1 – "Nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus".
Estamos ainda à volta de Jesus no alto da montanha, como seus discípulos, neste tempo de dúvidas e incertezas, e eis que as Suas palavras ecoam nos nossos ouvidos e na nossa alma. Está quase a despedir-nos e a enviar-nos de volta ao mundo real e concreto. Antes, dá-nos os instrumentos para que possamos ser verdadeiramente Seus discípulos, lembrando-nos quão importante e essencial é a fé. Mas não uma fé qualquer, a fé em Deus que é Pai e nos criou por amor e nos chama à felicidade, nesta e na vida futura, em estreita ligação com os outros. Uma fé que nos liga à vida presente e que nos compromete com a sociedade actual, com o nosso semelhante, que tal como nós, tem as marcas de pertença a Deus e a quem devemos acolher, respeitar, amar, proteger, de quem devemos cuidar. Somos responsáveis uns pelos outros.
São inequívocas as palavras de Jesus, não basta que tenhamos boas intenções e que até tenhamos o nome de cristãos, é necessário que a identidade nos leve à prática do bem, das boas obras, isto é, ao cumprimento da vontade de Deus que quer que todos se salvem e tenham a vida em abundância.
2 – São Paulo, nesta missiva aos Romanos, parece dispensar as obras. À primeira vista, a fé sem mais é que nos salva: "não há distinção alguma, porque todos pecaram e estão privados da glória de Deus; e todos são justificados de maneira gratuita pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus, que Deus apresentou como vítima de propiciação, mediante a fé, pelo seu sangue, para manifestar a sua justiça. Na verdade, estamos convencidos de que o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei".
Mas desengane-se quem pense viver a fé sem uma vida em conformidade, comprometida com a Palavra de Deus e com o próximo, vivendo à semelhança de Jesus Cristo. A acentuação deve ser feita. Inevitavelmente. O próprio Jesus muitas vezes dirá: a tua fé te salvou! Sem dúvida, é na fé que nos encontramos com Deus. Sem fé seríamos como animais sem razão, apenas biológicos. Sem fé as nossas obras seriam vazias, sem significado, sem exigência moral ou social.
Porém, o Apóstolo evidencia a mediação de Jesus Cristo. Alguns defendiam que a vinda de Jesus era mais um instrumento de salvação. Quem cumprisse com as orientações da Lei de Moisés não precisava de cumprir com os ensinamentos de Jesus. É neste contexto que São Paulo diz claramente: Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens, entre a humanidade e a Divindade. Todos temos de ser redimidos por Ele, pela Sua vida e sobretudo pela Sua morte e ressurreição. Ele morre por todos, judeus e gregos, escravos e livres, homens e mulheres.
Numa palavra, a salvação é dom gratuito de Deus, dádiva a favor de toda a humanidade, em Jesus Cristo. Por outro lado, não são as nossas obras que realizam a salvação, mas é a obra de Jesus Cristo. A cada um de nós cabe acolher a salvação por Ele operada.
3 – Mas poderemos acolher a salvação de Jesus Cristo, sem se operar em nós qualquer transformação? Poderemos ser salvos e continuarmos com as obras das trevas? Pode Deus salvar-nos sem a nossa cooperação, sem a nossa liberdade?
3 – Mas poderemos acolher a salvação de Jesus Cristo, sem se operar em nós qualquer transformação? Poderemos ser salvos e continuarmos com as obras das trevas? Pode Deus salvar-nos sem a nossa cooperação, sem a nossa liberdade?
Santo Agostinho dá-nos uma resposta clara: Deus criou-nos sem nós, mas não nos salva sem nós. Bento XVI acentuava esta lógica, por ocasião do Natal, dizendo que Deus é tão benevolente e tão misericordioso que Se faz um de nós, que assume inteiramente a nossa pequenez, a nossa fragilidade. Ele quer a nossa salvação, coloca-Se do nosso lado. Mas não força, não obriga. Sujeita-Se a ser rejeitado. E Jesus é disso exemplo: não Se impõe, convida...
Hoje, no Evangelho, vemos novamente a proposta de Jesus, desafiando-nos a cumprir em tudo a vontade de Deus, para sublinhar que quem ouve as Suas palavras e as põe em prática é uma construção sólida que perdura até à vida eterna: "Todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes e sopraram os ventos contra aquela casa; mas ela não caiu, porque estava fundada sobre a rocha".
4 – Deus respeita absolutamente a nossa liberdade. Criou-nos livres. Podemos dizer-Lhe "não". Podemos viver sem Deus, como se Deus não existisse ou até negá-l'O com todas as nossas forças. Cabe-nos a nós escolher o caminho que a Ele nos conduz ou aquele que nos afasta cada vez mais d'Ele e dos outros.
Na primeira leitura evidencia-se a possibilidade de escolha: "Ponho hoje diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos prescrevo; a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, afastando-vos do caminho que hoje vos indico".
Moisés, comunicando as palavras de Deus a todo o povo, convida a acolhermos o mandamento do Senhor com o coração, para que as palavras não fiquem em letra morte mas nos orientem para a verdade, para a luz, para o bem, para a felicidade, conduzindo-nos à vida.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Deut 11, 18.26-28.32; Rom 3, 21-25a.28; Mt 7, 21-27.
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Textos para a Eucaristia (ano A): Deut 11, 18.26-28.32; Rom 3, 21-25a.28; Mt 7, 21-27.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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