Hoje celebramos a solenidade de São José, Esposo de Maria, Pai adotivo de Jesus, "custodiador" da Sagrada Família de Nazaré. É também o Dia do Pai. Este ano a celebração vai ser diferente, muito diferente. O país iniciou o Estado de Emergência, tornando ainda mais real o que está a acontecer em Portugal e no mundo, o alastrar da pandemia do coronovírus, COVID 19.
Com a violência da contaminação e a perigosidade do vírus, também o medo, a ansiedade e embotamento, uma tristeza que a todos afeta por nos colocar na situação de isolamento social, em quarentena, afastados uns dos outros, saudando-nos à distância ou através dos meios digitais. Encontrar-nos com os amigos, em comunidade, festejar, rir ou chorar juntos não será exequível nos próximos tempos, pois a recomendação é séria e a nossa responsabilidade não é transmissível. Cabe respeitar, respeitar, respeitar, mais do que nunca, o espaço do outro, sem no entanto deixarmos ninguém para trás. A nossa atenção tem de ser redobrada.
Hoje as igrejas enchiam-se de cor, de festa, de alegria, de júbilo e, assim também, a casa, as nossas famílias. Que não se deixe de comemorar este dia em honra de São José ou, se não formos tão crentes, em honra dos nossos pais. É, inevitavelmente, uma comemoração diferente, em suspenso, mas ainda assim oportunidade para agradecermos a vida, na identidade dos pais, a vida em família e o esforço que uns e outros, com responsabilidades diferentes, teremos de fazer para chegarmos a bom porto. O barco está em andamento. Temos que remar no mesmo sentido, temos que remar todos, libertando os mais frágeis, mas contando com a sua presença para nos animarem a prosseguir. É por nós e é por eles, uns pelos outros, uns com os outros, que remamos avançando por meio da tempestade que ainda há pouco se abateu sobre nós. Não queremos que ninguém salte do barco, que ninguém fique para trás, ajudemos os mais cansados, também precisamos deles, precisamos de todos.
São José é o Protetor da Igreja universal, porque primeiro foi o protetor da Sagrada Família de Nazaré. A vida dele não foi fácil. O momento presente vai ser duro, o caminho vai ser longo, vamos encontrar muitas pedras no caminho. Deus queira que façamos o que disse o Poeta: as pedras que encontrar no meu caminho, vou juntá-las todas, e vou construir um castelo (Fernando Pessoa). Vamos continuar a construir comunidade, a deixar marcas de bem, a ajuntar as pedras que encontrarmos para nos fortalecermos em família e como comunidade.
Depois do nascimento de Jesus, José pôs-se em fuga para o Egito, como refugiado ou foragido (cf. Mt 2, 13-23). Não foi um caminho fácil. Deixou o aconchego da sua casa e da sua terra, deixou os amigos e familiares, mas para segurança de Maria e de Jesus, empreendeu a viagem. Tantas vezes se terá perguntado: se tenho à minha guarda o Filho de Deus, porque é que tenho de enfrentar tantos sacrifícios, porque é que tenho de fugir ou porque é que Deus deixa que isto aconteça ao Seu próprio Filho. Talvez José não tenha ouvido a resposta que esperava, a não ser o que o Anjo lhe revelou em sonhos. Tens de fugir, pega no Menino e Sua Mãe e foge para o Egito. José pôs-se em marcha, permanecendo no Egipto muito tempo, até ao tempo em que ouviu dizer que Herodes já tinha morrido e, então, o Anjo, noutro sonho, mandou-o regressar. E novamente o caminho não se afigurou fácil. José percebeu que ainda não era seguro regressar a Belém e foi para Nazaré.
Finalmente regressou. Foram muitos anos, longe dos seus, longe da terra, longe de casa. Foi um longo tempo em terra estrangeira. Mas foi possível regressar. Pelo caminho, muitas pedras, dificuldades e tropeços, mas sem perder a fé em Deus, a esperança no futuro. A certeza que regressaria animou-o a trabalhar, a cuidar, a educar, a celebrar a fé, a vida, a família. Façamos o mesmo.
Que São José nos proteja, nos livre do desânimo e que no cansaço nos faça ver a Páscoa, a Luz que vem de Deus, que está para lá das nuvens e a certeza do regresso a casa, no caso presente, o regresso à normalidade social.
O caminho vai ser longo, mas não estamos sós, Ele vai connosco, como foi com José, como foi com Moisés e com o Povo Eleito, através do deserto até à Terra Prometida. Deus está no meio de nós. Em cada um de nós. Se tu ajudas, Deus é ajudado. Se tu cais, Deus magoa-Se. Se te levantas, Deus sorri. Se tropeças, Deus inquieta-Se. O que fizermos ao mais pequeno dos irmãos é a Ele que o fazemos. Se deixarmos de fazer, é Deus que deixamos para trás.
Que a Virgem Santa Maria, Esposa de São José, Mãe de Jesus e nossa Mãe, nos afague no Seu colo de ternura e paz, não nos desampare nesta hora de tribulação, de caminho e de luta. Que mais uma vez ela nos traga Jesus, nos traga a paz de Belém, nos traga alegria do Menino, da vida nova e nos faça fazer tudo o que Ele nos pede, e Ele não nos pede mais que não seja amar, amar, amar, que se traduz no serviço e no cuidado uns pelos outros, imitando-O e imitando os Seus pais terrenos, Maria e José.
São José, rogai por nós, pelos nossos pais e pelas nossas famílias.
São José, rogai por nós, pelos nossos pais e pelas nossas famílias.
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