1 – «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Comum a João Batista e a Jesus Cristo, o convite ao arrependimento, a arrepiar caminho, aderindo ao bem, à justiça e à verdade. A motivação maior é a proximidade do Reino de Deus. São Mateus mostra-nos esta continuidade entre a voz e a palavra, entre o Precursor e o Messias, entre o Batista e o Filho de Deus, mas também a rutura: Jesus é a Luz das Nações.
Mateus mostra-nos outra continuidade, Jesus é o Messias anunciado pelo profeta: “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz se levantou. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos. Vós quebrastes, como no dia de Madiã, o jugo que pesava sobre o povo, o madeiro que ele tinha sobre os ombros e o bastão do opressor”.
Jesus, o Messias de Deus, vem eliminar toda a treva, vem como servo sofredor, impondo-se pela Palavra, pelo Amor, pela Bondade. Com Ele vê-se a grande LUZ, o Céu desce à terra, Deus faz-Se tão pequeno, tão frágil, que Se torna homem, um de nós, um dos nossos.
2 – Veja-se, antes de mais, a delicadeza de Jesus. Inicia a vida pública, ou pelo menos, torna mais visível e intensa a sua atividade missionária a partir do momento em que João Batista foi preso. Só então Jesus anuncia a proximidade do Reino. Não faz concorrência a João, nem ofusca o seu ministério, ainda que a consciência cada vez mais esclarecida de João apontem para Jesus e para um tempo novo.
A continuidade discursiva (e prática) é evidente. A marca dos discípulos de João é a mesma dos discípulos de Jesus: arrependimento, conversão, adequação da própria vontade à vontade de Deus, isto é, a tudo o que possa traduzir amor, justiça, paz, perdão, solidariedade, partilha. Com Jesus vem a força do Espírito Santo que Ele dará a todo aquele que se predispuser a alargar o próprio coração para acolher Deus e se dar aos irmãos.
Logo de início Jesus Se faz acompanhar mais de perto por alguns discípulos. Não se pode chegar ao todo sem preencher as partes, não se anuncia a boa Nova ao mundo inteiro de forma geral e abstrata. Anuncia-se o Evangelho, o Reino de Deus a pessoas concretas, ao Sr. António, à D. Maria que todos dias vejo à janela, ao Sr. Joaquim que me dá boleia para o trabalho, ao Luís que todos os dias me diz bom dia, ao tio Zé que fica feliz sempre que eu passo à sua porta e lhe pergunto se a esposa está melhor. Jesus cruza-se com pessoas de carne e osso e, sendo verdadeiramente Homem, Ele tem os mesmos limites espácio-temporais. Precisa de outras mãos, de outros pés, de outros corações. Precisa de quem possa continuar o que Ele diz e faz. Chama pelo nome. Pedro, Tiago e João, André e Filipe, Bartolomeu, Mateus e Judas, Ana e Sofia, Ricardo e Tomás, chama cada um de nós. Vamos, ouçamos o que diz, vejamos o que faz, para depois sermos nós evangelizadores, refletindo o Deus que nos habita.
«Vinde e segui-Me e farei de vós pescadores de homens». Eles foram. E nós, aceitamos o repto de Jesus? Há um tempo para consertar as redes e refazer a vida, curar as mágoas, e há um tempo para seguir Jesus, que se tornar uma oportunidade ainda maior para curar feridas.
Pelo caminho, Jesus anuncia o Reino de Deus, cura as pessoas das suas enfermidades. As palavras concretizam-se em gestos concretos. Bem dizer (bênção) e bem fazer (obras, prática).
3 – Chamamento. Seguimento. Envio. Apostolado. Jesus chama, desafia-nos ao seguimento. Percorrer as pegadas de Jesus, procurando atualizar para cada tempo, para cada vida, a postura de conciliação e de amor, de proximidade e de promoção que Jesus prosseguia. A primeira condição é escutar Jesus. A segunda, segui-l'O, ouvir o que Ele diz, ver o que Ele faz, treinar-se a dizer e a fazer como Ele. Por um lado, seguimo-l'O para estarmos sempre com Ele. Por outro, seguimo-l'O para nos deixarmos enviar e nos tornarmos apóstolos, levando a palavra e a cura e a salvação.
O caminho não está isento de dificuldades, próprias da nossa condição mortal e finita.
No seguimento de Jesus, o apóstolo é confrontado com situações que não estaria à espera. É certo que todos partimos do pressuposto que só Deus é perfeito, só Deus é santo. Nessa medida, todos corremos o risco de falhar, por uma ou outra razão, senão agora, amanhã. Mas quando nos deparamos com falhas onde julgávamos que estava tudo bem, poderá advir a desilusão e cansaço.
Paulo convida, novamente, a comunidade a deixar-se converter e transformar por Jesus Cristo, procurando cada um aproximar-se o mais possível do Senhor, e quanto mais perto d'Ele mais perto uns dos outros.
“Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir. Eu soube, meus irmãos, pela gente de Cloé, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo». Estará Cristo dividido?”
Esta vigilância há de ser um referencial para as nossas comunidades cristãs e para todos os seus membros. Ainda que possa, em determinada altura, haver uma maior identificação com uma pessoa que nos estimula a viver a fé, ou um santo em quem colocamos mais a nossa devoção, a LUZ é sempre Jesus Cristo. É o critério, o conteúdo, o rosto, pelo qual havemos de nos ver como Seus seguidores.
4 – Para seguir Jesus há certamente muitas condições, o essencial, porém, é deixar-se plasmar e guiar pelo Espírito Santo. Não vamos sozinhos. Deus está connosco, através do Seu Espírito de Amor. Quando as trevas forem mais fortes, rezemos, voltemos a rezar, para que a Sua vontade se realize em nossas vidas.
“O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?”. Se Ele está por nós, quem estará contra nós?
Textos para a Eucaristia (ano A): Is 8, 23b – 9, 3 ; Sl 26 (27); 1 Cor 1, 10-13.17; Mt 4, 12-23.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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