sábado, 2 de fevereiro de 2013

IV Domingo do Tempo Comum - ano C - 3 de fevereiro

       1 – Na Sinagoga de Nazaré, Jesus assume-Se como Aquele que cumpre as promessas feitas por Deus ao Povo da Aliança. “O Espírito do Senhor está sobre Mim. Ele Me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres...” O Evangelho de Lucas faz-nos entrar na viagem de Jesus que se inicia por casa e terminará na CASA do Pai, com a passagem da Cruz à Ressurreição.
       Depois de falar na sinagoga, Jesus vê os Seus ouvintes dividirem-se, surpreendidos, conhecendo-O, estranham tamanha sabedoria: «Não é este o filho de José?».
       Primeira observação: quantas vezes não somos surpreendidos por aqueles que conhecemos há muito tempo? Já não esperávamos nada de novo (positivo ou negativo), e de repente tudo se altera. Aquela pessoa torna-se a maior desilusão, ou uma caixa de sonhos e milagres.
       A reação de Jesus: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra», clarifica a má vontade de alguns conterrâneos, por que não querem reconhecer-Lhe a sabedoria, ou porque se sentem ameaçados.
       Em todo o caso, Jesus não deixa de avançar com a Sua Missão e de enfrentar aqueles que se Lhe opõem. “Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”.
       2 – Como já vimos em Domingos precedentes, Jesus, com a Sua postura, gestos e encontros, insere-se na história e no tempo. Não vem por sobre as nuvens, de um mundo estranho, alheio, acima, fora. Ele entranha-Se na vida humana, ao lado, dentro, interior, em companhia de homens e mulheres concretas, num lugar da terra conhecido e real, num tempo com hora marcada. Tem pais, tem casa, cresceu em Nazaré. Há pessoas que O conhecem desde menino. Sabem quem é, de onde vem, mas há uma realidade que ultrapassa o mero conhecimento humano, como se vê nas reações.
       Tudo começa em casa. Não se pode transformar o mundo, se antes não se arruma e areja a casa, o coração. Como querer iluminar os outros se estamos às escuras, perdidos, distantes, alheados? Ainda que os santos de casa não façam milagres, é em casa que se começa a construir a vida, e a felicidade, e a solidariedade, e a tolerância, e tudo o que poderá transformar o mundo. Primeiro a família, a sinagoga, Nazaré, alargando a família a todos os que fizerem a vontade de Deus, pelo mundo inteiro. A vida de Jesus só terminará na CRUZ, melhor, na Ressurreição, rasgando os Céus.
       Vem à lembrança a oração de um monge, já muito velhinho, que recordava como testemunho a evolução da sua oração através da idade. Primeiro rezava a Deus para lhe dar força para converter o mundo. Com o tempo viu que não estava ao seu alcance. A seguir, desencantado, começou a rezar com firmeza a Deus que lhe desse a diligência para salvar a sua cidade. Mas também aqui o seu propósito falhou. De novo, desiludido, iniciou uma época nova e cheia de fulgor, rezando a Deus que lhe desse o discernimento para converter os de sua casa, os membros do seu convento. Finalmente, com a maturação dos anos e da vida, passou a rezar: “Senhor, ilumina-me com a Tua graça, para me deixar converter por Ti”. E a vida passou a ter outro encanto, outra alegria. É Deus Quem opera em nós. Só convertidos, como São Paulo, poderemos ser instrumentos de conversão, testemunhando a fé.
       3 – “Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”. É um dos aspetos bem vincados e significativos no texto do evangelho. Jesus segue convictamente. O Seu alimento, a Sua vontade, a Sua vida por inteiro, é fazer a vontade d'Aquele que O enviou, fazer a vontade do Pai. É também essa a condição, para cada um de nós, a condição para sermos Sua família. Não há outras exigências.
       No ANO da FÉ que temos a graça de viver, importa reorientar a nossa vida para a vocação primeira e incontornável da fé cristã: a vocação à santidade. Na linguagem de Jesus corresponde a esta identificação à vontade do Pai. Para São Paulo, que poderemos evocar como testemunho e desafio, significa viver em Cristo e alimentar-nos d'Ele. Para mim viver é Cristo... Já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim.
       É um chamamento que nos precede. É Deus que toma a iniciativa. Mesmo no seio materno, já Deus conta connosco. Mesmo que só vivamos um dia, seremos filhos, herdeiros, a caminho da santidade, a peregrinar para Deus.
       Adoçam-se os nossos lábios com as palavras do profeta Jeremias, acolhendo uma Palavra anterior, primeira, a Palavra de Deus:
«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações. Cinge os teus rins e levanta-te, para ires dizer tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles, senão serei Eu que te farei temer a sua presença. Hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra. Eles combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar».
       Jeremias há de passar pelo meio, sem vacilar, pois cumpre o mandato de Deus, a sua vocação. Profeta para o Povo todo. Se Deus está com Ele, se Deus está por nós, quem estará contra?

       4 – Somos como que um CÓDIGO DE BARRAS, trazemos em nós a origem e a vida nova. Vimos de Deus, redimidos por Jesus, consagrados na verdade pelo Espírito Santo. Não há preço. Cristo “paga” com a Sua vida, para que vivamos na abundância da Sua presença.
       A nossa missão é transparecer o amor de Deus em nós, possibilitando que outros possam ler as marcas de Deus, a nossa identidade, nas palavras e nos gestos, no silêncio e nas obras. Jesus é o ROSTO de Deus. Havemos de ser, como Seus discípulos, o Seu ROSTO e a Sua PRESENÇA no mundo em que vivemos e com as pessoas que Ele colocou à nossa beira. Se Ele é AMOR. Nós havemos de nos tornar AMOR com Ele. Se é PERDÃO, o caminho que nos redime é perdoar.
       Saboreemos o belíssimo texto de São Paulo sobre o AMOR/CARIDADE:
A caridade é paciente, a caridade é benigna;
não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa;
não é inconveniente, não procura o próprio interesse;
não se irrita, não guarda ressentimento;
não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade;
tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
       São Paulo compara a caridade às idades da vida: “Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como criança. Mas quando me fiz homem, deixei o que era infantil. No presente, nós vemos como num espelho e de maneira confusa; então, veremos face a face. No presente, conheço de maneira imperfeita; então, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade”.

       5 – Quando nos faltarem as forças não cessemos de implorar ao Senhor:
“Sede para mim um refúgio seguro, a fortaleza da minha salvação. Vós sois a minha defesa e o meu refúgio: meu Deus, salvai-me do pecador. Sois Vós, Senhor, a minha esperança, a minha confiança desde a juventude”.
       Na oração encontraremos a alegria e a coragem para enfrentar o mundo inteiro, como Jeremias, para prosseguir no caminho da verdade, do bem, e do amor, como Jesus Cristo, passando pelo mundo, por meio deles, para fazer o bem em toda a parte.


Textos para a Eucaristia (ano C): Jer 1, 4-5.17-19; 1 Cor 12, 31 – 13, 13; Lc 4, 21-30.

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