A vida é um mistério que não se dissolve no conhecimento, na ciência ou na sabedoria popular. A sua complexidade, por um lado, e a sua simplicidade, por outro, fazem da vida (vegetal, animal, humana) um desafio permanente de procura, de descoberta, de admiração. Para crentes e não crentes é um mistério inabarcável.
Com os avanços da ciência foi possível resolver muitos enigmas e melhorar a qualidade da vida, ainda que persistam doenças crónicas, as depressões, o vazio existencial. Somos muito mais que a soma de cromossomas, ADN, sangue, ossos, músculos, carne. Somos um mistério que quanto mais se desvenda mais complexo se torna.
Ao longo do tempo, o ser humano procurou compreender e justificar o sofrimento, a doença e a morte. Se a vida é tão bela, como é possível o sofrimento e a morte? Porque é que a vida não é igual para todos? Porque que é que uns sofrem tanto e outros têm uma vida durável e saudável? Terá a ver (somente) com as escolhas de cada um?
Uns procuram respostas na fé e na religião, outros no acaso ou na ciência. Muitos aceitaram a doença e as desgraças como vontade de Deus ou como consequência do pecado.
O Poeta da Misericórdia, Jesus, não procura justificações ou culpados. É preciso ajudar? Ajuda-se. Se alguém sofre é porque algum mal praticou. A figura de Job é enigmática. É acusado pelos amigos mais próximos, que deveriam conhecê-lo melhor, de pecar tendo em conta todo o mal que está a sofrer. Job questiona tal ligação, pois nada praticou que merecesse tantos sofrimentos. Sobrevirá o mistério de Deus que não é desvendável em questões académicas.
Jesus desliga o mal sofrido de qualquer culpa. Mas, atenção, diz-nos Jesus, é necessário que nos preocupemos com o bem de todos, uns dos outros, aderindo ao Reino de Deus, convertendo-nos. Fácil é olhar para os defeitos e pecados dos outros! Porém, para os seguidores de Jesus, importa deixar-se olhar pela Misericórdia de Deus e a Ele aderir de todo o coração.
Na vida de Jesus, na Sua mensagem e na Sua morte e na Sua ressurreição, prevalece a misericórdia de Deus. Quem Me vê, vê o Pai. E quem vê Jesus vê a bondade e a delicadeza, a compaixão e a proximidade, a paciência e o amor, o perdão e a verdade. Em Jesus, o Reino de Deus está em ação e já se podem ver os frutos. Cabe-nos também transparecer o Reino de Deus.
publicado na Voz de Lamego, n.º 4354, de 15 de março de 2016
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