1 – A nossa vida é marcada por muitos encontros (e desencontros também).
Cada encontro deveria ser único, e de alguma maneira é, pois não se volta a repetir nas mesmas circunstâncias, mas único no sentido de transformar a minha, a nossa vida, para sempre. O outro “impõe-se”, não se reduz a mim, é uma interpelação, como dizia o grande filósofo E. Levinas, veicula o imperativo: “Não matarás”. O outro é apelo, desafio, testemunho do Infinito. Irrompe na minha vida, diz-me não à aniquilação.
O mandamento “não matarás” assume-se positivamente pelo mandamento do amor. Acolher, respeitar, dignificar, dar a vida ao outro e pelo outro. O rosto do outro envia-me para o Totalmente Outro, que para nós Se converte em Totalmente próximo, Deus connosco.
2 – Entramos na dinâmica de Jesus e do seu evangelho de amor. Encontra-nos. Mostra-nos respeito, amor até ao limite. É, como muito bem sublinha Bento XVI, um Deus bom “cuja vingança é a Cruz, o NÃO à violência, o amor até ao fim, até ao extremo. É este Deus de que temos necessidade… opõe à violência o seu sofrimento; … perante o mal e o seu poder, como limite e superação, a sua misericórdia”.
Jesus torna-se último por nós. O Seu amor e a Sua entrega estão presentes o tempo todo, ao longo da sua vida, tratando cada ser humano como pessoa, com um rosto, com um nome e não apenas pelos comentários que Lhe chegam ou pela opinião de terceiros. Deixa de lado todo o preconceito. Não rotula as pessoas, acolhe-as no seu íntimo.
3 – O encontro de Jesus com a samaritana é estranho (Jo 4, 1-42).
Os judeus e os samaritanos são inimigos. Não se falam. Acrescente-se o facto de Jesus ficar sozinho com aquela mulher. Quando chegam, os Apóstolos ficam boquiabertos, como é possível o Mestre estar a conversar com uma mulher e ainda por cima samaritana.
Para Jesus, o encontro é uma oportunidade de conversão, de anúncio do Evangelho. Entabula diálogo com a samaritana pedindo-lhe de beber, para de seguida lhe dizer: “Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e Quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!”
Jesus não insulta a mulher, não Se afasta, deixa que ela se aproxime, física mas também espiritual e afectivamente. Jesus convida-a à conversão profunda, à mudança de vida. Ela, olhando para Jesus descobre a sua vida, descobre a sua dignidade. Jesus não força, propõe. Doravante não será mais a mesma. Ela própria corre a anunciar Jesus aos seus conterrâneos.
4 – Em tempo de Quaresma, Jesus interpela-nos também a nós, pessoal e comunitariamente. A água viva, Jesus Cristo, é uma proposta de vida. Não podemos ficar indiferentes. Os mistério da morte e ressurreição de Jesus exige de nós uma tomada de decisão. Vamos, como a samaritana, a correr alegremente anunciar que Jesus nos diz quem somos?!
Senhor, dá-nos dessa água viva!
Editorial Voz Jovem, n.º 95, Fevereiro 2008.
- NOTA: O Evangelho do próximo Domingo, III da Quaresma, 27 de Março de 2011, é precisamente o do encontro de Jesus com a mulher samaritana.
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