Tendo como pano de fundo a mudança do Pároco de Fafe, na Arquidiocese de Braga e depois de todo o alarido através dos meios de comunicação social, vejamos a reflexão do Pe. Carlos Lopes, no blogue "Asas da Montanha". As suas interpelações podem ajudar-nos a compreender melhor a tomada de posição do Sr. Acebispo de Braga (actual Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa), ainda que compreendendo também a estreita ligação da população ao seu pároco e o que é de louvar e enaltecer:
"O que sei é pela comunicação social. Não estou por dentro do assunto nem nada tenho que me meter. Contudo esta situação sugere-me alguns reflexões breves de ordem eclesial e pastoral.
1. Nenhum padre se ordena para determinada paróquia, mas para o serviço da Igreja.
2. Todo o padre, no acto da sua ordenação, promete obediência ao seu Bispo.
3. Em muitas paróquias portugueses vive-se um certo "quintalismo". Só Paróquia é uma célula viva do corpo que é a Igreja Local (Diocese) a que preside o Bispo.
4. O Bispo tem muitas vezes motivos para a mudança de um pároco que não pode dar a conhecer por caridade e até por confidencialidade.
5. Porque responsável por toda a Igreja Local, o Bispo tem uma visão abrangente das necessidades pastorais que os paroquianos certamente não possuem.
6. Nenhum Bispo, penso eu, nas actuais circunstâncias, age por mania ou despotismo. Cada situação é pormonorizadamente analisada, conversada, rezada.O Bispo houve muita gente, a começar, naturalmente, pelos seus conselheiros mais próximos.
7. Claro que os leigos têm o direito de manifestar o que pensam. São Igreja. Só que muitas vezes perdem a razão pelo modo como se manifestam. Quando há o insulto suez, quando a manifestação cheira a sindicalismo, quando há violência de palavras e actos, os paroquianos perdem toda a razão.
8. Dá a impressão que o "deus" de muitos é aquele padre. Não são cristãos por causa de Cristo, há até quem diga que "ia à Missa por causa daquele sacerdote". E isto é o pior testemunho da passagem de um pároco por uma paróquia, uma vez que, em vez de ajudar as pessoas a caminhar para Cristo, as fixou nele mesmo...
É fantasticamente cristão quando as pessoas sentem saudades de quem parte, até vertem uma lágrima, manifestam sentimentos de amizade e gratidão, mas sabem abrir portas de esperança a quem parte e a quem chega. "Seja bem-vindo" quem vem em nome do Senhor."
9. Alguns párocos também não ajudam nada. Agarrados ao lugar, tem palavras e atitudes que espicaçam as paixões de momento. É preciso saber entrar, mas é igualmente precisa a disponibilidade para partir. Em Igreja, ninguém se anuncia a si mesmo, todos anunciamos Cristo.
10. Ao Bispo cabe naturalmente saber ouvir, estar atento ao modo de proceder, ser capaz de vir até às comunidades, auscultar seus anseios, sentimentos e razões, explicar-se. As decisões tomadas só nas paredes do gabinete, por mais pensadas que sejam, não são o caminho actual. Também aqui é preciso tornar a Igreja "Casa de Comunhão". Os leigos também são Igreja.
11. Claro que uma decisão, uma vez tomada, é para manter, mesmo que isso acarrete para quem a toma desertos de sofrimento. Recuar por causa da cruz é indigno de cristãos. Há assim que decidir bem, ver aquilo que "o Espírito diz às Igrejas".
12. É minha opinião que nenhum sacerdote se deveria fixar na mesma paróquia ou serviço diocesano por tempos indeterminados. Pode haver razões válidas para um prolongar do exercício sacerdotal num determinado serviço, mas eternizá-lo não me parece sadio. O povo tem razão quando afirma: "Quem se muda, Deus ajuda."
Pe. Carlos Lopes, Asas da Montanha.
Não é tão linear assim... e sabe que não... Quando as pessoas se identificam com o seu Pastor é muito bom sinal. O sentimento congrega as pessoas. Caso contrário substituiam-se por estátuas e tudo seria mais fácil. Nunca pensei encontrar este texto aqui transcrito... A forma como escreve e pensa é diferente da adoptada pelo seu colega.
ResponderEliminarBoa tarde.
ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo, não é tão linear assim. O texto transcrito, com efeito, parece-me equilibrado e um bom ponto de partida para uma discussão saudável em Igreja.
Não tendo um ponto de vista definitivo, uma vez que me parece importante a mobilidade mas também a estabilidade nas comunidades paroquiais, o texto do reverendo Pe. Carlos faz um equilíbrio em relação às informações da Comunicação Social. Não se ouviu a outra parte. Pelo menos até ao momento não ouvi ninguém da parte da Arquidiocese.
Depois, obviamente para quem está de fora, é possível um maior distanciamento, mas ao mesmo tempo e porque a informação não é em primeira mão não é possível concretizar o que efectivamente está em causa na paróquia respectiva.
Neste sentido, o texto transcrito é uma posição de princípio, que respeitamos e valoramos, ainda que possamos, ou não, discordar.
Estamos também de acordo quando diz que a manifestação de apoio ao pároco é bom sinal, no post referimos que era de louvar e enaltecer e até porque são já 25 anos.
Só numa situação real e concreta poderia ter um opinião mais definida, mas deixo um testemunho. O meu pároco actual saiu da paróquia anterior passados 25 anos, desde que se ordenara sacerdote sempre estivera nessa povoação. As pessoas gostavam muito dele. Foi-lhe proposta a mudança. O povo manifestou-se contra, fez-lho saber a ele e ao Sr. Bispo (de Lamego). Na tomada de posse na minha paróquia natal, Penude, vieram muitas pessoas da comunidade de onde ele saiu. Voltaram a manifestar o desagrado, embora desejando também um bom trabalho. Na sua saída ofereceram-lhe um bom carro. Eu tinha e tenho uma grande estima pelo meu pároco anterior, meu padrinho de Crisma, mas a sua saída foi preparada ao longo do tempo e pacífica. Quando as pessoas mostravam receio pelo novo pároco, o que é novo e desconhecemos pode meter-nos medo, fui dizendo que era o melhor pároco que poderíamos ter. Creio não estar enganado, está a fazer um excelente trabalho. Mas a comunidade de onde veio, apreciando-o ainda muito, está igualmente muito satisfeito com o pároco actual.
Mas não é tão linear. Há párocos que querem sair e o povo aplaude. Há párocos que não querem sair e as comunidades até o desejam. Há párocos que querem sair mas o povo nem por isso. Há párocos que se dispõem a sair, mas quando chega o momento já não querem...
É sempre delicado.
Mas que seja para a promoção do Evangelho de Cristo...