sábado, 4 de agosto de 2012

XVIII Domingo do Tempo Comum (B) - 5 de agosto

       1 – Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo». Disseram-Lhe eles: «Senhor, dá-nos sempre desse pão». Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
       Nos domingos anteriores vimos a sensibilidade de Jesus, plena de humanidade, enxertada no quotidiano e na vida de pessoas de carne e osso. Ele é o Bom Pastor que cuida da humanidade inteira, muitas vezes como ovelhas sem pastor. É o Pão da Vida, o Pão de Deus, que não se desgasta, como todo o alimento, mas se multiplica no acolhimento e na partilha. Não é pão ao lado de outros pães, resposta utilitarista como muitas religiões o fazem, como a religião do consumo e do capitalismo selvagem, em que tudo se vende e se compra e se facilita e se digere cada vez mais com pressa, criando dependentes, pessoas angustiadas, ansiosas pela novidade de momento, em caminhos de posse e egoísmo e destruição.
       Os que acorrem a Jesus levam motivações diversas, alguns buscam verdade e outros vida, alguns buscam dividendos e outros colam-se ao sucesso e à fama que daí poderá advir, alguns buscam um caminho fácil, e soluções servidas numa bandeja.

Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo».
       O Pão que é Cristo Jesus não é desgastável, a curto prazo, não se compra nem se vende, não se negoceia ao melhor preço, nem escasseia, dura até à vida eterna, em abundância como a vida humana, em abertura ao Infinito.
       2 – A experiência do Povo de Deus que nos conduz a Jesus é feita de muitas buscas e hesitações, de desvios e aproximações a Deus, de descobertas e de desafios. Satisfeitos de uma necessidade logo outra evidenciam. Libertos da escravidão, logo murmuram contra Deus e os chefes que Ele escolheu para os liderar. A vida, no seu rosto mais humano, não é fruto de magia, não é linear, mas multicolor, com altos e baixos, com sinais evidentes da presença e do amor de Deus, mas com a exigência da liberdade, das escolhas a fazer, do trabalho, dos caminhos que cada um, cada família, cada tribo, há de preparar e endireitar até chegar ao CAMINHO que é Deus.

"Toda a comunidade dos filhos de Israel começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão. Disseram-lhes os filhos de Israel: «Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na terra do Egipto, quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne e comíamos pão até nos saciarmos. Trouxestes-nos a este deserto, para deixar morrer à fome toda esta multidão». Então o Senhor disse a Moisés: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia. Vou assim pô-lo à prova, para ver se segue ou não a minha lei. Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Vai dizer-lhes: ‘Ao cair da noite comereis carne e de manhã saciar-vos-eis de pão. Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’».
       Quando eram escravos, aceitavam-se como tal, espécie de máquinas que não pensam, apenas trabalham e comem e descansam conforme lhes é mandado. Livres têm de pensar, de refletir, de procurar comida e alimento, e encontrar um sentido novo para o novo tempo de que dispõem. Têm de conquistar lugar, aprender a ser gente, a tornarem-se solidários na pobreza e na procura e na abundância.
       Para qualquer um de nós, a resposta, se imediata, seria de crítica, de recusa e de revolta – como é possível murmurarem contra os libertadores! Ver-se-á a impaciência de Moisés e a sua irritação. Também ele terá que aprender de Deus e com Deus. Para já um pão e um alimento a prazo, em cada manhã e em cada tarde, que também é necessário, mas desde já o alerta para um outro pão, o sentido da nossa existência. A resposta de Deus também aqui é positiva e tornar-se-á plena de graça e salvação em Jesus Cristo, o Pão descido do Céu para ao Céu a todos nos elevar.

       3 – Belíssima a ponte que o Apóstolo São Paulo nos ajuda a fazer, entre o Povo Eleito e o novo Povo que é a Igreja, Corpo de Cristo, a Quem pertencemos. Ponte entre a ignorância e a revelação, entre a infantilidade da nossa fé e o amadurecimento em Jesus, entre a hesitação do caminho e a LUZ que d’Ele irradia e nos atrai como íman. Não é o mesmo atravessar um corredor completamente às escuras, sem saber onde vai dar ou atravessá-lo às claras, ou com uma luz que nos guia, mostrando-nos a meta onde queremos ir. Como diz a fadista, não adianta correr se não sabemos o caminho. Ou todo o vento é desfavorável ao barco que anda à deriva (Séneca).

"Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras".
       O convite é semelhante nas três leituras. Deus, através de Moisés, liberta o povo da escravidão para viver um tempo novo, não sob o chicote, mas em liberdade, em que cada um terá que contribuir com os seus talentos, para o bem de todos. No Evangelho, Jesus propõe um nova atitude, que parte da fé, que se alimenta na caridade e no compromisso com o nosso semelhante, que que não se contenta com mínimos garantidos mas com a plenitude da vida eterna. São Paulo recorda-nos a nossa identidade, o nosso nascimento e conhecimento em Jesus, sublinhando que agora que sabemos de Cristo e com Ele nos encontrámos não podemos fazer de conta e viver da mesma maneira. Vivamos à maneira de Jesus Cristo, verdadeiro alimento para as nossas vidas.


Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 16, 2-4.12-15; Ef 4, 17.20-24; Jo 6, 24-35.

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