1. Jesus teve fé?
Não é fácil aceitar que Jesus precisasse de ter fé, principalmente para os que pensam que Jesus sabia tudo, como os bem-aventurados. A resposta a esta pergunta leva-nos não só a um conhecimento mais profundo de Jesus, como nos ajuda a descobrir o valor da nossa própria fé.
Em Lucas (Lc 2,52) diz-se concretamente que Jesus “ia crescendo em estatura, sabedoria e graça diante Deus e dos homens”. Assumiu todas as consequências da sua encarnação tais como a lei e a maturidade humana e as consequências do nosso pecado, como a ignorância e as tentações. Em tudo igual a nós, menos o pecado. Viveu uma humanidade muito mais profunda do que qualquer um de nós, e, na sua humanidade, encontrou no mais íntimo de Si mesmo o próprio Deus. Jesus sabe-se unido ao Pai com uma intimidade total e desconhecida para qualquer de nós.
Apesar do Novo Testamento não falar expressamente da fé de Jesus, não há dúvida de que Se lhe atribui uma atitude de fé. Jesus é o autêntico crente em Deus, que promove entre os homens uma nova fé. Ele percorreu o nosso caminho de fé como modelo e percursor e fê-lo como nós no obscuro da terra e a partir da terra. Foi aí, que praticou a esperança e a obediência no meio de contradições, súplicas e lágrimas, superadas e transformadas em Amor. É o homem total porque foi o totalmente crente. Jesus é o primeiro dos crentes o “pioneiro” e nós, temos de percorrer o mesmo caminho com a mesma atitude.
2. Que significa ter fé?
Para São João a fé é uma entrega total e confiada na pessoa de Jesus. Segundo São Paulo, a fé está intimamente ligada à atitude de obediência (Rm 6,16-17;15,18) e à confiança (Rm 6,8; 2Cor 4,18; 1Tes 4,14). Na Carta aos Hebreus (11), a fé é a certeza de uma realidade que não se vê, a qual vai ligada à firme confiança na promessa e obediência fiel do homem a Deus. Esta atitude fundamental, que na Bíblia se chama fé, é, certamente, a atitude que define o mais íntimo e típico de Jesus. Ele entrega-se incondicionalmente ao Pai e aceita os seus planos em docilidade, confiança e abandono, mesmo nos momentos mais obscuros. Deste modo Jesus é o criador e consumador da nossa fé. Jesus fundamenta o poder de fazer milagres na fé que o anima “tudo é possível para aquele que tem fé” (Mc 9, 19.22-23). A força com que Jesus atua é a força de Deus.
3. A fé cristã
Para nós cristãos, crer em Jesus é fundamentalmente crer no que Ele acreditou e esperar a libertação que Ele esperou e alcançou. A fé de Jesus confronta o homem com a realidade de “Deus” em Quem acreditou e com os deuses oficiais, aos quais se opôs tenazmente. Pela sua humanidade Jesus é o caminho para levar os homens a fiarem-se de Deus, como Ele Se fiou e a ser de Deus como Ele foi.
A fé de qualquer pessoa, como a de Jesus, tem que ser realizada na confiança e abandono nas mãos de Deus, muitas vezes, no escuro e na solidão da cruz. Crer é o mesmo que aceitar Jesus, mas não de qualquer maneira, mas precisamente em atitude crente no meio da dor.
Diz-nos a Carta aos Hebreus (12,1-2): “corramos com perseverança a prova que nos é proposta, tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé”. Neste texto, Jesus é apresentado como modelo perfeito dos crentes, aquele que levou a fé à plenitude da sua perfeição, experimentando-a na sua própria vida, numa situação humanamente muito dura, ao ter de escolher entre o gozo e a cruz, passando por cima das ofensas e desprezos. Jesus é, o modelo perfeito de fé perseverante.
São Paulo considera Cristo como o primeiro ressuscitado, o irmão mais velho na glória, que viveu já como ressuscitado na história, por ter vivido plenamente a fé.
Eva la Salette, Boletim Voz Jovem, fevereiro 2012
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