Páscoa:
Tempo de recordar as verdades fundamentais da nossa fé: Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor fez-se carne, padeceu e foi sepultado, ressuscitou dos mortos e está sentado à direita do Pai, a interceder por nós. E isto por nós homens e pela nossa salvação!
No tempo pascal somos convidados a reflectir duma forma mais atenta sobre estas expressões cujo conteúdo é depósito da nossa fé. Quantas vezes as repetimos maquinalmente na recitação do Credo sem medirmos o seu alcance e profundidade.
Mas elas reassumem toda a história da salvação, iluminando o que está para trás e abrindo caminho ao nosso futuro.
Santo Ireneu recordava que o Pai de Adão é o mesmo Pai de Cristo, Deus Criador é também Deus Salvador. Da mesma forma que Adão tirado do pó da terra foi revestido de carne e sangue, assim Jesus Cristo, o Filho de Deus, Se revestiu de carne e sangue, para que na natureza humana pecadora se realizasse a Redenção da mesma. Pelo pecado da desobediência de um só homem, Adão, entrou o pecado no mundo, do mesmo modo pela obediência de um só, Jesus Cristo, a salvação penetrou na humanidade.
Mas esta salvação única trazida por Cristo, vem na lógica de uma solidariedade entre o Criador e o homem que desde o início nunca foi negada por Deus. É por isso que o nosso Deus é o Deus da Aliança, porque muitas vezes e de muitos modos Ele veio em auxílio da humanidade decaída, enviando os Profetas e fazendo Alianças com o Povo. As leituras da Vigília Pascal são memórias vivas das principais intervenções de Deus a favor do seu Povo para lhe propor caminhos novos de renovação. Mas o contraste na observância das Alianças estabelecidas é enorme, de um lado temos o Povo que sempre se esquece dos benefícios de Deus e se afasta do cumprimento das promessas feitas, do outro temos Deus que é sempre fiel à sua palavra. A fidelidade é o nome do amor no tempo. Amor verdadeiro que não se nega, que não desiste, que não responde ao mal com o mal. Deste modo na plenitude dos tempos Deus enviou o Seu Filho nascido de uma mulher para estabelecer com a humanidade uma Aliança Nova e Eterna.
O tempo da Quaresma que antecede a Páscoa é a história da perseverança e da paciência de Deus, diante da instabilidade e impaciência do homem. E foi para os instáveis, impacientes e pecadores que Jesus dirigiu a sua especial atenção: Zaqueu, Filho Pródigo, Maria Madalena, Samaritana, Lázaro e… tantos cegos e paralíticos. A todos, Jesus propõe uma cura e uma conversão para que os que andam no erro deixem cair as suas cegueiras e para que os que estão paralíticos, pela falta de futuro e esperança, arrepiem caminho. Esta presença de Jesus Vivo para sempre é também para nós hoje, porque esta aliança é nova e eterna, e somos convidados a deixar-nos tocar por Ele, a deixá-l’O entrar em nossa casa e curar as nossas cegueiras, paralisias e pecados. Só assim somos salvos, só assim acolhemos a salvação que Ele nos alcançou por preço tão elevado: Corpo dilacerado na cruz, sangue derramado para nos purificar dos nossos pecados. Só morrendo para o mal ressuscitemos para a vida nova: é o nosso mistério pascal associado ao mistério pascal de Cristo.
Ao mesmo tempo a solidariedade de Deus com a humanidade é também - na última Ceia, no gesto do lava pés - um convite e um mandato a sermos solidários uns com os outros. Quando o Povo anda pelos caminhos rectos é todo o Povo que beneficia, quando porém um Povo se afasta do direito e da justiça é igualmente todo o Povo que sofre. A crise económica que estamos a atravessar lembra-nos esta solidariedade fatal entre uns e outros. Todos perdemos quando o nosso irmão perde.
Importa por isso indicar caminhos novos para o homem: caminhos de justiça, de solidariedade, de fraternidade e de partilha. Estes são valores do Evangelho e são o Testamento que Jesus deixou antes de morrer: o Mandamento Novo do Amor.
Demos por isso do nosso pão aos necessitados, mas demos também valores e esperança. Recordemos aos nossos irmãos que Deus não nos abandona, recordemos as maravilhas que já fez por nós, recordemos que a maior riqueza é viver na comunhão diária com Deus e que a maior pobreza é afastarmo-nos de Deus que é a fonte de todos os bens.
Na contemplação assombrada do imenso amor de Deus para connosco respondamos com o acolhimento do gesto salvador da Cruz e Ressurreição na nossa vida e façamo-nos apóstolos dessa Boa Nova junto dos nossos irmãos.
Pe. João Carlos
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