aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, há-de ser apenas para os servir melhor.
Assim fazia Jesus com os seus Apóstolos, tolerando-os na sua ignorância e rudeza, e inclusivamente na sua pouca fidelidade; era tal a familiaridade e afeição com que tratava os pecadores que a alguns causava espanto, a outros escândalo, e em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus; por isso nos ordenou que aprendêssemos d’Ele a ser mansos e humildes de coração.
Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda a cólera quando devemos censurar as suas falhas, ou ao menos moderemo-la de tal modo que pareça totalmente dominada.
Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; mas tenhamos compaixão no presente e esperança no futuro: então seremos verdadeiros pais e conseguiremos uma verdadeira correcção.
Em certos momentos muito graves ajuda mais uma recomendação a Deus, um acto de humildade perante Ele, do que uma tempestade de palavras, que só fazem mal a quem as ouve e de nenhum proveito servem para quem as merece.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Saiu o semeador a semear...

       Naquele tempo, Jesus começou a ensinar de novo à beira mar. Veio reunir-se junto d’Ele tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava em terra, junto ao mar. Ensinou-lhes então muitas coisas em parábolas. E dizia-lhes no Seu ensino: "Saiu o semeador a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; vieram as aves e comeram-na. Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; logo brotou, porque a terra não era funda. Mas, quando o sol nasceu, queimou-se e, como não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre espinhos; os espinhos cresceram e sufocaram-na e não deu fruto. Outras sementes caíram em boa terra e começaram a dar fruto, que vingou e cresceu, produzindo trinta, sessenta e cem por um".
       E Jesus acrescentava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça». Quando ficou só, os que O seguiam e os Doze começaram a interrogá-l’O acerca das parábolas. Jesus respondeu-lhes: «A vós foi dado a conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes propõe em parábolas, para que, ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam; senão, convertiam-se e seriam perdoados». Disse-lhes ainda: «Se não compreendeis esta parábola, como haveis de compreender as outras parábolas? O semeador semeia a palavra. Os que estão à beira do caminho, onde a palavra foi semeada, são aqueles que a ouvem, mas logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles. Os que recebem a semente em terreno pedregoso são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria; mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbem imediatamente. Outros há que recebem a semente entre espinhos. Esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e todas as outras ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica sem dar fruto. E os que receberam a palavra em boa terra são aqueles que ouvem a palavra, a aceitam e frutificam, dando trinta, sessenta ou cem por um» (Mc 4, 1-20).
       Jesus desenvolve o seu ministério na pregação do Evangelho de Deus, acompanhando com gestos concretos, com milagres, com exorcismos, com a sua postura na relação com todos os que chama e/ou encontra. A parábola do Semeador fala do Seu ministério - o próprio Jesus explica o seu significado -, é Ele o Semeador que espalha a palavra. A semente é a palavra. O terreno é cada um de nós, que a acolhe de diferentes maneiras... umas vezes somos terra fértil, outras somos terra árida onde a palavra de Deus não penetra...

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão...

       Chegaram à casa onde estava Jesus, sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?» E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe» (Mc 3, 31-35).
       A passagem do Evangelho que hoje nos é proposta mostra a prevalência da vontade de Deus como referencial que no liga a Deus e uns aos outros.
       Aos familiares de Jesus, Mãe e irmãos (= primos carnais) chega uma preocupação que se espalha pela povoação, fruto de algum boato ou comentário maldoso. Naquele como neste tempo, rapidamente se espalham as insinuações e/ou boatos, muito mais um cancro pelo corpo.
       Maria, atenta e vigilante, corre ao encontro do Filho. Confia n'Ele mas o que lhe dizem deixa-a incomodada. Logo vai ter com Jesus para ver o que se passa e trazê-l'O de volta a casa se se confiormarem os boatos, os mal-dizeres.
Jesus rodeado de pessoas, é alertado para a presença de Sua Mãe e Seus parentes, respondendo com clareza: Mãe e irmãos são os que escutam a Palavra, os que fizerem a vontade de Deus. Inclui a Mãe e os parentes, consideranddo-nos da Sua família, com a única condiação de fazermos a vontade Deus. Pertencer à família de Jesus está ao alcance da nossa vontade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

São Tomás de Aquino, Presbítero e Doutor da Igreja

Nota Biográfica:
       Nasceu cerca do ano 1225, na família dos Condes de Aquino. Estudou primeiramente no mosteiro do Monte Cassino e depois em Nápoles. Entrou na Ordem dos Pregadores e completou os seus estudos em Paris e em Colónia, tendo tido como professor S. Alberto Magno. Escreveu muitas obras de grande erudição e exerceu o professorado, contribuindo notavelmente para o progresso da Filosofia e da Teologia. Morreu perto de Terracina no dia 7 de Março de 1274. A sua memória celebra-se a 28 de Janeiro, dia em que o seu corpo foi trasladado para Tolosa, no ano 1369.
Oração:
       Senhor nosso Deus, que fizestes de São Tomás de Aquino um exemplo admirável de santidade e de amor às ciências sagradas, dai-nos a graça de compreender os seus ensinamentos e de imitar a sua vida. Por Nosso Senhor...

Curiosidade:
       Conta-se que um dia um monge foi ter com São Tomás de Aquino e disse-lhe que andava um boi a voar. O santo levantou-se e foi à janela para ver tal fenómeno. O colega monge começou a rir-se por ele ter acreditado em algo tão surpreendente. São Tomás respondeu-lhe: é mais fácil ver um burro a voar que um monge a mentir...
Dos Comentários de São Tomás de Aquino, presbítero
(Collatio 6 super Credo in Deum) (Sec. XIII)

A cruz, exemplo de todas as virtudes

Que necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla: para remédio contra o pecado e para exemplo do que devemos fazer.
Foi em primeiro lugar um remédio, porque na paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males em que incorremos por causa dos nossos pecados.
Mas não é menor a utilidade que tem como exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar toda a nossa vida. Quem quiser viver em perfeição, basta que despreze o que Cristo desprezou na cruz e deseje o que Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude está ausente da cruz.
Se queres um exemplo de caridade: Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos seus amigos. Assim fez Cristo na cruz. E se Ele deu a vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por Ele.
Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente. Reconhece-se uma grande paciência em duas circunstâncias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora Cristo suportou na cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque sofrendo não ameaçava; e como ovelha levada ao matadouro, não abriu a boca. É grande portanto a paciência de Cristo na cruz: corramos com paciência a prova que nos é proposta, pondo os olhos em Jesus, autor e consumador da fé, que em lugar da alegria que lhe era proposta suportou a cruz, desprezando-lhe a ignomínia.
Se queres um exemplo de humildade, olha para o crucifixo: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer.
Se procuras um exemplo de obediência, segue Aquele que Se fez obediente ao Pai até à morte: assim como pela desobediência de um só, isto é, Adão, muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um só muitos serão justificados.
Se queres um exemplo de desprezo pelas honras da terra, segue Aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual se encontram todos os tesouros de sabedoria e de ciência e que na cruz está despojado dos seus vestidos, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e dessedentado com fel e vinagre.
Não te preocupes com trajes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes; nem com as honras, porque troçaram de Mim e Me bateram; nem com as dignidades, porque teceram uma coroa de espinhos e puseram-Ma sobre a cabeça; nem com os prazeres, porque para a minha sede Me deram vinagre.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Domingo III o Tempo Comum - ano C - 27/01/2019

São Timóteo e São Tito, Bispos

Nota Biográfica:
       Timóteo e Tito, discípulos e colaboradores do apóstolo Paulo, presidiram às Igrejas de Éfeso e de Creta, respectivamente. A eles foram dirigidos as Epístolas chamadas «Pastorais», que contêm admiráveis recomendações para a formação dos pastores e dos fiéis.
Oração: 
       Senhor, que formastes na escola dos Apóstolos os Santos Timóteo e Tito, concedei-nos, por sua intercessão, que, vivendo com justiça e piedade neste mundo, alcancemos a pátria celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo...

Epístola de São Paulo a Timóteo
Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus, para anunciar a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu filho caríssimo: a graça, a misericórdia e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. Dou graças a Deus, a quem sirvo com pura consciência, a exemplo dos meus antepassados, quando, noite e dia, sem cessar, me recordo de ti nas minhas orações. Ao lembrar-me das tuas lágrimas, sinto grande desejo de voltar a ver-te, para me encher de alegria. Evoco a lembrança da tua fé sincera, que também foi a da tua avó Lóide e da tua mãe Eunice e não duvido que é a tua também. Por isso te exorto a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro; mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus (2 Tim 1, 1-8).
Epístola de São Paulo a Tito
Paulo, servo de Deus, Apóstolo de Jesus Cristo, para levar os eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade conforme à piedade, na esperança da vida eterna. Antes dos tempos antigos, Deus, que não mente, prometeu esta vida eterna, e no tempo determinado manifestou a sua palavra, através da mensagem que me foi confiada por ordem de Deus, nosso Salvador. A Tito, meu verdadeiro filho segundo a nossa fé comum, a graça e a paz de Deus nosso Pai e de Jesus Cristo, nosso Salvador! Eu deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que faltava e estabeleceres anciãos em cada cidade, segundo as minhas instruções.
Textos para a Eucaristia: Secretariado Nacional da Liturgia.

Timóteo e Tito os colaboradores mais estreitos de Paulo

Queridos irmãos e irmãs!
Depois de ter falado longamente sobre o grande apóstolo Paulo, hoje tomamos em consideração os seus dois colaboradores mais estreitos: Timóteo e Tito. São dirigidas a eles três Cartas tradicionalmente atribuídas a Paulo, das quais duas são destinadas a Timóteo e uma a Tito.
Timóteo é um nome grego e significa "que honra Deus". Enquanto Lucas nos Atos o menciona seis vezes, Paulo nas suas cartas faz referência a ele dezassete vezes (além disso encontrámo-lo uma vez na Carta aos Hebreus). Deduz-se que aos olhos de Paulo ele gozava de grande consideração, mesmo se Lucas não considera que deva narrar tudo o que lhe diz respeito. De facto, o Apóstolo encarregou-o de missões importantes e viu nele quase um alter ego, como resulta do grande elogio que dele traça na Carta aos Filipenses: "É que não tenho ninguém com igual disposição (isópsychon), que tão sinceramente se preocupe pela vossa vida" (2, 20).
Timóteo tinha nascido em Listra (cerca de 200 km a nordeste de Tarso) de mãe judia e de pai pagão (cf. Act 16, 1). O facto que a mãe tivesse contraído um matrimónio misto e não tivesse feito circuncidar o filho deixa pensar que Timóteo tenha crescido numa família não estrictamente observante, mesmo se foi dito que conhecia as Escrituras desde a infância (cf. 2 Tm 3, 15). Foi-nos transmitido o nome da mãe, Eunice, e também o da avó, Loide (cf. 2 Tm 1, 5). Quando Paulo passou por Listra no início da segunda viagem missionária, escolheu Timóteo como companheiro, porque "era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icóneo" (Act 16, 2), mas fê-lo circuncidar "por causa dos judeus existentes naquelas regiões" (Act 16, 3).
Juntamente com Paulo e Silas, Timóteo atravessou a Ásia Menor até Tróade, de onde passou à Macedónia. Além disso, estamos informados de que em Filipos, onde Paulo e Silas foram envolvidos na acusação de espalhar desordens públicas e foram aprisionados por se terem oposto à exploração por parte de alguns indivíduos sem escrúpulos de uma jovem mulher como maga (cf. Act 16, 16-40), Timóteo foi poupado. Depois, quando Paulo foi obrigado a prosseguir até Atenas, Timóteo alcançou-o naquela cidade e ali foi enviado à jovem Igreja de Tessalónica para ter notícias e para a confirmar na fé (cf. 1 Ts 3, 1-2). Foi ter depois com o Apóstolo em Corinto, levando-lhe boas notícias sobre os Tessalonicenses e colaborando com ele na evangelização daquela cidade (cf. 2 Cor 1, 19).
Reencontramos Timóteo em Éfeso durante a terceira viagem missionária de Paulo. Dali provavelmente o Apóstolo escreveu a Filemon e aos Filipenses, e nas duas cartas a Timóteo resulta co-autor (cf. Fm 1; Fl 1, 1). De Éfeso, Paulo enviou-o à Macedónia juntamente com um certo Erasto (cf. Act 19, 22) e depois também a Corinto com o cargo de levar uma carta, na qual recomendava aos Coríntios que o acolhessem calorosamente (cf. 1 Cor 4, 17; 16, 10-11).
Encontrámo-lo ainda como co-autor da Segunda Carta aos Coríntos, e quando de Corinto Paulo escreve a Carta aos Romanos une nela, juntamente com as dos demais, as saudações de Timóteo (cf. Rm 16, 21). De Corinto o discípulo partiu de novo para alcançar Tróade na margem asiática do Mar Egeu e ali aguardar o Apóstolo que ia para Jerusalém na conclusão da terceira viagem missionária (cf. Act 20, 4). A partir daquele momento sobre a biografia de Timóteo as fontes antigas dão-nos apenas uma referência na Carta aos Hebreus, na qual se lê: "Sabei que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se vier depressa, irei ver-vos com Ele" (13, 23). Em conclusão, podemos dizer que a figura de Timóteo sobressai como a de um pastor de grande relevo. Segundo a posterior História eclesiástica de Eusébio, Timóteo foi o primeiro Bispo de Éfeso (cf. 3, 4). Algumas das suas relíquias encontram-se desde 1239 na Itália na Catedral de Termoli no Molise, provenientes de Constantinopla.
Depois, quanto à figura de Tito, cujo nome é de origem latina, sabemos que era grego de nascença, isto é, pagão (cf. Gl 2, 3). Paulo levou-o consigo a Jerusalém para o chamado Concílio apostólico, no qual foi solenemente aceite a pregação aos pagãos do Evangelho, que libertava dos condicionamentos da lei moisaica. Na Carta a ele dirigida, o Apóstolo elogia-o definindo-o "meu verdadeiro filho na fé comum" (Tt 1, 4). Depois da partida de Timóteo de Corinto, Paulo enviou Tito a essa cidade com a tarefa de reconduzir aquela indócil comunidade à obediência. Tito restabeleceu a paz entre a Igreja de Corinto e o Apóstolo, que lhe escreveu nestes termos: "Deus, porém, que consola os humildes, consolou-nos com a chegada de Tito, e não só com a sua chegada mas também com a consolação que ele tinha recebido de vós.
Contou-nos ele o vosso vivo desejo, a vossa aflição, a vossa solicitude por mim... Foi por isso que ficámos consolados" (2 Cor 7, 6-7.13). Tito foi enviado de novo a Corinto por Paulo que o qualifica como "meu companheiro e colaborador" (2 Cor 8, 23) para ali organizar a conclusão das colectas em favor dos cristãos de Jerusalém (cf. 2 Cor 8, 6). Ulteriores notícias provenientes das Cartas Pastorais qualificam-no como Bispo de Creta (cf. Tt 1, 5), de onde, a convite de Paulo, alcançou o Apóstolo em Nicópoles no Éfiro (cf. Tt 3, 12). Não possuímos outras informações sobre os deslocamentos seguintes de Tito e sobre a sua morte.
Para concluir, se consideramos Timóteo e Tito unitariamente nas suas duas figuras, apercebemo-nos de alguns dados significativos. O mais importante é que Paulo se serviu de colaboradores para o desempenho das suas missões. Ele permanece certamente o Apóstolo por antonomásia, fundador e pastor de muitas Igrejas. Contudo é evidente que ele não fazia tudo sozinho, mas apoiava-se em pessoas de confiança que partilhavam as suas fadigas e as suas responsabilidades. Outra observação refere-se à disponibilidade destes colaboradores. As fontes relativas a Timóteo e a Tito põem bem em realce a sua disponibilidade para assumir vários cargos, que muitas vezes consistiam em representar Paulo também em ocasiões não fáceis.
Numa palavra, eles ensinam-nos a servir o Evangelho com generosidade, sabendo que isto obriga também a um serviço à própria Igreja. Por fim, aceitemos a recomendação que o apóstolo Paulo faz a Tito na carta a ele dirigida: "desejo que tu fales com firmeza destas coisas, para que os que acreditaram em Deus, se empenhem na prática de boas obras, pois isso é bom e útil para os homens" (Tt 3, 8). Mediante o nosso compromisso concreto devemos e podemos descobrir a verdade destas palavras, e precisamente neste tempo de Advento sermos nós também ricos de obras boas e assim abrir as portas do mundo a Cristo, o nosso Salvador.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Conversão de SÃO PAULO, Apóstolo

Nota biográfica:
       Aguerrido perseguidor dos discípulos de Jesus, Paulo dirigia-se para Damasco, quando, inesperadamente, o Senhor Ressuscitado lhe aparece e Se lhe revela. Vencido pela graça, entrega-se, incondicionalmente a Cristo, que o escolhe para Seu apóstolo e o encarrega de anunciar o Evangelho, em pé de igualdade com os Doze.
       Este encontro marcou profundamente a vida, o pensamento e a acção deste Apóstolo. Paulo descobriu, nesse momento, o poder extraordinário da graça, poder capaz de transformar um perseguidor em Apóstolo. Descobriu, igualmente, que Jesus Ressuscitado Se identifica com os cristãos («Porque Me persegues?»).
       Mas este acontecimento foi também de importância decisiva para o desenvolvimento da Igreja. O convertido de Damasco, na verdade, será o Apóstolo que mais virá a contribuir para a expansão missionária da Igreja entre os povos pagãos.

       "Saulo, respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor, foi ter com o sumo sacerdote e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de trazer algemados para Jerusalém quantos seguissem a nova doutrina, tanto homens como mulheres. Na viagem, quando estava já próximo de Damasco, viu-se de repente envolvido numa luz intensa vinda do Céu. Caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: "Saulo, Saulo, porque Me persegues?". Ele perguntou: "Quem és Tu, Senhor?". O Senhor respondeu: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade e aí te dirão o que deves fazer". Os companheiros de viagem de Saulo tinham parado emudecidos; ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo levantou-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, nada via" (Atos 9, 1-22).

Oração de coleta:
       Senhor Deus, que instruístes o mundo inteiro com a palavra do apóstolo São Paulo, concedei a quantos celebramos hoje a sua conversão a graça de caminharmos para Vós, como ele, dando testemunho da vossa verdade no mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja

Nota biográfica:
       Nasceu na Sabóia no ano 1567. Ordenado sacerdote, trabalhou muito pela restauração da fé católica na sua pátria. Eleito bispo de Genebra, mostrou-se verdadeiro pastor do clero e dos fiéis, instruindo-os com os seus escritos e obras, feito modelo para todos. Morreu em Lião a 28 de Dezembro de 1622, mas foi sepultado definitivamente em Annecy a 24 de Janeiro do ano seguinte.
Oração de coleta:
       Senhor nosso Deus, que, para a salvação das almas, quisestes que São Francisco de Sales se fizesse tudo para todos, concedei-nos que, seguindo o seu exemplo, dêmos testemunho do vosso amor ao serviço dos nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


Da «Introdução à Vida Devota», de São Francisco de Sales, bispo (Parte 1, cap. 3) (Sec. XVII)

A devoção deve ser praticada de diversos modos

Na criação Deus ordenou às plantas que produzissem os seus frutos, cada qual segundo a sua espécie; do mesmo modo ordena Ele aos cristãos, que são as plantas vivas da sua Igreja, que produzam frutos de devoção, cada qual segundo a sua qualidade, o seu estado e a sua vocação.
A devoção deve ser exercida de maneira diferente pelo fidalgo e pelo operário, pelo criado e pelo príncipe, pela viúva, a solteira ou a mulher casada; e não somente isto: é necessário acomodar o exercício da devoção às forças, aos trabalhos e aos deveres de cada pessoa em particular.
Pergunto-vos, Filoteu, se estaria certo que um bispo quisesse viver na solidão como os Cartuxos; que os casados não quisessem amealhar mais que os Capuchinhos; que o operário passasse o dia na Igreja como o religioso; e que o religioso estivesse sempre sujeito a toda a espécie de encontros para serviço do próximo como o bispo. Não seria ridícula, desordenada e inadmissível tal devoção?
Contudo este erro acontece frequentemente. E no entanto, Filoteu, a devoção não prejudica ninguém quando é verdadeira, antes tudo aperfeiçoa e consuma; e quando se torna contrária à legítima ocupação de alguém, é sem dúvida falsa.
A abelha extrai o mel das flores sem lhes fazer mal, deixando-as intactas e frescas como as encontrou; todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica qualquer espécie de vocação ou de tarefa, como ainda as engrandece e embeleza.
Todas as variedades de jóias lançadas no mel se tornam mais brilhantes, cada qual segundo a sua cor; assim também cada um se torna mais agradável e perfeito na sua vocação se esta for conjugada com a devoção: a atenção à família torna-se mais paciente, o amor entre marido e mulher mais sincero, mais fiel o serviço que se presta ao príncipe, e mais suave e agradável o desempenho de todas as ocupações.
É um erro, se não mesmo uma heresia, querer banir a vida devota do regimento dos soldados, da oficina dos operários, da corte dos príncipes, do lar das pessoas casadas. É certo, Filoteu, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa não pode exercer-se em tais ocupações; mas para além destas três espécies de devoção, existem muitas outras próprias para o aperfeiçoamento daqueles que vivem nos estados seculares.
Onde quer que estejamos, podemos e devemos aspirar à vida perfeita.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

O Filho do homem é Senhor do Sábado

       Passava Jesus através das searas num dia de sábado e os discípulos, enquanto caminhavam, começaram a apanhar espigas. Disseram-Lhe então os fariseus: "Vê como eles fazem ao sábado o que não é permitido". Respondeu-lhes Jesus: "Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os seus companheiros? Entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, que só os sacerdotes podiam comer, e também os deu aos companheiros". E acrescentou: "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado" (Mc 2, 23-28).
       Em continuidade com as leituras de ontem, o Evangelho para este dia motra como por vezes a religião e as suas radições podem ser usadas contra o outro. Jesus lembra-nos que o essencial está no coração, na conversão interior. A Lei, como todos os preceitos, valem enquanto estão ao serviço do ser humano e da sua dignidade. As leis devem ser elaboradas para favorecer a vida humana e o relacionamento saudável entre pessoas, e entre estas e as instiuições...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Santa Inês, virgem e mártir

Nota biográfica:
       É uma das santas mais veneradas pela comunidade de Roma. Foi martirizada em Roma na segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no princípio do século IV, no ano de 304, talvez. Tinha 13 anos, era uma adolescente, de extraordinária beleza, rica e nobre e virtuosa. A cobiça de jovens como Procópio, filho do Prefeito de Roma, Semprónio.
       Para Inês a decisão estava tomada: não cederia aos encantos de qualquer jovem. Julgado e condenada a incensar os ídolos, a sua recusa leva-la-á à morte: "Virgens a Cristo consagradas não portarão tais lâmpadas, pois este fogo não é fé. Mas o meu sangue pode apagar este braseiro. Podem me ferir com suas espadas, mas nunca conseguirão profanar meu corpo consagrado a Cristo!" Foi exposta nua num prostíbulo no Circo de Domiciano (hoje a famosa praça Navona, onde se ergue a Basílica de Santa Inês in Agone). Foi decapitada. O papa S. Dâmaso adornou com versos o seu sepulcro e muitos santos Padres, seguindo S. Ambrósio, celebraram os seus louvores.
       É também conhecida como Santa Inês de Roma ou Santa Agnes (cordeiro). Exames forenses realizados recentemente ao crânio da jovem que se encontrava no tesouro de relíquias do "Sancta Sanctorum" da Basílica de Latrão comprovaram que se trata do crânio de uma menina de 13 anos.
       Nos quadros é representada frequentemente com um cordeiro junto a si, até porque o seu nome provém do  latim "agnus" (cordeiro) e um lírio, símbolo da pureza.
       É neste dia que o Papa benze os cordeirinhos dos quais será retirada a lã para confeccionar os pálios usados pelo Papa e pelos Arcebispos. No início era usada pele de cordeiro aos ombros.
O pálio usado por cima da casula. O Papa com o pálio que usava no início, e a forma do pálio actual. Várias arcebispos, depois de terem sido investidos com o pálio. No pálio papal, a cruz é vermelha, nos pálios dos arcebispos a cruz é em preto.

Oração de colecta:
       Deus eterno e omnipotente, que escolheis os mais frágeis do mundo para confundir os fortes, concedei que, celebrando o martírio de Santa Inês, imitemos a constância da sua fé. Por Nosso Senhor.
(Celebração em que o Papa Francisco coloca os pálios aos Arcebispos, em 2013 e em 2014)
Santo Ambrósio, bispo, sobre as virgens

Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória

Celebramos uma virgem: imitemos a sua integridade. Celebramos a mártir: ofereçamos sacrifícios.
Celebramos Santa Inês. Conta-se que teria sofrido o martírio com doze anos. Quanto mais detestável se mostra a crueldade que nem a infantil idade poupou, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou testemunho.
Em corpo tão pequeno haveria sequer espaço para os sofrimentos? Mas aquela que quase não tinha tamanho para ser ferida pela espada, teve forças para vencer a espada. E contudo, as meninas desta idade não suportam sequer o rosto zangado dos pais e choram como se de feridas se tratasse por causa da picada de um alfinete.
Mas Inês permanece impávida entre as mãos dos cruéis algozes, imóvel perante o pesado e estridente arrastar das cadeias. Oferece o corpo à espada do soldado furibundo, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela; levada à força até ao altar dos ídolos, estende as mãos para Cristo entre as chamas de fogo, e no próprio lume do sacrilégio assinala o troféu do Senhor vitorioso; por fim introduz o pescoço e as mãos nos aros de ferro, mas nenhum elo é suficientemente apertado para reter membros tão pequenos.
Novo género de martírio! Ainda não apta para o sofrimento e já madura para a vitória; mal pode combater e facilmente triunfa; dá uma lição de fortaleza, apesar da sua tão tenra idade. Nenhuma noiva se adiantaria para o leito nupcial com aquela alegria com que a virgem avançou para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada não de tranças mas de Cristo, e coroada não de flores mas de virtudes.
Todos choram, só ela não tem lágrimas. Todos se admiram de que tão generosamente entregue a sua vida quem ainda não a começara a gozar, como se já a tivesse vivido plenamente. A todos espanta que se levante já como testemunha de Deus uma criança, que, pela idade, não podia ainda dar testemunho de si mesma. E afinal foi fidedigno o testemunho que deu acerca de Deus esta criança que ainda não podia testemunhar a respeito de um homem; porque o que ultrapassa a natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Quantas ameaças do algoz para que ela se atemorizasse, quantas seduções para que se convencesse, quantas promessas para que o desposasse! Mas a sua resposta foi esta: «É uma ofensa ao Esposo fazer-se esperar; aquele que primeiro me escolheu para Si, esse é que me receberá. Porque demoras, verdugo? Pereça este corpo, que pode ser amado por quem eu não quero». Levantou-se, rezou, inclinou a cabeça.
Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado; tremer a mão direita do verdugo; empalidecerem-se os rostos, temerosos do perigo alheio, enquanto a jovem não temia o próprio.
Tendes numa única vítima dois martírios, o da pureza e o da fé. Permaneceu virgem e foi mártir.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Domingo II do Tempo Comum - ano C - 20/01/2019

Não são os que têm saúde que precisam do médico

        Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me». Ele levantou-se e seguiu Jesus. Encontrando-Se Jesus à mesa em casa de Levi, muitos publicanos e pecadores estavam também a mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que O seguiam. Os escribas do partido dos fariseus, ao verem-n’O comer com os pecadores e os publicanos, diziam aos discípulos: «Por que motivo é que Ele come com publicanos e pecadores?». Jesus ouviu e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam do médico, mas os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 13-17).
        O bom senso, por vezes, não parece ser a opção de Jesus, sobretudo quando estão em causas as pessoas mais simples, mais frágeis, mais distantes da normalidade social e religiosa. Encontra um cobrador de impostos, Levi, e chama-o, como se tratasse de alguém conhecido, honrado, exemplar. Na verdade, os cobradores de impostos eram tidos como traidores, faziam o trabalho sujo para a autoridade dominadora, cobrava os impostos dos seus conterrâneos para os entregarem às autoridade romanos. Para além disso, o zelo dos cobradores era de tal ordem que não facilitavam, retiravam o que competia e o que queriam, para também enriquecerem, servindo-se do seu posto. Eram pessoas odiosas. Jesus também os chama. A reação não se faz esperar, como é que Jesus, sendo Mestre e Profeta, se rodeiam dos pecadores, publicanos, numa palavra, como é possível rodear-se da escumalha de Israel. A resposta é simples: Jesus vem para todos, especialmente para os que estão mais longe... de uma vida condigna!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Filho, os teus pecados estão perdoados...

       Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens; e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão, descobriram o tecto, por cima do lugar onde Ele Se encontrava e, feita assim uma abertura, desceram a enxerga em que jazia o paralítico. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?». Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes: «Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico ‘Os teus pecados estão perdoados’ ou dizer ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu te ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’». O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente, de modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim» (Mc 2, 1-12).
       Um homem paralítico é levado à presença de Jesus. Perante a multidão que se junta Jesus, há uma enorme dificuldade em chegar perto d'Ele. Em todo o caso, a dificuldade pode ser sempre ultrapassada. É o que fazem os quatro homens que levam o paralítico a Jesus. Esta é uma lição importante para nós. Mesmo diante das dificuldades maiores, não devemos desistir. Conseguiremos chegar a Jesus.
       Por outro lado, para que Deus nos ajude, é necessário que queiramos ser ajudados. É o que acontece com este paralítico. Quer ser curado e enceta o caminho para se deixar curar. E Jesus, que vem para nos salvar, perante tamanha fé, atende às suas preces.
       Vê-se também como por vezes os nossos olhos estão ofuscados pela inveja, pelo ciúme, ou por uma visão muito materialista e racional. Jesus prepara-se para curar o paralítico, mas logo se levantam vozes sobre a forma como isso acontece, ao invés de apreciarmos os dons que Deus nos dá...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Santo Antão, Abade

Nota biográfica:
       Este insigne pai do monaquismo nasceu no Egipto cerca do ano 250. Depois da morte de seus pais, distribuiu os seus haveres pelos pobres e retirou-se para o deserto, onde começou a sua vida de penitente. Teve numerosos discípulos e trabalhou em defesa da Igreja, animando os confessores na perseguição de Diocleciano e apoiando S. Atanásio na luta contra os arianos. Morreu no ano 356.
Oração de Colecta:
       Senhor nosso Deus, que destes a Santo Antão a graça de viver uma vida heróica na solidão do deserto, concedei-nos, por sua intercessão, que, renunciando a nós mesmos, Vos amemos sempre sobre todas as coisas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da Vida de Santo Antão, escrita por Santo Atanásio, bispo

A vocação de Santo Antão

Depois da morte de seus pais, tendo ficado com uma irmã ainda pequena, Antão, que tinha uns dezoito ou vinte anos, tomou conta da casa e da irmã.
Não tinham passado ainda seis meses do falecimento de seus pais, quando um dia em que se dirigia, segundo o seu costume, para a igreja, ia refletindo sobre a razão que levara os Apóstolos a abandonar tudo para seguir o Salvador e por que motivo também aqueles homens de que se fala nos Atos dos Apóstolos vendiam tudo o que possuíam e depunham o preço aos pés dos Apóstolos para que o distribuíssem aos pobres; e ia pensando na grande e maravilhosa esperança que lhes estava reservada nos Céus. Meditando nestas coisas, entrou na igreja mesmo no momento em que se lia o Evangelho e ouviu o que o Senhor disse ao jovem rico: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres. Depois vem e segue-me, e terás um tesouro nos Céus.
Então, considerando que a recordação dos santos exemplos lhe tinha sido enviada por Deus e que aquelas palavras eram dirigidas pessoalmente para ele, logo que voltou da Igreja, Antão distribuiu pelos habitantes da região as propriedades que herdara da família (possuía trezentos campos muito férteis e amenos), para que aquelas não fossem motivo de inquietação para si e para a sua irmã. Vendeu também todos os móveis e distribuiu pelos pobres a grande quantia que assim obtivera, conservando apenas uma pequena parte por causa da irmã.
Tendo entrado outra vez na igreja, ouviu o Senhor dizer no Evangelho: Não vos inquieteis com o dia de amanhã. Não conseguiu permanecer ali mais tempo. Saiu, e até aquele pouco que guardara distribuiu pelos pobres. Confiou a irmã a uma comunidade de virgens consagradas que conhecia e considerava fiéis, para que fosse educada no Pártenon. Quanto a ele, livre já de cuidados alheios, entregou-se a uma vida de ascese e rigorosa mortificação nas imediações da sua casa.
Trabalhava com as suas mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quiser trabalhar não coma. Do fruto do seu trabalho destinava uma parte para comprar o pão que comia; o resto distribuía-o pelos pobres.
Rezava constantemente, pois aprendera que é preciso rezar interiormente sem cessar; era tão atento à leitura que nada lhe esquecia do que tinha lido na Escritura: tudo retinha de tal maneira que a sua memória acabou por substituir o livro.
Todos os habitantes do lugar e os homens honrados que tratavam com ele, vendo um homem assim, chamavam-lhe amigo de Deus; e uns amavam-no como filho, outros como irmão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Todos Te procuram, Senhor! Também eu...

        Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim» (Mc 1, 29-39).
       A missão de Jesus é um contínuo. Inicia a vida pública e passa de uma a outra terra, procurando chegar a todas as pessoas. Permanece o tempo suficiente para deixar marcas. Mas avança, para que cada um, tocado pela Sua presença, pela Sua graça, possa decidir livremente. Há os que O seguem, há os que O acolhem em suas vidas.
       Prega. Cura. Expulsa dos demónios. Esta é a certeza de que vem da parte de Deus.
       Embora a Sua vida seja uma oração constante a Deus - o seu verdadeiro alimento é Deus, é fazer a vontade de Seu Pai -, Jesus retira-se, afasta-se da multidão, para rezar. É um convite para nós: fazermos da nossa vida oração, mas reservarmos tempo para a intimidade com Deus, para o diálogo, para a oração.
       Todos de Te procuram Senhor! Alguns não sabem quem Tu és. Outros procuram-Te, mas estão longe de Ti, correm para Ti às apalpadelas, aos tropeções. Procuram-te onde Tu não estás. Procuram-Te substituindo-Te por ídolos, por deuses mais fáceis, criados à sua imagem e semelhança, conforme a disposição e o interesse. Procuram-Te!
       Também eu Te procuro. Também eu Te quero procurar.
       Também eu quero que me encontres. Também eu quero deixar que Tu me encontres.
       Também quero ser curado por Ti. Também quero seguir-Te.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Sei quem Tu és: o Santo de Deus

       Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia. (Mc 1, 21-28).
       A vida de Jesus não tem interregnos. Depois do Seu batismo, Jesus vai percorrer cidades, aldeias, passando de uma região a outra. Os evangelhos dão-nos conta do movimento constante de Jesus. Quase não se encontra no mesmo sítio. Está como que estado de permanente peregrinação. Sabe que todo o tempo de que dispõe é escasso para anunciar o reino de Deus, curar os enfermos, sensibilizar os corações para se abrirem à graça de Deus. Todo o tempo é pouco para fazer o bem. Refira-se, em todo o caso, que não é um fugitivo. As pessoas sabem onde Ele se encontra. Por vezes permanece um, dois, três dias, para ter oportunidade de chegar a todos, para cimentar a Palavra.
       Em Cafarnaum, Jesus entra na Sinagoga onde encontra um homem possesso. Ao libertá-lo do espírito impuro, Jesus mostra como o poder do bem é maior, o poder de Deus tudo vence. Também aí deverá repousar a nossa confiança. Por mais pessimistas que possamos ser, o AMOR de Deus vencerá.
       Por outro lado, sublinha-se que Jesus ensinava com autoridade e não como os escribas. Muitas vezes o Evangelho fala desta autoridade de Jesus. Vem-Lhe de Deus Pai, vem do conteúdo da Mensagem, mas sobretudo, o que é observável pelos conterrâneos e contemporâneos, a palavra corresponde à vivência. A autoridade significa aqui coerência de vida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Farei de vós pescadores de homens...

       Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus ( Mc 1, 14-20).
       Com o Batismo do Senhor, iniciámos o Tempo Comum.
       O ano litúrgico divide-se em vários tempos, que acentuam outras tantas dimensões da vida de Jesus e da vida do cristão e da Igreja. O tempo do Advento, como preparação para o Natal; o tempo do Natal; o tempo da Quaresma: quarenta dias de preparação para a Páscoa; a Páscoa e o Tempo Pascal, onde se acentua o mistério da morte e da ressurreição de Jesus, com a referência especial para o Tríduo Pascal: Quinta-feira santa, Sexta-feira santa e Sábado Aleluia, e o tempo Comum que se inicia com o Batismo do Senhor e terminará na Solenidade de Cristo Rei, na 34.ª Semana.
       Hoje o Evangelho dá-nos conta do chamamento dos Apóstolos. João Baptista é preso. Jesus, abertamente, desloca-se de aldeia em aldeia, pelas povoações, para anunciar o Evangelho do Reino de Deus, no desafio constante à conversão. É neste contexto inicial que chama os primeiros discípulos para fazer deles pescadores de homens...

sábado, 12 de janeiro de 2019

Cardeal ROBERT SARAH - A força do silêncio

Cardeal ROBERT SARAH, com Nicolas Diat (2017). A força do silêncio. Contra a ditadura do barulho. Cascais: Lucerna. 2.ª edição. 272 páginas.

O Cardeal Robert Sarah é, desde 2014, prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e, segundo Bento XVI, no prefácio a este livro-entrevista, foi uma excelente escolha do Papa Francisco. O livro anterior tornou-se um sucesso internacional, Deus ou nada, debruçando-se sobre a fé, marcadamente autobiográfico.
"Em 1979, aos 34 anos de idade, Robert Sarah tornou-se o bispo mais novo da Igreja Católica, quando João Paulo II o incumbiu de presidir ao arcebispado de Conacri. O seu antecessor tinha sido preso pelo Governo marxista da Guiné, que o manteve detido durante vários anos. Quando o arcebispo Sarah correu o risco de ser assassinado, em virtude da sua luta enérgica e corajosa pela liberdade dos Guineenses, João Paulo II chamou-o a desempenhar, em Roma, as funções de secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 2010, o Papa Bento XVI nomeou-o cardeal e escolheu-o para prefeito do Pontifício Conselho Cor Unum. Em 2014, o Papa Francisco nomeou-o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos" (wook)
Acompanha-o, na entrevista, Nicolas Diat, como já tinha acontecido com o livro-entrevista "Deus ou nada". Nicolas Diat é um escritor especialista em temas relacionados com a Igreja Católica. É autor de uma obra de referência sobre o pontificado de Bento XVI.
Na parte final do livro, entra um novo protagonista, Dom Dymas de Lassus, Prior da Grande Cartuxa e prior Geral da Ordem dos Cartuxos, fundada em 1084 por São Bruno. As perguntas passam a ser dirigidas ao Cardeal Sarah e a Dom Dymas.
Como o próprio título indica, o livro é sobre a força do silêncio, num tempo em que predomina o barulho, a confusão, as tentações, a dispersão. Face à ditadura do barulho, o silêncio, a oração e a adoração. O encontro com Deus só é possível no silêncio. Este não vale por si, mas enquanto possibilidade de encontrar, de escutar Deus.
É uma leitura extraordinária, envolvente, que assoma a fé, a provação do Cardeal, no seu percurso como cristão, como Bispo, enfrentando a prisão e a possibilidade de ser morto. Vem ao de cima a grande ligação à Igreja, a Jesus Cristo. O silêncio é oportunidade de nos encontrarmos connosco, de deixarmos que Deus nos fale ao coração. O barulho dispersa, esconde, abafa a voz e a palavra. O silêncio valoriza a palavra. Jesus é a Palavra que encarna. Mas muitas vezes vemo-l'O em silêncio, retirando-Se para o deserto ou para um lugar isolado, para Se sentir mais próximo do Pai. O silêncio vale enquanto promove esta intimidade, este encontro. É como no amor. Quando duas pessoas se amam não precisam de muitas palavras, conseguem estar em silêncio. o Silêncio permite escutar o outro e aprender. Quem não faz silêncio (exterior e interior) não tem espaço para a escuta, para a relação, para criar laços com os outros. Há muito ruído, muito palavreado, procura-se preencher os silêncios com ruído, com palavras, com entretenimento.

Algumas expressões:

Bento XVI no Prefácio:
"... entrar no silêncio de Jesus, do qual nasce a Sua Palavra. Se não conseguirmos entrar em silêncio, a nossa escuta da palavra será sempre superficial e, portanto, não a compreenderemos verdadeiramente... Devemos estar gratos ao Papa Francisco por ter colocado um tal mestre do espírito à cabeça da Congregação responsável pela celebração da liturgia na Igreja".
Cardeal Robert Sarah:
"O silêncio não é ausência... é manifestação de uma presença".
"Jesus parece indicar os contornos de uma pedagogia espiritual: devemos sempre procurar ser Maria a fim de nos tornarmos Marta".
"O silêncio é a maior liberdade do homem. Nenhuma ditadura, nenhuma guerra, nenhuma barbárie o pode privar deste tesouro divino".
"Cristo viveu durante 30 anos no silêncio. Depois, durante a sua vida pública, retirou-Se para o deserto para escutar e falar com o Pai... Deus fala no silêncio".
"Não há nada mais pequeno, mais doce e mais silencioso do que Cristo presente na hóstia consagrada. Esse pequeno pedaço de pão encarna a humildade e o silêncio perfeito de Deus, a Sua ternura e o Seu amor por nós".
"Matando o silêncio, o homem assassina Deus".

Festa do Batismo do Senhor - ano C - 13.janeiro.2019

A minha alegria está completa!

       Foi Jesus com os seus discípulos para o território da Judeia, onde Se demorou com eles, e começou a baptizar. João baptizava em Enon, perto de Salim, porque ali a água era abundante e aparecia muita gente para se baptizar. João ainda não tinha sido encarcerado. Surgiu uma discussão entre os discípulos de João e um judeu a respeito da purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: «Mestre, Aquele que estava contigo na outra margem do Jordão e de quem deste testemunho anda a baptizar e todos vão ter com Ele». João respondeu: "Ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do Céu. Vós próprios sois testemunhas de que eu disse: ‘Não sou o Messias, mas aquele que foi enviado à sua frente’. Quem tem a esposa é o esposo; e o amigo do esposo, que o acompanha e escuta, sente muita alegria ao ouvir a sua voz. Essa é a minha alegria, que agora é completa: Ele deve crescer e eu diminuir" (Jo 3, 22-30).
       Durante esta semana que se seguiu à celebração festiva da Epifania de Jesus, o evangelho quotidiano mostrou-nos o início da vida pública de Jesus. Por outras palavras, com a Epifania, a visita dos Magos vindos do Oriente, isto é, vindos de toda a parte, dá-se a manifestação/revelação de Jesus à Humanidade, representada pelos Magos.
       Jesus dá-Se a conhecer nas palavras, na pregação, nos gestos que assume, nos prodígios que realiza. Os Magos reconheceram-n'O como Rei, Sacerdote, Profeta, o Messias enviado por Deus. Jesus dá a oportunidade às pessoas de O reconhecerem pelos gestos e pelas palavras.
       Hoje é João Batista que uma vez mais dá testemunho de Jesus, sublinhando a alegria que sente pela sua chegada e pela Sua crescente revelação. O batismo de Jesus dá lugar à Sua missão. João Batista preparou este dia. Doravante, a missão de João Batista é apontar mais em concreto para o Messias.
       Por outro lado, veja-se a manifestação de alegria por parte de João. Já no seio materno, aquando da Visitação de Nossa Senhora à Sua prima Isabel, João Baptista exultou de alegria ao sentir a voz de Maria e a presença do Messias no ventre de Sua Mãe.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Senhor, se quiseres, podes curar-me

       Estando Jesus em certa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Ao ver Jesus, caiu de rosto por terra e suplicou-Lhe: «Senhor, se quiseres, podes curar-me». Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Eu quero; fica curado». E imediatamente a lepra o deixou. Jesus ordenou-lhe que a ninguém o dissesse, mas acrescentou: «Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Cada vez se divulgava mais a fama de Jesus e reuniam-se grandes multidões para O ouvirem e serem curados dos seus males. Mas Jesus costumava retirar-Se em lugares desertos para orar (Lc 5, 12-16).
       Ao longo da vida pública de Jesus, são muitos os encontros, muitos os gestos de atenção, delicadeza, de intervenção positiva a favor sobretudo dos mais desfavorecidos. Jesus encontra multidões que O seguem, O escutam, querem ser seus discípulos. Mas a multidão não é impessoal, não dilui o encontro com pessoas concretas, Jesus vê o coração, e a necessidade das pessoas, descobre-as entre a multidão. Muitas pessoas que se juntam a Jesus e de repente Ele para, traz para a luz os que estão apagados, nas trevas, com mazelas físicas, espirituais, psicológicas, e dá-lhes brilho, luz, paz, saúde, faz-lhes ver como são queridos, amados, que para Deus são tudo.
       As doenças são inevitáveis em organismos sujeitos às leis da natureza, da temporalidade e do espaço, mas é possível que mesmo no meio da dor e do sofrimento haja vida, e a pessoa se encontre consigo e com Deus. A cura é um desafio à fé. É a certeza que todas as pessoas contam. E, por outro lado, o compromisso de combater todo o mal que está ao nosso alcance combater...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O Espírito do Senhor está sobre Mim

       Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e era elogiado por todos. Foi então a Nazaré, onde Se tinha criado. Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, ao abrir o livro, encontrou a passagem em que estava escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; Ele Me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos opri¬midos e a proclamar o ano da graça do Senhor".
       Depois enrolou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-Se. Estavam fixos em Jesus os olhos de toda a sinagoga. Começou então a dizer-lhes: "Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir". Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam da mensagem da graça que saía da sua boca (Lc 4, 14-22a).
       Jesus volta para a Galileia, à cidade que o viu crescer, Nazaré. Entra na Sinagoga, como era costume ao Sábado, entregam-Lhe o livro do profeta Isaías e na profecia aí anunciada, Jesus revela que Se cumpre n'Ele próprio. É Ele o Messias anunciado e esperado pelo povo judeu. É d'Ele que as Sagradas Escrituras falam ao longo de várias gerações.
       A primeira reação é positiva: todos davam testemunhos e se admiravam...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Tende confiança. Sou Eu, não temais...

      Depois de ter matado a fome a cinco mil homens, Jesus obrigou os discípulos a subirem para o barco e a seguirem antes d’Ele para a outra margem, em direcção a Betsaida, enquanto Ele despedia a multidão. Depois de a ter despedido, subiu a um monte, para orar. Ao anoitecer, estava o barco no meio do mar e Jesus sozinho em terra. Ao ver os discípulos cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, pela quarta vigília da noite foi ter com eles, caminhando sobre o mar, mas ia passar adiante. Ao verem Jesus caminhando sobre o mar, os discípulos julgaram que era um fantasma e começaram a gritar, porque todos O viram e ficaram atemorizados. Mas Jesus falou-lhes logo, dizendo: "Tende confiança. Sou Eu, não temais". Depois subiu para junto deles no barco e o vento amainou (Mc 6, 45-52).
       Quando Jesus está connosco, ainda que nos maiores tormentos, a nossa vida torna-se calmaria. "Não temais", é a palavra permanente que o Mestre dos Mestres sussurra ao nosso ouvido, sobretudo nas tempestades da nossa vida. Ele está connosco. Ele habita em nós.
       Ainda agora celebrámos NATAL, expressão da PRESENÇA de Deus em nós, e no mundo que nos envolve. Ele veio, Ele vem, Ele virá. Com a Encarnação, e definitivamente na morte e ressurreição de Jesus, o Céu fica completamente rasgado, aberto, próximo. O Céu é Jesus Cristo. Sempre que vivemos em Cristo Jesus, o Céu vem até nós.
       A fé não nos livra das dificuldades, mas ajuda-nos a estender a mão, erguer a cabeça, colocar-nos em atitude de esperança, em peregrinação permanente. Deixemos que seja a mão de Jesus a agarrar-nos à vida.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Como ovelhas sem pastor...

       Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou então a ensiná-los demoradamente. Como a hora ia já muito adiantada, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «O local é deserto e a hora já vai adiantada. Manda-os embora, para irem aos casais e aldeias mais próximas comprar de comer». Jesus respondeu-lhes: «Dai-lhes vós mesmos de comer». Disseram-Lhe eles: «Havemos de ir comprar duzentos denários de pão, para lhes darmos de comer?» Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes? Ide ver». Eles foram verificar e responderam: «Temos cinco pães e dois peixes». Ordenou-lhes então que os fizessem sentar a todos, por grupos, sobre a verde relva. Eles sentaram-se, repartindo-se em grupos de cem e de cinquenta. Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou a bênção. Depois partiu os pães e foi-os dando aos discípulos, para que eles os distribuíssem. Repartiu por todos também os peixes. Todos comeram até ficarem saciados; e encheram ainda doze cestos com os pedaços de pão e de peixe. Os que comeram dos pães eram cinco mil homens (Mc 6, 34-44).
       A compaixão de Jesus para com a multidão revela-nos a Sua atenção e preocupação pelas necessidades mais profundas do ser humano. O Evangelho deste dia mostra Jesus a ensinar a multidão, pois eram como ovelhas sem pastor. As pessoas que vêm até Ele trazem muitas dúvidas, muitos medos, muita incerteza. Jesus alimenta-os com a Sua palavra. Pouco depois, alimenta-os com os pães e com o peixes, neste milagre da multiplicação, que é também milagre da partilha solidária, e que antecipa o Sacramento da Caridade, a Eucaristia, memorial da paixão redentora de Jesus, alimento para toda a humanidade e até à eternidade...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus

       Naquele tempo, quando Jesus ouviu dizer que João Batista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, estrada do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Depois percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. A sua fama propagou-se por toda a Síria: traziam-Lhe todos os que estavam doentes, atingidos de diversos males e sofrimentos, possessos, epilépticos e paralíticos, e Jesus curava-os. Seguiram-n’O grandes multidões, que tinham vindo da Galileia e da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de Além-Jordão (Mt 4, 12-17.23-25).
       Jesus é a LUZ que vem erradicar toda a treva. É a grande luz que nos traz a salvação, a paz, a vida nova. Com a prisão do João Batista, diz-nos o Evangelho, Jesus alarga e aprofunda a Sua missão. De algum modo se percebe a delicadeza de Jesus para com João, respeitando a sua missão e o espaço. A missão de um e outro entrelaçam-se, não se confundem, nem se sobrepõem. João prepara o caminho. Jesus é o Caminho. João fala da luz que há de surgir. Jesus é a Luz.
       De imediato e sem rodeios Jesus diz ao que vem: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus". E age em conformidade. Prega, age: cura enfermidades e doenças. Como discípulos a missão é similar: anunciar a proximidade do Reino de Deus, que para nós é o próprio Jesus Cristo, e fazer com que Ele seja próximo de todos.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira

       Jesus resolveu partir para a Galileia. Encontrou Filipe e disse-lhe: «Segue-Me». Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos Aquele de quem está escrito na Lei de Moisés e nos Profetas. É Jesus de Nazaré, filho de José». Disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem ver». Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse: «Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento». Perguntou-lhe Natanael: «De onde me conheces?» Jesus respondeu-lhe: «Antes que Filipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira». Disse-lhe Natanael: «Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel!». Jesus respondeu: «Porque te disse: ‘Eu vi-te debaixo da figueira’, acreditas. Verás coisas maiores do que estas». E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: Vereis o Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem» (Jo 1, 43-51).
        Dois dos discípulos seguiram Jesus. Um deles, André, foi ao encontro do seu irmão (Simão Pedro) para lhe dizer que tinham encontrado o Messias. Hoje, vemos um processo idêntico. Jesus encontra Filipe e diz-lhe: segue-me. Ontem, tinha dito aos discípulos (de João): vinde ver. Para conhecermos Jesus é necessário ir com Ele, segui-l'O, ver onde mora, viver com Ele, adotar o seu estilo de vida. Só dessa forma poderemos transpirar Jesus e testemunhá-l'O com convicção.
       Tal como André, Filipe, no evangelho deste dia, não guarda a descoberta, a alegria de encontro do Messias, para si, mas comunica-a, no caso concreto, a Natanael. Perante as dúvidas deste, Filipe propõe o mesmo que Jesus tinha feito: vem ver. Não adianta muitas palavras, muitas justificações, importa que a experiência de encontro com Jesus seja pessoal.
       Em todo o caso, a interrogação de Natanael coloca Jesus num lugar muito específico, em Nazaré. De algum modo, podemos concluir que é possível encontrar Deus em toda a parte, mesmo onde julgávamos que isso seria impensável.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Mestre – onde moras? Vinde ver...

       Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?» Eles responderam: «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?» Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’ – ; e levou-o a Jesus. Fitando nele os olhos, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’ (Jo 1, 35-42). 
        João Baptista aponta para Jesus e dois dos seus discípulos seguem-n'O. Jesus percebe essa aproximação e interroga-os: que procurais? Deixemos que também a nós Jesus nos lance a mesma questão. Que procuramos? Que queremos da nossa vida? O que é que dá sentido e sabor à nossa existência? Para onde queremos ir, quem queremos seguir?
       Os discípulos devem ter ficado perplexos, timidamente iam no seu encalço mas ainda sem saber muito bem o que iam encontrar ou o que o futuro lhes reservaria. A curiosidade desperta-lhes o seguimento. "Onde  moras?" Jesus não dá respostas feitas, elaboradas, não justifica, não tenta explicar. Vinde ver. Antes de tirarmos conclusões (precipitadas) importa ver, ficar com Ele, abrir o coração ao que nos reserva a vida na Sua presença. Eles foram e ficaram com Ele.
       A experiência de encontro com Jesus deverá ter sido envolvente, de tal forma que os discípulos, entre os quais André, irmão de Simão Pedro, voltam para procurar outros companheiros e lhes falarem deste encontro na morada do Mestre.
       E nós? Sabemos onde Ele mora? Já o "visitámos" na Sua morada? E que tipo de experiência fizemos no encontro com Ele? Vamos revigorados ao encontro de outros para lhes falar da nossa experiência com Cristo Jesus?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo

       «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. É d’Ele que eu dizia: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque era antes de mim’. Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim baptizar na água...  Eu vi o Espírito Santo descer do céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou a baptizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é que baptiza no Espírito Santo’. Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus» (Jo 1, 29-34).
         O testemunho de João Baptista acerca de Jesus é inequívoca. Ele é verdadeiramente Aquele que estava para vir ao mundo da parte de Deus. É o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ontem ouvíamos João a dizer-nos que Ele estava no meio de nós num convite a procurá-l'O no mundo, à nossa volta, para O descobrirmos e encontrarmos. Hoje, João diz-nos as razões para O procurarmos.
       Sobre Ele os pecados da humanidade. Como os cordeiros eram sacrificados, na festa do Yom kippur, no dia do Perdão, como que levando os pecados dos judeus, e largando-os com o cordeiro já morto, no deserto, assim Jesus é/será o novo Cordeiro, mas desta feita sacrificado de uma vez para sempre, pela humanidade inteira.
       Libertos do pecado e da morte, vivamos no dia, na luz, na ressurreição...