1 – O centro e o conteúdo essencial da fé cristã é Jesus Cristo e o mistério da Ressurreição. Sem Páscoa não haveria vida nova, não haveria Igreja, que nasce precisamente com a ressurreição de Jesus, pedra após pedra se ergue com Ele do sepulcro, para a luz e para a vida, para o mundo e para as alturas.
Mas por ora, enquanto não chega a Páscoa, é tempo de caminhar, é tempo da travessia por todos os desertos da solidão, da doença e da morte. Ao terceiro dia, Ele levantar-se-á, e levantar-nos-á com Ele, dos escombros do pecado, do sofrimento e do mal, para nos dar a Sua vida nova, um novo Templo de graça, de verdade e de paz. As "dores da maternidade" ainda fazem mossa, ainda fazem sofrer, ainda nos fazem dobrar sobre nós próprios, em posição que espera o afago e o abraço de Deus, para levantarmos o olhar e vermos os novos Céus e a nova Terra, que nos aguardam e atraem.
O Evangelho deste terceiro domingo da Quaresma fala-nos do sinal maior que Jesus nos poderá dar: a Sua ressurreição. O templo cairá por terra e da terra, a que pertencemos, e a que Deus quis e quer pertencer, por Jesus Cristo, erguer-se-á o Templo do encontro, da festa, da alegria, até à eternidade.
"Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio»...
Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei»... Muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem".
O templo de pedra é sinal da presença de Deus no meio de nós, e daí a necessidade de ser respeitado por nele transparecer a Sua luz. É também sinal de outro templo, e da vida nova, o Templo que é o próprio Jesus Cristo, onde Se pode encontrar Deus de verdade, e o templo que somos nós, imagem e semelhança de Deus, sacrários vivos do Altíssimo.
2 – Como em tudo na vida, o caminho também é importante. Não adianta correr se não sabemos para onde nos leva a estrada, a ruela, a avenida. Pode ter um piso agradável, macio, colorido, artístico, mas por aí não nos leva a bom porto, porque não sabemos também onde aportar. Não podemos navegar sem orientação. Para o barco que não sabe para onde navega, todo o vento é desfavorável. Como cristãos sabemos o destino: a vida eterna, a comunhão em plenitude junto de Deus. Mas a vida em Deus não é futuro, não somente futuro, é também presente, é também vida, é também a nossa casa, as nossas paixões, as nossas vivências, os nossos projetos; a eternidade vislumbra-se e inicia a partir daqui, do lugar em que me encontro, no mundo que é a minha casa, a minha família, a minha vizinhança, o mundo que é a minha aldeia, a minha paróquia, a minha vila e a minha cidade, a minha escola e o meu trabalho.
Por sorte, não estamos num labirinto fechado, escurecido, traiçoeiro, ainda que possa haver labirintos na nossa vida e possam existir tantos caminhos quantas as pessoas que estão a caminhar. Os que nos precederam na fé, inspirados por Deus, clarearam a quaresma que temos de fazer para nos acercarmos da Páscoa, tapetearam a estrada para que as quedas não nos destruíssem e nos fizessem destruir.
Escutemos Moisés: "Não terás outros deuses perante Mim... Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto... Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus... Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares..., o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus... Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença".
É um bom ponto de partida para nos tornarmos cúmplices de Jesus Cristo. Os Mandamentos continuam a ser para a Igreja (e para os cristãos) e para o mundo (como base dos Direitos Humanos) uma referência fundamental, que nos exercitam na convivência com Deus, e na caridade para com todos.
3 – Os sinais pedidos a Jesus são-nos também exigidos a nós, como seus discípulos, seus seguidores. Tal como Ele, o maior sinal para nós é a ressurreição que emoldura a CRUZ do amor, da paixão, da entrega que n’Ele, Deus feito homem, nos é ofertado em plenitude.
"Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens".
No nosso itinerário quaresmal até à Páscoa, e até à vida eterna, há de haver lugar à partilha, à solidariedade, à comunhão, ao serviço, traduzindo em concreto a cruz, expressão do amor, da caridade, e daquela – a cruz –, dar sinais, deixar o vislumbre da LUZ que nos vem da RESSURREIÇÃO e de nos tornarmos, pela fé, pelo batismo, cúmplices de Jesus Cristo. Anunciamos a morte e a ressurreição até que Ele venha. Anunciamos como Ele, em palavras que se tornam vida gasta com os outros e a favor dos outros. No compromisso com os outros, na justiça e na caridade, a ressurreição acontecerá.
Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 20, 1-17; 1 Cor 1, 22-25; Jo 2, 13-25.
Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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