Há determinados bens – materiais, sociais e culturais – que são de todos. À primeira vista não são de ninguém em concreto, logo pertencem a todos: os bens do Estado, bens públicos, os bens da Igreja, os bens de uma qualquer associação, grupo ou sociedade, os bens de uma autarquia ou Junta de Freguesia, os baldios.
O mundo – o céu, a terra, a água, a chuva, as estrelas, o sol – não é propriedade privada ou individual. Poderíamos a este propósito dizer que quando faz sol ou quando chove é para todos. Por vezes nem é.
Poderemos cair na tentação fácil de usar e abusar daquilo que entendemos ser de toda a gente. Num plano global, a exploração dos recursos da terra por parte de algumas potências mundiais, países ou organizações, levada ao excesso, deixa hipotecado o futuro daqueles que virão depois de nós e de uma grande maioria de povos.
Naquilo que a nós nos diz respeito, mais de perto, poderemos por vezes descambar para uma forma rebuscada de comunismo – no que ele tem de perverso –, o que é de todos só beneficia uns poucos, ou se é de todos posso fazer o que me dá na real gana, mesmo destruir, sem que ninguém me possa julgar ou sequer chamar à atenção.
Quando olhamos para o Estado – fonte de todos os males? – verifica-se uma progressiva subsidiodependência (por vezes os subsídios são a única forma de equilibrar), e uma progressiva relutância em pagar os impostos que nos cabem; queremos receber, mas não queremos contribuir, salvo as situações de injustiça declarada.
No meio ambiente, como é de todos, deitamos papéis para o chão, beatas, lenços de papel, pastilhas elásticas, cuspimos… alguém há-de limpar! O que é de todos, entenda-se, é para benefício de todos, correcto, mas não para que cada um possa estragar. De todos para cuidar, para preservar, ou a alternativa, de todos para destruir, já que não é de ninguém?
O que é de todos também tem governo, como na casa de Deus. Não para cada um a seu bel-prazer fazer o que mais lhe convém, mas para que cada um de nós cuide daquilo que é de todos e para todos, com alegria e generosidade.
Na hora de reivindicar e de exigir, o argumento mais válido é que o que é de todos a todos pertence. Quando está mal, danificado ou é insuficiente, então a culpa é dos que gerem.
Importa, como crentes, apostar na ecologia, nesta casa comum da humanidade que é o mundo, cuidando, protegendo, amando, e não esperar que outros resolvam o que eu posso resolver e que está ao meu alcance e me compete. Se eu cuido, eu testemunho, e subsequentemente posso exigir que outros também cuidem…
editorial Voz Jovem, n.º 77, Junho 2006
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