FEYTOR PINTO (2014). A Vida é sempre um Valor. Não posso dizer «não» a ninguém. Entrevista de Octávio Carmo ao Padre Vítor Feytor Pinto. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.
Nos finais dos anos 90, o Pe. Feytor Pinto esteve no Seminário Maior de Lamego. Era conhecido da televisão e da rádio. Nessa ocasião ocupava um cargo importante, o de Alto Comissário do Projeto VIDA, programa governamental de combate à droga, mas que englobará outras dinâmicas de promoção da vida humana. 6 anos, três tendo como primeiro-ministro Cavaco Silva, três anos tendo como primeiro-ministro António Guterres. É certamente este cargo, esta missão, que lhe dá projeção nacional, e internacional.
Quando o Pe. Vítor Feytor Pinto irrompe pela Capela do Seminário de Lamego o que vemos, seminaristas ainda em busca e em formação, um padre, de bom porte, sorridente mas cansado. Ajoelha-se e reza em silêncio. Quando chega a hora de falar, fá-lo em tom bastante baixo, sereno, como um pai diante dos seus filhos. Nessa viagem que efetuou, na qualidade de Alto Comissário, dormiu durante o trajeto de 4 horas, de Lisboa a Lamego. Segundo o motorista, era isso que acontecia em diversas ocasiões. Não havia tempo. Ou melhor, o tempo era para estar onde fosse solicitada a sua presença. Com os seminaristas, rezou o terço, se me não falta a memória, ou uma das horas litúrgicas, e fez-nos uma breve reflexão apontando para o sentido da Vida, e como Jesus era o centro de toda a vida. Penso que não estou a inventar. Ficou-me na lembrança sobretudo a acessibilidade do Pe. Feytor Pinto, irradiando alegria, apesar do cansaço e da viagem, agradecendo o facto de dispor de um motorista, pois assim tinha possibilidade de ir mais longe, aproveitando melhor o tempo.
Nesta entrevista, conduzida pelo jornalista da Agência Ecclesia, Octávio Carmo, e que abarca a vida e a missão do Pe. Feytor Pinto, na Igreja e na Sociedade, na Cultura e na Pastoral da Saúde, envolvido na divulgação do Concílio Vaticano e no compromisso de testemunhar Jesus Cristo, nas responsabilidades no projeto Vida, mas também em outras tarefas, como pároco, como conselheiro, como homem de Deus.
Este livro faz parte da coleção GRANDES DIÁLOGOS, das Paulinas, e que lendo já aconselhamos alguns deles. D. Manuel Clemente, entrevistado por Paulo Rocha: UMA CASA PARA TODOS; Frei Joaquim Carreira das Neves, entrevistado por António Marujo: O CORAÇÃO DA IGREJA TEM DE BATER; Pe. António Rego, entrevistado por Paulo Rocha: A ILHA E O VERBO, e agora a VIDA É SEMPRE UM VALOR.
A primeira parte do livro é constituído pela entrevista. A segunda parte recolhe uma conjunto de textos e intervenções do entrevistado, neste caso, do Pe. Vítor Feytor Pinto: Discurso proferido na 48.ª Assembleia Geral das Nações Unidas enquanto Alto-Comissário para o Projeto Vida; Congresso Mundial da FIAMC (Federação Internacional de Médicos Católicos); Comunicação na reunião da OMS (Organização Mundial de Saúde) para a Europa, na qualidade de observador por parte da Santa Sé; Perante a toxicodependência: uma atitude ética; Linhas Pastorais para redescobrir e revalorizar o Viático (neste caso, proferida no Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, no Vaticano, em 2005).
Para quem trabalha na área da pastoral da saúde, ou melhor, para todos os que lidam com pessoas, pois todas as pessoas aspiram a uma vida saudável. Aliás, o sublinhado da Pastoral da Saúde em lógica de promoção de vida saudável. Atenção, cuidado, respeito, tolerância, diálogo, assunção de convicções próprias. Tratar a pessoa como pessoa. Amá-la. Cuidar dela. Ao jeito de Jesus. Sem olhar à doença, ao credo, ao sexo ou à religião.
"O jogo dos afetos pede respeito profundo pelo outro, se realmente queremos encontrar saída para os problemas. Depois, há um ponto fulcral, absolutamente fulcral: é preciso ter em consideração que a pessoa humana é mais importante do que a economia. A economia que não serve a pessoa está em pecado, é pecaminosa" (pp 21-22)
"Amor e dor: não se recebe o amor sem se sofrer por ele. Aliás, é o mistério de Jesus Cristo. Ele amou a humanidade de uma maneira radical, a ponto de dar a vida pela própria humanidade. Ele próprio diz: «Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama»... (p 53)
"Hoje, a fé, em tempo de nova evangelização, tem de exprimir-se de outra maneira, através da autenticidade e coerência de vida, através de gestos concretos de solidariedade e serviço, através da autenticidade e coerência para além da dor, do cansaço e do fracasso" (p. 86).
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