Hoje pedimos ao Senhor a graça de cuidar como Ele da fragilidade do nosso povo; no ano passado pedimos-lhe para sairmos à procura do nosso povo com audácia apostólica...
A Igreja vive no Hoje de Jesus...
Fora desse hoje - fora do tempo do Reino, tempo da graça, de boas notícias, de liberdade e de misericórdia -, os outros tempos, o tempo da política, o tempo da economia, o tempo da tecnologia, tendem a converter-se em tempos que devoram, que nos excluem, que nos oprimem. Quando os tempos humanos perdem a sua sintonia e tensão com o tempo de Deus, tornam-se estranhos: repetitivos, paralelos, demasiado curtos ou infinitamente longos. Tornam-se tempos cujos prazos não são humanos, os prazos da economia não têm em conta a fome ou a falta de escola para as crianças, nem a aflitiva situação dos idosos; o tempo da tecnologia é tão instantâneo e carregado de imagens que não deixa o coração e a mente dos jovens amadurecer; o tempo da política parece, às vezes, ser circular, como o de um carrossel em que são sempre os mesmos que apanham o anel. Pelo contrário, o hoje de Jesus, que à primeira vista pode parecer aborrecido e pouco emocionante, é um tempo em que se escondem todos os tesouros da sabedoria e da caridade, um tempo rico em amor, rico em fé e riquíssimo em esperança.
O hoje de Jesus é um tempo com memória, memória de família, memória de povo, memória de Igreja em que está viva a recordação de todos os santos.
A liturgia é a expressão desta memória sempre viva. O hoje de Jesus é um tempo carregado de esperança, de futuro e de céu, do qual já temos os sinal, e vivemo-lo adiantadamente em casa consolação que o Senhor nos dá. O hoje de Jesus é um tempo em que o presente é um constante chamamento e um renovado convite à caridade concreta do serviço quotidiano aos mais pobres que enche o coração de alegria. Nesse hoje queremos sair ao encontro do nosso povo, todos os dias.
No hoje de Jesus não há lugar para o medo dos conflitos nem para a incerteza, nem para a angústia. Não há lugar para o medo dos conflitos, porque no hoje do Senhor «o amor vence o medo». Não há lugar para a incerteza, porque «o Senhor está em nós 'todos os dias' até ao fim do mundo. Não há lugar para a angústia, porque o hoje de Jesus é o hoje do Pai que «sabe muito bem do que necessitamos» e nas suas mãos sentimos que «a casa dia basta o seu cuidado». Não há lugar para ainquietação, porque o Espírito nos faz dizer e fazer o que é preciso no momento oportuno"
Missa Crismal 2005
in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir, pp 211-212
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