sábado, 17 de julho de 2010

XVI Domingo do Tempo Comum (ano C) - 18 de Julho

       1 – O cristianismo não é abstracto, mas vivência concreta do Evangelho no meio do mundo, na relação concreta e quotidiana com pessoas de carne e osso, procurando a verdade, a partilha solidária, o compromisso pela justiça, o empenho pela paz, a construção de um ambiente saudável e fraterno, em casa, com a família, com os vizinhos, no local de trabalho, no lazer, proporcionando aos outros bem-estar e alegria.
       A Primeira Leitura intui a delicadeza de um homem de fé. Abraão, pela hora do calor, resguarda-se à entrada da tenda, na sombra e no descanso. Passam três homens (de Deus) e imediatamente o grande patriarca os retém para que parem, descansem, retemperem forças. Para ele, em todo o caso, são presença Deus. Com efeito, em todas as pessoas poderemos acolher o rosto de Deus. São muitas as oportunidades que se nos apresentam para fazermos o bem. ainda que seja um copo de água.
       Também no Evangelho deste domingo vemos a vivência do carinho para com Jesus, vivido em gestos concretos de acolhimento, ternura e conforto. Cansado da jornada, Jesus tem na casa de Lázaro, de Maria e de Marta um porto de abrigo. Ao passar sabe que pode descansar e retemperar as forças. Marta atarefa-se para cuidar do bem-estar de Jesus. Maria acolhe-O na escuta atenta. Duas formas de acolhimento que Jesus aprecia.
       2 – Em tempos de agitação, de crise, de dificuldades, o nosso porto seguro é Jesus Cristo. Ouvimos as Suas palavras, "vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei". Para nós, Ele é a tenda de Abraão, a casa de Lázaro, de Maria e de Marta. É Ele que nos trata das feridas, o Bom Samaritano, que nos acolhe, nos escuta, nos dá novas forças para o caminhar. É d'Ele que nos alimentamos, na Sua palavra e nos Seus sacramentos, em especial da Eucaristia, o alimento espiritual até à vida eterna.
       Paulo, na Segunda Leitura, mostra a sua alegria por contribuir para disseminar a palavra de Jesus Cristo, por deixar transparecer o Seu amor por nós, manifesto sobretudo na Sua paixão redentora. Cada um de nós, seguindo a interpelação de São Paulo, deve testemunhar a paixão de Jesus Cristo com alegria, pela voz e com a vida.

       3 – A dinâmica da fé permite que todos nós possamos contribuir com os nossos talentos, com a nossa forma de ser, com as nossas qualidades, procurando dar o melhor de nós mesmos, com a tal alegria de que nos fala São Paulo. Por vezes perdemos tempo a discutir os dons que não temos, ou os dons que os outros têm.
       Ora, Deus é o mesmo. É o mesmo Pai. Os dons são tão variados quanto as pessoas, e cada um tem algo importante e essencial a dar aos outros e ao mundo.
       Quando Jesus chama a atenção de Marta: "Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada", diz-lhe precisamente isso. Marta acolhe Jesus com trabalho, arranjando a casa, preparando o repouso e a refeição, mas deverá fazê-lo com alegria, com generosidade e não em esforço. O reparo de Marta a Jesus, merece d’Ele um outro reparo. O que Maria faz é tão ou mais importante. Não basta alimentar o corpo, mas também o espírito. Ela escuta-O, conforta-O do cansaço da missão.
       A Igreja é Marta e Maria. Mas se for demasiado Marta pode esquecer-se da sua origem e do seu fim último. Tudo começa em Deus, na oração, na meditação e na contemplação que leve à Sua adoração. O compromisso com os outros e com o mundo, para o crente, há-de partir daqui, para que não haja instrumentalização de pessoas nem falte a alegria no serviço solidário.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Gen 18,1-10a; Col 1,24-28; Lc 10,38-42.

2 comentários:

  1. Pe. Manuel,

    muito importante estas palavras pois pela vida que levamos, de muita pressa e trabalho , esquecemos do essencial. Alimentar o nosso espírito. Daí penso a origem das nossas estafas, cansaços e nervosismo pois tudo passa a ser uma obrigação. Esquecemos do acolhimento, da escuta e da reflexão. Que até mesmo quando estamos realizando as nossas tarefas é importante para nos deixarmos mais leves,

    obrigada

    abraços fraternos,

    Gisele

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  2. Bom dia Gisele.
    Com efeito a nossa vida espiritual é essencial.
    Esta passagem do evangelho sugere-me uma reflexão, ao tempo do seminário, do então sacerdote e actual Bispo Auxiliar do Porto, D. João Evangelista Salvador, em que nos dizia que a vocação, como a vida, deveria ser ponderada a partir do fim e não do início. Ou seja, tentar imaginar-nos no fim da vida e olhar para trás e avaliar as escolhas feitas. Naturalmente que a vida vista a partir do fim é diferente se vista no imediato.
    A chamada de atenção a Marta aponta claramente para o fim, como final da existência e como sentido de vida.
    Boa semana em Cristo Jesus.

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