ZACHARIAS HEYES (2020). Como encontrar Deus... e porque nem é preciso procurá-l'O. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas
Jesus, com a Sua encarnação, vida, mensagem, com a Sua morte e ressurreição mostra-nos que Deus é um Deus tão próximo, tão próximo, que Se confunde com a humanidade. Em Jesus, Deus não apenas vem à procura da humanidade "perdida", mas faz-Se Ele mesmo humanidade, assumindo a nossa carne, a nossa fragilidade. Por conseguinte, se diz que o cristianismo não é tanto uma religião, mas um encontro, um acontecimento: Deus, Pai/Mãe, faz-Se ser humano, vem e faz a Sua morada em nós e no mundo que é a nossa casa, a casa de todos.
"Como encontrar Deus... e porque nem é preciso procurá-l'O". O título do livro faz-nos intuir o propósito do autor com estas reflexões. O Padre Zacharias Heyes é monge na Abadia de Münsterschwarzach, na Alemanha. Logo a abrir diz o que pretende. "Aquele que parte em busca de Deus não precisa de ficar constantemente no 'modo de procura', mas ter apenas a disposição interna de permitir que Deus o encontre e de O encontrar no meio das pessoas... em Jesus é evidente que Deus não só Se aproximou das pessoas, mas que Ele está nas pessoas, Ele mesmo tornou-Se homem e, como tal, pôde ser vivenciado pelos outros... O caminho leva à descoberta de Deus em mim e no outro, pois em Jesus evidencia-se que aquele que deseja encontrar Deus precisa de procurar o ser humano... se Deus está no meio da vida, no quotidiano das pessoas, então é exatamente aí que a Igreja precisa de estar".
A Encarnação de Jesus é o acontecimento decisivo. "Os cristãos acreditam que em Jesus o próprio Deus Se tornou homem. Ele viveu entre as pessoas, deu-lhes o seu amor, a sua amizade, curou-as e instruiu-as. As pessoas que conhecem Jesus recebem uma nova esperança e força através desse encontro. Deus encontrou o ser humano no homem Jesus. O desejo de Deus é estar presente entre as pessoas porque Ele ama os seres humanos".
A primeira parte do livro apresenta as experiências bíblicas essenciais e a certeza que Deus encontra o ser humano. O autor apresenta algumas personagens bem conhecidas: Adão e Eva, a certeza que não somos fruto do ocaso, mas somos criados pelo amor de Deus; Abraão, que Deus encontra através dos Seus mensageiros, revelando-Se como um Deus da partida e do caminho, num encontro que muda a sua vida e parte para outra terra; Moisés, salvo pelas águas e a certeza que "não existe lugar neste mundo que não seja lugar da presença de Deus, não existe lugar que não seja chão sagrado, não existe lugar em que não possamos encontrar Deus"; David, que Deus encontra para o ungir e tornar Rei do Seu povo; Maria, moça simples do Povo de Israel, que é surpreendida pelo Anjo Gabriel e se entrega à vontade de Deus, permitindo que n'Ela se realize a encarnação, tornando-Se a Mãe de Deus; José, a quem Deus Se comunica pelos sonhos, e que aceita o que lhe é pedido em sonho; Zaqueu, cobrador de impostos, é encontrado por Jesus, na sua banca, na certeza que Deus vem ao nosso encontro na nossa vida, antes de qualquer exigência moral, vem para ficar em nossa casa; a mulher junto ao poço: "Deus não está preso a nenhum lugar geográfico, as pessoas podem encontrá-l'O em qualquer sítio; os discípulos de Jesus: "ninguém deve acreditar que está sozinho e abandonado... a maneira mais simples de experimentar o amor de Deus é no amor de outra pessoa, porque esse amor é palpável", e Jesus, na certeza que "Deus não Se esconde. Ele deseja ser encontrado e redescoberto; nunca para de bater à porta, de chamar a nossa atenção para se relacionar connosco".
Num segundo momento - Não procures, encontra! - o autor conduz-nos a encontrar Deus em mim, partindo do facto de sermos imagem de Deus, aceitando Deus na nossa vida e no nosso corpo e com Ele tornando-nos cocriadores; a encontrar Deus nos outros - "Se eu quiser encontrar Deus no outro, o 'mapa do tesouro' que me leva até Ele é a conduta e as palavras de Jesus. Como ser humano, Ele viveu como todos os outros, entre os seres humanos. Ele amou, sofreu e zangou-se como todos não fazemos. Mas fez algumas coisas de modo diferente ao que as pessoas estavam acostumadas a fazer na época que não só surpreendeu mas também chocou aquelas que conviviam com Ele. Mas isso também significa encontrar Deus, e ás vezes pode ser incómodo... Deus pode ser experimentado no outro, no diálogo que aquece, fortalece, cura, edifica e que não julga nem condena"; a comunhão na Igreja - o encontro com Deus passa pelo encontro das pessoas umas com as outras, estamos vinculados uns aos outros, comungamos o mesmo corpo, o mesmo pão. "Eu encontro-me no outro". Solidariedade radical; o Deus em mim busca e encontra o Deus no outro, como João e Jesus, no encontro entre Isabel e Maria e todos são lugar para encontrar Deus, todos "são lugar da presença de Deus. são imagem de Deus; ou, por outras palavras, o outro é sarça ardente... o Ser humano é local da presença de Deus. Ele é a luz do mundo.. Deus deseja brilhar em cada um e por meio de cada um neste mundo". Jesus há de lembrar-nos, a propósito: o que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. Entra aqui então o programa das obras de misericórdia... Na terceira parte: "Onde é a Igreja?" e obviamente que a Igreja é... a caminho, mosteiro, peregrinação, convívio, rituais, para o espírito do tempo, misericórdia. A Igreja é com cada um, em caminho e em comunhão, na busca e sobretudo na descoberta e no encontro de Deus em cada ser humano.
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