A boneca de sal vagueou pela terra até chegar ao mar,
onde ficou absorta a comtemplar aquela massa imensa de água inquieta
que ela nunca vira.
"Quem és tu?", pergunta a boneca ao mar.
"Entre e vê" - diz o mar sorrindo.
Dito e feito, ela entrou mar dentro
e quanto mais entrava, mais se dissolvia
até restar só um pouco do seu corpo.
Antes de derreter-se totalmente,
exclamou a Boneca admirada:
"Agora já sei quem sou!
Anthony de Mello, O canto do pássaro, Paulinas 1995.
Há uns largos anos, no Seminário Menor de Resende, foi-nos mostrado um diaporama com este título e a história mais detalhada seria mais ou menos assim:
Era uma vez uma boneca feita de sal. O maior sonho da vida dela era, um dia, poder ver o mar.
Ficava dias e noites embrenhada nos seus pensamentos, tentando imaginar a imensidão e a beleza do grande oceano, e ia ficando presa a uma grande nostalgia - uma espécie de "saudade", vaga, de algo que lhe parecia conhecer apesar de tão longínquo...
Um certo dia, decidiu meter mãos à obra - não podia esperar mais -, e decidiu partir.
Depois de uma árdua e continuada busca, chegou, por fim, a uma areal - uma praia à beira mar. E, ali, confirmou o que o seu coração adivinhava: como era imenso e apelativo aquele mar. E como era misterioso?
Ali ficou, perdida em contemplação, e tentando indagar mil e uma palpitantes respostas advindas daquele mar:
- Diz-me, quem és tu?
- Sou o mar.
- Mas o que é o mar?
- Sou eu!
- Explica-me melhor, por favor! Deixa-me perceber, deixa-me conhecer-te...
- É simples: toca-me.
A boneca, extasiada, mas um pouco a medo, avançou um passo em direcção à espuma que orlava aquela vastidão, e deixou que os seus pequenos pés fossem acariciados por aquela "evanescência?". Um pouco mais afoita, mergulhou os seus pés, em pleno, na água que a convidava. E - surpresa! - pareceu-lhe que começava mesmo a compreender qualquer coisa...
Quando, porém, pôs os olhos no chão, apercebeu-se, assustada, que os seus pés haviam desaparecido. Protestou aflita:
- Oh! Que fizeste tu? Onde estão os meus pés?
Mas o mar replicou:
- Porque choras? Apenas foi necessário ofereceres alguma coisa - um pouco de ti própria - para poderes compreender...
A boneca reflectiu e serenou; e pareceu-lhe que entendia um pouco mais.
Então, decidida avançou. A água começou lentamente a cobrir partes do seu corpo, ao mesmo tempo que sentia que estas, dolorosamente, se desvaneciam. A cada passo que dava, a menina perdia algum pedaço. Contudo - oh, estranho "porquê"! - quanto mais avançava, mais e mais profundamente compreendia, mais saber lhe era comunicado, apesar de ainda não ser capaz de dizer o que era o mar.
Uma outra vez, inquiriu:
- O que é o mar?
Uma última onda arrebatou o que restava dela. E, precisamente, naquele derradeiro momento em que desaparecia na imensidão do seu Seio, a boneca exclamou:
- Sou eu!
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