Quatro dias em Madrid para que Bento XVI apelasse ao compromisso das novas gerações de católicos, ainda que em cenários de hostilidade
Bento XVI encerrou hoje uma visita de quatro dias a Madrid, durante a qual insistiu na necessidade de uma geração sem “medo” de se assumir católica face à “cultura relativista dominante”, à indiferença e mesmo hostilidade de muitos.
Os milhões de jovens que terão passado pelas diversas atividades religiosas, lúdicas e culturais da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na capital espanhola, podem ler em casa uma mensagem que a chuva tirou da boca do Papa, na vigília de sábado: “Que nenhuma dificuldade vos paralise. Não tenhais medo do mundo, nem do futuro”.
Por mais de uma vez, Bento XVI convidou a nova geração de católicos a não “desanimar com as contrariedades que, de diversos modos, se apresentam nalguns países”.
Sem qualquer referência aos incidentes de contestação que rodearam a visita a Madrid, consideradas “marginais” pelo Vaticano, o Papa apontou como prioridade dar “testemunho da fé” nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a “rejeição ou a indiferença”.
Falando em português, como fez várias vezes, admitiu que os católicos se podem sentir em “contracorrente no meio duma sociedade onde impera a cultura relativista que renuncia a buscar e a possuir a verdade”.
Por diversas vezes, Bento XVI apelou a uma presença junto dos “menos favorecidos” e defendeu uma compreensão diferente do “sofrimento”, tanto na via-sacra nas ruas de Madrid como valorizando os jovens portadores de deficiência como aqueles que fazem nascer gestos de “ternura”.
“Por Cristo, sabemos que não estamos a caminhar para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida”, diria aos seminaristas.
Num encontro com milhar e meio de religiosas indicou, por outro lado, que “face ao relativismo e à mediocridade, surge a necessidade desta radicalidade que testemunha a consagração como uma pertença a Deus”.
Aos professores universitários, com quem se encontrou pela primeira vez num contexto de JMJ, falou dos “abusos duma ciência que não reconhece limites para além de si mesma”.
Foi também uma JMJ com marca portuguesa, com a presença recorde de 12 mil participantes, para lá da assumida candidatura a organizar um evento deste género a médio prazo.
O encontro entre 17 bispos e os peregrinos lusos deixou diversos apelos a um compromisso em favor do “bem comum”, do esforço urgente e necessário para superar a atual crise - económica, mas também de valores – que atinge o país, no entender dos responsáveis da Igreja Católica.
No final, a Jornada de Madrid fica como um momento de esperança de uma geração que não se rende perante sinais de desnorte e mesmo descarrilamento social que chegavam dos recentes motins do Reino Unido ou dos atentados da Noruega, para além das pesadas consequências do desgoverno financeiro internacional, sobretudo no aumento da precariedade e do desemprego.
Apesar do pouco tempo que, em 79 horas, o Papa passou entre os jovens, a nova geração ‘JMJ’ respondeu presente e nem o calor, o pó, o cansaço, a chuva ou o vento conseguiram travá-la, sendo justo, por isso, o que disse Bento XVI após a tempestade da vigília de sábado: “Vivemos uma aventura juntos”.
Octávio Carmo, in Agência ECCLESIA, em Madrid
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