1 – «A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou».
Jesus fixa-nos novamente no essencial. Como seus seguidores temos a obrigação de cuidar uns dos outros e sobretudo dos mais pequeninos. A satisfação das necessidades básicas não nos deve desviar do que nos humaniza e portanto nos faz imagem e semelhança de Deus. Se amamos a Deus, se O temos por Pai, trataremos todos como irmãos. Remetemo-nos ao duplo mandamento do amor: amar a Deus com toda a vida e ao próximo como a nós mesmos. Ou simplesmente amar como Jesus amou, dando a vida. Bem vistas as coisas, basta amar bem a Deus. Se O amarmos de todo o coração nada diremos e nada faremos que Lhe desagrade. Se O amamos de verdade, tudo faremos por Lhe sermos agradáveis, realizando a Sua vontade.
O ministério de Jesus leva-nos para outras margens. Novamente o simbolismo: Jesus não se fica só numa margem, na segurança da terra firme e das pessoas conhecidas, faz-se ao mar e vai ao encontro de outras pessoas. A multidão percebe que nem Ele nem os discípulos estão à beira mar. Sobem para as barcas e vão para Carfanaum onde os encontram. Antes queriam fazê-l’O Rei, agora seguem-n’O, mas Jesus não se ilude, pois bem sabe quais as intenções: «Vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo».
A mensagem de Jesus insiste no trabalho e no compromisso. Há que investir e não ficar à espera que a vida aconteça. Toca a meter mãos às obras. Os milagres acontecem mas temos de fazer o que está ao nosso alcance na certeza que Deus fará o mais.
«Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?» A pergunta que Lhe fazem parece mais uma desculpa, mas é útil para Jesus esclarecer: «A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou». Jesus coloca-Se como a grande obra de Deus. Quem n'Ele acredita terá a vida eterna. Ele é o Pão da Vida.
2 – «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede... Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo».
Escutávamos na primeira leitura que Deus responde ao murmúrio do povo com o alimento necessário para a caminhada pelo deserto. A multiplicação dos pães antecipa a abundância do alimento no Corpo e Sangue de Cristo, na Eucaristia. O Pão que Deus dá ao Povo também é um alimento provisório até à Terra Prometida, onde poderão trabalhar a terra para produzir pão abundante para todos. Para nós Jesus é a Terra Prometida e o verdadeiro Pão de Deus.
Moisés, o grande líder de Israel, faz chegar a Deus o clamor do povo. Através de Moisés, Deus, sempre Deus, mantém-Se fiel, na Sua benevolência para com o povo: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia... Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel».
O autor sagrado completa a informação dizendo que "nessa tarde apareceram codornizes, que cobriram o acampamento, e na manhã seguinte havia uma camada de orvalho em volta do acampamento. Quando essa camada de orvalho se evaporou, apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa, fina como a geada sobre a terra. Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros: «Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?», pois não sabiam o que era. Disse-lhes então Moisés: «É o pão que o Senhor vos dá em alimento».
Percebe-se melhor a resposta de Jesus aos que O interpelam: "Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo... Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
3 – Respondemos à Palavra de Deus com o Salmo, que também é Palavra de Deus: “Deu suas ordens às nuvens do alto e abriu as portas do céu; para alimento fez chover o maná, deu-lhes o pão do céu. / O homem comeu o pão dos fortes! Mandou-lhes comida com abundância e introduziu-os na sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou”.
A oração faz-nos reconhecer a nossa filiação divina, a interdependência com Aquele que nos criou por amor e nos mantém na existência, até que os nossos dias se cumprem e sejamos conduzidos, por Ele, à morada eterna. Enquanto não chega esse tempo, Deus alimenta-nos para vivermos na santidade como povo eleito, povo resgatado. O nosso alimento, assim no-lo ensina Jesus, é que a vontade de Deus se cumpra no mundo, a começar pela nossa vida.
4 – A leitura da Carta aos Efésios, que temos vindo a escutar ao longo dos últimos domingos, revela a preocupação do apóstolo São Paulo em cimentar a fé dos cristãos, a quem considera como filhos na fé, para que prevaleça a graça de Cristo, a unidade do Espírito Santo, em comunhão com o Pai. Há que imitar os santos de Deus. O próprio Apóstolo dá testemunho com a sua vida: a partir da conversão nunca mais viveu para si mesmo, mas para o Senhor.
São eloquentes, incisivas e comprometedoras as suas palavras: "Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras".
A matriz do cristão é Jesus Cristo. É a vida nova no Espírito. Se estamos revestidos com Cristo, vivamos como Ele, como filhos bem-amados do Pai.
Pe. Manuel Gonçalves
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