Quando ouvimos uma afirmação desta logo somos tentados a responder rapidamente que Deus nos fala pela criação, pelas pessoas, pela beleza e harmonia da natureza, pelos acontecimentos, fala-nos pela Palavra revelada, palavra de Deus em palavras humanas, e, para nós cristãos, fala-nos em Jesus Cristo, a Palavra de Deus encarnada.
É uma certeza que nos vem da fé e que é comum a outras religiões ou convicções religiosas. Também o Antigo Testamento, que nos une aos judeus, na primeira Aliança e na revelação da vontade de Deus através das gerações, se narram as intervenções de Deus, por sinais, por anjos, pelos acontecimentos históricos, pelos patriarcas, juízes, profetas e reis, que acolhem a Palavra de Deus e a comunicam ao povo.
Os profetas são o expoente máximo desta comunicação de Deus ao seu Povo. Chamados e enviados por Deus, são os Seus mensageiros especiais. Alertam. Chamam à atenção para os desvios, os pecados e os afastamentos dos mandamentos, cujas consequências são nefastas para uma sadia convivência social. Vão junto dos reis para os aconselharem, para denunciarem injustiças, prepotências, para lhes relembrar que a realeza é derivada, isto é, são reis em nome de Deus e é em nome de Deus que devem servir e cuidar de todo o povo, especialmente dos seus membros mais frágeis, promovendo a coesão social, que permitirá, por sua vez, a defesa contra os ataques dos inimigos. Acalentam a esperança. Nos momentos de maior dificuldade, nomeadamente no Exílio, recordam tudo quanto Deus fez pelo povo, o que aconteceu para que estivessem nessa situação e o que os aguarda no futuro. Há que perseverar, pois Deus continuará a guiá-los para a felicidade, no regresso à terra prometida.
Jesus é o Profeta por excelência. É a própria Palavra de Deus, feita vida, feita pessoa, encarnando. É rosto e presença do Pai. É a eternidade que se entranha no tempo.
Mas voltemos ao desafio inicial… Se Deus falasse, poderia dizer claramente o que tinha acontecido e não precisávamos de ir a tribunal! Mas pronto, a justiça acabou por prevalecer… Deus sabe o que faz, não dorme. Se não for cá, há de ser no outro mundo!
Fé simples, mas profunda! A sabedoria do coração que dá esperança, ilumina, sossega, desafia, mas que também pode confundir! A fé nem sempre é fácil, sobretudo quando as coisas não são como projetamos, quando as injustiças prevalecem apesar e além da fé, da confiança em Deus e nos seus desígnios, além da oração e dos sacrifícios… E então há que redobrar a oração e a confiança em Deus!
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4388, de 22 de novembro de 2016
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