"É parte da dignidade transcendente do homem a sua aberta à esperança... a esperança é uma dinâmica que nos torna livres de todo o determinismo e de todos os obstáculos para construir um mundo de liberdade, para livrar esta história das conhecidas cadeias do egoísmo, inércia e injustiça nas quais tende a cair com tanta facilidade. É uma determinação de abertura ao futuro. Diz-nos que há sempre um futuro possível. Permite-nos descobrir que as derrotas de hoje não são completas nem definitivas, libertando-nos assim do desalento; e que os êxitos que podemos obter também não o são, salvando-nos da esclerose e do conformismo...
A transcendência que a fé nos revela diz-nos além disso que esta história tem um sentido e um termo. A ação de Deus que começou com uma Criação em cujo topo está a criatura que podia corresponder-lhe à sua imagem e semlehança, com a qual estabelece uma relação de amor e que alcançou o seu ponto de maturidade com a Encarnação do Filho, tem de culminar na plena realização dessa comunhão de modo universal...
A certeza na acção escatológica de Deus que instaurará o seu reino no fim dos tempos tem um efeito direto sobre a nossa forma de viver e atuar no seio da sociedade. Proíbe-nos de qualquer tipo de conformismo, retira-nos desculpas para as meias-tintas, deixa sem justificação todos os pactos ou deslealdades. Sabemos que há um Juízo, e esse Juízo é o triunfo da justiça, do amor, da fraternidade e da dignidade de cada um dos seres humanos, começando pelos mais pequenos e humilhados; então não temos forma de nos fazermos de distraídos. Sabemos de que lado temos de estar entre as alternativas que se nos apresentam entre cumprir as leis e esquivar-nos com «esperteza saloia», entre dizer a verdade ou manipulá-la para nossa conveniência, entre dar resposta ao necessitado que encontramos na vida ou fechar-lhe a porta na cara, entre buscar e ocupar o lugar que corresponde á luta pela justiça e o bem comum, segundo as possibilidades e as competências de cada um, ou «estar olimpicamente nas tintas» construindo a nossa bolha; entre um e outra opção, em cada encruzilhada quotidiana, sabemos de que lado temos de estar. E isto, nos tempos que correm, não é pouca coisa..."
in Jorge Bergoglio/Papa Francisco, O Verdadeiro poder é servir.
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