JESUS E O DINHEIRO. José Antonio Pagola:
"Jesus não separou Deus do Seu projeto de transformação do mundo. É possível um mundo diferente, mais justo, mais humano e feliz, precisamente porque Deus o quer assim" (p 19).
"Deus não pode ser Pai de todos sem reclamar justiça para aqueles que são excluídos de uma vida digna. Por isso não O podem servir os que, dominados pelo dinheiro, afogam injustamente os Seus filhos e filhas na miséria e na fome" (p 23).
"Este sistema faz-nos escravos da ânsia de acumular. A História organiza-se, move-se e dinamiza-se a partir desta lógica. Tudo é pouco para nos sentirmos satisfeitos" (p 25).
"Não deis a César o que é de Deus: os pobres. Jesus proclamou repetidamente esta mensagem. Os pequeninos sãos os prediletos do Pai; aos pobres pertence o Reino de Deus. Não se pode sacrificar a vida nem a dignidade dos indefesos a nenhum poder político, financeiro, económico ou religioso. Os humilhados pelos poderosos são de Deus. E de mais ninguém (p 29).
"Chegou o momento de recuperar a compaixão e a misericórdia como herança decisiva que Jesus deixou à humanidade, a força que há de impregnar a marcha do mundo, o princípio de ação que há de mover a história em vista de um futuro mais humano... A misericórdia é o modo de ser de Deus, a Sua maneira de olhar para o mundo e reagir perante as Suas criaturas (pp 33-34).
"O primeiro olhar de Jesus não se dirige ao pecado do ser humano, mas ao sofrimento... Para Jesus, a primeira preocupação foi o sofrimento das pessoas enfermas e subalimentadas da Galileia, a defesa dos aldeões explorados pelos poderosos donos das terras ou o acolhimento dos pecadores e prostitutas, excluídos da religião. Para Jesus, o grande pecado contra o projeto de Deus consiste sobretudo em resistirmos a tomar parte no sofrimento dos outros, fechando-nos no nosso próprio bem-estar" (p 35).
O "sofrimento injusto dos últimos do planeta ajuda-nos a conhecer a realidade do mundo que estamos a construir. Não se conhece o mundo a partir dos centros de poder, mas a partir das massas sem nome nem rosto dos excluídos, os únicos para os quais, paradoxalmente, não há lugar no nosso mundo globalizado. São as vítimas as que mais nos levam a conhecer aquilo que somos" (p 40).
"Os que nada importam são os que mais interessam a Deus. Os que sobejaram dos impérios construídos pelos homens têm um lugar privilegiado no Seu coração. Os que não têm uma religião que os defenda, têm a Deus como Pai (p 45).
"Ser compassivos como o Pai implica lutar contra o esquecimento das vítimas inocentes. Não é possível introduzir no mundo uma cultura da compaixão se não se refletir contra a cultura da amnésia e do esquecimento cruel de milhões de seres humanos que sofrem, vítimas do sistema que hoje conduz a história" (pp 46-47).
"O dinheiro, tendo sido inventado para tornar mais fácil o intercâmbio de bens, há de ser empregue, segundo Jesus, para facilitar a redistribuição, a solidariedade e a justiça fraterna. Só então começa o discípulo a estar em condições de seguir Jesus" (p 57).
"O lema do Governo é claro: «Sabemos o que temos de fazer e fá-lo-emos». Não há alternativa. Nada mais se tem em conta senão cumprir os objetivos económicos que nos são ditados pela troika: o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional. As decisões estão nas mãos dos tecnocratas. O decisivo é atender às exigência do sistema financeiro internacional. A atividade política, que deveria defender os direitos das pessoas e o bem da sociedade, dilui-se convertendo-se em instrumento dos poderosos do dinheiro" (p 59).
"Era necessária uma 'regulamentação fiscal' que pressiona fortemente os assalariados, mas não toca nas grandes fortunas e oferece uma amnistia injusta aos prevaricadores? (p 60).
"A partir da defesa dos últimos e da vontade de compaixão responsável e solidária, temos de defender e promover a defesa do bem comum exigindo, cuidando e desenvolvendo serviços públicos que garantam as necessidades mais básicas. devemos reagir contra a privatização do individualismo, que nos pode fechar no nosso bem-estar egoísta, deixando indefesos os mais fracos.
Temos de recuperar a importância do que é de todos, a responsabilidade do cuidado de uns pelos outros, a defesa da família como lugar por excelência de relações gratuitas, a comunidade cristã como espaço de acolhimento e de mútuo apoio acolhedor e fraterno" (p 66).
Jesus "fala com autoridade porque fala a partir da verdade" (p 67).
"É um disparate de desumanidade que as três pessoas mais ricas do mundo possuam ativos superiores a toda a riqueza dos quarenta países mais pobres, onde vivem seiscentos milhões de pessoas" (p 75)
"... as tecnologias da comunicação e a mobilidade da política humana torna cada vez mais difícil manter ocultas a fome e a miséria dos empobrecidos do mundo e a destruição progressiva do planeta" (p 76).
in JOSÉ ANTONIO PAGOLA (2014). Jesus e o dinheiro.
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