domingo, 7 de julho de 2013

XIV Domingo do Tempo Comum - ano C - 7 de julho

       1 – VOCAÇÃO, SEGUIMENTO, ENVIO. Jesus chama. Chama-nos a todos. A primeira vocação é a proximidade com Ele. Habitar com Ele. Deixar que Ele nos habite. Encontra-nos no caminho. No nosso caminho. Vem morar connosco, para nos tornar Sua morada, para morarmos com Ele. Vem e segue-me, diz Jesus a cada um. Vinde e vede. A minha casa. Será também a vossa casa. A minha vida. Será também a vossa vida. O meu Pai. Será também o vosso Pai. Meu Deus e vosso Deus. Vinde. Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito. Só Ele é Bom. Quem Me vê, vê o Pai. Deus precede-nos. O caminho da santidade, a vocação primeira, é o encontro e a proximidade, a vida e intimidade com Deus.
       Como víamos no domingo anterior, é um chamamento que nos envolve na totalidade. Implica renúncia de nós mesmos, para nos tornamos terra “mole”, lavrada, revolvida, fresca, fértil, para que frutifique em nós a bondade de Deus. O seguimento implica-nos por inteiro. Não é a prazo, ou quando a situação é mais favorável. É um seguimento de todas as horas. Não é para autocomprazimento, mas é um chamamento e seguimento instrumental. Como a Pedro, uma vez convertidos, confirmar na fé os irmãos. A luz da fé que nos habita há de encadear-nos com o amor de Deus, sem nos cegar, mas tornando mais límpido o nosso olhar, deixando cair as escamas do preconceito e da presunção, para que possamos reconhecer nos outros a presença de Deus, acolhendo-os e amando-os como irmãos.
       O envio está inscrito no chamamento, na vocação, e agrafado ao seguimento. Jesus chama-nos para O seguirmos, para vivermos com Ele e para nos enviar a outros, para também os poder chamar e enviar. Não há vocação sem seguimento. Não há seguimento de Jesus, sem envio aos irmãos.
       2 – O envio descrito no Evangelho de hoje é preparatório, é um estágio. O ENVIADO é Jesus. É o Enviado do Pai. Entretanto, os discípulos que O seguem, são introduzidos na Sua vida, e na lógica do serviço à humanidade, no anúncio da Palavra de Deus e da proximidade do Reino de Deus, cuidado e atenção com as pessoas mais vulneráveis. Qual novo Moisés – o grande líder do judaísmo escolheu 72 anciãos para o ajudarem a governar o Povo eleito –, Jesus designa 72 discípulos e envia-os dois a dois, a todas as cidades onde irá depois. À imagem de João Batista, também eles vão preparar o caminho, ao mesmo tempo que se preparam para o futuro, quando Jesus já não estiver fisicamente no meio deles, e de nós também.
       A primeira condição, no chamamento, no seguimento e no envio, é a ORAÇÃO. A ligação estreita Àquele que nos assume como filhos. Sem a ligação ao Pai, em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, não poderá haver ligação aberta e generosa aos outros. A seara é grande. É à minha porta e em minha casa. Mas a minha casa é também o mundo. São os meus vizinhos. Os amigos e os que me provocam azia. A seara é o mundo inteiro, para o qual somos enviados a transformar com o amor de Deus. A incendiar com a Luz da Fé, da Esperança e da Caridade. O dono da Seara não nos faltará. Sempre enviará. Com a oração tomamos consciência desta certeza, predispondo-nos à escuta de Deus e da Sua vontade para nós.
       A intimidade com Deus leva-nos à CONFIANÇA. Se é Deus que nos chama e nos envia, nada há a temer. Ele vai connosco. Acompanha-nos onde nos encontra, no caminho que percorremos. “Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias”. Neste sentido, a LEVEZA. Não precisamos de muitas coisas, precisamos de ser mediadores da Palavra. Não levamos coisas, levamos Deus. Qual Tesouro em vasos de barro!
       O envio provoca PRESSA, como a pressa de Maria quando se dirige para a montanha em auxílio da Sua prima Isabel. Não podemos fixar-nos muito tempo no acessório e secundário. Por isso não poderemos ir sobrecarregados, pesados, com os nossos medos e ambições. Há que levar Cristo a toda a parte, a todas as dimensões da vida, social, política, económica, desportiva, cultural. Não “vos demoreis a saudar alguém pelo caminho”. Não vos entretais, arranjando desculpas para não avançar no caminho. Ide. Avançai. O tempo urge. É necessário espalhar a Boa Nova.
       E o que levamos nós? Cristo e a PAZ que Ele nos dá. E se vamos, entramos. Não ficamos no caminho, ou a meio do caminho, entremos na casa, no coração, na vida das pessoas. Não tenhamos medo do compromisso e do envolvimento com os outros. Assim em cada casa, assim em cada cidade. Mas sem imposições. A Paz que ora levamos, e o anúncio do reino de Deus, é uma proposta. Temos que tornar credível a proposta que fazemos, em nome de Cristo, mas sem impor, pela força, pela ameaça, ou pelo desvirtuamento da mensagem. A mensagem é uma Pessoa: JESUS CRISTO.

       3 – Se Jesus vai connosco no caminho, caminhamos mais seguros. Os méritos não são nossos, mas d'Ele, no Espírito Santo que nos assiste, contando com os nossos dons e com as nossas fragilidades através das quais o Senhor faz maravilhas.
       Uma das dádivas do Senhor é a ALEGRIA de nos sabermos parte integrante de um projeto de vida nova, que envolve a humanidade inteira. Se carregamos o fardo da tristeza, de forma contínua, se estamos constantemente carrancudos, como podemos testemunhar a beleza do Evangelho, como podemos anunciar a confiança em Deus e a alegria de sermos salvos?
       Os discípulos regressam cheios de entusiasmo. Sabem que o sucesso é devido ao NOME de Jesus, a Quem até os espíritos demoníacos obedecem. “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”.

       4 – O apóstolo da Palavra, sanciona a mesma alegria e a mesma proveniência: Jesus Cristo.
       “Longe de mim gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão valem alguma coisa: o que tem valor é a nova criatura”. 
       Lindíssima e oportuna esta carta do apóstolo aos Gálatas. Como traço mais vincado a constatação: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (2,20). O Apóstolo deixou-se converter por Cristo, n'Ele corrigiu a trajetória da sua vida. Pelo caminho foi surpreendido por uma luz intensa, pela luz de Jesus. A partir de então tornou-se um dos apóstolos mais ocupados no anúncio do evangelho, ou pelo menos, dos mais reconhecidos pelos escritos sagrados e pela tradição da Igreja.
       Perante a comunidade da Galácia, Paulo repõe a origem do seu ministério, e a centralidade de Cristo e do Evangelho, alertando para o perigo de alguém procurar dividendos para si próprio e não para Cristo. Um pouco antes já tínhamos escutado as palavras do apóstolo: “Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta”. Não nos vangloriemos. Tudo vem de Deus. Amemo-nos uns aos outros, no Espírito de Deus, suportemo-nos na caridade.
       O Apóstolo termina deixando um desabafo, com a saudação de sempre: “Doravante ninguém me importune, porque eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus. Irmãos, a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito”. 
       Também nós, Senhor, queremos trazer no nosso corpo, na nossa vida, as marcas do Vosso amor, da Vossa Paixão por nós.

       5 – De ALEGRIA nos fala também Isaías. “Alegrai-vos com Jerusalém, exultai com ela, todos vós que a amais. Com ela enchei-vos de júbilo, todos vós que participastes no seu luto. Assim podereis beber e saciar-vos com o leite das suas consolações, podereis deliciar-vos no seio da sua magnificência”.
       Deus não abandona a cidade. O tempo de treva dá lugar à esperança e à certeza de que Deus virá. É tempo de saborear – – a presença de Deus. Será como uma torrente que absorve todo o nosso medo e desesperança. Diz-nos o Senhor: “Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados. Quando o virdes, alegrar-se-á o vosso coração e, como a verdura, retomarão vigor os vossos membros. A mão do Senhor manifestar-se-á aos seus servos”.
       O Senhor leva-nos pela mão. É como Mãe que nos amamenta e cuida de nós. Não nos abandona à nossa sorte e ao nosso pecado. Ele virá. Ele veio. Ele vem, procurar-nos. É uma avalanche de alegria e de amor. É tão grande o Seu amor em nós, que o nosso coração transborda de alegria. Não cabemos em nós. Levemos a outros o leite das consolações de Deus.
       Ao jeito de Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, façamos com que a palavra de Deus seja carne e corpo e vida em nós, e apressadamente levemos Jesus pelo mundo fora…


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 66, 10-14c; Gal 6, 14-18; Lc 10, 1-12.17-20.

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