quarta-feira, 14 de julho de 2010

Paisagens interiores...

       O padre Elói Pinho, já falecido, que falava habitualmente na RR, escreveu um livro com este título, que nos serve hoje para falarmos de interioridade. O mundo é definido em grande medida no nosso coração, na nossa alma, isto é, nas decisões que cada um vai tomando.
       Por vezes, o mundo que nos é exterior é-nos também um mundo estranho, desconhecido, amedronta-nos, oprime-nos, provoca-nos o desânimo. E no entanto, o futuro, a felicidade e o próprio mundo, está nas nossas mãos, na atitude que assumimos perante as adversidades, diante dos outros, na vivência do quotidiano.
       No cristianismo, o apelo à conversão interior é permanente, somos convocados para modificarmos os nossos comportamentos, transformando o mundo que nos rodeia. É, antes de mais, uma opção pessoal. O mundo somos nós, o mundo está em nós, a harmonia do mundo também depende de nós.
       Podemos ter tudo e isso ser nada. Podemos ter todas as riquezas, toda a juventude, uma multidão de pessoas à nossa volta e ainda assim sentirmos que a felicidade/vida nos escapa por entre as mãos. “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?” (Mt 16, 26 ).
       É nesta perspectiva que o cristianismo enquadra o princípio: carpe diem, vive o dia presente. Com responsabilidade, certamente, mas valorizando desde já cada momento, cada encontro, cada sol e cada chuva, não esperando indefinidamente por amanhã para ser feliz, à espera do príncipe ou princesa encantados, que o companheiro/a seja mais atento/a, que as finanças sejam mais favoráveis, que alguém reconheça o nosso valor.
       A felicidade depende em grande parte de mim. Hoje quero ser feliz. Hoje vou ser feliz. Para amar, para perdoar, para fazer o bem, para edificar a paz, não posso estar à espera que os outros se resolvam. Cabe-me a mim empenhar-me. E os outros? São essenciais. Posso cativá-los. E se ninguém mudar?! E que importa, se me sinto bem, se fiz as melhores escolhas, se optei pelo bem, se tenho a consciência tranquila?
       Mas, e os outros?
       Não se trata dos outros. Trata-se de mim, de ti, de cada um assumir uma atitude de conversão e de amor. Hoje, não amanhã! Agora, amanhã posso já não estar!
       No meio dos desertos, interiores e exteriores, o lugar para o encontro connosco, com os outros e com Deus. Opte pelo positivo, faça uma coisa diferente:
       – uma oração, um momento de silêncio; caminhe um pouco, deixe o carro estacionado por um dia; desligue o televisor a uma refeição e fale com a família; não fume durante um dia; hoje não tome café; leia um livro, uma passagem da Bíblia; cante, olhe as estrelas, contemple a noite, colha uma flor, a beleza, coma fruta; por um dia não use palavras negativas, não fale de ninguém, fale a todos com serenidade, transmita paz; visite um doente, vá até ao Lar e/ou Centro de Dia; fale um pouco mais com o seu vizinho; sorria; tem um problema complicado, faça uma pausa, amanhã Deus dar-lhe-á um sinal. Sorria descontraidamente!

editorial Voz Jovem, n.º 74, Março 2006

2 comentários:

  1. Na verdade não podemos mudar o outro
    Mas podemos sim mudar as nossas atitudes em relação aos outros

    ResponderEliminar
  2. Bom dia.
    Vem a este propósito uma breve parábola que fala num sábio que enquanto jovem rezava para que Deus lhe desse força e discernimento para converter o mundo inteiro; a meio da vida, pedia a Deus que lhe desse força e discernimento para converter as pessoas da sua comunidade; mais tarde, pedia a Deus para lhe conceder a sabedoria para converter ao menos as pessoas da sua família; agora que já era ancião, pedia a Deus que lhe desse a graça da conversão, para que pudesse mudar. Dizendo depois que a sua oração deveria ser sempre esta, pedir a Deus que o ajudasse a mudar-se, a converter-se...
    Bom fim de semana, em Cristo Jesus.

    ResponderEliminar