sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O amor não explica, cura...

       "O amor não fornece explicação do universo, não é justificação da história, não faz nascer cientistas ou filósofos. Faz muito mais. Não justifica, mas faz viver. Não explica, mas cura. Nada impõe, mas cria homens verdadeiros. Quem saboreia o amor, mesmo que se sentisse a morrer, pode renascer. Por isso O [Jesus Cristo] seguiam".

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Amigo: uma salvação que caminha a teu lado

       "O amigo não te condena, mas também não te absolve incondicionalmente. Olha para ti com o olho límpido do médico que não se espanta com nenhuma enfermidade. Está perto de ti, disposto a perder a estima para te ganhar. Caminha contigo, não um milha ou duas, mas durante toda a noite, até que não tenhas medo.
       Amar uma pessoa significa aceitar em mesmo a debilidade do outro e carregar com ela: assim fez Jesus, tornando-se pecado por nós.
       Amar significa ainda transformar a sua vida em função do amado. Por isso, o amigo torna-se para o amigo «uma salvação que caminha a seu lado», segundo o projeto do Éden...
       O amigo não é apenas um espelho que me reflete, é também o outro mim-mesmo sonhado.
       No olhar do amigo tens a confirmação de que existes, de que sabes amar, de que és amado. O amigo é aquele que solicita amoravelmente a expressão mais profunda de nós próprios...

Buscamos nos olhos do outro a evidência de que existimos

       "Todos buscamos nos olhos do outro a evidência de que existimos, a certeza de que sabemos amar, de que somos capazes de relações verdadeiras, a garantia de que temos valor para alguém, de que merecemos atenção, interesse, talvez amor. Quem, pelo contrário, está sozinho é levado até a duvidar de si mesmo".

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Só os que te tocam são capazes de mudar a tua vida

       Ser tocado é um dos acontecimentos mais emocionantes e capitais da vida: aquele que te tocou no íntimo, mesmo só uma vez, permanecerá entre os teus profetas.
       Quem te toca entra em ti, doravante recebe-lo em casa; ele rasga sulcos, trabalha o teu campo, extirpa raízes, traz sementes, solicita e desperta as fontes da vida.
       Só os que te tocam são capazes de mudar a tua vida. O amigo é amigo porque te toca, desarmado e desarmante. Quando consegues deixar-te tocar pelo outro e tocá-lo, podes ali dizer que és tu próprio, porque deixaste cair todas as máscaras.
       Eis o milagre que sempre se deve implorar: alguém que saiba tocar o coração.
       Eis o sonho de Deus: que ninguém esteja sozinho na vida e que nenhuma casa exista sem festa no coração.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tarde Te amei...

Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria,
se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me,
com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes,
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume:
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos
e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz"

Santo Agostinho.

Santo Agostinho... em frases célebres

"Ama e faz o que quiseres"
"A medida do amor é amar sem medida"
"Só o que faz bem ao homem pode fazê-lo feliz"
"No amor do próximo, o pobre é rico;
sem amor do próximo, o rico é pobre"
"Onde não há caridade não pode haver justiça"
"Aquele que tem caridade no coração
tem sempre qualquer coisa para dar"
"Não há doente mais incurável
do que aquele que não reconhece a sua doença
"
"Sê humilde para evitar o orgulho,
mas voa alto para alcançar a sabedoria"
"Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência"
"Fizeste-nos, Senhor, para ti,
e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti"
"Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti"

Veja outras frases de Santo Agostinho aqui e aqui e também aqui!

Faz, ó Pai, com que Te ame

Ó Deus,
Só a Ti é que amo.
Só a Ti procuro.
Só a Ti quero servir.
Só Tu deves ser o meu Amo.
Expulsa de mim a vaidade,
para que eu possa reconhecer-Te.
Diz-me para onde olhar, para Te ver.
Quero cumprir o que Tu esperas.
Faz, ó Pai, com que eu te procure, preserva-me do erro.
Que na minha busca, nada mais que Tu se me apresente.
Embora seja verdade que não desejo nada mais que Tu,
Faz com que, ó Pai, Te encontre.
E, se ainda houver em mim algum desejo supérfluo,
Que eu queira revestir-me de Ti mesmo
e tornar-me capaz de Te ver".
Santo Agostinho (in Família Paroquial da Paróquia de Rio Tinto - 5/06/2011)

Queres ser grande? Sê humilde...

"Queres ser grande? Começa por ser humilde.
Projectas levantar o edifício da tua própria perfeição?
Começa por escavar os alicerces da tua humildade.
E quanto mais alto o edifício, tanto mais profundos os alicerces.
Vê bem que os edifícios sobem quando os alicerces são aprofundados.
De tal forma que a grandeza torna-se pequena e a pequenez, grande."
Santo Agostinho, in Abrigo dos Sábios.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma morte violenta que é auto-doação

       "A vida ser-lhe-á tirada na cruz, mas desde já, Ele próprio a oferece. Transforma a sua morte violenta num acto livre de auto-doação aos outros pelos outros.
       ... No acto de dar a vida está incluída a ressurreição. Por isso pode, de antemão, distribui-Se a Si mesmo já, porque é já que oferece a Sua vida, que Se oferece a Si mesmo e, deste modo, readquire-a já, agora. Assim pode instituir agora o sacramento em que Se torna o grão de trigo que morre e em que, através dos tempos, Se distribui a Si mesmo aos homens na verdadeira multiplicação dos pães".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 112.

domingo, 26 de agosto de 2012

Na Eucaristia: o pão é para mim e também para o outro

       A Eucaristia é o alimento destinado àqueles que no Baptismo foram libertados da escravidão e se tornaram filhos; é o alimento que ampara no longo caminho do êxodo através do deserto da existência humana. Como o maná para o povo de Israel, assim para cada geração cristã a Eucaristia é alimento indispensável que ampara enquanto atravessa o deserto deste mundo, ressequido por sistemas ideológicos e económicos que não promovem a vida, mas ao contrário a mortificam; um mundo no qual domina a lógica do poder e do ter em vez da do serviço e do amor; um mundo no qual com frequência triunfa a cultura da violência e da morte. Mas Jesus vem ao nosso encontro e infunde-nos segurança: Ele mesmo é "o pão da vida" (Jo 6, 35.48).

Bento XVI (Celebração do Corpo de Deus, 7 de junho de 2007)
       Ninguém pode tornar-se cristão por si próprio. Tornar-se cristão é um processo passivo. Somente podemos tornar-nos cristãos por meio de outro. E este "outro" que nos faz cristãos, que nos oferece o dom da fé, é em primeiro lugar a comunidade dos fiéis, a Igreja. Da Igreja recebemos a fé, o Baptismo. Sem nos deixarmos formar por esta comunidade, não nos tornamos cristãos. Um cristianismo autónomo, autoproduzido, é uma contradição em si. Em primeiro lugar, este outro é a comunidade dos fiéis, a Igreja, mas em segundo lugar também esta comunidade não age sozinha, segundo as próprias ideias e aspirações. Também a comunidade vive no mesmo processo passivo: somente Cristo pode constituir a Igreja. Cristo é o verdadeiro doador dos Sacramentos. Este é o primeiro ponto: ninguém se baptiza a si mesmo, e ninguém se torna cristão por si próprio. Nós tornamo-nos cristãos...
       Cristo une-se pessoalmente a cada um de nós, mas é o próprio Cristo que se une também ao homem e à mulher que estão ao meu lado. E o pão é para mim e também para o outro. Assim Cristo une todos nós a si mesmo e une-nos todos uns aos outros. Na comunhão recebemos Cristo. Mas Cristo une-se de igual modo ao meu próximo: Cristo e o próximo são inseparáveis na Eucaristia. E assim todos nós somos um só pão, um só corpo. Uma Eucaristia sem solidariedade com os outros é uma Eucaristia abusada...
       Na Eucaristia, Cristo entrega-nos o seu corpo, doa-se a si mesmo no seu corpo e assim faz-nos seu corpo, une-nos ao seu corpo ressuscitado. Se o homem come o pão normal, este pão no processo da digestão torna-se parte do seu corpo, transformado em substância de vida humana. Mas na sagrada Comunhão realiza-se o processo oposto. Cristo, o Senhor, assimila-nos a si, introduz-nos no seu Corpo glorioso e assim todos juntos nos tornamos seu Corpo...

BENTO XVI, Audiência Geral, 10 de dezembro de 2010

Cruz e Ressurreição na Eucaristia de Jesus

       ... cruz e ressurreição fazem parte da Eucaristia, que não seria ela mesma sem elas. Mas, visto que o dom de Jesus é essencialmente um dom radicado na ressurreição, a celebração do sacramento devia necessariamente estar ligada à memória da ressurreição. O primeiro encontro com o Ressuscitado aconteceu na manhã do primeiro dia da semana - terceiro dia depois da morte de Jesus - e, por conseguinte, na manhã de domingo. Assim, a manhã do primeiro dia da semana tornou-se espontaneamente o momento do culto cristão e o domingo o "Dia do Senhor".

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 121.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A alternativa: viver confiados a Deus ou esquecidos

      Para o Evangelho, a verdadeira oposição não está entre viver e morrer, entre vencer ou perder, mas a verdadeira diferença está entre viver como esquecidos, como lançados fora, entre cair como uma pedra que alguém atirou para trás das costas e viver como acolhidos e hospedados nas mãos de um Pai. Eis a alternativa bíblica: ou viver confiados semente a si mesmos ou como confiados à solicitude de Deus.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Não esperes ser perfeito... Ama-me como és...

       Ama-me como tu és, a cada instante e na posição em que te encontras, no fervor ou na secura, na fidelidade ou na infidelidade. Se tu esperas tornar-se, primeiro, perfeito para então começares a me amar, não amarás nunca. Eu só não te permito uma coisa, que não me ames. Ama-me, tal como és. Eu quero o teu coração esfarrapado, o teu olhar indigente, as tuas mãos vazias e pobres. Eu amo-te até ao fundo da tua fraqueza. Eu amo o Amor dos pobres. Eu quero ver crescer, no fundo da tua miséria, o Amor e só o Amor. Se para me amar, tu esperas primeiro ser perfeito, nunca me amarás. Ama-me como és...

Pe. José Tolentino de Mendonça, Pai-nosso que estais na terra.

Abrir as portas à ventania...

       "Só uma pessoa que perdeu a cabeça é que pode dizer semelhante coisa, porque é entregar os trunfos, comprometer as suas forças; é abrir as portas à ventania que desarruma tudo; é dar um banquete a um esfomeado que é Deus, a um esfomeado de amor. Dizer «Faça-se» é franquear as portas da nossa vida a Alguém que quer tudo. A Fé tem dimensões que arruínam completamente a sensatez e o bom-senso"

Abbé Piérre, in Pe. José Tolentino de Mendonça, Pai-nosso que estais na terra.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O português traiçoeiro... ou saber alternativo!

       Supostamente retirada (ou não!) de uma prova escrita das «Novas Oportunidades»... O estudante acabou por entrar directamente para Medicina, depois de revista a prova e de passar para 20 valores a sua classificação... (parece mais uma prova de pensamento divergente...)
  1. Em que batalha morreu o Almirante Nelson? Na sua última.
  2. Onde foi assinada a Declaração de Independência? No fim da folha.
  3. O Rio Rave corre em que Estado? No estado líquido.
  4. Qual é a principal causa do divórcio? O casamento.
  5. Qual é a razão principal para falhar? Os exames.
  6. O que é que não se pode comer ao pequeno-almoço? O almoço e o jantar.
  7. O que parece uma metade de uma maçã? A outra metade.
  8. Se lançarmos uma pedra pintada de vermelho ao mar azul, no que é que se transforma? Num a pedra molhada.
  9. Como é que um homem consegue estar oito dias sem dormir? Facilmente ... dorme de noite.
  10. Como é que se pode levantar um elefante com uma mão? Não é possível encontrar um elefante só com uma mão.
  11. Se tiver 3 maçãs e 4 laranjas numa mão e 4 maçãs e 3 laranjas na outra, o que é que tem? Mãos muito grandes.
  12. Se foi preciso a 8 homens, 10 horas para construir um muro, quanto tempo demorarão 4 homens a fazê-lo? Nenhum .... o muro já tinha sido construído pelos outros.
  13. Como é que se consegue deixar cair um ovo em cima de um chão de cimento sem o partir? De qualquer maneira .... o chão de cimento dificilmente se parte.
Fonte: desconhecida

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O NEVOEIRO

       Hoje de manhã, quando saí de casa, estava nevoeiro e tive de ligar as luzes do carro para que os outros condutores me vissem, mas também para alumiar um pouco o meu caminho.
        Dei comigo a pensar que por vezes o nevoeiro é tão intenso, que precisamos adiar a viagem, e decidimos que mal o nevoeiro passe a continuaremos em segurança.
        Realmente, na vida do dia-a-dia da natureza, o nevoeiro não é coisa de muito tempo e passado uns minutos, umas horas, com a luz do Sol, acaba por levantar e permitir-nos uma visão mais nítida, a fim de podermos prosseguir a viagem
       É curioso, também, que às vezes nas nossas vidas se instala um “nevoeiro” que não nos deixa ver mais ao longe e às vezes até nos quer impedir de fazer a viagem da vida.
        Preferimos assim ficar sentados, prometendo que iniciaremos a viagem assim que o “nevoeiro” passar.
       Só que este “nevoeiro” da vida não desaparece com a luz do Sol, nem desaparece se nada fizermos para o combater.
        É preciso então, não esperar pela luz, mas sim procurar a Luz que possa iluminar o caminho das nossas vidas.
       E procurar essa Luz, é procurar a oração, é procurar a Confissão, é procurar a Comunhão, é procurar viver a vida de fé, com confiança e esperança, afastando então o “nevoeiro” das dúvidas e das dificuldades.
       Então, Aquele que é a Luz que nos ilumina, dá-nos a mão, “acende” os nossos “faróis” da fé, e assim podemos conduzir as nossas vidas com uma visão mais nítida do caminho a viver.
       E essa luz que Ele coloca em nós, (e que nos compete manter acesa com a Sua permanente presença em nós), serve também para avisar os outros do caminho que percorremos, iluminando também um pouco o caminho daqueles que quiserem ver e viver o Caminho que Ele, Jesus Cristo, é para todos nós.
Joaquim, in Que é a Verdade?

DEUS, incómodo?

        De há muito tempo a esta parte, Deus parece ser um incómodo para a Europa e para muitos europeus.
       Pensam (as instituições e as pessoas) que seria bem melhor – ou, pelo menos mais prático, se Ele não existisse. E muitos nem sequer pensam. Simplesmente vivem como se Ele não existisse: no fundo, para quê preocupar-nos se, depois, Deus não protesta, não nos acusa em tribunal, não nos faz perder dinheiro ou fama? Pelo contrário, parece antes que viver como se Ele não existisse é mais proveitoso: podemos levar a vida que nos é possível, que queremos ou sonhávamos. Podemos viver dando largas à nossa imaginação e, com ela, “fintar” a própria justiça humana – no fundo, “o problema não é roubar: é ter roubado e ser apanhado!”
       Porque, se Deus não existe, então a justiça é aquela que eu determino para mim mesmo, ainda que, depois, exista a justiça dos homens e das leis (a tal que convém iludir, ultrapassar, ou manipular a meu proveito); se Deus não existe, eu posso fazer de deus e comprar a vida dos outros, desde que tenha dinheiro, ou poder, ou simplesmente que tenha “charme” para tal; se Deus não existe, mesmo que diante de todos eu diga que desejo a paz e a harmonia entre pessoas e nações, então posso bem promover a guerra e a discórdia, dividir para reinar.
       O facto é que, mesmo que me esforce por viver assim, fingindo de deus, há sempre a possibilidade de que Ele exista de verdade, e que eu e a minha vida não lhe sejamos indiferentes – nem a minha vida nem a de todos os outros que vivem à minha volta. E, se Deus existe, então pode bem ser o defensor dos mais fracos diante dos mais fortes; pode bem ser o que garante a justiça perante todos os crimes que sejam realizados contra a dignidade humana; pode bem ser aquele que, de uma qualquer forma, garanta, como última instância, que não sou eu, nem o poder que eventualmente possa ter adquirido, a possuir a última palavra.
       E, o que é mais grave, existem os cristãos, e existe a Igreja a afirmar que Deus existe; que não é uma invenção humana mas Alguém muito concreto, com quem falam e a quem mostram. E, recordando constantemente a existência e a presença de Deus na história dos homens, olham para bem mais longe que a mera duração terrena da vida humana.
       Mas não valerá a pena, mesmo para aqueles que ainda não tenham encontrado Deus no seu caminho, viver como se Ele existisse e, desse modo, deixar que a justiça dos homens e o seu modo de viver seja moldada por aquela outra, afinal muito mais “humana”, que parte da presença de Deus na história e do seu interesse por cada ser humano a que deu a vida, por muitos incómodos que isso possa trazer?

D. Nuno Brás, in Voz da Verdade.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ninguém tem muitos amigos

Neste mundo cada vez mais distante e deserto é urgente preservar o amigo, viver o amor, para que não se seja apenas mais um
       A maior parte daqueles que nos estão próximos farão as malas assim que o céu se cobrir de nuvens. Bem a tempo de não lhes cair nenhuma lágrima nossa em cima.
        Mas, infelizmente, também nós somos dos que se afastam quando os que connosco contam de nós precisam...
        Talvez o leitor se julgue bem-aventurado por contar com muitos amigos. Mas a sabedoria antiga adverte que vive feliz aquele que nunca tenha de pôr à prova os seus amigos... Mais, julgamo-nos a nós próprios, quase sempre, como bons amigos de outrem... mas será que somos capazes de o ser de verdade? Qual o limite de adversidade a partir do qual abandonaríamos esse papel? Afinal, a dureza da prova de amizade em nada se compara à troca de sorrisos depois de uma piada. A vida real é a sério, passa por muitos caminhos duros até... encontrar caminhos ainda mais duros. Sermos capazes de pensar em alguém que não em nós mesmos é, neste cenário, algo arrojado. Raríssimo. Quase ilógico. Sem reciprocidade garantida. Solitário.
        É comum (e errado) o preconceito de que todas as pessoas amam. Como se amar fosse uma espécie de prémio distribuído de forma universal e personalizada a todos e cada um dos seres humanos. Não. Muito longe disso. Poucas pessoas são capazes de amar, porque isso não é nenhuma recompensa, mas uma firmeza capaz de seguir adiante pelos trilhos mais impiedosos. Quase um castigo voluntário em nome de algo maior que nós.
        Há ainda que ter em conta que as coisas que não têm fim assustam qualquer espírito menos sólido, porque comprometem a essência de uma forma não egoísta, não lhe permitindo vaguear/errar ao sabor dos prazeres imediatos. É bem mais simples do que parece: um amor que acaba prova que nunca chegou sequer a existir.
        Hoje, com as novas tecnologias, a ilusão da proximidade é de tal forma convincente que cada vez há mais distâncias... pobrezas que se escondem por detrás de horizontes em forma de montras de intimidade... gritos desesperados de quem se vê num deserto de emoções... onde todos parecem felizes mas, na verdade, cada um vive no fundo de um poço. E porque hoje se busca mais ser resgatado do que resgatar, há cada vez mais vítimas e menos heróis...
        Nascemos sós e morreremos sós.
        À tristeza da solidão não faltam nem beleza nem grandeza. Mas o abandono dos que julgávamos chegados revela tanto sobre eles (os que partiram antes mesmo de chover) como a respeito de nós mesmos que, crédulos, julgámos ser uma excepção. Cumpre-nos não lhes seguir o exemplo.
        Se ser amigo é raro, abrigar um amor no coração é-o superlativamente. Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes e, perante os mais penosos, apenas aqueles que percebem que há valores mais altos que a própria vida seguem adiante. Caminham mesmo descalços por onde for necessário para não deixar o amigo só.
        Há quem considere que a amizade é uma forma de amor. Concordo. O que ama é um amigo absoluto. Sem porquês nem para quês. Apenas para se ser quem se é. Dão-se as mãos e enfrentam-se as tempestades. Vive-se, e morre-se, sem nunca fazer contas ao que passou. Olhos postos no sonho. O verdadeiro amigo será feliz ainda que numa vida carregada de sofrimento, porque a sua existência tem sentido, ao contrário da esmagadora maioria dos demais.
        Neste mundo cada vez mais distante e deserto é urgente preservar o amigo, viver o amor, para que não se seja apenas mais um.
        É a mais impiedosa das tempestades que naufraga perante a firmeza de um amor autêntico. Afinal, nenhuma tormenta dura para sempre.

José Luís Nunes Martins, i-online 18 Ago 2012, in POVO.

domingo, 19 de agosto de 2012

Os Hipócritas que vão à Missa

OS HIPÓCRITAS QUE VÃO À MISSA
A propósito do despropósito dos católicos não praticantes
       Foi há já algum tempo que uma pessoa, algo impertinente, disparou contra mim, à queima-roupa, a razão da sua não prática religiosa:
        - Eu não vou à Missa porque está cheia de hipócritas!
        Apesar de não ser um argumento propriamente original – na realidade, nem sequer é um argumento – o tópico deu-me que pensar, sobretudo porque é esgrimido, com frequência, pelos fervorosos «católicos não praticantes» que, como é sabido, abundam. São, em geral, fiéis descomprometidos, ou seja, pessoas baptizadas que dispensam a prática religiosa colectiva, com a desculpa de que nem todos os praticantes são cristãos exemplares.
        Alguns praticantes são, no sumário entendimento dos que o não são, pessoas duplas, porque aparentam uma fé que, na realidade, não vivem, enquanto outros há, como os ditos não praticantes, que mesmo não cumprindo esses preceitos cultuais, são mais coerentes com a doutrina cristã. A objecção faz algum sentido, na medida em que a vida cristã não se reduz, com efeito, a uns quantos exercícios piedosos.
        Mas o cristianismo é doutrina e vida: é fé em acção, esperança viva e caridade operativa. Portanto, a prática comunitária é essencial à vida cristã e a praxe litúrgica, embora não seja suficiente, é-lhe necessária. Assim sendo, mesmo que os praticantes não vivam cabalmente todas as virtudes cristãs, pelo menos não descuram a comunhão eclesial, nem a prática sacramental e a vida de oração. Deste modo, cumprem uma das mais importantes exigências do seu compromisso baptismal, ao contrário dos não praticantes, não obstante a sua auto-proclamada superioridade moral.
        Os fiéis que não frequentam a igreja, à conta dos fariseus que por lá há, deveriam também abster-se de frequentar qualquer local público, porque provavelmente está mais pejado de hipócritas do que o espaço eclesial. Estes novos puritanos deveriam também abster-se de ir aos hospitais que, por regra, estão cheios de doentes, e às escolas, onde pululam os ignorantes. É de supor que o único local digno da sua excelsa presença seja tão só o Céu, onde não consta qualquer duplicidade, pecado, fraqueza, doença, ignorância ou erro. Mas também não, ao que parece, nenhum católico não praticante…
        Segundo a antropologia cristã, todos os homens, sem excepção, são bons, mas nem todos praticam essa bondade. Um mentiroso não é uma pessoa que não acredita na verdade, mas que não é sincero, ou seja, não pratica a veracidade. Os ladrões são, em princípio, defensores da propriedade privada, mas não a respeitam em relação aos bens alheios. Um corrupto não o é porque descrê da honestidade, mas porque a não pratica. Aliás, as prisões estão repletas de boa gente, cidadãos que crêem nos mais altos e nobres valores éticos, mas que os não praticam.
        Mas, não são farisaicos os cristãos que são assíduos nas rezas e nas celebrações litúrgicas, mas depois não dão, na sua vida pessoal, familiar e social, um bom testemunho da sua fé? Talvez. Só Deus sabe! Mas, mesmo que o sejam, convenhamos que são uns óptimos hipócritas. Os hipócritas são bons quando sabem que o são e procuram emendar-se, e são maus quando pensam que o não são, justificam-se a si próprios, julgam e condenam os outros. Os crentes que participam assiduamente na eucaristia dominical, sempre que o fazem recebem inúmeras graças e reconhecem, publicamente, a sua condição de pecadores, de que se penitenciam, com propósito de emenda. Mesmo que não logrem de imediato a total conversão, esse seu bom desejo e a participação sincera na celebração eucarística é já um grande passo no caminho da perfeição.
        Foi por isso que, com alguma ironia e um sorriso de verdadeira amizade, não pude deixar de responder àquele simpático «católico não praticante»:
- Não se preocupe por a Missa estar cheia de hipócritas: há sempre lugar para mais um!

P. Gonçalo Portocarrero de Almada, A Voz da Verdade, 2012.06.17, in POVO

Sobre a morte... e depois da morte!

A mensagem é simples: a morte não é uma opção e se quiseres aprender a versão soft do acontecimento, passa a prestar mais atenção durante a missa

       No meio de um belo dia de praia, um dos meus filhos correu para mim, aflito e com os olhos em água, e suplicou: “Mãe, mãe, eu não quero morrer! Porque é que eu tenho de morrer?!” Foi um momento delirante. Vindo directamente do nada, este grito alarmante, este pedido de socorro desalinhou todo o sentido e coerência que um belo dia de praia transmite ao nosso estado de alma. Despertei do mundo dos seres que hibernam ao sol e certifiquei-me, ainda estonteada, que não estava ninguém a persegui-lo com uma faca. Não estava. No entanto, o meu filho pedia para eu o salvar da morte. O pedido era claro e urgente: ele não queria (nem quer) morrer e achava (já não acha) que o posso salvar. A ideia da morte e de que eu podia fazer logo alguma coisa contra isso ocorreu-lhe ali, a meio de um belo dia de praia e a meio de um belíssimo banho de mar.
       “Mas porquê isso agora… Todos temos de morrer um dia”, respondi com alguma impaciência, contendo-me para não acabar a frase com um “daaah”. No entanto, o rapaz insistiu, com convicção e quase em desespero, na teoria de que a morte não pode ser uma inevitabilidade e que eu, como mãe dele, tenho de lhe dar alternativas, devo dar-lhe respostas animadoras e tentar, pelo menos tentar, livrá-lo desse destino fatídico. Percebi então que para ele o assunto era grave, não era uma mera crise conjuntural originada por um delírio solarengo: era um caso de vida ou morte. Disse-lhe então que não havia nada a fazer, que a vida é feita de contrariedades e desbobinei toda a doutrina cristã sobre a morte. Disse-lhe tudo o que sei sobre a vida eterna e tentei animá-lo com o cenário idílico de que, no fim, nos encontraremos todos no Céu. Sem problemas.
       E ofereci-lhe um gelado.
       Ele ignorou a oferta e fez-me a inevitável pergunta: como é que eu sabia? Sim, se eu nunca tinha morrido, como é que eu sabia que a morte não era bem morte? E se não era bem morte, porque existia vida eterna, porque é que se morria? Não valia a pena morrer se depois se ia viver mais… Não tinha lógica, morrer era, assim, uma perda de tempo.
       Ofereci-lhe então um gelado e uma bola de Berlim. Ele ignorou-me. Queria saber. Respondi-lhe com a doutrina da Fé e falei durante cinco minutos seguidos com a consciência de que ele só percebeu dois por cento daquilo que eu disse. No fim, rematei que ele não devia ter medo. Apenas isso: que devia confiar, porque iria perceber tudo cada vez melhor durante a vida se confiasse.
       Foi então que ele condescendeu e fez o derradeiro pedido: “OK, eu posso morrer. Mas então quero que todas as pessoas de quem eu gosto morram comigo!” Assim, tipo menino mimado irritante: eu vou, mas vocês vêm todos comigo. Não pensem que ficam aqui no bem-bom enquanto eu viajo na estratosfera rumo não sei onde. Nada disso: morro eu, morrem todos – não se ficam aqui todos a rir e a comer McDonald’s enquanto eu levito no meio das nuvens.
       Não liguei, claro – já aprendi a ignorar birras parvas – e obriguei-o a comer o gelado e a bola de Berlim na esperança de que ele ficasse com dores de barriga e, com isso, menos dramático. Resultou. 
       Contudo, desde esse dia que anda meio deprimido, apesar da praia, das bolas de Berlim, dos gelados e de transbordar saúde. O meu filho tem um problema: descobriu que vai acabar por morrer. E eu, a sua própria mãe, confirmei o pior dos seus receios. E pior, não revelei grande emoção com o assunto. Pelo contrário: até o tentei convencer que morrer era… bom. Dramático, este dia.
       No entanto, esta não é a primeira vez que ele me fala da morte. É para aí a milésima. Esta é, sim, a primeira vez que ele revela medo da morte. É a primeira vez que ele se depara com um problema bicudo, o maior problema que pode ter, e ninguém lhe oferece uma solução imediata e racional para ele. Antes pelo contrário: confirmam a fatalidade e com toda a naturalidade. A mensagem é simples: a morte não é uma opção e, se quiseres aprender a versão soft do acontecimento, passa a prestar mais atenção durante a missa.
É um facto que as crianças crescem aos solavancos, mas este, o dia em que eles deixam de ser infantilmente crentes, é dos mais tramados. E até pode ser um belíssimo dia de sol.

Inês Teotónio Pereira , i-online 18 Ago 2012, in POVO

sábado, 18 de agosto de 2012

XX Domingo do Tempo Comum - B - 19 de agosto

       1 – O maior DOM de Deus à humanidade é JESUS CRISTO. Deus faz-Se homem no seio da Virgem Imaculada, pela graça do Espírito Santo, e assume a nossa humanidade, no tempo e prepara-nos para a eternidade.
       Ele é o pão que desce do Céu. E o pão que Ele nos dá é a Sua carne, o Seu Corpo, a Sua vida por inteiro. Retomando o Salmo 40, a epístola aos Hebreus ilumina o DOM que é o Corpo de Jesus. “Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. Então, Eu disse: Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade... Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre” (Heb 10, 1-10).
       O cordeiro pascal agora é Jesus Cristo, que Se sacrifica pela humanidade inteira e de uma vez para sempre. Não mais holocaustos ou sacrifícios de animais, mas CRISTO.
       Adensa-se o clima.
“Os judeus discutiam entre si: «Como pode ele dar-nos a sua carne a comer?»… «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós… A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e eu nele... Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente»”.
       Ele dá-nos o Seu corpo, a Sua vida, para nossa salvação, para que tenhamos a vida em abundância, até à vida eterna.

       2 – A primeira leitura convida ao alimento, que é corporal, mas que aponta para o mundo espiritual, um pão que sacia a fome e que anima o espírito para caminhar.
“A Sabedoria edificou a sua casa e levantou sete colunas. Abateu os seus animais, preparou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas servas a proclamar nos pontos mais altos da cidade: «Quem é inexperiente venha por aqui». E aos insensatos ela diz: «Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da prudência»”.
       Atente-se na clareza do texto: o pão (e o vinho), símbolo de todo o alimento, não é apenas pão, é mais que pão. Releia-se: Vinde comer... deixai a insensatez e vivereis, segui o caminho da prudência!
       O alimento que Deus nos dá há de orientar-nos para o bem, dando sentido às nossas escolhas, fundamentando a nossa esperança, cuidando do nosso peregrinar.
       Nos domingos anteriores, as primeiras leituras, retiradas do Antigo Testamento, apresentavam o alimento como dom de Deus, que dá o pão e o ânimo (alma). Eliseu, reza sobre os pães e distribuiu-os pelos presentes, e do pouco pão se multiplica para muitos, relembrando a passagem do Evangelho da multiplicação dos pães. O povo que caminha pelo deserto é atendido nas suas murmurações, e Deus dá-lhe alimento, o maná e as codornizes, o pão descido do céu. O povo, na certeza que Deus o escuta, caminha doravante mais confiante. Elias, que vagueia pelo deserto, desanimado, pedindo a morte a Deus, é surpreendido pela presença do Anjo do Senhor, que o desperta, lhe oferece o alimento e o desafia a caminhar.

       3 – Nestes domingos que temos vindo a escutar o quarto evangelho, Jesus apresenta-Se despudoradamente como o PÃO da VIDA, o verdadeiro alimento que vem de Deus. É a água que sacia. É o Pastor que guarda, protege e guia. É o pão descido do Céu. E o pão que nos dá é a Sua carne, o Seu sangue, o Seu corpo, a Sua vida por inteiro.
       E se verdadeiramente O acolhemos como alimento, todo o nosso ser se abrirá à Sua graça infinita. Não estamos sós. Nunca mais. Ele está connosco. Do nosso lado. Veio para ficar. Deixa-nos o Seu corpo, a Sua vida. Não Se divide em dois, nem no tempo nem na eternidade. Não se reparte em metades, uma junto de Deus e outra junto de nós. Ele está realmente nos Sacramentos e especialmente no Sacramento da Caridade, na Eucaristia, neste memorial de vida eterna.
       Uma comparação entre a presença de Cristo na cruz e na Eucaristia, que nos foi relembrada numa recente pregação, pode ajudar-nos a compreender o grande mistério do Pão que se nos dá como Corpo de Cristo. Nos crucifixos vemos Jesus Cristo mas Ele não está (o crucifixo é apenas uma imagem). Na Eucaristia não Se vê mas Ele está realmente presente, como o está nos outros Sacramentos, pela força do Espírito Santo.

       4 – Se verdadeiramente acolhemos Jesus Cristo como o verdadeiro Pão que Deus nos dá, ALIMENTO de salvação, então a nossa vida muda. Muda como quando gostamos de alguém e queremos ser-lhe agradáveis, fazendo muitas vezes não o que mais gostamos e nos é mais fácil, mas o que sabemos ser do agrado da pessoa amada, que queremos fazer feliz. É isso que define e autentica o amor. Não amo o outro para ele me fazer feliz, mas quando amo o outro tudo faço para que ele seja feliz.
       A Palavra de Deus faz-nos passar rapidamente do alimento para o compromisso. Comemos para trabalhar. Alimentamo-nos para vivermos, para caminharmos. Em sentido espiritual, o alimento que é Cristo há de levar-nos a agir como Ele agiu, a amar como Ele amou, a sermos parte do Seu Corpo, a darmo-nos como Ele Se nos deu.
       “Guarda do mal a tua língua e da mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus passos”. Como no Salmo, saboreamos a presença de Deus em nós e, por conseguinte, evitamos todo o mal e perseguimos todo o bem.
       Do mesmo jeito, o apóstolo São Paulo, mostra-nos como nos configurarmos ao Corpo de Cristo, que é a Igreja e do qual somos membros:
“Não vivais como insensatos, mas como pessoas inteligentes. Aproveitai bem o tempo, porque os dias que correm são maus… procurai compreender qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis… mas enchei-vos do Espírito Santo,… dando graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
       O alimento corporal é essencial, mas essencial é também a vida, a graça de Deus, a sabedoria, a companhia, a beleza, a presença dos irmãos, sentirmo-nos parte de algo maior e mais duradouro. Como é bom e belo e agradável sermos Corpo de Cristo.

Textos para a Eucaristia (ano B): Prov 9,1-6; Sl 33 (34); Ef 5,15-20; Jo 6,51-58.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

E o Céu não tem fronteiras...

       O Céu é o próprio Deus, o seu estar, a sua Glória indizível. Simbolicamente, os céus estão acima de nós, são aquilo que nos cobre, representam, no fundo, o teto, a dança festiva, o horizonte escatológico da nossa própria existência. Sabemos que, sobre todos os lugares, existe o Céu. Sabemos que o Céu não nos cobre apenas nos dias de alegria, mas também nos tempos de tristeza e sofrimento. Nas horas de encruzilhada, em que a esperança parece diminuta. Sabemos que nenhum lugar tem mais Céu que outro. O santuário não tem mais Céu do que o lugar onde trabalhamos, onde nos comprometemos, na ação e na fadiga, com a nossa profissão e nos nossos serviços... Sobre o teto acolhedor não existe mais Céu do que sobre a estrada solitária que atravessámos.
       E o Céu não tem fronteiras. Não temos, no fundo, de falar outra língua, não temos de realizar nada de especial, porque o Céu é aquilo que nos cobre continuamente.

Pe. José Tolentino de Mendonça, Pai-nosso que estais na terra.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Não são as ideias, mas os encontros que mudam a vida

       Não são as ideias, mas os encontros que mudam a vida. Não são as teorias, mas as pessoas. Por isso, se tivermos dificuldade em mudar, talvez se deva ao facto de não sermos capazes de encontrar, de viver o encontro com o espanto e conservá-lo no coração.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Todos nós vivemos graças à misericórdia de uma mulher

       Eis a misericórdia por excelência: quando uma mãe recebe em si um filho. Todos nós vivemos porque, um dia, uma mulher nos deu o seu sim, nos recebeu e acolheu. Todos nós vivemos, graças à misericórdia de uma mulher. Maria é mãe de misericórdia para com Deus, recebe-o no seu seio. Diante dela, Deus inclina-se e espera misericórdia primordial que só ela pode conceder-lhe, o seio onde poderá fazer-se carne. Maria é misericordiosa com Deus. E o mesmo acontece connosco; sermos misericordiosos com Deus. Depois, talvez sejamos misericordiosos uns para com os outros.

       Acolher, um verbo que gera vida; acolher, a nossa tarefa, a nossa missão humaníssima, porque o homem torna-se aquilo que acolhe. Se acolheres vaidades tornar-te-ás vazio, oco; se acolheres paz, darás paz. O homem torna-se aquilo que habita. Verdadeira vida é ser e estar habitado por Deus.

       A casa não é apenas o lugar onde habitamos, não é somente morada que nos restaura: é a porta aberta para o infinito, porque Deus fala-nos primeiro que tudo onde somos nós mesmos, em silêncio e à escuta, com atenção livre.
       Casa, o primeiro lugar da proximidade de Deus. Lugar da boa batalha da fé.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Solenidade da ASSUNÇÃO de NOSSA SENHORA AO CÉU

       1 – “Depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas… com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos são Pedro e são Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (Papa Pio XII, Munificentissimus Deus).
       A definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora ao Céu, em corpo e alma, é fruto do sensus fidei de todo o povo cristão. Não é uma declaração imposta por parte da hierarquia da Igreja, mas o culminar da vivência da fé. Desde o início da Igreja que a Virgem Imaculada teve um lugar muito especial, na oração, na liturgia, nos Padres e grandes teólogos, nas palavras dos Papas, na piedade popular. Os dogmas da Imaculada Conceição (8 de dezembro de 1854, por Pio IX) e da Assunção da Virgem Maria (1 de novembro de 1950, por Pio XII) estão estreitamente ligados. Com efeito, o Povo de Deus desde há muitos séculos aceitava a Imaculada Conceição da Virgem Maria e a Sua não corruptibilidade corporal, acreditando simultaneamente que Aquela que foi concebida sem pecado também foi preservada da corrupção do sepulcro e assumida por Deus desde sempre e para sempre.
       “A Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte” (Vaticano II, Lumen Gentium 59).

       2 – Celebrar a Assunção de Nossa Senhora ao Céu é reconhecer que a nossa vida se abre ao Infinito, ao Transcendente, que se projeta para Deus. De Deus viemos e para Deus havemos de voltar, não por partes, mas na totalidade da nossa vida humana.
       Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, precede-nos na glória como nos precede no acolhimento de Jesus Cristo, exemplificando com a Sua vida como poderemos cumprir a vontade de Deus. Com Ela nos situamos entre dois SIM's imensos, o sim da anunciação (Lc 1, 26-38) – Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra – e o sim da Cruz. Dessa hora em diante o discípulo acolheu-A em sua casa. Maria vem para nossa casa, para a nossa vida. Jesus da-no-l'A por Mãe – Eis a tua Mãe – tornando-nos filhos – Mulher, eis o teu filho (Jo 19, 25-27). Hoje os discípulos de Jesus somos nós e, por conseguinte, é a nós que Ele confia e entrega Maria, é a nós que reconhece como irmãos, é a nós que dá uma nova filiação, nova vida, filhos de Maria, filhos bem-amados de Deus.
       A fé na Assunção de Nossa Senhora parte da Sua especial missão na vida de Jesus. Ela é desde sempre escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, e por isso, Mãe de Deus. No SIM dado a Deus, nasce Jesus, Deus faz-Se homem, assumindo a nossa condição mortal. Mas, sublinhe-se, que o SIM de Maria não é um momento, mas é a VIDA toda por inteiro. A sua "consagração" a Deus fá-la responder com pressa e delicadeza às pessoas que A rodeiam, como na Visitação ou a intercessão nas Bodas de Canaã. Por aqui se vê também a Sua mediação/intercessão junto de Jesus, que nos implica: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 1-12).

       3 – Celebrar a Assunção de Nossa Senhora ao Céu, em corpo e alma, é viver na esperança, é viver com o olhar fito em Deus, e na certeza que Ele não nos abandona nem agora nem no futuro, nem em vida nem na morte e nada, nem a espada, nem qualquer poder, nos poder separar do AMOR de Deus. Chama-nos à vida e guardar-nos-á para sempre junto de Si. O SIM de Deus é pleno em Maria e sê-lo-á em nós.
       Como bem nos recorda o apóstolo São Paulo: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram… em Cristo serão todos restituídos à vida”. 
       A salvação vem por Cristo e n'Ele todos são restituídos à vida. Maria, a primeira cristã, por excelência, a primeira a acolher Jesus, em seu ventre e como Mãe dulcíssima no Seu coração, guia-nos em vida, e mostra-nos como chegar ao Céu, como ser assumidos por Deus. O primeiro a ressuscitar é Jesus, e depois cada um na sua vez. Maria mantém a ligação maternal, umbilical e espiritual, com Jesus, no tempo e na eternidade. Nem a morte a separa do Seu amor maior.
       “Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça... E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido»”. 
       Primeiro Maria dá-nos Jesus, coloca-O no berço para que O possamos encontrar, descobrir e contemplar, para que possamos enternecer-nos com Ele, com o Seu olhar. A seguir, Jesus dá-nos Maria, como Mãe, para sempre. Ela continua a cumprir com a sua missão de Mãe, intercedendo por nós, aproximando-nos do Seu filho.

       4 – “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre... Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor...”. 
       Isabel apresenta-nos a razão por que Maria é a bendita do Senhor, porque acreditou em Deus, em tudo o que vem de Deus. Algo de mais profundo acontece naqueles ventres maternos. A salvação que vem de Deus, Jesus, Aquele que salva, no ventre de Maria faz exultar de alegria o Precursor, João Batista, no seio de Isabel.
       Bem se pode dizer que o primeiro sinal da presença de Deus entre nós é a ALEGRIA que vem de dentro, que brota das entranhas mais íntimas e profundas, que brota da própria vida. Do berço da vida. O Evangelho é então Boa Notícia, que germina no silêncio, é Alegria que se comunica e se espalha. Isabel e Maria deixam que do silêncio e da vida em gestação a boa notícia se torne audível. “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações”. 
       A alegria é tamanha que Isabel não se contém nas palavras. A alegria e confiança em Deus são tão palpáveis que Maria exterioriza reconhecendo-se SERVA diante da grandeza e misericórdia de Deus. Também aqui Ela nos mostra como fazer nascer em nós o Filho de Deus. Quem se julga e se apresenta e vive como senhor de tudo e de todos, fecha-se ao DOM, fecha-se ao AMOR, encerra-se e deixa de ser boa notícia. Aquele que se humilha, isto é, que reconhece a sua fragilidade e finitude, abrindo-se à graça de Deus, pode e dará abundantes frutos.

       5 – “Uma mulher levantou a voz no meio da multidão e disse: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Mas Jesus respondeu: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática»” (Evangelho da Missa vespertina: Lc 11, 27-28).
       Neste diálogo, Jesus alarga o horizonte da maternidade de Maria para uma dimensão universal, no tempo e no espaço, e indica-nos o caminho para integrarmos a família de Deus, para nos tornarmos irmãos, filhos, pais, parentes Seus.
       A maternidade de Maria é biológica e espiritual em relação a Jesus; é espiritual em relação à humanidade inteira. Assim Deus o quer. Assim o queiramos nós.
       A Assunção de Maria recorda-nos o caminho que A levou a ser acolhida por Deus na eternidade e que passa pela escuta atenta da Palavra de Deus, vivendo o dia-a-dia na pressa de ser prestável àqueles que Deus colocou junto de nós, como bem expressa o Evangelho da Visitação.
       A mãe está bem onde os filhos estão. Maria, como Mãe, acompanha Jesus notando-se a Sua presença nos momentos mais críticos, quando o julgam louco ou no momento da paixão, bem junto à Cruz, bem junto a Jesus. O olhar de Mãe não se desvia do olhar do Filho. Destruída interiormente, mas firme, garantindo ao Filho que está com Ele até ao fim.
       O Filho quer que os Seus discípulos partilhem daquele olhar, daquele AMOR, daquela cumplicidade. E, como discípulos, nós queremos acolhê-la em nossa casa, preparando a nossa vida para que o Seu olhar maternal não despegue do nosso. Ela indica-nos o caminho, fazer o que Jesus nos pede, escutar a palavra e vivê-la com alegria. Na glória de Deus, Maria continua a atrair-nos para o Seu Filho Jesus.

Textos para a Eucaristia: Ap 11, 19a; 12, 1-6a.10ab; 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Transmitir alegria é agir segundo o estilo de Deus

       No serviço à alegria descobrimos um dos modos mais delicados de Deus cuidar de cada homem. Transmitir alegria é agir segundo o estilo de Deus. Cada um tem um dom próprio, único, irrepetível e é o espaço da sua alegria.

ERMES RONCHI, As casas de Maria

domingo, 12 de agosto de 2012

Nota Pastoral sobre a festa de Nossa Senhora dos Remédios

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS
Nota Pastoral
       1. No próximo dia 8 de Setembro, dia em que a Igreja celebra a Festa da Natividade da Virgem Santa Maria, a Igreja que vive na Cidade de Lamego celebra a Solenidade de Nossa Senhora dos Remédios, sua Padroeira principal.

        2. Nossa Senhora dos Remédios é, com certeza, nas suas coordenadas culturais e religiosas, o ponto mais alto (falo de outras alturas) da cidade de Lamego, mas também de toda a nossa Diocese de Lamego, e ainda de muita gente humilde e devota do inteiro Portugal e até do estrangeiro, que acorre a este lugar alto (a Bíblia chama «lugar alto» [maqôm], mais alto do que eu, aos santuários de Deus) para, juntamente connosco, bater a esta porta aberta desta Casa da Mãe de Deus e nossa Mãe, à procura de algum consolo para as suas dores e de um bocadinho de esperança para a sua vida.

        3. A nós, Igreja de Deus que vive nesta Cidade e nesta Diocese de Lamego, compete-nos, portanto, pôr a mesa e acender a lareira, para que esta Casa da nossa Mãe seja um lar belo e acolhedor, onde todos aprendamos outra vez a sentir-nos verdadeiramente filhos e irmãos.

        4. Ouso, por isso e para isso, apelar a todos os Movimentos e a todas as Comunidades Paroquiais espalhadas pelo espaço da nossa Diocese de Lamego, com os seus párocos e fiéis, acólitos e porta-estandartes, a marcarem presença activa, peregrinante e orante, de modo a enchermos de Fé, de Amor e de Esperança todos os caminhos que vão dar ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.

        5. O Dia Grande é o Dia 8 de Setembro. Nesse Dia haverá no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, às 10 horas, a Solene Celebração da Eucaristia. E às 16 horas terá lugar a Solene Procissão que, saindo da Igreja das Chagas e atravessando as ruas da cidade, se dirigirá para o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.

        6. Toda a grande Celebração requer que nos preparemos condignamente para ela. Nesse sentido, o Santuário oferece um itinerário de preparação, que decorrerá de 30 de Agosto a 7 de Setembro, com dois momentos altos em cada um dos dias desta novena: às 6 horas da manhã, haverá a Recitação do Terço, Adoração e Celebração da Eucaristia; e às 18 horas, haverá um tempo de oração mariana, orientado pelas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras. No dia 6, no final da Oração da manhã, a imagem de Nossa Senhora dos Remédios será levada em Procissão para a Igreja das Chagas, de onde sairá no dia 8, em Solene Procissão, às 16 horas.

        7. Aproveitemos este tempo de graça para renovarmos a nossa Alegria cristã e a nossa Dedicação à Mãe de Deus e Mãe nossa, que sempre nos acolhe na sua Casa e nos conforta nos seus braços maternais.

Lamego, 11 de Agosto de 2012, memória de Santa Clara de Assis

+ António Couto, Bispo de Lamego

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Mar, terra e ar: o calar, o gritar, o cantar...

       "Gandhi evidencia três espaços de vida do cosmos e mostra como cada um desses três espaços vitais comunica também um modo próprio de ser. No mar vivem os peixes e estão calados. Os animais sobre a terra gritam, mas os pássaros, cujo espaço vital é o céu, cantam. Do mar é próprio o estar calado, da terra, o gritar, e do céu, o cantar.
       Porém, o Homem participa dos três: ele traz consigo a profundidade do mar, o peso da Terra e a altura dos Céus; por isso são também suas as três propriedades: o calar, o gritar, o cantar. Hoje (...) vemos que para o Homem privado da transcendência lhe sobre só o gritar, porque quer ser somente terra e procura tornar a sua terra também céu e profundidade do mar. A verdadeira liturgia, a liturgia da comunhão dos santos, restitui-lhe a sua totalidade. Ensina-lhe novamente o calar e o cantar, abrindo-lhe a profundidade do mar e ensinando-o a voar, o ser do anjo; elevando o seu coração, faz ressoar outra vez nele aquele canto que tinha esmorecido. Mais, podemos até dizer que a verdadeira liturgia se reconhece precisamente pelo facto de que ela nos liberta do agir comum e nos restitui a profundidade da altura, o silêncio e o canto. A verdadeira liturgia reconhece-se pelo facto de ser cósmica, não à medida de um grupo. Essa canta com os anjos. Essa cala-se com a profundidade do universo em expectação. E desse modo redime a terra".

J. Ratzinger/Bento XVI,
in Guido Marini, Liturgia. Mysterium salutis. Paulus. Lisboa 2011.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DEPENDE de TI...


Esta manhã, ao acordar, desejei ter um bom dia. Meditei e vi que isso dependeria muito de mim.
Hoje posso queixar-me porque está um dia de chuva, ou posso dar graças a Deus porque as plantas são regadas grátis.
Hoje posso sentir-me triste porque o dinheiro é pouco, ou simplesmente fazer só os gastos necessários.
Hoje posso queixar-me da minha dor de cabeça, ou louvar a Deus porque ainda me mantém em vida.
Hoje posso chorar porque as rosas têm espinhos, ou alegrar-me porque os espinhos têm rosas.
Hoje posso queixar-me porque tenho de trabalhar, ou alegrar-me porque tenho emprego.
Hoje posso olhar para as pessoas como objetos, ou respeitar a sua dignidade humana e divina.
Hoje posso ser um pessimista que vê tudo negro, ou ser um otimista que vê o lado positivo da vida.
Hoje posso ser um gerador de conflitos com toda a gente, ou optar por ser um construtor de paz e amor.
Hoje posso nada fazer pela felicidade dos outros, ou praticar uma ou mais boas ações.
Hoje posso viver como se Deus não existisse, ou viver com os pés na terra e o pensamento em Deus.
Cada dia que nasce apresenta-se como uma página em branco. Ser um dia mau ou bom, isso dependerá de mim. E também depende de ti!
Pedrosa Ferreira, recolhido por Luísa Serôdio,
in Boletim Paroquial Voz Jovem, julho 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fé mística, irmanada com as criatura, fundada em Deus

       Do muito que aprendi na Acão Católica, (JAC) Juventude Agrária Católica e na (JOC) Juventude Operária Católica, descobri que, as pessoas do campo, em contacto constante e direto com a natureza, não só pela beleza que o envolve, mas o próprio trabalho, o contemplar, o germinar das sementes, a paciência de saber esperar, têm, em princípio, mais sensibilidade para as coisas de Deus. O camponês sabe que o resultado da sua colheita depende do seu saber fazer, do seu esforço e, por isso, trabalha como se tudo dependesse dele, sabendo no entanto que há outros fatores também decisivos para que a colheita resulte. De qualquer modo não desiste, confia, sabe que Deus providenciará.
       Ainda jovem, participei numa conferência, de um famoso teólogo alemão, sobre o Cristo-centrismo do mundo. Dessa conferência, guardei algo que me tem servido para a vida. Tudo no mundo está imbuído, penetrado de Deus. Deus é como um Pintor célebre, que deixa a sua marca em toda a sua obra, de tal modo que os apreciadores, ao olharem para ela, reconhecem de imediato o seu autor.
       Passeando com uma amiga, ao entardecer, como quem revela um segredo, confessa-me:
       – Gosto tanto de vir para aqui!... Quando venho sozinha eu rezo e sinto-me tão bem! É como se estivesse na Igreja. Vejo esta paisagem, estes montes, estes campos, estas árvores, estas flores, os passarinhos cantando, a água correndo… Que maravilha! Tudo nos fala de Deus. 
       Vem isto a propósito de um texto que li e refleti e rezei e partilho convosco, ainda que seja muito sinteticamente. O autor começa afirmando que, todos nós, estamos feitos de fé e sem fé, sem confiança, não poderíamos ser, falar ou mesmo conviver. A partir destas premissas, apresenta alguns rasgos caraterísticos da fé que estamos chamados a viver nos tempos de hoje:

1 – Uma fé Mística
       De uma fé apoiada numa cosmovisão de certezas firmes, temos que passar a uma fé mística cada vez mais enraizada no mistério de Deus, mistério que nos envolve, nos origina, nos funda e nos regenera.
       Uma fé feita de confiança radical e simples, vivida no seio da complexidade e incerteza, no meio da intempérie. Uma fé que nos leva a saber que somos acolhidos e defendidos na nossa vulnerabilidade, lugar para a misericórdia. Uma fé dialogante e amável, que sabe que a verdade e o bem, não são posse sua, mas não renuncia a ser testemunho da graça que a faz viver.

2 – Irmanados com todas as criaturas.
       Precisamos viver uma espiritualidade ecológica que implica uma nova maneira de nos situarmos ante a natureza e ante os outros. Uma espiritualidade que proporcione a nossa harmonia com o Cosmos, que repare a rutura secular entre Deus e a criação.
       Uma espiritualidade que redescubra o mistério de Deus no coração do Cosmos e contemple o Cosmos no Mistério de Deus.
       Precisamos duma espiritualidade animada pela cortesia e gentileza para com todas as criaturas, tratadas como irmãs.
       Uma espiritualidade que:
  • é um modo de pensar, sentir e atuar em comunhão;
  • uma forma de se situar ante qualquer realidade, desde o respeito e a reciprocidade;
  • que vê tudo com admiração, gratidão e confiança;
  • que admira venera e cuida;
       Animada pela convicção de que “todos os seres, dos mais simples aos mais complexos, formam um todo orgânico”, “todos procedemos de um mesmo ato amoroso do Criador” e por isso “há uma fraternidade e uma sonoridade fundamentais entre todos os seres”, todos “levam em si os traços das mãos divinas que os plasmaram”.

3 – Uma fé fundada em Deus

       Tudo está fundado em Deus que é “essencialmente comunhão, vida em relação, energia em expressão e amor supremo”, que vê no universo em formação uma metáfora do mesmo Deus, uma imagem da sua exuberância de ser, de viver e de colaborar que deu a cada ser o poder de se ir fazendo em relação com todos os seres;
       Fundada numa fé em Deus que “sustem todas as coisas com sua palavra poderosa”;
       Uma fé que partilhe a esperança de libertação e o gemido da criação inteira. Corpórea e sensível, convencida de que “não há redenção pessoal sem redenção da natureza humana e da natureza da terra a que os seres humanos estão indissoluvelmente ligados, porque convivem com ela”.
       Ante todo isto resta-nos cantar com o Salmista: 
Grandes e maravilhosas são as Tuas Obras,
Ó Senhor Deus, Omnipotente!...
Justos e verdadeiros os Teus caminhos
Ó Rei dos povos
Como não temer-Te, Senhor!
Quem não dará glória ao Teu Nome!...
Porque só Vós sois Santo. Aleluia, Aleluia.
Eva La Salette  (a partir de ARREGUI, A Graça de Crer no Nosso Tempo),

terça-feira, 7 de agosto de 2012

E D I T O R I A L :: Voz Jovem :: julho 2012

       Respiramos férias, ainda que nem todos as possam usufruir, pelos compromissos profissionais, ou pelas condições económicas adversas, ou porque ainda se encontram com trabalhos precários ou mesmo sem trabalho.
       Nas comunidades paroquiais, como em Tabuaço, o ambiente ferial é notório nas atividades pastorais e na participação nas celebrações, em especial na Eucaristia, sobretudo na vespertina, mas também na dominical. Um dos fatores (in)visíveis é a maior ausência de crianças e adolescentes, em particular daqueles que eram assíduos em tempo de catequese paroquial.
       Em abono da verdade, as férias são benéficas para todos e todos deveriam ter não apenas o direito mas a possibilidade de as gozar. Uma pausa na rotina quotidiana, mudança de ocupação, um horário diferente, momentos de encontro e de convívio, de festa e reunião da família e dos amigos, maior tempo de repouso. Poderá ser também tempo de reflexão, de mudar aqueles aspetos que nos impedem de estarmos bem connosco e com os outros e com o mundo.
       A fé, contudo, não tira férias. É como o ar que respirámos. É como o alimento. Se não fizermos uma refeição compensamos por outra mais farta (pode não ser mais saudável), ou por outros alimentos mais frugais ou mesmo por comidas de plástico. É como a vida familiar, ou como o amor. Os tempos podem ser diferentes e as vivências das mesmas também, mas não há lugar para desaparecer do mapa, ou de anular os laços por algum tempo. Com efeito, o amor, a alegria, a fé, os sentimentos, quanto mais se partilham, vivem e celebram, tanto mais hão de frutificar.
       Neste contexto, o voz jovem de julho aponta já para o próximo Ano Pastoral, o ANO da FÉ, convocado pelo Papa Bento XVI, com vários momentos importantes: Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização, em Roma, 50 anos após o início do Vaticano II, 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, Jornada Mundial da Juventude, no Brasil…
       Na nossa Diocese o lema está escolhido: “Vamos juntos construir a casa da Fé e do Evangelho”, tendo em conta o ano da Fé, e a Nova Evangelização, e a Igreja como casa de todos e para todos. Dia 17 de setembro, o Plano Pastoral será apresentado na Assembleia do Clero...