A globalização está em gérmen no coração humano e no plano da criação. O ser humano é um ser social. Deus salva-nos em povo, comunidade dos Seus filhos. O pecado – nas diversas formas de egoísmo, inveja, ganância, isolamento – quebra os laços que nos congregam como irmãos.
Ao aproximar-se a hora derradeira, Jesus reza ao Pai para que os discípulos se mantenham UM, como Ele e o Pai são UM (cf. Jo 17,21)). É simultaneamente um desafio e um compromisso para cristãos e comunidades eclesiais. O desígnio do Evangelho é a comunhão de todos os homens e mulheres, entre si e com Deus. Se um é o mesmo Pai, então somos todos filhos, todos irmãos. Não faz sentido que acentuemos aquilo que fere e nos destrói, o que divide e nos desumaniza, quando o chão é comum e nos irmana.
Na Oração Sacerdotal, Jesus traça também a missão dos Seus discípulos, comprometendo-os com a história: “Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno” (Jo 17, 15). Fixamos o nosso olhar no olhar de Deus que nos devolve aos irmãos, onde Se reflete a Sua presença.
A revolução industrial, primeiro, com a mecanização progressiva do trabalho; a evolução dos meios de transporte, possibilitando ligações por terra, ar e mar, e cada vez mais seguros e mais rápidos; a aceleração dos meios de comunicação social, do telefone fixo ao telemóvel, do computador à internet, aperfeiçoando técnicas e instrumentos de comunicação. Encontramo-nos numa aldeia global. Antigamente queríamos dar um recado saíamos de casa e íamos ao encontro da pessoa. As distâncias eram “distantes”. Horas, dias, semanas, meses ou anos para saber de alguém que estivesse noutra aldeia, cidade, noutro país ou noutro continente. Assim também para visitarmos um parente. Uma viagem a Lisboa demorava quase todo o dia, quando já havia carreira (autocarro). Hoje o contacto com outra pessoa, ainda que do outro lado do mundo, está ao alcance de um clique, de um telefonema, ou de um contacto visual através de ferramentas como o Skype. Os avós de hoje aguardam aquela hora no final do dia para verem o netinho. Os pais aguardam a comunicação dos filhos para se verem, como se estivessem à janela…
A evolução traz muitos desafios, aproximando pessoas e povos, mas nem todos beneficiam. Há hoje uma multidão cada vez maior de excluídos, pobres, pessoas que contam apenas e só para as estatísticas. Cabe-nos globalizar a esperança e a caridade, concretizando-a onde nos encontramos.
in VOZ DE LAMEGO, n.º 4258, de 1 de abril de 2014
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