sábado, 25 de junho de 2016

XIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 26 de junho

       1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Não por capricho. Não para quando dá jeito. Não para ser socialmente beneficiado. Não para ter estatuto, sabendo que também hoje, como ontem, o cristão é olhado com desconfiança, murmurando-se sobre os seus propósitos e seriedade, sobre a sua coerência e seu compromisso com a justiça e com a verdade.
       É uma resposta ao chamamento de Deus. É um encontro com Jesus, crucificado-ressuscitado. É uma opção para sempre, para todas as ocasiões. Não há meio-termo. Ou se é discípulo ou é-se outra coisa qualquer. Ou se é apóstolo ou apóstata. Há uma luz que brilha dentro, a partir do interior, que nos transforma e que, como por osmose, atrai os outros. Como bem sublinhou o Papa Bento XVI sobre o cristianismo e a transmissão da fé, esta far-se-á por atração e não por proselitismo ou imposição.
       Obviamente que há um caminho a fazer-se, conscientes que Ele segue connosco, amparando-nos na fragilidade, dando-nos a mão na queda, levantando-nos, desafiando-nos a continuar. Para chegarmos a ser o que somos pelo batismo, precisamos de tempo, de todo o tempo que tem a nossa vida, não estando isentos de tropeçar, reconhecendo, porém, que maior que o nosso pecado é a Sua misericórdia infinita.
       Seguir Jesus implica-nos por inteiro, corpo e espírito. Independentemente das circunstâncias mais favoráveis ou mais adversas. Por vezes apetece ficar por casa a ver a bola ou a novela. Porque está muito frio. Porque está muito calor. Porque chegou uma visita! Seguir Jesus não dá direito a folgas nem a descanso nem a férias nem a reservas. Ser cristão é colocar no seguimento tudo o que somos: as nossas dúvidas, incertezas, os nossos projetos, os nossos fracassos, as nossas lutas e conquistas, o melhor de nós mesmos. Não somos cristãos de parêntesis. Havendo momentos em que somos cristãos e momentos em que deixamos de o ser por nos ser conveniente. Colocar a nossa fé num parêntesis, uma hora ao sábado ou ao domingo ou numa ocasião festiva. E depois vivemos como nos dá na real gana. Não dá para ser cristão dentro Igreja e não o ser ao sair da Igreja.
       Ser cristão é seguir Jesus Cristo e deixar que Ele vá connosco para onde formos e onde estivermos. Se errarmos, pecando, Ele é e continuará a ser o nosso primeiro e maior amigo. Julgar-nos-á com a Sua misericórdia, para nos ressuscitar.
       2 – Jesus vai mostrando as condições do seguimento e do discipulado. Como a mulher pecadora, reconhecer as próprias fragilidades, colocar-se aos pés de Jesus (como depois Maria, irmão de Marta e de Lázaro), para O escutar, para O conhecer, para sentir o Seu Coração a pulsar. Renunciar a Si próprio, nas variantes de egoísmo, tomar a própria cruz, com as suas sombras e luzes, e estar disposto a perder a própria vida para ganhar a vida em Jesus Cristo, aqui e para a eternidade.
       Hoje, no evangelho, Jesus deixa claro, para o caso de ainda existirem dúvidas, que o seguimento faz-se de docilidade e de firmeza. Docilidade quanto se trata de comunicar aos outros a fé em Jesus Cristo. De firmeza quando Jesus nos bate à porta.
       Depois de lhes ter dito que o Filho do Homem vai ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, e será morto, para três dias depois ressuscitar, preparando-os para o que lá vem, Jesus decide prosseguir em direção a Jerusalém. Envia alguns mensageiros à sua frente à procura de hospedagem. Mas como outrora aconteceu em Belém, também agora não encontram quem os hospede. Sublinha o evangelista que também eles iam a caminho de Jerusalém. João e Tiago reagem intempestivamente: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?» Como é possível que alguém se recuse a acolher Jesus? Ou acolhem-n'O ou que Deus os castigue! A reprimenda de Jesus a João e a Tiago – tal como a Pedro: Vai-te da minha frente, Satanás –, é clarificadora. Não é com violência que se responde às contrariedades!
       Seguem por outras povoações. Pelo caminho, há pessoas que se aproximam de Jesus, falando em segui-l’O ou respondendo ao Seu chamamento com algumas condições, como sepultar um familiar ou despedir-se da família. A uns e a outros, Jesus responde: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça... Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus... Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».
       3 – A prioridade é o seguimento. Por certo que Jesus não menospreza a família e os amigos. Mas nada se pode intrometer entre nós e Jesus.
       Na primeira leitura podemos constatar como Elias consagra Eliseu como Profeta e seu sucessor. Lança sobre ele a sua capa. Todavia dá-lhe tempo para se despedir da família, com festejos. Eliseu andava a lavrar o campo com doze juntas de bois. Conduzia a décima segunda, que abandonou de imediato. Pede então a Elias: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias responde favoravelmente: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». No final, nada fica por resolver, Eliseu pode partir sem reservas, como nos diz o texto: "Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço".
       Seguir Jesus implica que não há outras seguranças que não Ele. Ele é o garante da nossa vida presente e futura. Vale para vocações específicas. Vale para todos os cristãos. É nesta confiança que respondemos à Palavra de Deus com o salmista: "Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio. «Vós sois o meu Deus». Senhor, porção da minha herança e do meu cálice, está nas vossas mãos o meu destino. O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo. Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida, alegria plena na vossa presença, delícias eternas à vossa direita".
       O salmo 15 é colocado na boca de um membro da tribo de Levi, que tinha a responsabilidade do Templo e do culto. A terra prometida foi subdividida por onze das doze tribos de Israel. Os membros da tribo de Levi ficaram dependentes das ofertas ao Templo. As outras tribos têm terras para cultivar e criar o gado, a Tribo de Levi tem por Terra o próprio Deus, dependendo das outras tribos e das ofertas que façam chegar ao Templo.

       4 – Seguir Jesus enraíza-nos no mundo, lado a lado como irmãos. O mesmo batismo. A mesma fé. Uma só família de Deus e para Deus. Cristo, diz-nos São Paulo, libertou-nos para a verdadeira liberdade. Esta faz-nos irmãos, para vivermos firmes na fé e na caridade, colocando-nos ao serviço uns dos outros. Isso agrada ao Senhor que veio salvar-nos. Havemos de ter sempre presente o mandamento do Amor, para nos amarmos uns aos outros como a nós mesmos, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo. Desta forma não ficaremos prisioneiros da carne mas do Espírito do Senhor.
       O Apóstolo usa palavras fortes, alertando-nos: "Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros".
       Certos das nossas fragilidades e tentações, peçamos com fé: "Senhor, que pela vossa graça nos tornastes filhos da luz, não permitais que sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas permaneçamos sempre no esplendor da verdade".
       A verdade, por maioria de razão na Bíblia, não é abstrata, mas concretizável na caridade, no serviço aos outros, no compromisso social pela justiça.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): 1 Reis 19, 16b. 19-21; Sl 15 (16); Gal 5, 1. 13-18; Lc 9, 51-62.

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