PAPA FRANCISCO (2020). Vida após a pandemia. Prior Velho: Paulinas Editora. 56 páginas.
Será impossível alguém falar em 2020 sem falar na pandemia do novo corona vírus e na respetiva doença que provoca, a Covid-19. Desde a primeira hora, a Igreja respondeu à chamada, quer a dar o exemplo no confinamento, suspendendo celebrações, quer na reflexão sobre o momento e sobre as consequências devastadoras sobretudo nos povos e nas pessoas mais vulneráveis, e na ajuda solidária e concreta a pessoas mais desfavorecidas, através de diversos organismos presentes no terreno, quer com a multiplicação de donativos para hospitais, distribuindo por várias países, em todos os continentes, e lançado outras campanhas de angariação de fundos em prol de hospitais ou de países que vivem situações verdadeiramente aflitivas.
O Santo Padre, o Papa Francisco, sentiu o distanciamento físico dos fiéis e a aflição dos serviços públicos para tentar preservar a vida e a saúde das pessoas. A praça de São Pedro espelhou bem o confinamento, esvaziando-se. No dia 27 de março, vimo-lo, pesaroso, alquebrado, subindo a praça de São Pedro, para um momento extraordinário de oração, com a Bênção Urbi et Orbi (sobre a cidade e o mundo). Na sua reflexão, o Papa partiu do texto de São Marcos (4, 35-41), seguindo com uma espécie de refrão: "Porque sois tão medrosos?". Pergunta feita por Jesus aos apóstolos, a atravessar uma tempestade. A partir deste trecho do Evangelho, o Papa enquadra a pandemia, a tempestade, o medo, mas também a confiança em Deus que age por todos aqueles que estão envolvidos.
"«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos". Uma reflexão tocante, assomando a dor partilhada, mas também a firmeza da fé. "O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança... Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7)".
Este é apenas um dos textos incluído neste livrinho. Claro que há forma de ler as intervenções do Papa nas plataformas do Vaticano, mas reunir as reflexões num livro, permite-nos voltar a ler e sublinhar algumas passagens mais tocantes. Vejamos como os títulos atribuídos às intervenções do Papa falam deste momento, mas procuram, já, lançar desafios: "A preparação para o depois é importante", "Como uma nova chama", "Um exército invisível", "Um plano para ressurgir", "O egoísmo: um vírus ainda pior", "Para os jornais de rua", e "Superar os desafios globais".
Na mensagem Urbi et Orbi, no dia de Páscoa, mais uma enxurrada de fé e confiança, e desafio: "Este não é tempo para a indiferença, porque o mundo inteiro está a sofrer e deve sentir-se unido ao enfrentar a pandemia... Este não é tempo para egoísmos, pois o desafio que enfrentamos nos une a todos e não faz distinção de pessoas... Este não é tempo para divisões. Cristo, nossa paz, ilumine a quantos têm responsabilidades nos conflitos, para que tenham a coragem de aderir ao apelo a um cessar-fogo global e imediato em todos os cantos do mundo. Este não é tempo para continuar a fabricar e comercializar armas, gastando somas enormes que deveriam ser usadas para cuidar das pessoas e salvar vidas... Este não é tempo para o esquecimento. A crise que estamos a enfrentar não nos faça esquecer muitas outras emergências que acarretam sofrimentos a tantas pessoas".
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