A plenitude da misericórdia divina é visualizável no mistério da Encarnação, Deus cabe na palma da mão, cabe no meu e no teu coração. Em Jesus Cristo, Deus faz-Se Caminho para nós e entra nos caminhos da nossa vida. A Páscoa condensa e evidencia em definitivo a misericórdia de Deus que Se ajusta à nossa fragilidade. O coração de Deus compadece-se da nossa miséria e envolve-nos no Seu amor.
Com a Páscoa, uma enxurrada de vida nova. A morte não tem mais a última palavra. Esta é de Deus, é da vida, é do Amor. Jesus regressa trazendo-nos, na expressão feliz de Bento XVI, a vastidão do Céu. Um vislumbre de luz que incendiou o mundo, comunicando-se, alastrando. À minha luz, a luz do outro. O encontro com Jesus ressuscitado, a experiência da misericórdia de Deus na nossa vida, impele-nos a sermos luz uns para os outros.
A Páscoa é o expoente máximo da compaixão de Deus pela humanidade. Em Jesus, Deus abaixa-Se para nos elevar, como a Mãe que se agacha para pegar o seu filho ao colo!
Em tempo oportuno, no ano 2000, o Papa João Paulo II renomeou o segundo domingo de Páscoa como Domingo da Divina Misericórdia. A Misericórdia há de ser um compromisso permanente. É uma característica essencial do Deus que Se deixa ver em Jesus Cristo. Não há outra forma de os cristãos e a Igreja viverem a fé.
Como tem acentuado o Papa Francisco, a misericórdia dá trabalho, porque nos leva a lutar pela justiça, todos os dias, optando pelos mais frágeis, por aqueles que vão sendo deserdados da vida e dos bens da criação, numa crescente cultura do descarte, globalizando a indiferença. A misericórdia passa por gestos concretos na vida diária, um sorriso, um abraço, a visita a um doente, o abrir a porta a alguém que se apressa para entrar.
Na véspera do Domingo da Misericórdia, 2 de abril, 11 anos depois da morte de João Paulo II, o Papa Francisco voltou a insistir que “a misericórdia é, antes de mais nada, a proximidade de Deus ao seu povo. Uma proximidade que se manifesta principalmente como ajuda e proteção”, e que nos leva a “olhar cada pessoa nos olhos” porque cada pessoa é única, concluindo que “uma fé que não é capaz de ser misericórdia, como são sinal de misericórdia as chagas do Senhor, não é fé: é ideia, é ideologia”.
publicado na Voz de Lamego, n.º 4357, de 5 de abril de 2016
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