sábado, 15 de julho de 2017

São Boaventura, Bispo e doutor da Igreja

Nota biográfica:
       Nasceu aproximadamente no ano 1218 em Bagnoregio, na Etrúria; estudou filosofia e teologia em Paris e a seguir ensinou as mesmas disciplinas, com grande aproveitamento, aos seus irmãos da Ordem dos Frades Menores. Foi eleito Ministro Geral da sua Ordem, cargo que exerceu com prudência e sabedoria. Foi nomeado cardeal bispo de Albano e morreu em Lião no ano 1274. Escreveu muitas obras filosóficas e teológicas.

Oração (de colecta):
       Concedei-nos, Deus todo-poderoso, que, celebrando hoje a memória de São Boaventura, aproveitemos a riqueza dos seus ensinamentos e imitemos a sua ardente caridade. Por Nosso Senhor...

A MAIOR DAS CAPACIDADES: AMAR

       «Certa vez, Frei Egídio (um dos companheiros mais queridos de S. Francisco), homem muito simples e piedoso, falou assim ao Ministro General, Frei Boaventura (+ 1274), um dos maiores teólogos da Igreja.
       - Meu Pai, Deus deu-lhe muitos dotes. Eu, pessoalmente, não recebi grandes talentos. O que devemos nós, ignorantes e tolos, fazer para sermos salvos?
       O douto e santo Frei Boaventura elucidou-o dizendo:
       - Se Deus não desse ao homem nenhuma outra capacidade senão a de amar, isto lhe bastaria para se salvar.
       - Quer dizer que um ignorante, pode amar a Deus tanto como um sábio?, perguntou Frei Egídio, tentando entender.
       - Mesmo uma velhinha muito ignorante, disse-lhe com ternura o grande teólogo, pode amar mais a Deus do que um professor de Teologia.
       Dando pulos de alegria, Frei Egídio correu para a sacada do convento e começou a gritar:
       - Ó velhinha ignorante e rude, tu que amas a Deus Nosso Senhor, podes amá-l`O mais do que o grande teólogo Frei Boaventura.
       E, comovido, ficou ali, imóvel, durante três horas.»

(Pe. Neylor J. Tonin, em "Histórias de Sabedoria"), in Abrigo dos Sábios.

São Boaventura, bispo: «Itinerário da alma para Deus»

À sabedoria mística revelada pelo Espírito Santo

Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo; o propiciatório colocado sobre a arca de Deus e o sacramento escondido desde os séculos. Quem olha para este propiciatório, de rosto plenamente voltado para ele, contemplando-o suspenso na cruz, com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com Ele a Páscoa, isto é, a passagem. E assim, por meio da vara da cruz atravessa o Mar Vermelho, saindo do Egipto e entrando no deserto, onde saboreia o maná escondido. Descansa também no túmulo com Cristo, parecendo exteriormente morto, mas sentindo, quanto lhe é possível no estado de viador, aquilo que na cruz foi dito ao ladrão que aderiu a Cristo: Hoje estarás comigo no paraíso.
Nesta passagem, se for perfeita, é necessário que se deixem todas as operações intelectivas e que o ápice mais sublime do amor seja transferido e transformado totalmente em Deus. Isto porém é uma realidade mística e ocultíssima, que ninguém conhece a não ser quem recebe, nem ninguém recebe senão quem deseja, nem deseja senão aquele que é inflamado, até à medula da alma, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou à terra. Por isso diz o Apóstolo que esta sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo.
Se pretendes saber como isto sucede, interroga a graça e não a ciência, a aspiração profunda e não a inteligência, o gemido da oração e não o estudo dos livros, o esposo e não o professor, Deus e não o homem, a nuvem e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unção suavíssima e ardentíssimos afectos. Esse fogo é Deus; a sua fornalha está em Jerusalém. Cristo acendeu-o na chama da sua ardentíssima paixão. Só verdadeiramente o recebe quem diz: A minha alma preferia o estrangulamento, e os meus ossos a morte. Quem ama esta morte pode ver a Deus, porque é indubitavelmente verdade que nenhum homem poderá ver-Me e continuar a viver.
Morramos, pois, e entremos nessa nuvem; imponhamos silêncio às preocupações terrenas, paixões e imaginações; passemos, com Cristo crucificado, deste mundo para o Pai, a fim de que, ao manifestar-se-nos o Pai, digamos com o apóstolo Filipe: Isto nos basta; e ouçamos com São Paulo: Basta-te a minha graça; e exultemos com David, exclamando: Desfalece a minha carne e o meu coração: Deus é o meu refúgio e a minha herança para sempre. Bendito seja o Senhor para sempre. E todo o povo diga: Amen. Amen.

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