SERGIO RUBIN e FRANCESCA AMBROGETTI, Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio, Paulinas Editora. Prior Velho 2013, 216 páginas.
A eleição de Jorge Mario Bergoglio foi uma surpresa e uma bênção. Embora tivesse sido um dos nomes mais votados no conclave que elegeu Bento XVI, a comunicação social, sobretudo esta, apontava noutro sentido, ainda que o seu nome também fosse referenciado. Uma bênção pelos gestos, pelas palavras e também pela surpresa. A escolha ponderada e amadurecida dos Cardeais contrasta com o imediatismo com que uma eleição papal é discutida.
Com um papel preponderante na América Latina, e como Bispo de Buenos Aires, na Argentina, o então Cardeal Jorge Bergoglio era quase desconhecido por estas bandas, a não ser em ambientes mais eclesiásticos e mais centrais.
Havia, por isso, de buscar toda a informação possível sobre o novo Papa, o que disse, o que escreveu, o que fez.
O livro que agora sugerimos mostra, desde logo, que um Papa não cai do Céu, em para-quedas, o que vem de cima corresponde à essência do pensamento e do ministério de Bergoglio. Este livro é disso exemplo, as grandes intuições estão na entrevista concedida aos dois jornalistas, Rubin, argentino, e Ambrogetti, italiana.
O título original - O Jesuíta. Tinha em conta precisamente a sua pertença à Companhia de Jesus. A entrevista faz lembrar a dos Seus predecessores: "Atravessar o Limiar da Esperança", a João Paulo II, e "O Sal da Terra", ao então Cardeal Ratzinger, procurando que através de múltiplas perguntas venha ao de cima o pensamento e o sentir dos entrevistados, sobre as grandes questões da humanidade, da fé, do tempo presente.
Ao ler-se o livro fica-se com a clara sensação que não saímos defraudados com a respostas diretas, simples, eivadas de fé e de esperança, com desafios concretos ao compromisso de todos na construção do mundo, e em concreto, pois essa era a realidade do seu compromisso pastoral, a construção da Argentina, como pátria e não apenas como país ou nação, pátria que acolhe dos pais melhorando, com o contributo de todos e cada um, para legar às gerações futuras, um mundo mais fraterno, mais solidário.
São variados os temas - o trabalho, a oração, a fé, as convulsões sociais da argentina e do mundo, a resposta à crise, crise económica e crise de valores, o celibato dos padres, os abusos sexuais, a dor e o sofrimento, o combate à pobreza e o compromisso com os mais frágeis, os idosos, as crianças, os doentes, a coerência de vida.
Cada dia que passa somos confrontados com a profundidade e autenticidade das palavras e dos gestos do Papa Francisco. Não são de agora, são de um compromisso diário ao longo de anos. Lendo o livro, com mente aberta, facilmente verificamos que não surpreende assim tanto a sua maneira de estar na vida e na missão. Não se chega a Papa de qualquer maneira. É um longo caminho, parte do qual nos é revelado nesta obra/entrevista ao então Cardeal Jorge Bergoglio.
Há sempre um ponto de contacto importante entre os grandes sábios e os santos. Lembro agora Bento XVI. Numa comparação imediata com João Paulo II levou tempo para as pessoas perceberem a sua humildade profunda, que espelhava uma vida inteira dedicada à Palavra de Deus e de fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja. Por outro lado, sobrevém, nos sábios e nos santos, e é comum a Bento XVI e a Francisco, uma enorme clareza de pensamento, em linguagem muito acessível, simples, sem rodeios, diretos, com o recurso frequente a imagens, comparações, histórias de vida, experiências variadas. Neste aspeto, são muito mais parecidos do que se pode pensar ou se faz crer, respeitando, no entanto, a identidade de cada um, o percurso, o carisma.
Para ler algumas passagens desta entrevista
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