O meu bisavô era contrabandista. O meu avô contra-mestre. O meu pai, contrabaixo. Seguindo a tradição também eu teria que ser contra. Sou contra tudo. O que disserem e fizeram eu sou contra.
Pequeno episódio contada por um amigo paroquiano e que se referia a um colega cuja opinião, em todas as matérias, era contra, mesmo antes de explicarem, mesmo que posteriormente até participasse com gosto em tais propostas.
Há pessoas assim, cujo ponto de partida é ser (do) contra. Um pouco como algumas crianças: dizemos sim e elas dizem não, nós dizemos não e elas dizem sim. Como adultos devemos ser como as crianças na sua espontaneidade, mas não infantis. “Ser contra tudo”, por princípio, só por que vem do outro, parece-me um absurdo que nos encerra na estupidez. “Só os estúpidos e os sábios não mudam”, diz um ditado oriental. Sábios talvez ainda não sejamos, não queiramos morrer burros. Estamos cá, neste mundo, para aprender alguma coisa. E contribuirmos para um mundo melhor. De contrário seremos apenas parasitas. Também como cristãos.
Jesus era inclusivo. Para Ele não importa a origem ou a condição da pessoa, homem ou mulher, judeu ou pagão, samaritano ou grego, pobre ou rico. Importante mesmo é que cada pessoa descubra a sua dignidade de filho de Deus e aja como irmão de todos. Jesus vem para nos redimir, para nos reintroduzir na comunhão de Deus, construindo a fraternidade baseada nos laços fortes do amor e da compaixão.
A determinada altura, os discípulos proíbem alguns homens que faziam o bem em nome de Jesus, pois não faziam parte do grupo. Jesus diz-lhes claramente que não é importante o grupo a que pertencem mas o bem que fazem.
Preconceituosamente, muitas vezes para lermos um livro, valorizarmos um projeto, acolhermos uma ideia, perguntamos de quem vem. Queria ler um outro autor, por ser conhecido e muitas vezes referido como possível candidato a Prémio Nobel. A obra escolhida será interessante, mas para mim foi intragável avançar além das 10 a 20 páginas.
A atitude do cristão, mas também de todo bom cidadão, deverá ser de inclusão, generosidade em relação aos outros, humildade em causa própria. Ao jeito de Jesus. O bem que vem dos outros não nos diminui. Numa discussão, que promova a escuta, o respeito, a caridade, é possível enriquecermo-nos mutuamente. Argumentar com alguém não é um mal em si mesmo. Só deixa de ser benéfico quando só nos ouvimos a nós, tornando-nos surdos aos outros. Em vez de pensarmos no que vamos responder, seria de todo interessante ouvirmos com atenção o que o outro tem para dizer, pois por vezes está exatamente a dizer o que diríamos a seguir.
publicado originalmente na Voz de Lamego, n.º 4276, de 19 de agosto de 2014.
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