Proposta de reflexão a distribuir pelos fiéis na Solenidade de Páscoa, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tabuaço:
1 – Hoje a nossa igreja está diferente. Depois do despojamento dos altares, da austeridade nas flores, do sacrário vazio… Agora temos os altares revestidos de toalhas brancas, a igreja perfumada com flores novas e frescas, o sacrário está cheio e iluminado, os sinos tocam festivamente desde ontem à noite…
Esta profusão de elementos entram-nos pelos sentidos e anunciam, mesmo aos mais distraídos, que algo de novo acontece. Espantamo-nos maravilhados, como as mulheres que foram ao sepulcro e viram tantos sinais, que também lhes entraram pelos sentidos, de que algo novo tinha acontecido. Elas foram testemunhas da ressurreição de Jesus, nós somo-lo hoje.
E aqui nas margens do Douro, neste “excesso da natureza”, como lhe chamava Miguel Torga, nós temos aberto outro livro que nos transmite a mesma mensagem. Diante de nós, e à nossa volta, temos as árvores floridas, num manto alvo, que nos anuncia um tempo novo, frutos e colheita nova. Árvores erguidas como a madeira da cruz de Cristo, onde o Filho de Deus foi elevado como primícias de uma humanidade nova. Por isso não temos por onde “fugir” a este grito da Vida Nova que nos é dada pela Ressurreição do Senhor. Dela nos fala o interior das nossas igrejas e a natureza que nos circunda.
Conta-se que São Francisco de Assis, um dia, andava com uma ervinha na mão e com ela batia nos elementos da natureza que encontrava por onde passava e dizia “Não me faleis mais de Deus! Não me faleis mais de Deus….” ; tal era o clamor ensurdecedor da presença de Criador que ele sentia nas criaturas.
2 – Corramos também nós como Pedro e João ao sepulcro e tal como Pedro deixemos passar João à frente, porque é este último que pode indicar o caminho, uma vez que foi ele e não Pedro, que seguiu o Senhor até à cruz. As mulheres também sabiam o caminho porque elas tinham corajosamente desafiado o medo e tinham seguido Jesus até ao calvário. Hoje nós também não nos enganaremos no caminho se caminharmos atrás da cruz. Arrumamos todos os sinais de sexta-feira, menos a cruz. Esta não a queremos arrumar porque ela é o sinal e o caminho que nos leva ao Ressuscitado.
Para a receber abrimos hoje as portas das nossas casas, abramos também os nossos corações;
Por causa dela pomos hoje a mesa, deixemos que Cristo seja nosso hóspede o ano todo e a vida inteira;
Nela depositamos hoje o beijo do nosso afeto, manifestemos-lhe sempre a nossa ternura e unjamos com ela todos os nossos irmãos.
Que belo é o nosso compasso quando o vivemos assim: olhando para a cruz onde o Filho do Homem uma vez levantado atrai todas as coisas a si.
3 – E agora é tempo de ouvirmos o mandato do Senhor: “Ide…!”
Abrimos as portas da igreja e das casas por fora, é tempo já de as abrimos também por dentro e deixarmos o Senhor sair. É tempo de irmos anunciar a grande nova aos nossos irmãos. Se formos atrás d’Ele não nos perderemos no caminho porque Ele nos precede sempre. Se formos discípulos como João e as santas mulheres abriremos o caminho, porque imitaremos o seu trajeto: seguiremos o Senhor sempre, até á Cruz e a partir da Cruz.
Como recordava Santo Agostinho: "Se queres ser discípulo de Jesus tens de seguir atrás d’Ele e não quereres que Ele vá atrás de ti!"
Neste dia que o Senhor fez, com o badalar festivo dos sinos, com o tilintar das campainhas do compasso, com as flores do campo, com o canto dos pássaros, com a nossa voz, com a cruz erguida a conduzir-nos, proclamemos alegremente: Cristo ressuscitou! Aleluia!
Pe. João Carlos
Pró Vigário Geral da Diocese de Lamego
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