quarta-feira, 25 de março de 2020

Solenidade da Anunciação do Senhor

Nota histórica:
       Deus que no decorrer dos séculos, tinha encarregado os profetas de transmitir aos homens a Sua palavra, ao chegar a plenitude dos tempos, determina enviar-lhes o Seu próprio Filho, o Seu Verbo, a Palavra feita Carne.
       Contudo, o Pai das misericórdias quis que a Incarnação fosse precedida da aceitação por parte daquela que Ele predestinara para Mãe, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida» (Lumen gentium, 56).
       No momento da Anunciação, através do Anjo Gabriel, Deus expõe portanto, a Maria os Seus desígnios. E Maria, livre, consciente e generosamente, aceita a vontade do Senhor a seu respeito, realizando-se assim o mistério da Incarnação do Verbo. Nesse momento, com efeito, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade começa a Sua existência humana. O filho de Deus faz Se Filho do Homem. O Deus Altíssimo torna-Se o «Deus connosco».
       Ao celebrar este mistério, precisamente nove meses antes do Natal, a Solenidade da Anunciação orienta-nos já para o Nascimento de Cristo. No entanto, a Incarnação está intimamente unida à Redenção. Por isso, as Leituras (especialmente a segunda) introduzem-nos já no Mistério da Páscoa.
       Essencialmente festa do Senhor, a Anunciação não pode deixar de ser, ao mesmo tempo, uma festa perfeitamente mariana. Na verdade, foi pelo sim de Maria que a Incarnação se realizou, a nova Aliança se estabeleceu e a Redenção do mundo pecador ficou assegurada.
 
      O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da descendência de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?» O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 26-38).

quinta-feira, 19 de março de 2020

SÃO JOSÉ A CAMINHO DO EGITO

Hoje celebramos a solenidade de São José, Esposo de Maria, Pai adotivo de Jesus, "custodiador" da Sagrada Família de Nazaré. É também o Dia do Pai. Este ano a celebração vai ser diferente, muito diferente. O país iniciou o Estado de Emergência, tornando ainda mais real o que está a acontecer em Portugal e no mundo, o alastrar da pandemia do coronovírus, COVID 19.
Com a violência da contaminação e a perigosidade do vírus, também o medo, a ansiedade e embotamento, uma tristeza que a todos afeta por nos colocar na situação de isolamento social, em quarentena, afastados uns dos outros, saudando-nos à distância ou através dos meios digitais. Encontrar-nos com os amigos, em comunidade, festejar, rir ou chorar juntos não será exequível nos próximos tempos, pois a recomendação é séria e a nossa responsabilidade não é transmissível. Cabe respeitar, respeitar, respeitar, mais do que nunca, o espaço do outro, sem no entanto deixarmos ninguém para trás. A nossa atenção tem de ser redobrada.
Hoje as igrejas enchiam-se de cor, de festa, de alegria, de júbilo e, assim também, a casa, as nossas famílias. Que não se deixe de comemorar este dia em honra de São José ou, se não formos tão crentes, em honra dos nossos pais. É, inevitavelmente, uma comemoração diferente, em suspenso, mas ainda assim oportunidade para agradecermos a vida, na identidade dos pais, a vida em família e o esforço que uns e outros, com responsabilidades diferentes, teremos de fazer para chegarmos a bom porto. O barco está em andamento. Temos que remar no mesmo sentido, temos que remar todos, libertando os mais frágeis, mas contando com a sua presença para nos animarem a prosseguir. É por nós e é por eles, uns pelos outros, uns com os outros, que remamos avançando por meio da tempestade que ainda há pouco se abateu sobre nós. Não queremos que ninguém salte do barco, que ninguém fique para trás, ajudemos os mais cansados,  também precisamos deles, precisamos de todos.
São José é o Protetor da Igreja universal, porque primeiro foi o protetor da Sagrada Família de Nazaré. A vida dele não foi fácil. O momento presente vai ser duro, o caminho vai ser longo, vamos encontrar muitas pedras no caminho. Deus queira que façamos o que disse o Poeta: as pedras que encontrar no meu caminho, vou juntá-las todas, e vou construir um castelo (Fernando Pessoa). Vamos continuar a construir comunidade, a deixar marcas de bem, a ajuntar as pedras que encontrarmos para nos fortalecermos em família e como comunidade.
Depois do nascimento de Jesus, José pôs-se em fuga para o Egito, como refugiado ou foragido (cf. Mt 2, 13-23). Não foi um caminho fácil. Deixou o aconchego da sua casa e da sua terra, deixou os amigos e familiares, mas para segurança de Maria e de Jesus, empreendeu a viagem. Tantas vezes se terá perguntado: se tenho à minha guarda o Filho de Deus, porque é que tenho de enfrentar tantos sacrifícios, porque é que tenho de fugir ou porque é que Deus deixa que isto aconteça ao Seu próprio Filho. Talvez José não tenha ouvido a resposta que esperava, a não ser o que o Anjo lhe revelou em sonhos. Tens de fugir, pega no Menino e Sua Mãe e foge para o Egito. José pôs-se em marcha, permanecendo no Egipto muito tempo, até ao tempo em que ouviu dizer que Herodes já tinha morrido e, então, o Anjo, noutro sonho, mandou-o regressar. E novamente o caminho não se afigurou fácil. José percebeu que ainda não era seguro regressar a Belém e foi para Nazaré.
Finalmente regressou. Foram muitos anos, longe dos seus, longe da terra, longe de casa. Foi um longo tempo em terra estrangeira. Mas foi possível regressar. Pelo caminho, muitas pedras, dificuldades e tropeços, mas sem perder a fé em Deus, a esperança no futuro. A certeza que regressaria animou-o a trabalhar, a cuidar, a educar, a celebrar a fé, a vida, a família. Façamos o mesmo.
Que São José nos proteja, nos livre do desânimo e que no cansaço nos faça ver a Páscoa, a Luz que vem de Deus, que está para lá das nuvens e a certeza do regresso a casa, no caso presente, o regresso à normalidade social.
O caminho vai ser longo, mas não estamos sós, Ele vai connosco, como foi com José, como foi com Moisés e com o Povo Eleito, através do deserto até à Terra Prometida. Deus está no meio de nós. Em cada um de nós. Se tu ajudas, Deus é ajudado. Se tu cais, Deus magoa-Se. Se te levantas, Deus sorri. Se tropeças, Deus inquieta-Se. O que fizermos ao mais pequeno dos irmãos é a Ele que o fazemos. Se deixarmos de fazer, é Deus que deixamos para trás.
Que a Virgem Santa Maria, Esposa de São José, Mãe de Jesus e nossa Mãe, nos afague no Seu colo de ternura e paz, não nos desampare nesta hora de tribulação, de caminho e de luta. Que mais uma vez ela nos traga Jesus, nos traga a paz de Belém, nos traga alegria do Menino, da vida nova e nos faça fazer tudo o que Ele nos pede, e Ele não nos pede mais que não seja amar, amar, amar, que se traduz no serviço e no cuidado uns pelos outros, imitando-O e imitando os Seus pais terrenos, Maria e José.
São José, rogai por nós, pelos nossos pais e pelas nossas famílias.