sábado, 23 de julho de 2011

XVII Domingo do Tempo Comum - 24 de Julho

       1 – Para escutar, compreender e acolher a palavra de Deus é necessário, antes de mais, uma atitude de humildade, de abertura de coração e de mente, de disponibilidade para se deixar tocar/envolver pela graça de Deus, e prontidão para se deixar transformar pela força do Espírito.
       No contexto das parábolas, os discípulos perguntam a Jesus qual a razão para Ele falar em parábolas. Jesus vai respondendo que fala dessa forma para que as pessoas não compreendam. Mas acrescenta um dado muito importante: não compreendem porque os seus corações se tornaram duros. Daqui se conclui com facilidade que a “não compreensão” não assenta na dificuldade da mensagem, ou na pouca erudição da população, mas na dureza do coração, no orgulho, na prepotência, na tradição ignorante, na arrogância, na sobranceria.
       Para escutar, compreender e acolher a palavra de Deus é preciso a humildade de coração. Só um coração humilde é capaz de escutar e compreender. Com efeito, as parábolas contadas por Jesus facilitam a compreensão do que nos quer comunicar.
       Ora, vejamos mais três parábolas sobre o reino dos Céus:
  • “O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo”.
  • “O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola”.
  • “O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente".
       2 – As diversas parábolas ajudam-nos a compreender o mistério do reino dos Céus e o que nos é "exigido" para fazermos parte dos eleitos do Senhor. Não esqueçamos que a condição primeira é a disponibilidade de coração, a humildade diante d'Aquele que vem, que chega até nós e nos impulsiona para o Céu, para a vida divina, a vida na graça santificante.
       Partimos da humildade de coração para a necessidade e urgência de conversão. Só predispondo-nos a mudar o nosso coração, a nossa vida, deixando-nos cativar pelo Espírito Santo que Jesus nos dá, nos preparamos para compreender a Palavra que pode alterar para sempre a nossa vida.
       Jesus explicita a Sua missão no mundo, no meio da humanidade, e a abrangência do reino de Deus, que se estende até aos confins do mundo e ao fim dos tempos. Todavia, desde logo, salta para a liça a prioridade do reino de Deus diante de todas as coisas, de todos os compromissos, de todos os projectos. Todos os projectos só têm um sentido absoluto, definitivo e garantido para o futuro, no Reino de Deus. Este é a pérola mais preciosa, é o tesouro escondido em nós, no campo da nossa vida e que com a vida deveremos preservar. Primeiro o reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais virá por acréscimo.
       3 – Por outro lado, o reino de Deus destina-se a todos.
       Na última das parábolas Jesus compara o reino dos céus a uma rede que lançada ao mar recolhe todo o tipo de peixes, grandes e pequenos, brancos, verdes e vermelhos, azuis e laranjas, pretos e multicolores. Há peixes bons e peixes intragáveis. Mas, tal como na parábola do trigo e do joio (mas também do Semeador que saiu a semear, ou como a parábola do vinhateiro que sai de manhã, ao meio-dia, a meio da tarde, ao entardecer e chama todos os que encontra para a sua vinha, para a todos compensar do mesmo jeito), todos são chamados e todos têm as mesmas possibilidades (de serem pescados), bons e maus, com muitas ou com poucas capacidades. O importante, lembremo-lo uma vez mais, é o coração e a capacidade de cada um se tornar ouvinte, discípulo. A paciência amorosa de Deus é sem limites.
       Deixemo-nos pescar pelo Senhor, sabendo que para sermos bom peixe basta abrir o nosso coração, deixando-nos transformar na fé pelo Espírito de Amor que Jesus nos comunica com a Sua vida, morte e ressurreição.

       4 – Deus chama-nos; em Jesus Cristo vem ao nosso encontro. N'Ele o Reino dos Céus chega até nós. Vem para nos salvar, para que através do dom da Sua vida, do Seu amor infinito, nós sejamos inseridos na Sua vida divina, tornando-nos n'Ele, filhos de Deus.
       São Paulo fala-nos desta vocação primordial: "Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou".
       Em Jesus Cristo fomos/somos redimidos do pecado e da morte, a nossa herança é a vida eterna, a salvação junto de Deus.

       5 – Na dúvida e na incerteza dos tempos presentes, nas provações e dificuldades que encontramos, só a atitude de humildade nos leva a compreender a palavra de Deus e a fazer com que a vontade de Deus se traduza na nossa vontade muito humana. Por vezes podem faltar as forças, o ânimo; por vezes, as preocupações podem esvaziar o nosso compromisso e tornar este mundo mais belo e justo.
       Nunca nos falte a humildade, a abertura de coração. Como Salomão supliquemos a sabedoria para nos deixarmos guiar pelo Espírito de Deus: "Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?».
       Não sabendo o que havemos de pedir, peçamos a sabedoria do Espírito Santo.


Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Reis 3, 5.7-12; Rom 8, 28-30; Mt 13, 44-52.

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