1 – Entremos no diálogo com Jesus. Caminhemos com Ele, deixemo-nos envolver pelas suas palavras, questionemo-nos com Ele. Hoje, como discípulos para este tempo, é a nós que Jesus nos interroga: «Quem dizem os homens que é o Filho do homem?»
Com os primeiros discípulos responderemos: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas», uma personagem da História, um homem importante, um revolucionário, cujas palavras e gestos serviram de inspiração para muitos revolucionários, justificaram guerras, mortes, segregações, desculparam compromissos, foram instrumentalizadas por diversas ideologias, ora de direita, ora de esquerda, ora de coisa nenhuma.
Se fizéssemos de jornalistas e saíssemos à rua a colocar esta questão às pessoas que encontrássemos pelo caminho, muitas e diversas seriam as respostas. Ficaríamos a saber mais acerca de Jesus, ainda que esse facto não nos comprometesse mais com Ele e com as Suas Palavras.
Então Jesus pergunta de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»
Agora é que são elas. Ele já não nos pergunta o que se diz d'Ele, qual a opinião predominante. Não. Agora Ele questiona-nos acerca do que sabemos sobre Ele. Quem é Ele para nós, que significado, que importância tem na nossa vida, que alterações fazemos porque Ele está connosco?
Quantas vezes já interrogamos pessoas amigas para sabermos o que se diz de nós. Mas no fim o mais importante não são as opiniões alheias, mas a opinião das pessoas que consideramos amigas.
2 – Descobrimos, neste diálogo com Jesus, o Mestre dos Mestres, que a nossa relação com Ele não se baseia apenas no conhecimento indirecto, naquilo que os outros nos dizem acerca de Jesus. É necessário que nos encontremos com Ele e nos deixemos encontrar por Ele.
Obviamente que o que outros nos ensinaram, o que escutamos das Suas palavras, o que acolhemos dos Seus gestos, a vivência das comunidades crentes, onde se faz e se renova a experiência de fé, são essenciais. Mas de pouco valem se não fizermos a experiência de encontro pessoal com Ele.
A experiência de outros pode iluminar a nossa vida espiritual, como o testemunho dos santos e a sua intercessão, dando-nos também a certeza de que não caminhamos sós. Mas cada um tem que Se encontrar com Ele, conhecê-l'O, amá-l'O, acolhê-l'O em sua casa, na sua vida. Não respondemos com palavras alheias. A pergunta é para cada um de nós: e tu quem dizes que Eu sou, quem Sou Eu para Ti?
Aqui, o conhecimento implica seguimento, compromisso com Aquele que conhecemos, com Aquele que nos questiona, e com as Suas Palavras. Conhecer Jesus há-de levar-nos a viver com Ele e como Ele, colocando Deus antes e acima de toda e qualquer escolha.
3 – O diálogo continua. Pedro responde em nosso nome. Não responde por nós. Mas nas suas palavras há-de estar a nossa resposta e o nosso compromisso com Jesus, ainda que a missão seja diferente: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».
Não é uma resposta qualquer. É a primeira Profissão de Fé. É um conhecimento que vai para lá do sensível. Implica a fé. Implica a inspiração de Deus, pelo Espírito Santo. É uma descoberta e uma tomada de consciência. Como que lhe saem automaticamente as palavras da boca, sem ter exactamente consciência do que diz e aquilo a que se compromete.
É neste entretanto que Jesus Se revela e responde a Pedro: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus».
A profissão de Fé de Pedro dá lugar à missão, ao envio, ao compromisso: «Também Eu te digo: Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus».
Assim com Pedro, assim connosco. A nossa Profissão de Fé leva-nos a comprometer-nos com Jesus Cristo e com o Seu Evangelho de Amor.
4 – Bento XVI, na missão de Pedro, presidindo à Igreja, Corpo de Cristo, de que somos membros, ajuda-nos a reflectir, desafiando-nos a não marginalizar Deus na nossa vida e na cultura do nosso tempo. Quando isso acontece, espreitam diversos perigos, de egoísmo, de ruptura, de conflito, de despotismo, de relativismo, o perigo de tudo ser igualmente válido, o bem e o mal. Se não há uma referência (instância) última, superior, então tudo é possível. Destruo, mato, maltrato, roubo, engano,.. mas quem é que me julgará, se todos são iguais?
Na mensagem para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, partindo de uma das Epístolas de São Paulo (Colossenses 2, 7), o Papa propõe com o Apóstolo: "Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé".
Olhando para a Sua juventude, o papa recorda como procuravam, os jovens do seu tempo, algo superior e grande, a vastidão e a beleza, algo que desse sentido a tudo o mais, mesmo à estabilidade da família e do emprego seguro.
O convite sugere três imagens expressivas:
- a árvore (enraizados), cujas raízes a sustentam, lhe dão força e vigor. Quais são a raízes na nossa vida? A família e a cultura do nosso país. Mas há uma raiz inabalável: a confiança no Senhor.
- a casa construída sobre rocha firme (e edificados em Cristo). "Porque me chamais 'Senhor, Senhor' e não fazeis o que Eu digo" (Lc 6, 46).
- o crescimento da força física e moral (firmes na fé), hoje como naquele tempo não nos podemos deixar esmagar pelo pensamento dominante, em que se dá o eclipse e amnésia de Deus. Com outras preocupações esquecemo-nos d'Ele, não temos tempo para O escutar, para O contemplar. As sociedades sem Deus levaram ao inferno, à destruição, à morte. As sociedades com Deus, em que as pessoas procuram com verdade ouvir a Sua voz, constroem a civilização do amor.
5 – No fundo, não basta a certidão de baptismo para se ser verdadeiramente cristão, como não basta a certidão de nascimento para nos inserirmos na família.
Quantas famílias, unidas por laços de sangue, pela pertença biológica, vivem aos encontrões, atropelos e indiferentes uns aos outros. Pais que não falam com os filhos. Filhos que não querem saber dos Pais, ou dos irmãos. Por outras palavras, se os laços de sangue são importantes, identificadores, muito mais os laços afectivos, o amor, o diálogo, a compreensão, o apoio nos momentos difíceis e a festa dos momentos de bonança, a solidariedade.
Do mesmo modo, a certidão de baptismo diz que somos cristãos. Mas, e se nos deixamos arrastar pelas opiniões que estão na moda, como árvores sem raízes, como casas construídas na areia, sem força para viver nos valores que nos identificam como crentes cristãos?
Que adianta dizer que somos cristãos se mantemos Deus à margem da nossa vida e nos marginalizamos do compromisso comunitário, espaço vital para aprofundar e partilhar, celebrar e amadurecer, confrontar e viver a fé?
Textos para a Eucaristia (ano A): Is 22,19-23; Rom 11,33-36; Mt 16,13-20.
Reflexão Dominicl na página da Paróquia de Tabuaço
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