Celebramos hoje a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, e desde há 49 anos o Dia Mundial da Paz. Cada ano que começa é um tempo animado pela esperança onde se formulam desejos que são preces que exorcizam o que de menos bom aconteceu no ano que termina e imploram o que almejamos para o ano que começa. A paz é, talvez, o pedido coletivo mais comum.
O lema escolhido pelo Papa Francisco, para este dia é: “Vence a indiferença, conquista a paz”, todo um programa que diz bem os caminhos a seguir e a evitar para alcançar este bem coletivo. A ausência da paz não resulta só da ação dos beligerantes mas também do silêncio dos pacíficos, que podem atolar-se no “lodaçal da indiferença, que é, talvez, a mais grave doença que afeta a humanidade deste tempo” como recorda D. António Couto, nosso bispo.
A indiferença envenena, desde logo, as relações interpessoais. Quantas vezes a indiferença é a forma mais frequente de “matar” alguém na nossa vida. Frequentemente, sob a capa de uma “tolerância”, mal entendida, exercemos esta forma subtil de violência: este ou aquele irmão é-nos indiferente. Esquecemos as obras de misericórdia. Para não nos incomodarmos deixamos de fazer a correção fraterna ou suportar com paciência as fraquezas do próximo; paciência pró-ativa de quem dá suporte e respeita o ritmo da conversão do outro.
A globalização da indiferença, afirma o Santo Padre, conduz a uma malsã autossuficiência do homem que o leva, não só a fechar-se ao irmão, mas também a Deus e à Criação. Colocados sob o lema do Jubileu da Misericórdia: “Misericordiosos como o Pai”, somos convidados a passar da indiferença à misericórdia através da conversão do coração que crie uma cultura da solidariedade e da compaixão. Num discurso a sacerdotes, a 3 de Setembro passado, o Papa Francisco advertia: “Por favor, que nas vossas comunidades nunca haja indiferença. Comportai-vos como homens. Se surgirem discussões ou diversidade de opiniões, não vos preocupeis, é melhor o calor da discussão que a frieza da indiferença, verdadeiro sepulcro da caridade fraterna”. Uma orientação útil para qualquer cristão e para todas as comunidades humanas e eclesiais.
Ao celebrarmos hoje a maternidade divina de Maria, voltamo-nos para Aquela que é modelo de abertura a Deus e aos irmãos. Ela é a antítese da indiferença. A sua grandeza vem-lhe toda de Deus e, por isso, ela canta “A minha alma glorifica ao Senhor, porque olhou para a sua humilde serva”. Esta atitude humilde de quem sabe que tudo é dom de Deus, fá-la viver em permanente estado de prontidão diante dos apelos Deus e das necessidades do próximo, leva-a a correr para junto de sua prima Isabel e a lembrar ao seu filho, nas bodas de Caná, que aqueles noivos não tinham vinho.
Que a Senhora do caminho, da pressa e da visitação, nos cure da doença da indiferença e nos torne atentos às necessidades do irmão.
Pe. João Carlos Morgado
Pró Vigário Geral da Diocese de Lamego
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