Estamos novamente a viver a quadra natalícia. Esta recorda-nos que Deus não desiste do homem. A vinda de Jesus ao mundo é a expressão máxima da afirmação anterior. Deus criou o mundo e o homem, mas este afastou-se de Deus pelo pecado e assim feriu de forma grave a bondade inicial do ato criador de Deus.
O pecado desfigurou a imagem divina do homem criado à imagem e semelhança de Deus. Mas Deus enviando o seu Filho ao mundo quis, pela sua Encarnação, assumir tudo o que é humano e pela sua paixão morte e ressurreição restaurar o que o pecado tinha destruído.
É uma grande lição, esta, que nos vem do Natal: Deus não fez um mundo diferente, nem criou um homem novo; Ele veio para este mundo e para este homem para o transformar.
Esta exemplaridade da Encarnação deve servir-nos como chave de leitura para a nossa vida, e para o nosso tempo: se Deus aposta em nós, como não havemos de apostar uns nos outros? O mundo mudou muito: fatores demográficos, sociais, culturais, migratórios e outros alteraram profundamente – e num espaço de tempo muito curto – a configuração social e eclesial das nossas comunidades. Mas aceitar esta realidade e trabalhar com ela é uma forma de fidelidade ao Evangelho.
Por conseguinte, evitemos a tentação de fugir da realidade, de nos alienarmos ou de nos demitirmos dos sinais interpelantes do nosso tempo. Sobretudo evitemos a tentação de imaginarmos que tudo seria perfeito se a realidade fosse outra, se as pessoas fossem diferentes e se os recursos fossem inesgotáveis.
A realidade é o que é, as pessoas são o que são e os recursos nunca serão suficientes se não tivermos prioridades bem definidas. Revisitando o Evangelho constamos que os tempos de Jesus não eram fáceis e eram, tal como hoje, mais difíceis para uns do que para outros. Mas é precisamente àqueles para quem a vida era mais dura que Deus se dirige em prioridade, basta pensar nos pobres pastores de Belém, os mais excluídos dos excluídos sociais da altura; foram esses que primeiro receberam o anúncio do nascimento do Salvador e os primeiros a comtemplar o rosto humano do Filho de Deus.
Talvez seja mesmo necessário uma certa pobreza, pelo menos interior, para não nos deixarmos distrair por tanto barulho, tanto consumismo, tanta futilidade, tanta autossuficiência e tanto orgulho que nos encadeiam os olhos e nos impedem de ver a luz diáfana do Presépio.
O Santo Padre Bento XVI no seu livro sobre a infância de Jesus afirma que o jumento e o boi do presépio representam a humanidade. Bela imagem esta, a dos animais que estão comtemplando o Menino sem se aperceberem do mistério de que eram testemunhas. Na mesma linha o nosso Bispo escreve:
Há dois mil anos Deus sonhouE foiNatal em Belém.Sonha também.Se o jumento corouE o boi se ajoelhou,Não deixes tu de orar também.
(D. António Couto, Estação de Natal, p. 37)
Ajoelhemos nós também diante do Deus feito menino para nos ensinar a grandeza das coisas pequenas. Então, também hoje, será Natal!
P. João Carlos
Sem comentários:
Enviar um comentário