JOSEPH RATZINGER. Introdução ao cristianismo. Prelecções sobre o «Símbolo Apostólico». Principia. Cascais 2006. 272 páginas.
A Introdução ao Cristianismo é uma obra de referência para a teologia do século XX mas que entra inevitavelmente neste novo século e milénio, não fosse o seu autor um dos mais conceituados teólogos do mundo católico e cristão, Joseph Ratzinger, que viria a ser Bispo, Cardeal, Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, braço direito de João Paulo II e de Papa Bento XVI, de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013, tendo decidido resignar para que o Evangelho ganhasse vigor num mundo cada vez mais exigente.
Tinha sido um dos peritos do Concílio, acompanhando o seu Bispo. Era, e continuou a ser, um promissor teólogo. Professor, estudioso. Não deixando de o ser, mesmo assumindo a missão de Pastor.
Este livro foi dado à estampa em 1968. Como se refere no prefácio à 10.ª edição, em pouco mais de um ano “vulgarizou-se”, com uma venda invulgar “ultrapassando inclusive as fronteiras entre o Oeste e o Leste e entre os diversos credos religiosos”.
Em 2000, novo prefácio, que assinala dois anos especiais que atravessaram os 30 anos que tinha a obra: 1968 e 1989. Dois acontecimentos verdadeiramente revolucionários. No entanto, Ratzinger, agora Cardeal, mantem as linhas orientadoras do seu estudo, como contributo para a reflexão teológico, centrado no credo, no Símbolo dos Apóstolos, desde o início em que foi surgindo nas fórmulas batismais, de pergunta e resposta, e à volta do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Profissão de Fé que vem antes do dogma.
Obviamente, ao longo doa anos, Ratizinger publicou outras obras, que aprofundam alguns aspetos, com outras matizes, com outros enquadramentos. Certamente que este é um livro fundamental para conhecer o pensamento de Ratzinger/Bento XVI. Vislumbram-se muitas das intuições presentes posteriormente em outros estudos, mas também em homilias, mensagens, discursos, conferências.
Introdução ao Cristianismo foi preparado para ser publicado em livro, mas nasceu das prelecções proferidas pelo sacerdote Joseph Ratzinger, para audiências de todas as faculdades durante o semestre de verão de 1967, em Tübingen.
É um texto de fácil compreensão, mas não tanto como outros mais pastorais. Evidentemente trata-se de uma obra de estudo, de reflexão, académica, ainda que bastante expositiva, viva no debate, com exemplos, pequenas histórias, centrando-se no CREDO mas dialogando com diversos ambientes, autores, épocas, diferentes áreas do saber.
Duas notas muito em evidência em todo o texto: humildade de quem faz teologia, respeito por quem discorda acolhendo os aspetos mais relevantes. Desde o início que o sacerdote/professor deixa claro que a teologia não encerra o mistério de Deus. Quem pretender absolutizar a teologia corre o sério risco de limitar a omnipotência, colocando-se em seu lugar. Por outro lado, Ratzinger lança diversas pontes de diálogo e discussão com autores católicos, protestantes, e até judeus. Mesmo recusando argumentos de alguns autores bem conhecidos, sublinha sempre o trabalho, a seriedade que tiveram ou aqueles princípios que terão que ser melhor estudados, ou que deram um importante contributo à reflexão teológico e/ou científica, nesta ou naquela área. També aqui cai por terra, com facilidade, o preconceito que rodeou o teólogo, o Cardeal e o Papa (Bento XVI) que seria déspota ou demasiado rígido. Leia-se e ver-se-á a disponibilidade para o diálogo, e a humildade diante do mistério de Deus. E no final, como valor maior o amor. A fé é razão. O Verbo encarnou. O Verbo é o Logos, é razão. A fé é razoável. A fé não é escuridão, mesmo que haja momentos de treva, é sobretudo luz. É Palavra. É Pessoa, Jesus Cristo. É amor. Estas intuições estão muito presentes na primeira Carta Encíclica do Papa Francisco, preparada por Bento XVI.
Outros livros mais acessíveis e onde Bento XVI aprimora o seu discurso, tornando-o mais simples e claro. Jesus de Nazaré (em três volumes), publicado já como Papa Bento XVI, obra sobre Jesus Cristo, mistério da encarnação, vida pública, morte e ressurreição; A Alegria da Fé, recolha de textos, discursos, homilias, trechos das encíclicas, exortações, centrados no CREDO e nos Sacramentos. Um livrinho que também recomendámos e que aborda sobretudo a questão da fé: Aprender a acreditar. Estas leituras são mais fáceis, acessíveis, mais pastorais, mais orais, se quisermos. Mas para quem quiser aprofundar mais o pensamento de Bento XVI, ou acompanhar um pouco mais o processo de reflexão, de argumentação, de estudo, será revelador a leitura desta obra.
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