Vivemos a síndrome de fim-de-semana potenciado pelas facilidades de viagens, cruzeiros, festas, saídas… O trabalho, que nos realiza como pessoas, pelo qual transformamos o mundo, tornando-nos com-criadores, aparece mais como meio para obter o capital necessário para as ofertas lúdicas e não tanto como realização pessoal e comunitária. Daí o elevado número de pessoas ansiosas, desequilibradas emocionalmente. Entram à segunda-feira em modo de martírio porque o tempo não passa. Quinta-feira e o contentamento começa a voltar; e finalmente a sexta-feira: a meio da manhã arruma-se tudo, procurando não abrir dossiers, evitando atender pessoas, procurando que nada possa adiar o fim do dia. Esfregam-se as mãos: vêm aí as festas, o divertimento, os shot's com os amigos… Quando o Domingo vai a meio, quando já não é possível estender o fim-de-semana para segunda-feira, novamente a inquietação, a ansiedade, o mau humor…
A felicidade não está no fim, mas ao longo da viagem. Se a nossa preocupação é chegar rapidamente ao destino, viajaremos sobre pressão, cansamo-nos, pois nunca mais chegamos, alguém nos atrasa ou nos incomoda ao querer conversar connosco. Mas a viagem pode ser agradável se tivermos os sentidos despertos, com a calma para olhar, para ver quem nos rodeia e para apreciar a paisagem à nossa volta, para ouvir, para cheirar…
O Desafio da Normalidade é também o título de um livro que me veio parar às mãos acerca de 20 anos, da autoria de José Maria Cabral, um médico a trabalhar no Instituto de Oncologia do Porto e que tem, ele próprio, de enfrentar o cancro, numa época em a medicina tinha menos respostas para esta doença. A sua luta é pela cura, pela qualidade de vida, dentro dos condicionalismos da doença e dos tratamentos a que está sujeito, buscando uma certa normalidade para a sua vida, procurando retomar rotinas, preencher espaços e tempos, abraçar a esposa e os netos, beijá-los, ir sozinho à casa de banho, vestir-se sem ajuda! As visitas ao hospital ou os internamentos reviram qualquer rotina; a experiência de estar em quarentena, com o organismo sem quaisquer defesas e o contacto a fazer-se através de fatos protetores! A convalescença e as recaídas, uma viagem ao Vaticano e o desejo de voltar a casa, ao Porto e à família, a um ambiente acolhedor, numa normalidade que identifica a vida, onde se sabe e se quer pertencer!
A festa vale como corolário do quotidiano e como dinamizadora da normalidade! Ainda que a vida não seja preto e branco! Jesus salva-nos na normalidade da nossa vida, ainda que com um acontecimento que ultrapassa qualquer normalidade!
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