BENTO XVI e ARIE FOLGER (2020). Judeus e Cristãos. Cascais: Lucerna. 120 páginas.
Por ocasião dos 50 anos da Declaração Nostra Aetate, documento do concílio Vaticano II sobre o diálogo inter-religioso, com o número quatro a ser dedicado ao diálogo entre a Igreja Católica e os Judaísmo, vieram a lume alguns documentos que ajudam a aprofundar as relações amistosas entre as duas religiões.
No diálogo bilateral, os judeus foram convidados a preparar uma resposta ao n.º 4 da Nostra Aetate. É nesse contexto, que o rabino Arie Folger mantém um debate público e por escrito, como o próprio refere no prefácio a este pequeno livro, primeiro contra e depois com Bento XVI, Papa Emérito, com quem se viria a encontrar.
Bento XVI escreve “Graça e chamamento sem revogação. Observações sobre o tratado De Iudaeis”. A publicação gera contestação, não da parte dos judeus, mas da parte de teólogos católicos. Porém, ajuda à reflexão, num pressuposto imediato: o diálogo não se faz à custa de abdicar das convicções e da identidade de cada um. Há caminho para o diálogo, para a reflexão, para aprofundar o conhecimento mútuo, para trabalhar temáticas que levem a um efetivo compromisso com a paz, com a justiça social, com a ecologia e a erradicação da pobreza, com a tolerância religiosa e com a liberdade de expressão. Arie Folger coloca-se do lado de Bento XVI, defendendo que o Papa Emérito propõe a leitura cristã-católica. Não se compreenderia que um Papa defendesse uma visão judaica da Bíblia e da Aliança. Bento XVI agradece e responde a Folger, por escrito, clarificando alguns pontos, como o facto de não haver revogação da Aliança de Deus com o Povo Eleito, e não haver lugar à substituição de uma Aliança por outra, mas de haver sucessivas Alianças de Deus com o Seu Povo, com Abraão, com Noé, com Moisés. Na fé e visão cristã, a nova e definitiva Aliança acontece com Cristo, na oferenda do Seu Corpo, na sua morte e ressurreição.
Há outros pontos de contacto, aproximações, compreensão mútua, compromisso moral, permitindo encontrar-se e rezar juntos.
Este livro contém a reflexão de Bento XVI; o prefácio de Arie Folger; a correspondência entre o Papa Emérito e o Rabino; o número 4 da Nostra Aetate; duas intervenções do Papa Francisco; o documento “Entre Jerusalém e Roma – Reflexões a 50 anos da Nostra Aetate”.
Papa Francisco: “De inimigos e estranhos tornámo-nos amigos e irmãos. Tenho esperança de que a proximidade, a mútua compreensão e o respeito entre as nossas duas comunidades continuem a crescer”.
Bento XVI: “De acordo com as previsões humanas, este diálogo nunca conduzirá à unidade das duas interpretações durante a história atual. Essa unidade está reservada para Deus no fim da história”.
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